Categoria: <span>Psicologia Clínica</span>

psicólogo clínico psicoterapeuta

A Confiança

Uma das razões pela qual a nossa confiança falha está em nos sentirmos muito ansiosos com a possibilidade de perda da nossa dignidade.

Há muitas situações que podem ser bastante interessantes e divertidas, mas também representam um perigo palpável de fazermos figura de parvos.

Se tentarmos beijar alguém, pode ser o começo de algo fantástico, mas também existe o risco que se afastem e pensem que somos idiotas por estupidamente termos presumindo que poderiam estar interessados em nós.

Se formos sozinhos a uma festa onde não conhecemos ninguém, podemos acabar por ter uma noite agradável – mas também é possível que nos sintamos muito sozinhos.

Podíamos em consciência pedir um aumento ou uma promoção, mas algumas pessoas seniores podem ver no nosso pedido um sinal de que estamos errados na avaliação do nosso mérito.

Quando dizemos que nos falta confiança, o que muitas vezes queremos dizer é que normalmente desistimos de oportunidades atractivas, mas incertas, de modo a evitar um possível golpe no nosso orgulho.

O nosso medo decorre da ideia comovente de que precisamos proteger a nossa dignidade para viver bem.

A imagem mental de nós mesmos é de que não somos idiotas – e, portanto, seria terrível se os outros começassem a pensar que somos.

Mas o facto estranhamente útil é que nós definitivamente já somos tontos.

Não porque haja algo particularmente estranho sobre nós como indivíduos: esta é apenas uma verdade básica sobre estar vivo.

É claro que somos estimulados por impulsos irracionais.

É claro que queremos coisas que não vamos conseguir.

Obviamente vamos perder coisas e fazer observações das quais mais tarde nos arrependeremos.

Inevitavelmente, interpretaremos mal certas situações e deixaremos os outros a pensar que somos estranhos.

Isso é o que acontece de forma regular se temos um cérebro humano que vagueia pelo mundo e interage com outras pessoas.

Para a pessoa com pouca confiança, o caminho para diminuir a ansiedade é a admissão firme e inteligente de que já somos tontos e, portanto, temos pouco a perder.

O pior que pode acontecer é os outros reconhecerem o que já reconhecemos como verdade. Assim não seremos afrontados por um ataque à nossa auto-imagem, teremos apenas a confirmação do que sabemos muito bem desde o início.

E – se nós assumirmos o risco – às vezes as coisas vão correr a nosso favor:

– O nosso pedido de promoção será recebido com um sorriso caloroso, faremos um novo amigo, e quem sabe, receberemos aquele beijo.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
a partir de “On Confidence” – Alain de Botton

não pensar

Pensar demasiado e Pensar muito pouco

Pensar em nós – nos nossos sentimentos, no nosso passado, desejos e esperanças – é uma tarefa extremamente complicada, daí que se gaste muita energia a tentar evitá-lo.

Mantemo-nos afastados de nós porque muito do que podemos descobrir pode ser doloroso.

Podemos descobrir que no fundo estamos profundamente furiosos e ressentidos com certas pessoas que deveríamos gostar muito.

Podemos descobrir a existência de muito espaço para nos sentirmos inadequados e culpados em virtude dos erros e dos julgamentos que fizemos.

Podemos descobrir que embora desejássemos ser pessoas honestas, respeitadoras da lei, abrigamos fantasias que entraram em direcções terrivelmente opostas.

Podemos reconhecer o quanto precisamos alterar as nossas relações e carreiras.

Nós não só temos muito a esconder, como somos mestres do embuste.

Faz parte do ser humano sermos auto-enganadores de forma muito natural. Usamos muitas técnicas e de forma quase imperceptível.

Duas delas merecem destaque particular: o nosso hábito de pensar demais. E a nossa propensão para pensar muito pouco.

Quando pensamos demais, em essência, estamos a preencher as nossas mentes com ideias capazes de impressionar, que anunciam manifestamente a nossa inteligência ao mundo, mas subtilmente dá-nos a garantia de que não teremos muito espaço para redescobrir sentimentos confusos que estão muito longe e, sobre os quais, o desenvolvimento das nossas personalidades, no entanto, repousa.

Escrevemos livros densos sobre o papel dos laços governamentais nas guerras napoleónicas ou publicamos extensivamente sobre a influência de Chaucer no romance japonês do meio do século XIX. Obtemos diplomas em instituições de renome ou cargos em conselhos editoriais de revistas científicas.

