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O Perfeccionismo - Pedro Martins Psicólogo Clínico / Psicoterapeuta

O Perfeccionismo

Segundo Stoeber (2014), o perfeccionismo é caracterizado por padrões de exigência extremamente elevados, acompanhado por uma tendência a ser muito crítico nas avaliações.

Esta disposição reflete-se principalmente no desempenho escolar/académico e no trabalho, mas também na aparência física.

Hollender definiu o perfeccionismo como o hábito de exigir a si próprio e aos outros um elevado grau de desempenho; maior do que o requerido pela situação.

O perfeccionismo é a tendência para estabelecer elevados padrões pessoais de desempenho juntamente com uma avaliação excessivamente crítica desse desempenho e um enorme medo de errar.

 

Perfeccionismo e Psicopatologia

A necessidade de ser perfeito ou de ser visto como perfeito pelos outros é um factor de risco para a saúde mental.

Tem sido associado à depressão, às perturbações de ansiedade, às perturbações obsessivo-compulsivas e aos distúrbios do comportamento alimentar.

As pessoas perfeccionistas esforçam-se desmesuradamente para serem perfeitas e evitar o erro, que é sentido como catastrófico.

A marca indelével deixada pelo erro contribui para a formação de um sentimento negativo sobre si mesmo. Uma baixa autoestima ou a sua diminuição pode gerar sintomas depressivos.

Inúmeros estudos encontram uma correlação significativa entre perfeccionismo e depressão.

No perfeccionista o medo de falhar gera uma enorme ansiedade no desempenho das tarefas. Quanto mais importante e investida a tarefa maior a ansiedade.

Boivin e Marchand (1996) referem que o perfeccionismo está associado a várias perturbações de ansiedade.

O resultado de vários estudos indica que o perfeccionismo afecta diretamente a ansiedade, ou seja, um maior nível de perfeccionismo gera um maior nível de ansiedade.

Guidano e Liotti (1983) sugeriram que o perfeccionismo constitui um dos traços fundamentais para o desenvolvimento da perturbação obsessiva- compulsiva nos indivíduos com personalidade obsessiva.

 

A necessidade de ser perfeito ou de ser visto como perfeito pelos outros é um factor de risco para a saúde mental.

 

O funcionamento mental do obsessivo-compulsivo organiza-se em torno de certas crenças que se caraterizam por aspetos perfeccionistas, necessidade de certezas e a convicção de que existe uma solução perfeita.

O perfeccionismo tem sido associado à perturbação obsessivo-compulsiva, na medida em que o sujeito obsessivo-compulsivo tende a apresentar um ideal de perfeição em todas as áreas da sua vida.

O sujeito obsessivo-compulsivo tem dificuldade em suportar as incertezas e por consequência, tenta eliminá-las através de um comportamento compulsivo.

A crença destes sujeitos baseia-se no facto de que, não cometendo erros, evitam a crítica – tão difícil de suportar.

O perfeccionismo também tem sido associado às perturbações do comportamento alimentar (Shafran et al., 2002), tendo um papel importante na sua patogénese, manutenção e resposta ao tratamento.

Um estudo de Forbush et al. (2007), com amostra de 2482 sujeitos mostrou uma relação significativa entre o perfeccionismo e os distúrbios alimentares, particularmente, a Anorexia Nervosa e a Bulimia.

Outro estudo de Teixeira (2008) com 1465 adolescentes e jovens adultos, com idades compreendidas entre os 14 e os 20 anos que pretendia avaliar a relação entre perfeccionismo e as atitudes e comportamentos alimentares mostrou que os adolescentes que apresentavam resultados mais elevados no Teste de Atitudes Alimentares eram também os que apresentavam pontuações mais altas nos níveis de perfeccionismo.

 

O perfeccionista procura exteriormente, através do seu desempenho, uma validação que não encontra interiormente.

 

Os perfeccionistas adotam um estilo de vida marcado por um esforço intenso, persistente e compulsivo para atingir metas dificilmente atingíveis, acompanhado por autoavaliações excessivamente críticas e severas, procurando valorização através do seu desempenho.

Devido à insuficiência narcísica  perfeccionista procura exteriormente, através do seu desempenho, uma validação que não encontra internamente.

Por mais perfeito que seja, jamais alcança esse sentimento interno de que é bom o suficiente para o outro.

Daí ter uma grande dificuldade de diminuir o grau de exigência que impõe a si mesmo.

Ao mesmo tempo, pode ficar enfurecido com aquele que não se rege pelos mesmos níveis (desproporcionados) de exigência.

A liberdade e a descontração do outro são sentidas como um ataque a quem é escravo do perfeccionismo e do qual não se consegue libertar.

Enquanto não conseguir fontes internas de valorização o perfeccionista não é dono e senhor de si próprio.

Síndrome do Cólon Irritável Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Síndrome do Cólon Irritável

A síndrome do cólon irritável, também conhecida por colite nervosa, é uma doença do intestino que gera uma quantidade de sintomas desagradáveis:

Espasmos, dores e inchaço no abdómen, diarreia, prisão do intestino e outras alterações no movimento intestinal.

Podendo afectar até 20 por cento da população, é geralmente tratada com medicamentos (alívio dos sintomas gastrintestinais), mudanças na alimentação e estilo de vida.

No entanto, um estudo sugere agora uma terceira via: Psicoterapia.

O estudo Financiado pelo NHS britânico (Serviço Nacional de Saúde) e realizado por investigadores da Universidade de Southampton, do King’s College London e do King’s College Hospital, e publicado no jornal da especialidade (Gut) concluiu que as pessoas sujeitas a psicoterapia tiveram um alívio maior dos seus sintomas.

Isso sugere que em muitos casos poderão estar em causa situações de ansiedade e stresse.

Para a maioria dos pacientes com (síndrome do cólon irritável – SCI), é necessário considerar a mente e o corpo a fim de se obter uma minoração dos sintomas.

As alterações gastrointestinais, como a alteração do trato intestinal, o crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado e a hipersensibilidade aos estímulos viscerais, como a distensão intestinal, devem ser entendidas como provenientes de uma raiz comum: hiper-responsividade emocional.

 

Em muitos casos de síndrome do cólon irritável poderão estar em causa situações de ansiedade e stress

 

O sistema nervoso entérico (ENS), muitas vezes designado de segundo cérebro, é altamente complexo.

Ele está sob o controle involuntário do sistema nervoso central.

Alguns investigadores sugerem que os sintomas da (SCI) resultam da sensibilidade anormal do paciente aos estímulos externos, ou seja, interações e situações sociais; da estrutura emocional, e da híper-vigilância aos estímulos com origem nos órgãos internos.

A alteração no trato intestinal é explicada pelo desequilíbrio autonómico, enquanto que a dor se deve ao aumento da sensibilidade à dor causada pelo stress.

Isto também torna o paciente mais alerta e responsivo às sensações internas.

Um episódio efectivo de dor associado a estas sensações também pode condicionar o paciente a temê-las, produzindo assim sintomas de (SCI) mesmo sem disfunção intestinal real.

Desta forma, pode instigar um ciclo vicioso entre o pensamento negativo e receoso e as irregularidades funcionais do intestino, que se reforçam e se perpetuam mutuamente.

 

Redução do stress

A redução do stress é, portanto, de primordial importância para quebrar este ciclo. Isto pode envolver:

Técnicas de relaxamento e exercícios de respiração.

Yoga, pilates, ou tai chi relaxam e tonificam o corpo, e ao mesmo tempo fortalecem a conexão mente-corpo.

Caminhar, correr ou nadar também podem ajudar, distraindo a mente das sensações internas e proporcionando novos estímulos, assim como uma sensação de bem-estar. Além disso, é claro, há o benefício do próprio exercício físico.

