Mês: <span>Novembro 2020</span>

O desejo de agradar quando conhecemos alguém - Pedro Martins Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

O desejo de agradar

Quando conhecemos alguém por quem nos sentimos atraídos temos o forte desejo de agradar.

E, com naturalidade, assumimos que a melhor forma de o fazer é mostrar repetidamente o quanto estamos em sintonia com as suas opiniões e escolhas.

Nos primeiros encontros, quando por acaso mencionam que adoram dançar, mostraremos, portanto, que também gostamos muito.

Ou quando referem que acham os museus aborrecidos, esconderemos que numa viagem a Madrid no ano passado, passamos um dia encantador no Museu do Prado.

Podemos não estar a mentir, mas estamos a esticar e a dobrar a verdade até aos seus limites, de modo a criar uma sensação de entendimento quase total.

A nosso desejo de agradar pode atingir o auge em torno do sexo:

Não podemos, naturalmente, arriscar-nos a introduzi-los nos caminhos reais da nossa imaginação erótica. Apenas afirmamos querer (por milagre) exactamente o que eles querem.

Ao longo do caminho, raramente nos ocorre que eles possam estar a fazer o mesmo connosco.

Ou seja, que também estejam a ajustar a sua auto-apresentação de formas subtis mas poderosas, para se adaptarem ao que consideram ser as nossas preferências e valores.

Há um aspecto tragicómico no aprofundamento da nossa atracção mútua.

Duas pessoas sérias estão a tentar ser tão simpáticas quanto podem.

Ninguém está a tentar enganar e, no entanto, gradualmente, um conjunto de ideias extremamente enganadoras e perigosas sobre quem cada pessoa realmente é, estão a formar-se.

O nosso enorme desejo de agradar pode encorajar-nos a viver juntos e, mais tarde, em casar.

E, então – inevitavelmente – o escrutínio prolongado e íntimo revelará a escala das nossas expectativas equivocadas.

Desilusão após desilusão, cada um de nós ficará triste, desapontado e chocado ao descobrir com quem nos juntámos.

 

Quando nos sentimos atraídos temos o forte desejo de agradar e assumimos que a melhor forma de o fazer é mostrar que temos os mesmos gostos

 

Surgirão recriminações, discussões e reconciliações frágeis, até que, uma das partes chegue à triste conclusão, mas ainda assim surpreendente, de que nunca existiu compatibilidade.

Também podemos ignorar isso e continuar numa crescente infelicidade.

As férias jamais envolverão visitas aos museus que tanto gostamos.

Teremos de nos resignar a nunca termos tido o tipo de sexo que desejamos.

Ou, ainda mais grave, acabaremos por embarcar numa vida dissimulada; aproveitaremos os momentos em que eles estão longe para perseguir necessidades que fingimos não ter.

Até que um dia a nossa vida dupla seja exposta – e afogar-nos-emos em amargura, fúria, tristeza e arrependimento.

No entanto, na origem de tais pesadelos esteva apenas um enternecedor, mas arriscado e dolorosamente falhado, desejo de estabelecer uma combinação perfeita.

Queríamos simplificar, mas acabámos por criar com uma enorme confusão.

Uma abordagem verdadeiramente mais simples deve ser algo complexa desde o início.

Quando surge o tema da dança, o sensato é dizer imediatamente que não gostamos de dançar.

Em relação aos museus devemos afirmar com franqueza a paixão por esses espaços.

Quando se trata das rotinas e gostos, devemos ousar mencionar o prazer que temos numa cozinha muito bem limpa e arrumada ou explicar que precisamos de uma hora para realmente acordar.

Não há necessidade de ser petulante ou exigente. E não há nenhuma exigência de que o nosso par esteja de acordo ou que tenha de ficar para além da sobremesa.

Alguns fugirão, e é melhor que fujam.

 

Ser sincero nos encontros amorosos é uma forma de duas pessoas não perderem tempo e pouparem-se a previsíveis desgostos

 

A fim de revelar as nossas verdades, precisamos de um sentido básico de aceitação.

Temos de saber que não somos perfeitos, mas isso não nos torna desprezíveis ou vergonhosos.

A nossa atitude em relação à cozinha pode ser um pouco excessiva sem ser doentia.

O nosso acordar pode ser pouco convencional, mas é perfeitamente são.

Em torno do sexo, sabemos que uma preferência pode ser estatisticamente invulgar sem ser reprovável.

A nossa convicção interior de que as nossas particularidades são essencialmente razoáveis permite que nos apresentemos a outra pessoa sem medo ou de forma defensiva.

A nossa franqueza dá-nos o direito de pedir ao outro que revele – com semelhante honestidade – o que pode ser pessoal e difícil sobre si próprio.

Se eles insistirem que são realmente muito simples e ”fáceis”, podemos ser gentis mas firmemente cépticos.

Eles são humanos, e ser humano é ser complicado.

É impossível que eles não tenham imensas peculiaridades.

Raramente o problema com quaisquer parceiros potenciais passa por serem demasiado estranhos, mas em não aceitarem a sua especificidade ou não encontrarem uma linguagem que lhes permita apresentar-se aos outros de uma forma que possa ser plausivelmente compreendida e aceite.