As nossas mentes estão abarrotadas de informações encobertas. Podemos falar das coisas mais singulares, mas não nos lembramos muito de como era a nossa vida lá para trás, a nossa antiga casa, quando o pai se foi embora, a mãe deixou de sorrir e a nossa confiança partiu-se em pedaços.

Nós implantamos conhecimentos e ideias que possuem um prestígio indubitável para proteger o surgimento de um conhecimento mais humilde, mas essencial, do nosso passado emocional.

Enterramos as nossas histórias pessoais sob uma avalanche de saberes.

A possibilidade de uma análise íntima e profundamente consequente é deliberadamente deixada por parecer fraca e supérflua comparada com a tarefa supostamente mais grandiosa de abordar uma conferência sobre as estratégias militares de uma tribo africana ou sobre o ciclo de vida do polvo indonésio.

Nós recostamo-nos no glamour de ter aprendido a garantir que não precisamos aprender muito daquilo que dói.

Quanto ao nosso hábito de pensar muito pouco.

Aqui, nós fingimos que somos mais simples do que realmente somos e que muita psicologia pode ser absurda, e demasiado barulho para nada.

Apoiamo-nos numa versão robusta de senso comum para evitar indícios da nossa incomum complexidade.

Concluímos que não pensar muito é, na base, evidência de um tipo superior de inteligência.

Entre nós ridicularizamos os relatos mais complexos da natureza humana.

Nós consideramos os caminhos do conhecimento pessoal como excessivamente extravagantes ou estranhos, implicando que, levantar a tampa da vida interior nunca poderia ser frutífera.

Usamos o humor prático das 9 da manhã de segunda-feira para afastar os insights complexos das 3 da manhã.

Implantando uma atitude de vigoroso bom senso, esforçamo-nos para que os nossos momentos de inquietação profunda pareçam aberrações – e não ocasiões fundamentais de compreensão.

Compreensivelmente ansiamos que as nossas personalidades não sejam intrincadas, pelo contrário: sejam simples e facilmente compreendidas.

Assim rejeitamos o estranho, mas ao mesmo tempo, factos muito úteis sobre o nosso intrincado Eu real.

A defesa da honestidade emocional não tem nada a ver com elevada moral. É, em última instância, cautelosa e egoísta.

Precisamos ser mais sinceros connosco próprios porque pagamos um preço muito alto pelas nossas mentiras. Através das nossas decepções, separamo-nos das possibilidades de crescimento.

Nós desligamos grandes partes das nossas mentes e acabamos desinteressantes, rabugentos e defensivos, enquanto os outros ao nosso redor têm que sofrer a nossa irritabilidade, melancolia, alegria fabricada ou racionalidades defensivas.

A nossa negligência com os lados estranhos de nós mesmos abrange o nosso próprio ser, aparecendo em forma de insónia ou impotência, gagueira ou depressão; vingança por todos os pensamentos que temos tido tanto cuidado para não ter.

O auto-conhecimento não é um luxo, mas uma condição prévia para a sanidade e para o conforto interno.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
a partir de “Thinking Too Much; and Thinking Too Little”

psicoterapia zona de conforto

A Zona de Conforto é muito desconfortável

Consta que existe uma zona de conforto, mas tenho dúvidas que seja confortável.

Por princípio ninguém quer ficar no mesmo lugar. Na nossa natureza está o desejo de descobrir e conquistar coisas novas.

É esse ensejo pelo novo que nos faz avançar, mudar de lugar e concretizar novos objectivos.

Já diz o provérbio – parar é morrer.

Muitas vezes, apesar do receio vamos avançando. Mas quando o medo é muito grande ficamos paralisados.

Ter medo e ser incapaz de mudar, nada tem a ver com conforto, mas com desconforto.

É aqui, neste bloqueio, nesta impossibilidade de avançar que muitos vêm uma zona de conforto.

Mas ninguém que esteja nesta situação/zona está confortável.

O temor pelo novo é muitas vezes interpretado como um gosto pelo velho, pelo conhecido.

É a esta interpretação errónea que algumas vezes se dá o nome de zona de conforto.

Ter medo e ser incapaz de mudar nada tem a ver com conforto mas com desconforto.

Ficar parado é ver as coisas passarem sem lhes poder tocar. É passar ao lado da vida.