 

Psicoterapia

Sentimentos de ansiedade e stress são muitas vezes difíceis de ultrapassar. A psicoterapia pode ser um importante auxílio, ajudando os pacientes a identificar a conexão entre o seu interior e o exterior, resolver conflitos, e desenvolver recursos internos para lidar com o stress.

Ansiedade de Desempenho - Psicoterapia

Ansiedade de Desempenho

Muitos actores, políticos, atletas, figuras públicas e músicos sofrem de ansiedade de desempenho – também conhecido como “medo do palco” – Barbra Streisand, Beyonce, Adele, Emma Stone, David Beckham, Whoopi Goldberg, Oprah Winfrey, Thomas Jefferson, Warren Buffett, Mahatma Gandhi, para citar alguns.

Aqueles que não são famosos também se debatem com a ansiedade de desempenho. Isso inclui gestores, escritores, académicos, advogados e até profissionais de saúde mental.

Debati-me com o “medo do palco” enquanto estudante e sofria com as dúvidas quando tocava piano em público. Então, pratiquei mais. Os meus mentores e professores garantiram-me que eu “não me deveria preocupar”.

Essas garantias não ajudaram. Senti-me sozinha e confusa. As pessoas não queriam falar sobre o “medo do palco”; agiam como se fosse contagioso.

Apesar da minha ansiedade apresentei-me, mas a experiência foi esgotante, confusa e perturbadora.

 

A ansiedade de desempenho ou “medo do palco” não afecta apenas as pessoas sujeitas a grande exposição 

 

Alguns sintomas da ansiedade de desempenho

Hoje, a ansiedade de desempenho é menos estigmatizada, mas continua a debilitar e a desmoralizar muitas pessoas. A ansiedade de desempenho apresenta sintomas físicos e psicológicos, como:

– Tremores

– Insegurança

– Pavor de cometer erros; Humilhação

– Vergonha de não ser “perfeito” perante uma plateia

– Grande preocupação com o que as pessoas pensam

– Medo de decepcionar os outros

– Preocupações em parecer “esquisito” ou “estúpido”

– Ruminação constante ou pensamento circular

 

O medo leva à “luta” ou à “fuga”

Quando as pessoas ficam assustadas e se sentem atacadas, elas tentam defender-se. Infelizmente, a luta pode transformar-se num ataque a si próprio.

Esquecendo o que sabe, a pessoa acredita que o público não irá apreciá-los ou vai rir deles.

Como exemplo, alguns artistas procrastinam na preparação para uma apresentação – e depois dizem que não tiveram tempo suficiente para se preparar!

Outros param completamente de fazer apresentações.

A forma como alguém se aproxima – ou evita uma ameaça é importante para entender e gerir a ansiedade de desempenho.

Os psicanalistas chamam às respostas defensivas à ansiedade de “defesas do ego” porque o ego (ou o Eu) está a proteger-se da percepção de um temido desastre.

 

Quando as pessoas ficam assustadas e se sentem atacadas, elas tentam defender-se. Infelizmente, a luta pode transformar-se num ataque a si próprio.

 

Diminuir a ansiedade

Exemplo 1

Clara temia que o público desaprovasse as suas performances e, frequentemente sentia-se inibida em expressar as suas ideias musicais.

As suas mãos ficavam geladas e isso causava-lhe um grande sofrimento. Na terapia, ela percebeu que os seus medos e sensações físicas tinham um significado emocional na sua vida.

Os seus pais divorciaram-se quando ela era muito jovem. Clara não conseguia entender a depressão da sua mãe ou o desaparecimento do seu pai.

Ela assumiu que tinha tido algum papel na separação e sentiu-se responsável e culpada.

Clara sentiu que os seus pais eram indiferentes e que não respondiam às suas necessidades. Eles também não tinham ideia do impacto que as suas acções tinham na filha.

Ela ficou furiosa com os humores da sua mãe e a ausência do seu pai, mas tentou sempre ser uma filha “perfeita” para encobrir a sua raiva.

Clara usou duas defesas do ego para se proteger da ansiedade:

Ela negou a sua raiva porque temia que a raiva fizesse com que as pessoas a abandonassem.

Ela desconectou-se das suas emoções, raiva e medo em particular, fora do cenário das apresentações, mas tornou-se ansiosa quando estava em palco, temendo que uma apresentação “imperfeita” fizesse com que o público a desaprovasse.

Enquanto Clara e eu trabalhámos para entender as raízes mais profundas das suas mãos frias, ela descobriu que a sua ansiedade era um sinal de um sentimento desconfortável, como o medo ou a raiva.

Percebida essa conexão, poderia expressar-se através de palavras e, posteriormente, através das suas performances, que ela antecipou com prazer, em vez de medo.

 

Hoje, a ansiedade de desempenho é menos estigmatizada, mas continua a debilitar e a desmoralizar muitas pessoas.

 

Exemplo 2

Francisco tornou-se violoncelista apesar das objecções dos seus pais, que acreditavam que os músicos “acabavam a tocar no metro”. Ele persistiu nos seus estudos, mas desenvolveu uma dor no braço.

Francisco consultou vários médicos que não encontraram nenhum problema físico.

Fiz-lhe a seguinte pergunta: “Vamos considerar que a dor no seu braço provém de alguns sentimentos dentro de si – dentro da sua mente”.

Embora duvidoso, ele começou a explorar as suas reacções emocionais como uma pista importante para a sua dor física.

Ele passou a compreender como o medo e a raiva eram uma expressão da sua ansiedade de desempenho.

Ele temia comprovar que os seus pais estavam certos se não triunfasse.

Na verdade, ele estava tão enfurecido com eles por duvidarem da sua capacidade que às vezes quando estava preocupado batia no seu próprio braço.

Descobrir esses sentimentos ajudou-o a eliminar a sua dor e permitiu que Francisco controlasse a sua ansiedade de desempenho.

 

Descobrir certos sentimentos ajudou Francisco a eliminar a sua dor e permitiu que controlasse a sua ansiedade de desempenho.

 

Como gerir a ansiedade de desempenho

Aqui estão algumas coisas importantes a serem lembradas sobre a ansiedade no desempenho:

Não existe uma performance “perfeita”. A perfeição existe nas nossas mentes, fantasias e desejos.

Sentir ansiedade não significa que você não é excelente naquilo que faz.

A ansiedade é um sinal para desenvolver a curiosidade sobre as reacções e acções de alguém.

A vergonha é um sentimento complexo sobre si mesmo e também um medo de rejeição do público. Isso pode ser resolvido através da compreensão da fonte do seu desconforto emocional.

Perceba que a autocrítica intensa vem da mente do artista. Não é necessariamente o que o público sente.

Sintomas físicos como mãos frias, estômago embrulhado e dores de cabeça são algumas das maneiras pelas quais o corpo transmite pistas sobre o seu estado emocional.

Através da terapia, Clara e Francisco aprenderam a falar livremente sobre a raiva e o medo. Eles começaram a compreender que os sintomas físicos podem resultar de emoções difíceis de lidar. Uma vez expressadas as emoções, o sintoma físico começou a desaparecer.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

A partir de: What’s at the Root of Performance Anxiety? – Julie Jaffee Nagel

Nos Ataques de pânico a Ameaça é Real Pedro Martins Psicoterapeuta

Nos Ataques de Pânico a Ameaça é Real?

A perspectiva de M. Blechner sobre os ataques de pânico difere da maioria dos clínicos.

Para a generalidade dos clínicos, durante um ataque de pânico, o paciente sente um perigo, mas esse perigo, na realidade, não existe.

O mesmo é dizer que os ataques de pânico não são baseados numa ameaça real.

Segundo Blechner, esta ideia é, pelo menos, para uma parte dos pacientes, imprecisa.

Normalmente, quando se pergunta ao paciente se há alguma coisa na sua vida que o pudesse originar um ataque de pânico, honestamente responde que não.

