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psicólogo clínico

Deficit – Na Prespectiva da Saúde Mental

No seu sentido habitual o termo deficit significa insuficiência ou carência de algo. Do ponto de vista mental referimo-nos à insuficiente recepção ou fornecimento de algo que o sujeito deveria ter recebido por parte dos seus pais ou cuidadores, numa determinada etapa evolutiva da sua vida.

Este ponto de vista encontra-se vinculado à convicção de que todo o sujeito para o seu adequado desenvolvimento mental e para a harmonia e coerência do seu self, deve receber uma razoável dose de cuidados entre os quais se incluem amor, ternura, aprovação, confiança, aceitação, tolerância e segurança num regime de coerência e continuidade.

Quando essas contribuições não são suficientes produz-se um deficit.

Como é natural, aquilo que provoca o deficit não é somente ausência do que se necessita, do positivo, mas também a presença do que é prejudicial, que é negativo: ódio, agressividade, incoerência, instabilidade, desleixo, maus tratos físicos, patologia dos pais, instabilidade, etc.

Quando falamos de deficit podemos estar a referirmo-nos ao comportamento dos cuidadores, um facto objectivo, mas em si mesmo, o deficit não é um facto objectivo mas uma experiência subjectiva: a experiência de fragilidade, de incoerência, instabilidade, caos interno, sentimento de vazio, sensação de carência, etc.

A isso soma-se o sentimento de não se ser escutado, de não se ser amado, de não se ser reconhecido, de não se receber atenção, de ser abandonado, etc.

O grau em que esta experiência subjectiva coincide ou não com o que usualmente se denomina de “realidade objectiva” é sempre, salvo casos extremos de negligência e abandono, muito difícil ou impossível de precisar, porque a suposta realidade objectiva varia muito dependendo do observador.

Adaptado de Joan Coderch
“La prática de la psicoterapia relacional”

neurónios em espelho

Neurónios Espelho – Da Telepatia à Empatia

Como sabemos o cérebro é um órgão construído por e, para a relação e comunicação; e agora sabemos que os neurónios espelho são a parte do cérebro especificamente destinada a essa missão.

As primeiras experiências em símios mostraram que os neurónios espelho não se excitavam unicamente quando o símio realizava uma acção dirigida a um fim, mas também quando observava que outro símio (ou humano) a executava. Daí que se tenha definido esta nova função desta classe de neurónios com a expressão “o símio observa o símio faz” e que agora tem a definição de neurónios em espelho.

A importância desta descoberta para a compreensão da mente humana é tal que foi comparada com a representação que teve o ADN para a neurobiologia.

O que incrementou enormemente o interesse pelos neurónios em espelho foi o facto de que eles não se excitam apenas quando o sujeito observa actos motores realizados por outras pessoas, mas também quando observa expressões faciais ou escuta tonalidades vocais que manifestam emoções.

Actualmente começa-se a falar mais em “sistema em espelho” do que em neurónios espelho, pois parece que todo o cérebro faz parte deste sistema.

Gallese, Eagle e Migone (2007) falam em simulação incorporada como o processo que faz com que quando percebemos os gestos e as expressões faciais dos outros, ou escutamos o tom da sua voz, compreendemos a emoção que o outro está a experimentar, não por inferência ou analogia, mas directamente, uma vez que se produz em nós – automática e inconscientemente – um estado corporal que compartilhamos.

Em todas as esferas dos processos mentais – emoções, sensações e intenções – que sejam expressas através de actos intencionais, de expressões faciais ou da linguagem, a percepção activa nos observadores, mediante os neurónios em espelho, os mesmos circuitos neuronais que se activam no sujeito observado. Ou seja, o cérebro do observador reproduz aquilo que está a observar, estabelecendo-se assim, uma linha directa de comunicação entre sujeitos.

Merece ser salientado que os neurónios em espelho do observador não só reproduzem um acto motor, se for o caso, mas também codificam a intenção do acto, de forma que a programação neuronal no cérebro do observador cumpre-se até ao final mesmo que os últimos movimentos do acto se produzam fora do campo de visão.

O conhecimento do papel dos neurónios espelho na comunicação humana permite-nos entender muitas coisas que até alguns anos permaneciam no terreno da especulação. Entre elas estava a antiga intuição de Freud (1912) sobre a comunicação entre o inconsciente do paciente e o inconsciente do analista, o qual chegou a ser pensado como sendo telepatia.

Pelo que foi referido, sabemos que experimentar uma emoção ou observar a expressão da mesma emoção experimentada por outros excita, graças ao sistema em espelho do cérebro, os mesmos circuitos neuronais e, portanto, o observador está a viver no seu interior a mesma emoção, ainda que de maneira inconsciente. É isto que nos permite falar em empatia.

Portanto, em psicoterapia o conteúdo da comunicação do paciente e a matiz emocional transmitida através da sua voz, suas expressões faciais e gestos, estimulam imediatamente no analista/terapeuta – por simulação incorporada – os circuitos neuronais correspondentes e viverá, ainda que seja a um nível menor de intensidade subliminar ou inconsciente, as mesmas emoções que o paciente. Como é evidente, as emoções do analista que de alguma forma se transmitem através das suas respostas, tom de voz, prosódia, silêncios, atitudes e expressões faciais quando se trabalha face a face, provocam também no paciente uma simulação incorporada, de forma que se produz um ininterrupto feedback emocional entre um e outro.

Tudo isto tem, naturalmente um efeito terapêutico. Graças à simulação incorporada o analista experimenta uma emoção similar à que lhe é transmitida, mas à sua maneira, já que nem o seu cérebro nem o conjunto das suas experiências e aprendizagens são idênticas às do paciente. Portanto, em virtude deste feedback, o paciente receberá do analista uma simulação incorporada que será uma versão modificada da sua própria experiência, a qual terá um efeito regulador do seu estado emocional. A repetição contínua deste efeito regulador durante o processo terapêutico dá lugar a modificações significativas.

Adaptado de Joan Coderch
“La prática de la psicoterapia relacional”

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