Como é hábito, certas expressões entram no vocabulário do dia-a-dia e passam a ser usadas na situação que der mais jeito.

Em grande medida a  expressão “zona de conforto” é usada para apontar o dedo a alguém que não investe, que não arrisca, que se acomoda.

Estes “julgamentos precipitados” acabam por não considerar o mais importante:

– O que leva alguém a acomodar-se com uma situação (trabalho ou relação) desagradável?

Não creio que possa falar em zona de conforto. Mais correcto será dizer que existe uma zona de desconforto:

– Uma zona desconfortável, onde as pessoas que permanecem lá se sentem sozinhas, frustradas e infelizes.

É exactamente por isso que é tão difícil sair de lá. Falta o brilho da alegria, o entusiasmo que alimenta o desejo de conquistar.

A coragem de avançar sem recear os tropeções  e as quedas; de conseguir rir e chorar.

psicólogo clínico procurar respostas

Efeito Streetlight – Onde procurar respostas

É muito comum sermos levados pelo “streetlight efect” – procurar algo no local onde incide a luz em vez do local onde foi perdido. Os seres humanos tendem a procurar respostas nos lugares onde é mais fácil pesquisar do que os locais onde é provável que elas estejam. Em aspectos importantes da nossa vida o efeito “streetlight” pode ter um grande impacto.

Crentes de que estamos a procurar as respostas no local certo, empenhamo-nos de corpo e alma nessa busca. Como sempre acontece, alguma resposta acabará por ser encontrada, maioria das vezes, a errada.

Implicações: terminamos relações pela razão errada, deixamos o emprego pela razão errada, vamos viver para outro país pela razão errada, etc.

Ao procurarmos fora as respostas que estão dentro de nós, não só acumulamos opções erradas, como vamos vivendo numa espécie de equívoco em relação a nós e ao mundo que nos rodeia.

Não é fácil redireccionar o foco de luz para nós, e muitas vezes necessitamos da ajuda do outro, mas só abrindo a nossa mão podemos dizer, “afinal as chaves estão aqui”.

psicólogo

O segredo da felicidade pode incluir emoções desagradáveis

A pesquisa recente contradiz a ideia de que se deve continuamente procurar prazer para encontrar a felicidade.

De acordo com pesquisas publicadas pela American Psychological Association, as pessoas podem ser mais felizes quando se permitem sentir certas emoções, mesmo que essas emoções sejam desagradáveis, como a raiva ou o ódio.

“A felicidade é mais do que sentir prazer e evitar a dor.”

A felicidade é ter experiências que sejam significativas e valiosas, incluindo as emoções que você acha que são as mais adequadas de se ter “, refere Maya Tamir.

Todas as emoções podem ser positivas nuns contextos e negativas noutros, independentemente de serem agradáveis ou desagradáveis”.

Um estudo multi-cultural que incluiu 2.324 estudantes universitários de oito países: Estados Unidos, Brasil, China, Alemanha, Gana, Israel, Polónia e Singapura, publicado no Journal of Experimental Psychology:

– foi o primeiro a encontrar uma relação entre a felicidade e permitir-se experienciar certas emoções, mesmo quando essas emoções são desagradáveis.

De uma maneira geral os participantes queriam experimentar mais emoções agradáveis do que desagradáveis, mas nem sempre era assim.

Os participantes foram avaliados sobre as emoções que queriam sentir e as emoções que realmente sentiam nas suas vidas.

Também avaliaram a sua satisfação com a vida e os sintomas depressivos.

Os participantes que experimentaram mais as emoções que desejavam sentir apresentavam maior satisfação e menos sintomas depressivos, independentemente de as emoções serem agradáveis ou desagradáveis.

No entanto, são necessárias mais pesquisas para testar se o experienciar das emoções que se desejam sentir realmente influencia a felicidade ou se está meramente associado a ela.

O estudo avaliou apenas um certo número de emoções desagradáveis, que incluem o ódio, a hostilidade, a raiva e o desprezo.

Pesquisas futuras devem testar outras emoções desagradáveis, como o medo, a culpa, a tristeza ou a vergonha, refere Tamir.

Todas as emoções podem ser positivas nuns contextos e negativas noutros.

As emoções agradáveis que foram examinadas no estudo incluíram a empatia, o amor, a confiança, a paixão, o contentamento e o entusiasmo.