Mas o clínico pode chegar a uma conclusão diferente depois de fazer um questionário detalhado, procurando especificamente situações de perigo na vida do paciente que o assustem mas das quais não está ciente.

 

Blechner dá-nos como exemplo o caso do Sr. A

O Sr. A teve o seu primeiro ataque de pânico aos 28 anos.

Sentiu dores no peito e dificuldade em respirar. Pensou que ia ter um ataque cardíaco e dirigiu-se às urgências.

Os exames revelaram que o coração estava a funcionar normalmente.

Disseram-lhe que tinha tido um ataque de pânico e foi referenciado para a psiquiatria onde lhe prescreveram Alprazolam.

Um mês depois teve outro ataque que o levou novamente às urgências.

Os exames não revelaram nenhum problema no coração. Aumentaram a dosagem da medicação.

Devido ao medo de ter um novo ataque de pânico e às tonturas que a medicação lhe causava o Sr. A procurou outra abordagem. Foi referenciado para mim.

 

Para a generalidade dos clínicos, durante um ataque de pânico, o paciente sente um perigo, mas esse perigo, na realidade, não existe.

 

Era um jovem vigoroso e muito ambicioso, com um ar bastante saudável.

Perguntei-lhe se actualmente existia alguma coisa na sua vida que o fizesse ter medo. Ele disse que não existia nada, pelo menos, que ele soubesse.

No entanto, durante a nossa primeira conversa descobri que ele estava envolvido num esquema de corrupção, cujos clientes estavam a ser enganados e os lucros escondidos.

Ele foi um pouco blasé acerca da situação, assegurando-me que isso era uma prática comum.

Disse que sabia o que estava a fazer, e que nunca seria apanhado.

À medida que fui explorando a história descobri que o pai, actualmente reformado, foi levado à justiça por estar envolvido num negócio semelhante, e ficou quase arruinado financeiramente.

Ao mesmo tempo que o Sr. A parecia despreocupado em relação às suas práticas, ficou muito perturbado ao falar da ruína do pai.

Eu disse ao Sr. A, que, tendo em conta o ocorrido com o pai, era perfeitamente normal que ele temesse ser apanhado pelas práticas irregulares.

Disse-lhe que qualquer pessoa que estivesse a fazer o que ele fazia e cujo pai tivesse ficado praticamente arruinado por um comportamento semelhante, provavelmente, estaria bastante assustado.

Não era surpresa para mim que ele sentisse pânico; surpreendente para mim era ele não sentir medo mais vezes.

O Sr. A não gostou de me ouvir dizer aquilo, mas os ataques de pânico terminaram depois da primeira consulta.

Rapidamente deixou a medicação e os ataques de pânico não voltaram.

 

Por vezes os ataques de pânico surgem da dissociação de situações que objectivamente provocam ansiedade.

 

Reunindo o máximo de informações detalhadas que pude, fui capaz de substituir o pânico intermitente por um medo mais estável, que era ajustado à situação.

Nas sessões seguintes, senti por parte dele uma pressão para reinstituir a dissociação (entre a situação e o sentimento) e eu tive que lutar constantemente contra esse processo.

No entanto, na terapia as pressões foram cedendo à medida que ele ia encarando a realidade do que estava a fazer, bem como o esclarecimento das origens das suas defesas.

No caso do Sr. A, um trauma grave parecia estar na base para uma capacidade tão poderosa de dissociar.

O Sr. A é um entre vários pacientes cujos ataques de pânico surgem da dissociação de situações que objectivamente provocam ansiedade.

Em essência, consegui que o Sr. A apreendesse que:

“A situação que descreve faria com que qualquer pessoa estivesse com muito medo. Em grande medida, você está a ignorar e a dissociar o medo causado pela situação, e, logicamente, o medo que sente é real; o que não é normal é não saber de onde vem o medo; que você não conecte a emoção com a situação. Devido a isso parece que os ataques de pânico surgem do nada. Mas não é assim. Você tem muito boas razões para sentir muito medo, e, se quiser que os ataques de pânico terminem, tem de associar o medo à situação.”

Concordando ou não com a tese de que na base dos ataques de pânico está um perigo real, um questionário detalhado é muito importante para uma compreensão mais aprofundada dos episódios de pânico.

Ao mesmo tempo, será importante investigar a tendência de certos pacientes para dissociar.

 

Por que eu sou tão anal? - Pedro Martins Psicoterapeuta

Por Que Eu Sou Tão Anal?

Por vezes as pessoas perguntam: “Por que o meu amigo, parceiro, pai, chefe é tão anal?”.

De onde vem o termo “anal” e o que significa?

Este termo tem origem em Freud, e tal como muitas das suas ideias permanece fortemente enraizada no nosso “inconsciente colectivo” sem termos a noção das suas origens psicanalíticas.

A teoria da “personalidade retentivo-anal” é uma delas.

Nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” Freud descreve as três fases do desenvolvimento psicossexual na primeira infância: oral (0 a 1 ano), anal (1 a 3 anos) e fálico (3 a 6 anos).

A fase anal coincide com o período do treino do bacio. Nesta fase as crianças apercebem-se pela primeira vez que podem controlar os esfíncteres, assim como a si mesmas e o ambiente.

Pela primeira vez, a criança sente que pode obedecer ou opor-se à vontade dos pais.

 

A fase anal coincide com o período do treino do bacio.

 

“Não” é uma palavra muito popular entre os 2-3 anos de idade.

Embora a personalidade retentivo-anal não esteja incluída no DSM – Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, tem alguns aspectos em comum com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo da Personalidade:

– Uma grande preocupação com limpeza que se expressa através de lavagens constantes das mãos, extrema ordem e necessidade de controlo.

Estes comportamentos têm como objectivo reduzir a ansiedade.

O que é a Analidade?

Geralmente, quando alguém pergunta: “Por que sou tão anal?”, refere-se à extrema necessidade de controlar as coisas ao seu redor através de uma enorme atenção aos pormenores.

Isto pode ser irritante para os que estão à sua volta, porque esse comportamento estende-se para além do que é considerado razoável, útil ou produtivo.

Francisco, um jovem advogado queixou-se de que a sua colega sénior tinha exigido que ele investigasse todas as teorias possíveis envolvidas num aspecto de um caso, mesmo as consideradas muito improváveis.

Isso obrigava-o a passar todo o fim-de-semana a pesquisar decisões que, na sua opinião, não tinham relação com o caso e eram uma completa perda de tempo.

Referindo-se à sua colega Francisco disse: “ela é tão anal”. Com isso, ele queria dizer que ele a sentia extremamente controladora e ansiosa.

Ao mesmo tempo, as próprias pessoas podem ficar frustradas com a necessidade de controlo e de ficarem excessivamente focadas em detalhes não essenciais, pois sentem-se incapazes de conter essa necessidade ou impulso.

 

O comportamento “anal” é uma tentativa de controlar a ansiedade.

 

Joana queria comprar um frigorífico novo. On-line pesquisou pelos melhores modelos. Encontrou um muito bem cotado dentro dos valores que estava disposta a gastar, mas com algumas apreciações negativas.

Passou vários dias a pesquisar os aspectos que tinham sido avaliados ​​negativamente, assim como a procurar outros modelos.

Todos os modelos com boas avaliações apresentavam algumas críticas.

Passado algum tempo, Joana percebeu que estava com medo de tomar uma decisão errada, mas a pesquisa em vez de ajudar a decidir ainda a deixou mais ansiosa.

Em ambos os exemplos, o comportamento “anal” é uma tentativa de afastar a ansiedade criando a ilusão de ordem.

A ansiedade surge da sensação de caos iminente, e o comportamento “anal” é uma tentativa de controlar ou de se defender desse caos.

O que fazer com a analidade?