Ser sincero nos encontros amorosos é um mecanismo para que duas pessoas não percam tempo – e para se pouparem à agonia no processo.

Devemos saber que uma superfície polida não é uma imagem verdadeira de uma pessoa.

Somente depois de esboçadas as nossas complexidades mútuas, podemos sentir, com enorme alívio, que estamos na presença de uma pessoa madura.

Teremos relações tão simples quanto desejamos, quando nos atrevermos a revelar e a acolher as complexidades reais da natureza humana.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de “Being honest on a date” – Alain de Botton

Déjà Vu - Pedro Martins Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Déjà Vu

Já vos sucedeu terem um “déjà vu”?

É aquela sensação obscura duma situação já conhecida.

Estamos num restaurante e algo ocorre exactamente como recordamos.

O mundo move-se como um bailado que coreografámos, mas a sequência não pode basear-se numa experiência do passado porque nunca entrámos neste restaurante antes.

Então, o que é que se passa?

Infelizmente, não há uma explicação única para o “déjà vu”.

A experiência é curta e ocorre sem avisar, tornando quase impossível um cientista registá-la e estudá-la.

Os cientistas só podem esperar que isso lhes aconteça a eles, o que pode demorar anos.

Não tem manifestações físicas e, nos estudos, é descrita pelo sujeito como uma sensação ou um sentimento.

Dada esta falta de provas sólidas, tem havido imensa especulação ao longo dos anos.

Desde que Émile Boirac introduziu o “déjà vu” como um termo francês que significa “já visto”, mais de 40 teorias tentam explicar este fenómeno.

Mas, os recentes progressos na neuro-imagiologia e na psicologia cognitiva reduzem o campo das hipóteses.

Vejamos três das teorias mais predominantes hoje, usando o mesmo cenário do restaurante para cada uma.

 

Teoria do Processamento Dual

Precisamos de uma ação.

Estamos no restaurante; o empregado escorrega e deixa cair a bandeja.

À medida que a cena ocorre, os nossos hemisférios cerebrais processam um turbilhão de informações:

Os braços agitados do empregado, o seu grito, o cheiro da comida.

Em milissegundos, estas informações entram por várias vias e são processadas num único momento.

Na maior parte das vezes, tudo é registado em sincronia.

 

Émile Boirac introduziu o “déjà vu” como um termo francês que significa “já visto”

 

Porém, esta teoria afirma que um “déjà vu” ocorre quando há uma leve demora nas informações de uma dessas vias.

A diferença nos tempos de chegada leva o cérebro a interpretar a última informação como um acontecimento em separado.

Quando se inscreve sobre o momento já registado, sentimos que já aconteceu antes porque, em certo sentido, aconteceu.

 

Teoria do Holograma

Esta teoria trata de uma confusão do passado em vez de um erro do presente.

Vamos imaginar a toalha de mesa do restaurante.

Quando observamos os quadrados da toalha, uma memória distante emerge da profundeza do cérebro.

Segundo esta teoria, isto acontece porque as memórias são guardadas sob a forma de hologramas.

Nos hologramas, basta um fragmento para vermos a imagem completa.

O cérebro identificou a toalha com uma do nosso passado, talvez da casa da nossa avó.

Mas, em vez de nos lembrarmos que a vimos em casa da avó, o cérebro foi buscar uma antiga memória sem a identificar.

Isso deixa-nos presos à familiaridade mas não à recordação.

Embora nunca tenhamos estado neste restaurante, vimos aquela toalha mas não conseguimos identificá-la.

 

Teoria da Atenção Dividida

A última teoria é a atenção dividida e afirma que o “déjà vu” ocorre quando o cérebro, subliminarmente, assume um ambiente, embora estejamos distraídos com um determinado objeto.

Quando a atenção regressa, é como se já lá tivéssemos estado antes.

Por exemplo, concentrámo-nos num garfo, e não observámos a toalha nem o empregado a deixar cair a bandeja.

Embora o cérebro estivesse a registar tudo na nossa visão periférica, estava a fazer isso para além duma atenção consciente.

Quando, por fim, nos distanciamos do garfo, pensamos que já lá tínhamos estado — e tínhamos — só que não estávamos a prestar atenção.

 

O “déjà vu” não tem manifestações físicas e é descrita pelo sujeito como uma sensação ou um sentimento.

 

Embora estas três teorias partilhem a característica comum do “déjà vu”, nenhuma delas se propõe ser a origem conclusiva do fenómeno.

Mas, enquanto aguardamos que os investigadores e inventores apareçam com novas formas de captar este momento esquivo, podemos estudar esse momento por nós mesmos.

Afinal, muitos estudos do “déjà vu” baseiam-se em relatos diretos, assim, porque não pode ser um dos nossos?

Quando tiverem um “déjà vu”, pensem nele durante algum tempo.

Estiveram distraídos?

Há algures um objeto conhecido?

O vosso cérebro está a agir lentamente?

Ou será outra coisa qualquer?

 

Michael Molina – TED-Ed lessons

Adaptação de Pedro martins a partir da tradução de Margarida Ferreira e revisão de Mafalda Ferreira

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