Pesquisas anteriores mostraram que as emoções que as pessoas desejam experienciar estão ligadas aos seus valores e normas culturais, mas essas relações não foram examinados directamente nesta pesquisa.

O estudo pode esclarecer as expectativas irrealistas que muitas pessoas têm acerca dos seus próprios sentimentos.

“Nas culturas ocidentais, em particular nos Estados Unidos, as pessoas querem sentir-se constantemente muito bem.

Mesmo que se sintam bem a maior parte do tempo, continuam a pensar que deveriam sentir-se ainda melhor, o que as pode (no geral) tornar menos felizes.

Article: The Secret to Happiness: Feeling Good or Feeling Right?, Maya Tamir, PhD, The Hebrew University of Jerusalem; Shalom H. Schwartz, PhD, The Hebrew University of Jerusalem and National Research University-Higher School of Economics; Shige Oishi, PhD, University of Virginia; and Min Y. Kim, PhD, Keimyung University; Journal of Experimental Psychology: General, published online Aug. 14, 2017.

psicólogo clínico

Deficit – Na Prespectiva da Saúde Mental

No seu sentido habitual o termo deficit significa insuficiência ou carência de algo. Do ponto de vista mental referimo-nos à insuficiente recepção ou fornecimento de algo que o sujeito deveria ter recebido por parte dos seus pais ou cuidadores, numa determinada etapa evolutiva da sua vida.

Este ponto de vista encontra-se vinculado à convicção de que todo o sujeito para o seu adequado desenvolvimento mental e para a harmonia e coerência do seu self, deve receber uma razoável dose de cuidados entre os quais se incluem amor, ternura, aprovação, confiança, aceitação, tolerância e segurança num regime de coerência e continuidade.

Quando essas contribuições não são suficientes produz-se um deficit.

Como é natural, aquilo que provoca o deficit não é somente ausência do que se necessita, do positivo, mas também a presença do que é prejudicial, que é negativo: ódio, agressividade, incoerência, instabilidade, desleixo, maus tratos físicos, patologia dos pais, instabilidade, etc.

Quando falamos de deficit podemos estar a referirmo-nos ao comportamento dos cuidadores, um facto objectivo, mas em si mesmo, o deficit não é um facto objectivo mas uma experiência subjectiva: a experiência de fragilidade, de incoerência, instabilidade, caos interno, sentimento de vazio, sensação de carência, etc.

A isso soma-se o sentimento de não se ser escutado, de não se ser amado, de não se ser reconhecido, de não se receber atenção, de ser abandonado, etc.

O grau em que esta experiência subjectiva coincide ou não com o que usualmente se denomina de “realidade objectiva” é sempre, salvo casos extremos de negligência e abandono, muito difícil ou impossível de precisar, porque a suposta realidade objectiva varia muito dependendo do observador.

Adaptado de Joan Coderch
“La prática de la psicoterapia relacional”

padrão relacional

Padrão Relacional das Escolhas Afectivas

Em relação à compulsão à repetição, Freud referiu que se trata de uma forma de não pensarmos, de não recordarmos as experiências dolorosas.

Muitas das “escolhas afectivas” que fazemos permitem repetir as nossas relações traumáticas sem termos que lidar os seus aspectos traumáticos. Na repetição há uma negação dos aspectos negativos.

Não deve, portanto, considerar-se uma coincidência, a “escolha” de parceiros diferentes para “relações idênticas”.

Logo, os aspectos negativos da relação anterior reaparecem nas novas relações.

Normalmente, esta compulsão à repetição não é consciente e, portanto, é necessário que seja explorada num cenário psicoterapêutico. Se assim não for, ao invés de compreender o fenómeno, repete-se a necessidade de escapar ao contacto com a experiência dolorosa.

Somente a elaboração da experiência passada permite, verdadeiramente, alterar o padrão relacional.

psicoterapeuta

A sensibilidade à rejeição é proporcional ao medo de ser rejeitado

Como humanos temos a necessidade de pertencer e manter vínculos estreitos com os outros. Qualquer coisa que ameace o vínculo pode activar o alarme psicológico, levando-nos a fazer o que pudermos para impedir a rejeição.

Para algumas pessoas, o sistema de alarme é hipersensível, reagindo a ameaças inexistentes e, nesse sentido, desencadear uma resposta exagerada. A sensibilidade à rejeição pode ter origem em experiências de rejeição por parte dos pais ou em relacionamentos anteriores.