Francisco, por exemplo, pode sentir que a sua colega está a ser “anal”, mas ela vê o seu próprio comportamento como meticuloso – uma qualidade – e considera a resistência de Francisco como um indício de desleixo e preguiça.

No caso de Joana, ela própria está irritado com as suas tendências anais e gostaria de pura e simplesmente tomar uma decisão e seguir em frente com a vida. Ficaria feliz se alguém decidisse por ela.

 

Todas as pessoas podem, ocasionalmente ser “anais”.

 

Se você acha que costuma ser “anal”, aqui estão alguns aspectos sobre os quais deve reflectir:

– Está a acontecer alguma coisa na sua vida que o está a deixar ansioso? A sua “analidade” pode ser uma maneira de controlar essa ansiedade.

– Pergunte a alguém próximo de si se o seu comportamento parece excessivo ou fora de controlo.

– Tente delegar tarefas a outras pessoas e depois deixe que elas determinem a extensão da atenção aos detalhes.

– Considere quais são as consequências de um resultado que é suficientemente bom, mas não perfeito?

Todas as pessoas podem, ocasionalmente ser “anais”.

Quando você ou outra pessoa estiver a ser “anal”, lembre-se de que é uma indicação de que está com dificuldade em controlar a ansiedade.

O comportamento “anal” é uma tentativa de controlar essa ansiedade.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de:

Susan Kolod – “Why am I so anal?”

Compreender a Ansiedade (parte III) - O Papel da Psicoterapia - Pedro Martins Psicoterapeuta

Compreender a Ansiedade (parte III)

Compreender a Ansiedade – O Papel da Psicoterapia

A psicoterapia pode ser uma forma de descobrir respostas para as questões complexas a que a ansiedade remete.

A psicoterapia é uma ajuda preciosa na medida em que faz aumentar a autoconsciência da pessoa.

Todos temos pontos cegos no que diz respeito aos nossos próprios pensamentos, sentimentos e motivações.

Fazer psicoterapia com um clínico qualificado pode ser um pouco como ver-se ao espelho.

Se você ficar muito perto do espelho, só verá uma pequena parte de si mesmo reflectida.

A terapia é como dar um passo para trás em relação ao espelho – você continua a ver o que via antes, mas agora consegue ver muito mais de si mesmo.

Isso significa que pode compreender coisas novas – coisas de que gosta e de que não gosta. Embora isso possa ser complicado, também pode ser muito valioso.

Afinal, se o seu carro não está a funcionar bem, mas você recusa-se a abrir o capô e olhar lá para dentro, provavelmente, não conseguirá resolver o problema.

A psicoterapia faz aumentar a autoconsciência da pessoa.

Da mesma forma, é muito difícil descobrir como lidar com uma dor emocional se nos recusarmos a olhar para dentro da nossa própria mente.

Então, como a psicoterapia pode ajudar a lidar com a ansiedade?

O processo terapêutico pode ser uma ajuda preciosa para descobrir o que significam os sentimentos de ansiedade.

– É, eventualmente, uma resposta ansiosa a uma situação stressante? (ansiedade funcional/situacional)

– É uma angústia existencial que resulta de um desfasamento entre aquilo que você possui, e o que precisa e deseja? (ansiedade existencial)

– É uma ansiedade disfuncional, inútil, que subestima as suas capacidades e amplia a sensação de perigo? (ansiedade disfuncional)

Em muitos casos, é uma mistura de várias ansiedades.

É importante descobrir o que está acontecer porque diferentes tipos de ansiedade necessitam de respostas distintas.

Muitas vezes as pessoas notam um desconforto mental, mas não estão cientes do que é a ansiedade. Através do processo psicoterapêutico, isso pode ficar claro.

Se a ansiedade é sobre um problema iminente que pode ser resolvido, então, procurar o apoio dos outros e empregar os seus recursos para resolver o problema, pode ser suficiente para diminuir a ansiedade.

Por exemplo, se uma pessoa achar que não está preparada para apresentar um trabalho, provavelmente, vai sentir-se ansiosa.

Cada tipo de ansiedade necessita de uma respostas distinta.

Preparar melhor a apresentação, treinar com um amigo ou colega e responder às perguntas prováveis, pode ser o suficiente para que a ansiedade desapareça.

Mas se o problema for evitado, a ansiedade vai aumentar.

Através da abordagem de várias questões na psicoterapia, podemos chegar à conclusão de que certos pensamentos desconfortáveis e sentimentos de ansiedade ou pânico vêm do “Departamento de Ansiedade Existencial”.

Ao compartilharmos os nossos medos humanos comuns – medo de morrer, de estar a viver uma vida desprovida de significado, medo de não deixar uma marca, um legado – sentimo-nos mais fortes e capazes de tolerar a ansiedade existencial quando ela surge.

Se estamos sozinhos perante os nossos medos humanos básicos, eles tornam-se mais pesados ​​e penosos.

Se compartilharmos os nossos medos somos capazes de tolerar a ansiedade existencial.

Compartilhá-los com uma pessoa que seja solidária e compreensiva pode ajudar a desenvolver um espaço comum de entendimento e um sentimento de pertença.

Essa pessoa pode ser um psicoterapeuta, mas também pode ser um amigo, membro da família ou parceiro íntimo.

Vamos voltar ao nosso exemplo hipotético do “João”, um advogado que começou a duvidar se realmente tinha feito uma boa escolha, ou se devia procurar outras coisas que o realizassem.

Se houver um amigo próximo em quem o João confie e possa conversar sobre as suas dúvidas, preocupações, sentimentos de mal-estar e ansiedade, talvez se sinta mais determinado para explorar outras opções; a dar um passo corajoso em direcção ao assustador desconhecido – e, perceber o que é realmente importante para ele, independentemente do que as outras pessoas (pais) queiram que ele seja ou faça.

O apoio do amigo pode ajudar o João a aventurar-se na descoberta daquilo de que realmente gosta.

Estas conversas, quer ocorram em psicoterapia ou numa outra relação de confiança, podem ajudar as pessoas a aprofundar os seus desejos e necessidades, e a ver a vida com outros olhos.

E se a pessoa ao tentar entender a ansiedade, descobrir por meio da psicoterapia (ou não), que está a lidar com uma ansiedade disfuncional?

Vamos dar outro exemplo hipotético. Vamos chamar “Filipa” à pessoa deste exemplo.

Imagine que a Filipa sente uma ansiedade muito grande sempre que conhece novas pessoas.

Tanto que, apesar de querer fazer novas amizades, ela recusa-se a ir a festas e a eventos quando é convidada.

Uma vez que fica extremamente ansiosa quando é apresentada a novas pessoas, ela não se aventura para além dos vários conhecidos/amigos que tem, mas ao mesmo tempo sente-se sozinha e sem amigos íntimos.

Imaginemos que na psicoterapia a Filipa fica mais consciente de que, quando conhece novas pessoas, bloqueia com o receio que os outros achem que é entediante e a rejeitem.

Se ela analisar mais profundamente essa expectativa, poderá encontrar outra coisa – a crença de que não é agradável e que é uma pessoa desinteressante.

A ansiedade social está associada à forma como nos vemos.

Por vezes, crenças como esta são fardos pesados que carregamos sem sabermos – talvez tenham estado ali desde sempre, de modo que são tão familiares que nem os estranhamos, ou, talvez, estejam submersos nas distracções da vida quotidiana.

A ansiedade social da Filipa está associada à forma como se vê.

A psicoterapia pode ajudar a compreender porque o espelho lhe devolve uma imagem distorcida de si mesma.

Isso implica desafiar certas crenças negativas sobre ela própria e explorar a origem dessas crenças.

Dessa forma, a Filipa será capaz de reconhecer e a apreciar as suas qualidades, e, nesse sentido, dar pequenos passos para se ligar aos outros.

Adaptado por Pedro Martins a partir de: “Understand Anxiety” – Alina Sotskova

mundo moderno

Como o Mundo Moderno nos está Afectar

O mundo moderno tem muitas coisas maravilhosas (a odontologia é boa, os carros são confiáveis, podemos facilmente entrar em contacto a partir do México com a nossa avó na Escócia) – mas também é poderosa e tragicamente capaz de causar um alto nível de ansiedade e estados depressivos.

Existem seis características particulares da modernidade que têm um efeito psicologicamente perturbador. Cada uma tem uma cura potencial, que só pode ser colocada em acção colectivamente quando conhecermos mais sobre o problema em questão.

 

  1. Meritocracia:

As nossas sociedades dizem-nos que todas as pessoas são “livres de fazer”, caso tenham talento e energia. A desvantagem dessa ideia, ostensivamente libertadora e apaixonante, é que qualquer insucesso sentido não é, como no passado, um acidente ou infortúnio, mas um sinal claro de falta de talento ou preguiça. Se aqueles que estão no topo merecem todo o seu sucesso, então aqueles que estão no fundo, certamente, devem merecer todo o seu fracasso. Uma sociedade que pensa em si mesma como meritocrática em vez de olhar para os que falharam como desafortunados, rotula-os de perdedores.

A cura é uma crença forte e culturalmente apoiada em duas grandes ideias: a sorte, que diz que o sucesso não depende apenas do talento e do esforço; e a tragédia, que diz que as pessoas boas e decentes podem falhar, e merecem compaixão em vez de desprezo.

 

  1. Individualismo:

Uma sociedade individualista prega que o indivíduo e suas realizações são “tudo” e que todos são capazes de ter um destino especial. Não é a comunidade que importa; A união, o grupo, é para os desesperançados. Ser “comum” é considerado uma maldição. Como resultado a maioria de nós acabará, estatisticamente falando, associada ao fracasso.

A cura passa pelo culto da boa vida trivial – e apreciar os prazeres simples do quotidiano.

 

  1. Secularismo:

As sociedades seculares não acreditam em qualquer coisa que seja maior ou superior a elas mesmas. As religiões costumavam ter o papel de manter os nossos caminhos insignificantes e batalhas internas em perspectiva. Mas agora não há nada para admirar ou relativizar nos seres humanos, cujos triunfos e percalços acabam por ser um tudo ou um nada.

A cura envolveria a utilização regular de fontes de transcendência para gerar uma perspectiva benigna e relativizada sobre as nossas mágoas: a música, as estrelas à noite, os vastos desertos ou os oceanos tornar-nos-iam mais humildes.

 

  1. Romantismo:

A filosofia do romantismo diz-nos que para cada um de nós há uma pessoa muito especial que nos pode tornar completamente felizes. No entanto, de uma maneira geral, temos que nos contentar com relacionamentos aceitáveis com alguém que é muito agradável em várias coisas e muito difícil noutras. Parece um desastre – em comparação com as nossas grandes expectativas.

A cura passa por perceber que não errámos: fomos encorajados a acreditar num sonho muito improvável. Em vez disso, devemos construir as nossas ambições em torno da amizade e do amor fraternal.

 

  1. Os média:

Os meios de comunicação têm um prestígio enorme e um lugar gigantesco nas nossas vidas – mas rotineiramente orientam a nossa atenção para as coisas que assustam, preocupam e irritam, ao mesmo tempo que nos retiram o poder de termos uma acção pessoal efectiva sobre essas coisas. Normalmente foca os lados menos bons da natureza humana, e deixa por mostrar a existência de boas intenções, responsabilidade e decência.

A cura passaria por notícias que se concentrassem em apresentar soluções ao invés de gerar indignação; despertar uma consciencialização para problemas sistémicos ao invés de enfatizar os bodes expiatórios e os monstros emblemáticos – e isso nos lembraria, frequentemente, que as notícias sobre as quais precisamos focar-nos veem das nossas próprias vidas e experiências directas.

 

  1. Aperfeiçoamento:

As sociedades modernas enfatizam que depende de nós sermos profundamente felizes, sanos e realizados. Como resultado, acabamos a detestar-nos, sentir-nos fracos e que estamos a desperdiçar a vida.

Uma cura seria uma cultura que promove permanentemente a ideia de que a perfeição não está ao nosso alcance – que esta, do ponto de vista mental, ligeiramente (e por vezes muito) tristonho é uma parte inescapável da condição humana e do que precisamos, acima de tudo, são bons amigos com quem podemos estar e conversar honestamente sobre nossos verdadeiros medos e vulnerabilidades.

As causas do sofrimento psicológico no nosso mundo são – actualmente – muito maiores e mais activas do que as curas que necessitamos. Nós merecemos muita pena pelo preço que pagamos por termos nascido nos tempos modernos. Mas, mais esperançosamente, as curas estão disponíveis de forma individual e colectiva, se reconhecermos, com clareza suficiente, as fontes das nossas verdadeiras ansiedades e tristezas.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de “How the modern world makes us mentally ill” – Alain de Botton

fobias agorafobia

Fobias

Fobias

Por fobia entende-se um medo infundado e irracional de alguma coisa que não cede a nenhuma argumentação.

Tudo pode ser investido e tornar-se objecto de medo (objecto fóbico).

A atitude do sujeito perante a fobia é a fuga da situação fóbica.

As fobias representam uma dificuldade interna que é deslocada e projectada para o mundo externo, permitindo, não só libertar o mundo interno, como “controlar” o problema no exterior.

Sistematicamente, no fundo da personalidade fóbica encontramos uma intensa ligação às figuras afectivas da infância.

Esta dificuldade de separação resulta duma relação demasiado fechada e com uma sobrecarga de perigos atribuídos ao mundo exterior, e, sobretudo, da ansiedade dos pais.

Através do caso do “Pequeno Hans” é possível fazer uma síntese dos mecanismos fóbicos.

Podemos deduzir que o mecanismo fóbico é comparável a uma definição clássica de inteligência, segundo a qual seria inteligente descobrir uma solução diferente para um problema já conhecido.

A síntese é a seguinte: na sua evolução normal, Hans sente hostilidade para com o pai que lhe tira atenção e a companhia da mãe.

Como a hostilidade contra o pai resulta para a criança num medo do pai, Hans desloca para os cavalos (objecto fóbico) o seu medo, e inverte o problema afectivo que se lhe põe, dizendo ter medo de cavalos.

Esta é, obviamente, uma solução inteligente para que Hans possa crescer junto do pai e da mãe.

As pessoas enfrentam um extremo desconforto e angústia diante desses objectos/situações activadores do medo e da ansiedade, por isso tendem a evitá-los de todas as maneiras possíveis.

As fobias podem ser divididas em específicas, sociais e agorafobia.

Entre os tipos de fobias específicas estão determinados animais, situações no ambiente natural, sangue, ferimentos ou outro tipo de situações específicas.

As mais comuns são o medo de aranhas, medo de cobras e medo das alturas.

As fobias sociais são aquelas em que a pessoa afectada tem receio do julgamento de outras pessoas.

A agorafobia é o medo de uma situação de que a pessoa sente que não é possível fugir.