Faz sentido que após experiências dolorosas de rejeição se fique mais vigilante e com receio de confiar em pessoas novas. O problema é que um alto grau de vigilância pode não ser necessário em novas relações com parceiros mais confiáveis. Nesses relacionamentos, em vez de proteger o Eu da rejeição, a hipersensibilidade pode ter o efeito contrário, aumentando a probabilidade de rejeição.

As pessoas sensíveis à rejeição são mais propensas a concluir que o comportamento do seu parceiro reflecte uma rejeição intencional, ao invés de considerar outras possibilidades, como por exemplo, uma semana de trabalho particularmente complicada.

Um estudo com estudantes universitários mostrou que os participantes que obtiveram valores mais altos na sensibilidade à rejeição apresentaram maior probabilidade de interpretar o comportamento hipotético dos seus parceiros como intencional, excluindo outras potenciais explicações.

Quando os parceiros assumem rapidamente que um comportamento levemente distante reflecte algo mais profundo e mais pessoal, como a falta de amor ou de compromisso, existe uma grande probabilidade de surgir um conflito e que ele possa rapidamente escalar. Noutro estudo verificou-se através de gravações que as pessoas sensíveis à rejeição eram mais propensas a usar tons de voz hostis, negar a responsabilidade num problema, gozar com o parceiro e expressar desgosto; comportamentos que tendem a ser destructivos.

As interacções negativas podem, por sua vez, reduzir a satisfação no relacionamento. Um terceiro estudo descobriu que as pessoas que apresentavam alta sensibilidade à rejeição tendiam a ser percebidas pelos seus parceiros como mais ciumentos (para os homens) ou mais hostis e menos disponíveis (para as mulheres), e essas percepções estavam relacionadas com a diminuição da satisfação no relacionamento.

A sensibilidade à rejeição pode alimentar um ciclo vicioso em que o trauma passado é repetido.

A interrupção destes ciclos passa por desconstruir a dinâmica internalizada rejeitado-e aquele que rejeita.

No entanto, do ponto de vista externo existem alguns aspectos que podem ajudar no sentido de adequar a resposta ao que se está a sentir. Perante um sinal de rejeição tendemos a concentrar-nos nas características da situação que confirmam as nossas expectativas, e o nosso primeiro instinto pode passar por atacar o parceiro. Mas se conseguirmos expandir o foco de atenção podemos pensar que um certo grau de conflito é uma parte normal da maioria dos relacionamentos; podemos considerar explicações alternativas que justifiquem a distância sentida ou colocarmo-nos no lugar do parceiro, em vez de imaginarmos o cenário mais catastrófico.

Traduzido e adaptado a partir de:
“How Rejection Sensitivity Derails Relationships”
Juliana Breines

psicoterapia

Processar as Emoções

É um capricho das mentes que nem todas as nossas emoções sejam plenamente reconhecidas, compreendidas ou mesmo, verdadeiramente sentidas.

Existem sentimentos que se encontram numa forma “não processada” dentro de nós.

Muitas inquietações podem, por exemplo, permanecer sem autorização de acesso e de interpretação. Nesse caso, é possível que se manifestem sobre a forma de ansiedade generalizada.

Sob a sua influência, podemos sentir medo de passarmos tempo sozinhos, uma compulsiva necessidade de permanecermos ocupados, ou ficarmos presos a actividades que garantam que nos mantemos afastados do que nos assusta.

Um tipo semelhante de desaprovação pode acontecer em torno da mágoa.

Alguém pode ter abusado da nossa confiança e levar-nos a duvidar da sua bondade, ou afectado a nossa auto-estima.

A dor está algures dentro de nós, mas à superfície adoptamos uma frágil alegria; entorpecemo-nos quimicamente ou então adoptamos um tom de cinismo generalizado que mascara a ferida que nos foi infligida.

Pagamos caro por não “processar” os nossos sentimentos.

As nossas mentes crescem apreensivas quanto ao seu conteúdo. Não conseguimos dormir porque durante o dia não processámos certos sentimentos – a insónia é a vingança dos pensamentos que por serem omitidos, não foram processados durante dia.

Ficamos deprimidos com tudo, porque não podemos ficar tristes com nada.

Evitamos processar emoções porque o que sentimos é tão contrário à nossa auto-imagem, tão ameaçador para as ideias que a nossa sociedade tem de normalidade e tão em desacordo com quem gostaríamos de ser.