Tendo em conta que “tudo” é susceptível de ser um objecto fóbico, aqui fica uma lista das mais vulgares às mais extravagantes:

Ablepsifobia — medo de ficar cego; Ablutofobia — medo de tomar banho; Acluofobia — medo ou horror exagerado à escuridão; Acrofobia — medo de altura; Agorafobia — medo de lugares abertos, de estar na multidão, lugares públicos ou deixar lugar seguro; Aicmofobia — medo de agulhas de injeção ou objetos pontudos; Aletrorofobia — medo de galinhas; Aracnefobia ou Aracnofobia — medo de aranhas; Automatonofobia – medo de bonecos que imitam humanos; Catoptrofobia — medo de espelhos; Cinofobia — medo de cães; Claustrofobia – medo de lugares fechados, como elevadores ou aviões; Coulrofobia  —  medo de palhaços; Demofobia ou enoclofobia — medo de multidão (agorafobia); Dendrofobia — medo de árvores; Dromofobia — medo de cruzar ruas; Eisoptrofobia – medo de espelhos e de se ver ao espelho; Estaurofobia — medo de cruz ou crucifixo; Fagofobia — medo de engolir ou de comer; Hexacosioihexecontahexafobia — medo do número 666; Ofidiofobia – medo de cobras; Onfalofobia  — medo de umbigos; Ptesiofobia  — medo de viajar de avião; Quenofobia — medo de espaços vazios.

depressão ansiedade

Depressão – As Causas e como Resolvê-las

O que realmente causa depressão e ansiedade – e como podemos realmente resolvê-las?

Actualmente, no mundo ocidental, se você andar deprimido ou ansioso e for ao seu médico, porque, simplesmente, não consegue aguentar mais, provavelmente ele vai falar-lhe de uma certa “teoria”.

Aconteceu comigo quando eu era adolescente, na década de 90.

Você sente-se assim, disse o meu médico, porque o seu cérebro não está a funcionar correctamente.

Não está a produzir os químicos necessários. Você precisa tomar medicação para tratar o cérebro.

Eu tentei essa estratégia com todo o meu coração durante mais de uma dezena de anos. Ansiava por um alívio.

A medicação tinha um ligeiro efeito sempre que aumentava a dose, mas logo depois a dor voltava.

Acabei por rapidamente chegar à dose máxima e assim andei muitos anos.

Pensei que estava alguma coisa errada comigo porque estava a tomar antidepressivos e apesar disso, sentia uma dor profunda.

Por fim, a necessidade de respostas era tão grande que estive três anos a pesquisar o que realmente causa a depressão e a ansiedade, e como efectivamente as tratar.

Fiquei assustado com muitas coisas que aprendi.

A primeira foi que a minha reacção à medicação não era bizarra – era bastante normal.

Geralmente a depressão é medida pelos investigadores através da escala de Hamilton. Esta vai de 0 (extremamente feliz) a 59 (pensamentos suicidas).

De acordo com a pesquisa do professor Irving Kirsch, da Universidade de Harvard, melhorar os padrões de sono representa um aumento na escala de Hamilton de cerca de 6 pontos.

Os antidepressivos oferecem, em média, um aumento de 1.8 pontos. É um efeito real, mas modesto.

Quando as pessoas estão a comportar-se de maneiras aparentemente autodestrutivas, “está na hora de parar de perguntar o que há de errado com elas e começar a perguntar o que aconteceu com elas”.

O facto de ser uma média significa que algumas pessoas podem ter um aumento maior, mas para um grande número de pessoas como eu, não é suficiente para sair da depressão.

Para além disso, fiquei aturdido ao descobrir que reconhecidos investigadores pensam que a teoria que considera que a depressão é causada por um desequilíbrio químico está errada.

Fiquei ainda mais surpreso ao descobrir que esta não é uma posição marginal:

– A Organização Mundial da Saúde tem alertado durante anos para a necessidade de começar a lidar com as causas mais profundas da depressão.

De entre as várias causas apontadas para a depressão, uma foi pessoalmente, mais difícil de investigar, a ponto de quase não olhar para ela durante os três anos de pesquisa.

Finalmente, em San Diego – Califórnia pude compreender mais sobre essa causa quando conheci um notável investigador; o Dr. Vincent Felitti.

No entanto, tenho que dizer que desde o princípio foi muito doloroso investigar essa causa.

Isso obrigou-me a encarar algo de que eu fugi a maior parte da minha vida.

Uma das razões pelas quais me agarrei à “teoria” de que a minha depressão era apenas o resultado de algo errado no meu cérebro, percebo agora, era porque não queria ter que pensar nisso.

A história da descoberta do Dr. Felitti remonta a meados da década de 80, e aconteceu quase por acidente.

A princípio, parece que não é uma história sobre a depressão.

Mas vale a pena seguir a sua caminhada porque pode ensinar-nos muito.

Para tratar a depressão, você precisa lidar com as causas subjacentes.

Quando os pacientes foram pela primeira vez no gabinete do Dr. Felitti, alguns tiveram dificuldade em entrar.

Estavam nos estágios mais graves de obesidade, e foram designados para clínica, como sendo a sua última oportunidade.

Felitti ficou encarregue de encontrar uma forma de resolver a questão dos elevadíssimos custos da obesidade na empresa.

Comece do zero, disseram eles. Experimente qualquer coisa.

Um dia, Felitti teve uma ideia tão doida quanto simples:

“E se estas pessoas com obesidade, simplesmente, parassem de comer e vivessem à base das gorduras que acumularam nos seus corpos – com suplementos de nutrição monitorizados – até que alcançassem um peso normal? O que aconteceria?”

Cautelosamente, com muita supervisão médica tentaram e, surpreendentemente funcionou.

Os pacientes estavam a perder peso e a voltar a ter um corpo sadio.

Entretanto, aconteceu algo estranho.

No programa, algumas pessoas perderam quantidades incríveis de peso, e a equipa médica, e todos os seus amigos, esperavam que essas pessoas reagissem com alegria, mas muitas vezes entravam numa depressão brutal, pânico e/ou raiva.

Alguns tentaram suicidar-se. Sem aquele volume sentiram-se incrivelmente vulneráveis.

Alguns abandonaram o programa, empanturraram-se de fast-food e voltaram rapidamente ao seu peso inicial.

Felitti ficou desconcertado, até falar com uma mulher de 28 anos.

Em 51 semanas, Felitti ajudou-a a passar dos 185 kg para os 60 kg.

Então, de repente, sem nenhum motivo aparente, ela ganhou 17 kg no espaço de poucas semanas.

Em pouco tempo, ela ultrapassou os 185 kg. Então, Felitti perguntou-lhe gentilmente o que mudou quando ela começou a perder peso.

Parecia um mistério para ambos. Conversaram durante muito tempo. A certa altura ocorre-lhe uma coisa.

Perante acontecimentos terrivelmente dolorosos, a dor faz sentido. É uma resposta ao que está a acontecer consigo.

Quando ela era obesa, os homens nunca se interessavam por ela, mas quando ela chegou a um peso saudável, pela primeira vez em muito tempo, um homem atirou-se a ela.

Ela fugiu e imediatamente começou a comer compulsivamente sem conseguir parar.

Foi quando Felitti lhe perguntou: Quando é que você começou a aumentar de peso?

Ela pensou sobre a questão e respondeu: Quando tinha 11 anos.

Então ele perguntou: Aconteceu mais alguma coisa na sua vida quando você tinha 11 anos?

Bem, ela respondeu – foi quando o meu avô começou a violar-me.

Das 183 pessoas do programa, Felitti descobriu que 55% tinham sido abusadas sexualmente.

Uma mulher referiu que tinha aumentado de peso depois de ter sido violada porque “o excesso de peso faz com que passe despercebida, e é isso que eu quero”.

Descobriu que muitas dessas mulheres se tornaram obesas por uma razão inconsciente: proteger-se da atenção dos homens, que, acreditavam, iriam maltratá-las.

Felitti de repente percebeu:

“O que tínhamos pensado como sendo o problema – a obesidade, era de facto, com muita frequência, a solução para problemas sobre os quais nada sabíamos”.

Esta descoberta levou Felitti a lançar um enorme programa de pesquisa, financiado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

Felitti queria saber como é que os vários tipos de trauma infantil afectam os adultos.

Aplicou um questionário simples a 17 mil pacientes comuns em San Diego, que vinham apenas para cuidados de saúde gerais (desde uma dor de cabeça até uma perna partida).