Uma atmosfera propícia ao processamento seria aquela em que as dificuldades do ser humano fossem calorosamente reconhecidas e amavelmente aceites.

Não é por preguiça ou desleixo que não nos conhecemos, mas porque tememos que seja doloroso.

Processar emoções requer bons amigos, psicoterapeutas competentes e momentos para reflectir.

Então, podemos baixar as nossas defesas (normais) de forma segura e permitir que o material venha à superfície e seja explorado.

Muitas vezes tomamos consciência que, numa área ou outra, a vida não é o que gostaríamos que fosse. Mas só aceitando e processando essas emoções, o nosso estado anímico pode melhorar.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton – Unprocessed Emotion

emagrecer

Por que comemos demais?

É claro que muitos de nós comemos demais. E em resposta, cresceu uma enorme indústria que nos aconselha a consumir e proporciona tudo o que existe de mais saudável.

Mas isso é não compreender de todo porque começámos a comer quantidades excessivas. Não tem nada a ver com comida, e, portanto, tentar mudar a nossa dieta não é o foco mais lógico para concentrar os nossos esforços. Nós comemos muito porque estamos realmente com fome daquilo que não está disponível.

Parece natural que tudo o que poderíamos querer deveria estar à mão. Os supermercados e as lojas gourmet são templos icónicos da sociedade de consumo e os restaurantes não se poupam a esforços para nos satisfazer.

Poderíamos ser tentados por uma mariscada? Ou uma selecção de vegetais regionais regados com azeite proveniente de uma pequena quinta nos Pirinéus?

Mas se pudéssemos realmente escolher será que não quereríamos um menu ligeiramente diferente? Por exemplo:

Conversa sincera com o pai, marinada em perdão mútuo.
– Amor maternal carinhoso * (* adequado para aqueles que estão em dieta livre de críticas).
– Amizade madura servida com farripas de memórias.
– Conversa fresca, polvilhada com boa disposição (para dois).
– Flirt ao natural (o nosso Sommelier recomenda, como acompanhamento ideal, um copo de Chateau Fantaisie).

E para a sobremesa, talvez:

– Uma generosa fatia de cumplicidade com chocolate derretido.
Ou:
– Enternecidos momentos de compaixão, acompanhados com lágrimas de compreensão (especialidade da casa)

Por outras palavras, não é comida que desejamos.

Os menus dos nossos restaurantes (apesar de tentadores) conduzem-nos em direcções muito limitadas e restritas. Eles entendem – e respondem – apenas a um segmento estreito dos nossos verdadeiros apetites.

Na verdade, falamos muito de comida e tão pouco do que necessitamos. Não é de marisco, queijo da serra ou picanha do Brasil que nós precisamos, mas de amizades onde possamos confessar as nossas ansiedades, sermos ouvidos e perdoados; Precisamos de ajuda para nos acalmar em momentos-chave, assegurando que podemos suportar o pior que possa estar a acontecer. Precisamos de alguém que nos possa ajudar a descobrir os nossos verdadeiros talentos no local de trabalho e oferecer-nos um guia para alcançar nosso verdadeiro potencial.

Sabemos que não é num pacote de batatas fritas ou numa fatia de pizza que está a resolução do problema mas não sabemos para onde nos virar e temos, pelo menos, uma satisfação imediata.

A tragédia não está no nosso apetite insaciável, mas na dificuldade em ter acesso às coisas emocionais e psicológicas para alimentar as nossas almas desnutridas.

A indústria alimentar tem travado os sintomas da nossa infelicidade, não as suas causas – e, portanto, as soluções que oferece são frágeis e temporárias.

Há umas centenas de anos era quase impossível para a maioria das pessoas a encontrar algo delicioso para comer. Desde então, uma grande quantidade de engenho humano tem sido dedicado a seduzir o paladar. Nós conseguimos ir muito além das nossas expectativas. Mas em tantas outras áreas, mal começámos a suprir o que ansiamos consumir, que são, para dizer mais claramente: compreensão, ternura, perdão, reconciliação e proximidade.

Nós não comemos muito porque somos insaciáveis, mas porque vivemos num mundo onde as prateleiras ainda estão vazias dos ingredientes que verdadeiramente desejamos.

Adaptado e traduzido por Pedro Martins a partir
de Alain de Botton

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