Ele perguntou aos pacientes se alguma entre 10 coisas más lhes tinha acontecido em criança, como por exemplo, ser negligenciada ou abusada emocionalmente.

De seguida perguntou aos pacientes se apresentavam algum entre 10 problemas psicológicos, como obesidade, depressão ou dependência de drogas.

Quanto mais investiguei a depressão e a ansiedade, mais percebi que longe de ser causada por um espontâneo mau funcionamento do cérebro, a depressão e a ansiedade, são, principalmente, causadas por acontecimentos nas nossas vidas.

Ele queria analisar as correspondências.

Uma vez introduzidos, os números pareciam inacreditáveis.

A quantidade de pessoas com trauma infantil – factor de risco para a depressão no adulto – era assustador.

As pessoas que referiram sete categorias de eventos traumáticos em criança tinham mais 3100% de probabilidades de tentar o suicídio em adulto e mais de 4000% de probabilidades de consumir drogas duras.

Depois de uma das minhas longas conversas com o Dr. Felitti sobre estas questões, fui até à praia em San Diego. Todo eu tremia.

Enquanto caminhava fui tomado por uma quantidade enorme de sentimentos.

Ele estava a forçar-me a pensar sobre uma dimensão da minha depressão que eu não queria enfrentar.

Quando eu era criança, a minha mãe estava doente e meu pai estava noutro país e, nesse caos, fui sujeito a actos extremos de violência por parte de um adulto.

Entre outros actos, fui estrangulado com um cabo eléctrico.

Eu tentei selar essas memórias, para as afastar da minha mente.

Eu recusei pensar que elas estavam a afectar a minha vida adulta.

Porque é que tantas pessoas que experimentam maus tratos na infância sentem o mesmo?

Porque é que isso leva muitas delas a ter comportamentos autodestrutivos, como a obesidade, consumo de drogas duras ou o suicídio?

Passei muito tempo a pensar nisso. Eu tenho uma teoria.

Embora, quero salientar, vai além da evidência científica descoberta por Felitti, e não posso afirmar com certeza, que é verdadeira.

Quando somos criança, temos muito pouco poder para mudar o que nos rodeia.

Só o facto de se ser capaz de falar sobre o trauma levou a uma enorme queda na procura de cuidados médicos.

Você não se pode afastar, ou forçar alguém a parar de o maltratar. Então, você tem duas opções.

Pode admitir a si mesmo que é impotente – que, a qualquer momento pode ser maltratado, e, simplesmente, não há nada que possa fazer a esse respeito.

Ou você pode dizer a si mesmo que a culpa é sua.

Se fizer isso, você realmente ganha algum poder – pelo menos na sua própria mente.

Se é culpa sua, então há algo que você pode fazer para tornar as coisas diferentes.

Você não é uma bola numa máquina de flippers, é a pessoa que controla a máquina.

Desta forma, assim como a obesidade protegeu as mulheres dos homens que elas temiam que pudessem violá-las, culpar-se pelos seus traumas de infância protege-o de ver quão vulnerável você era e é.

Você pode tornar-se o poderoso. Se a culpa é sua – a um certo nível -, sente que controla.

Mas isso tem um custo. Se você é responsável por ser maltratado, então, de algum modo, deve pensar que mereceu.

Uma pessoa que acha que mereceu ser ferida em criança vai pensar que também o merece como adulto.

Isto não é maneira de viver.

Mas é a forma – a melhor possível na altura -, que permite sobreviver perante tamanhas adversidades.

Mas foi o que o Dr. Felitti descobriu a seguir que mais me ajudou.

Quando os pacientes que responderam ao questionário referiram que sofreram maus-tratos (trauma da infância), ele conseguiu que os seus médicos abordassem a questão:

“Vejo que você passou por uma má experiência em criança. Lamento que isso tenha acontecido consigo. Gostaria de falar sobre isso? ”

O acto de falar, de libertar-se da vergonha é – em si mesmo – a cura.

Felitti quis saber se ser capaz de falar sobre o trauma com uma figura de autoridade confiável, e reconhecer que não se é culpado, ajudaria a libertar as pessoas.

O que aconteceu foi surpreendente.

o facto de se ser capaz de falar sobre o trauma levou a uma enorme queda na procura de cuidados médicos (uma redução de 35% ao longo do ano seguinte).

Para as pessoas que foram encaminhadas para uma ajuda mais especializada, houve uma queda de mais de 50%.

Uma mulher idosa – que descreveu ser sido violada quando era criança – mais tarde escreveu uma carta dizendo:

“Obrigado por perguntar… Tinha medo de morrer sem que ninguém soubesse o que aconteceu”.

O acto de falar, de libertar-se da vergonha é – em si mesmo – a cura.

Então, junto das pessoas em quem confio, comecei a falar sobre o que me tinha acontecido quando era mais jovem.

Longe de me envergonharem e de pensarem que eu era perturbado, eles mostraram amor e ajudaram-me a ultrapassar o sofrimento passado e presente.

Enquanto ouvia as gravações das minhas longas conversas com Felitti, pensei que, se ele tivesse dito às pessoas o que meu médico me disse:

– que os seus cérebros não estavam a funcionar bem, e era por isso que eles estavam tão angustiados, e a única solução era a medicação –

talvez nunca tivessem sido capazes de entender as causas mais profundas dos seus problemas e nunca teriam conseguido libertar-se deles.

Uma das razões pelas quais me agarrei à “teoria” de que a minha depressão era apenas o resultado de algo errado no meu cérebro, percebo agora, era porque não queria ter que pensar nisso.

Quanto mais investiguei a depressão e a ansiedade, mais percebi que longe de ser causada por um espontâneo mau funcionamento do cérebro, a depressão e ansiedade, são, principalmente, causadas por acontecimentos nas nossas vidas.

Existem factores biológicos, como os genes, que podem tornar-nos significativamente mais sensíveis a essas causas, mas não são os factores principais.

E isso levou-me à evidência científica de que devemos tentar resolver a depressão e a ansiedade de uma maneira muito diferente (ao mesmo tempo os antidepressivos, devem, evidentemente, permanecer em cima da mesa).

Para fazer isso é necessário parar de olhar para a depressão e para a  ansiedade como uma patologia irracional, ou uma estranha falta de químicos no cérebro.

Perante acontecimentos terrivelmente dolorosos, a dor faz sentido. É uma resposta ao que está a acontecer consigo.

Para lidar com a depressão, você precisa lidar com suas causas subjacentes.

Um dia, um dos colegas do Dr. Felitti, o Dr. Robert Anda, disse-me uma coisa sobre a qual tenho pensado desde então.

Quando as pessoas estão a comportar-se de maneiras aparentemente autodestrutivas, “está na hora de parar de perguntar o que há de errado com elas e começar a perguntar o que aconteceu com elas”.

Tradução/adaptação – Pedro Martins

a partir de Johann Hari – HuffPost

Johann Hari – Lost Connections: Uncovering the Real Causes of Depression – and the Unexpected Solutions

tendências suicidas

Tendências suicidas tratadas em Psicoterapia

O caso de uma paciente com tendências suicidas tratada em psicoterapia

A Sra. F. recorreu à medicação como substituto da falta de “apoio” das pessoas, quando começou a sentir que a sua auto-suficiência começava a desmoronar. Ela necessitava que alguém lhe desse mais do que qualquer um parecia poder dar-lhe. Portanto, tornou-se cada vez mais dependente da medicação como substituto para essa situação. No fim tentou suicidar-se com uma dose excessiva de comprimidos – e (inconscientemente) punir aqueles que falharam em ficar do seu lado quando mais precisava deles.

A Sra. F. (50 anos) foi-me enviada pelo hospital depois de uma tentativa de suicídio. Por pouco não morreu. Ocorreu num período em que se sentia muito angustiada e via aqueles que a rodeavam afastarem-se do contacto com o que ela estava a sentir.

Quando comecei a segui-la, disseram-me que existiam razões de ordem prática pelas quais ela só poderia vir uma vez por semana. Ela continuava medicada para os seus estados de ansiedade e insónia; e continuava com dificuldades para dormir. Mesmo quando conseguia dormir, acordava regularmente com crises de ansiedade que costumavam chegar ao ponto do terror.

Numa determinada sessão a Sra. F. pediu-me para eu falar com o psiquiatra que a enviou para mim para que ele mudasse ou aumentasse a medicação, dizendo que precisava tomar alguma coisa para amenizar aqueles sentimentos que estavam, outra vez, a tornar-se insuportáveis. Estava convencida que nem eu nem o Dr. Y (psiquiatra) tínhamos noção dos horrores que ela passava todos os dias. E não existia nada que melhorasse essa situação. Lamentava profundamente que no hospital tivessem conseguido salvar a sua vida.

Concordei em discutir o problema com o Dr. Y, mas não prometi qualquer mudança na sua medicação. Disse-lhe que não estava convencido de que era de mais comprimidos que ela, realmente, precisava.

Paciente: “Você, obviamente, não entende. Não está a ver que é insuportável? Você tem que fazer alguma coisa. Eu, simplesmente não posso continuar a viver com esta ansiedade e estes terrores, e sem conseguir dormir. EU PRECISO DE MAIS COMPRIMIDOS.”

Terapeuta:Vejo que existe algo de que você precisa mais. Não creio que sejam comprimidos, mas, sim, o que eles estão a substituir. Acredito que em certas alturas você precisou de uma pessoa que estivesse mais disponível para você, mas sentiu essa pessoa relutante ou incapaz de enfrentar a intensidade dos seus sentimentos. Então, em vez disso, você tem procurado sufocar esses sentimentos com comprimidos.”

Paciente: “Eu não posso continuar assim. Você tem que pedir ao Dr. Y que me dê mais comprimidos, ou mais fortes.”

Terapeuta: “Vou falar com o Dr. Y; mas gostaria de sugerir que você considerasse vir mais vezes esta semana. Poderia vê-la 3 vezes por semana se você estivesse preparada para vir.”

A Sra. F. disse que viria a uma sessão extra. Entretanto falei com o Dr. Y, que concordou que seria um retrocesso ceder ao pedido de aumentar a medicação. Estava claro que ela era depende da eliminação dos seus sentimentos., em vez de ousar experimentá-los e partilhá-los com outra pessoa de modo a compreendê-los.

Três dias depois a Sra. F. veio à sessão. Estava mais calma e parecia um pouco embaraçada. Explicou o que acontecera.

Depois da última sessão, emergiram várias coisas. Ela tinha separado o segundo comprimido para tomar depois da meia-noite se não conseguisse dormir (como era seu hábito fazer). De manhã viu que tinha dormido sem necessidade do comprimido.

Contou-me, então, sobre um período da sua infância, quando tinha cerca de três anos e a sua mãe estava ocupada com a irmã mais nova. A Sra. F. costumava ir a uma loja na esquina de onde morava, e o homem que ficava atrás do balcão tinha por hábito dar-lhe um chupa. A sua mãe não concordava e costumava tirá-lo, mas o homem da loja dava-lhe outro sempre que ela pedia.

Sugeri à Sra. F. que os chupas que o homem lhe costumava dar representavam a sua mãe, de quem ela estava a precisar, mas tendo que abrir mão. Parecia que a mãe não reagia aos sinais de angústia que a Sra. F. apresentava quando buscava os chupas como forma de dizer à mãe que precisava de mais tempo com ela. Então, quando a mãe lhe tirava os chupas sem lhe dar mais atenção a Sra. F. pode ter começado a sentir que aquilo que ela precisava era de mais chupas. Querer mais comprimidos agora era como querer mais chupas para a criança ansiosa que existia dentro dela.

A Sra. F. contou-me então que se surpreendera com uma lembrança na noite em que dormiu sem o comprimido extra. “Era tão nítida que parecia uma experiência real do presente.” Ela teve a sensação de estar na cama com a sua mãe (o que acontecia por vezes quando era pequena) e de sentir “as costas grandes e fortes” da mãe ali ao lado dela. Essa costumava ser uma das suas experiências infantis mais felizes; ser capaz de ficar perto da mãe quando dormia.

Eu disse que essa pode ter sido das poucas vezes em que ela se sentiu capaz de se abrigar na mãe. De fazer-lhe exigências ocultas enquanto esta dormia, já que não havia perigo de a mãe a censurar ou de se afastar dela. A Sra. F. concordou e começou a chorar. Tornou-se, então, evidente que encontrava alívio em relação à angústia primeva ao ser capaz de expressar a situação através do choro na presença de alguém que estava preparado para ficar em contacto com o que ela estava a sentir.

Toda a vida a Sra. F. fora considerada uma pessoa forte e auto-confiante; em quem toda a gente se podia apoiar. Ela sentia que não poderia nunca deixar alguém conhecer o seu Eu assustado e dependente. Em vez disso, geralmente tentava escondê-lo, a fim de preservar algum contacto com os outros, pois sabia, por experiência própria, que a abandonavam quando mostrava sinais de carência. Usava a medicação para encobrir essa parte. Quando a supressão não era suficiente para bloquear os seus sentimentos, aumentava a dose a ponto de quase se bloquear a si mesma. A sua tendência para o suicídio era, então, uma tentativa de eliminar os sentimentos que não conseguia dominar sozinha.

Se eu tivesse seguido o próprio diagnóstico da Sra. F., de que as pessoas não podiam lidar com ela quando se sentia mais carente, e que, portanto, ela precisava de medicação mais forte, eu estaria a ser conivente com a sua fantasia sobre a qualidade ingovernável dos seus sentimentos mais difíceis. Em vez disso, fez mais sentido desafiar a sua própria limitação a uma sessão por semana. Numa altura em que mais esperava que eu relutasse em permanecer em contacto com o que ela estava sentindo, ofereci mais disponibilidade. Na sua terapia tinha a oportunidade de reexperimentar o período da carência infantil negada, sendo que eu representaria a mãe que se afastaria dela. Isto fez surgir novas lembranças, que tinham a ver com a sua busca de substitutos para a presença da mãe (chupas), e com o facto de ela encontrar segurança na presença adormecida da sua mãe – uma dependência secreta que lhe parecia segura porque a mãe não estava ciente dela.

Aos poucos a Sra. F. ousou sustentar-se na minha disponibilidade de forma aberta em vez de secreta, e o efeito dessa “sustentação pelo relacionamento” foi espantoso. Começou a descobrir que os seus sentimentos de angústia mais difíceis poderiam ser contidos dentro de um relacionamento. É claro que tivemos que trabalhar bastante a partir desse novo movimento hesitante em direcção a permitir a si mesma confiar outra vez em alguém. Não obstante, tornou-se claro que a minha firmeza acerca da sua necessidade de mais tempo com uma pessoa ajudou-a a sentir-se apoiada em mim, em vez de buscar alívio, unicamente, através dos medicamentos.

Num período de vários meses a Sra. F. começou a desenvolver um tipo diferente de segurança, agora baseada no seu uso de uma dependência de fora que ela podia internalizar e consolidar dentro de si mesma. Essa recém-encontrada força era diferente da sua permanente auto-suficiência. A sua antiga maturidade precoce, adquirida defensivamente para proteger a mãe sobrecarregada, pode agora dar lugar a uma maturidade mais sólida, conseguida ao seu próprio ritmo e não ao ritmo dos outros.

 

 

Taduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de:

On Learning from the Pacient – Patrick Casement

 

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