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Porque repetimos os padrões autodestrutivos Pedro Martins Psicoterapeuta

Por que repetimos os padrões autodestrutivos?

É uma experiência frustrante (e comum) repetir constantemente os mesmos padrões autodestrutivos, apesar de desejarmos o contrário.

As variações deste tema são muitas: procrastinação, relacionamentos com parceiros egoístas, compras compulsivas, beber ou comer demais, etc.

Você diz a si próprio que agora vai controlar melhor as coisas e motiva-se para isso.

E, durante algum tempo, tem sucesso, mas para sua surpresa, o esforço dura pouco.

S. Freud chamou-lhe “compulsão à repetição” e compreendeu que isso estava relacionado com o nosso desejo de arrumar algo inquietante e não resolvido do nosso passado.

Originalmente pensou que a tomada de consciência do problema seria o suficiente para o resolver, mas Freud acabou por perceber, provavelmente como você, que, embora esse seja um primeiro passo, geralmente, não é suficiente para quebrar o ciclo.

Por que é que a tomada de consciência do problema não é suficiente para quebrar os ciclos autodestrutivos?

A resposta é: porque o comportamento indesejado é ao mesmo tempo o problema e a solução.

Por exemplo, estamos cientes de que as compras compulsivas são problemáticas.

Mas um olhar mais atento permite perceber que as compras compulsivas também são uma forma de lidar com um outro problema – que permanece escondido ou fora da nossa consciência.

Enquanto permanecer escondido, o ciclo indesejado de comportamentos e o sofrimento emocional associado que ele evoca, persistirão.

O comportamento indesejado é ao mesmo tempo o problema e a solução.

Na psicoterapia psicanalítica, o significado oculto é revelado, permitindo um maior controle sobre o comportamento indesejado.

À medida que a terapia avança, o terapeuta dirige a atenção do paciente para certos aspectos das experiências (das quais o paciente não tem muita percepção, ou desvaloriza), revelando dimensões ocultas que podem estar relacionadas com a questão da impulsividade.

O CASO DE MARY

Mary estava ciente de que fazia demasiadas compras, gastava demais e acabava a sentir remorsos do que tinha feito.

Os remorsos e as dívidas levaram a um ciclo de auto-depreciação ao qual ela reagiu com a destruição dos cartões de crédito e proibindo-se de fazer compras.

Os esforços para controlar as coisas duraram pouco.

Por razões desconhecidas para ela, o impulso para fazer compras ressurgiria de forma muito intensa, à qual ela não conseguia resistir.

Os remorsos desapareciam completamente no imediatismo desses momentos, e só encontrava alívio nas compras. Então, o ciclo doloroso começava novamente.

Mary descreveu a mãe como uma mulher que se definia pela sua beleza.

Os momentos mais intensos, e mais extraordinários de Mary com a mãe giravam em torno das saídas para fazer compras.

Mary lembrava-se bem de sentir-se apaixonada, como se fosse a boneca da sua mãe durante os dias de compras.

As memórias iniciais de Mary sobre esses tempos eram exclusivamente positivas, explicando pouco sobre a sua compulsão para fazer compras.

Progressivamente, o terapeuta foi dirigindo a atenção de Mary para aspectos esquecidos das suas interacções com a mãe, lançando uma nova luz sobre o problema.

As compras compulsivas são também uma forma de lidar com um outro problema que permanece escondido ou fora da nossa consciência.

Por exemplo, Mary lembrou-se de ter ficado perplexa quando a mãe lamentou as formas do corpo de Mary, a cor dos seus cabelos, as suas feições e como ela nunca ficava bem nas roupas.

Mary compreendeu pela primeira vez que tinha começado a odiar-se tanto quanto acreditava que a mãe a odiava.

Por fim, Mary foi capaz de ligar o imediatismo dos seus impulsos para fazer compras aos antigos estados de ódio a si própria.

E quando percebeu que a mãe tinha lutado ineficazmente com os seus próprios problemas de auto-estima e, portanto, foi incapaz de amparar Mary, ela libertou-se da busca inconsciente de aprovação da mãe, falsamente prometida nas idas às compras.

Em resumo, Mary destrinçou os seus verdadeiros sentimentos sobre si mesma daqueles que ela acreditava que a sua mãe sentia, alterando, assim, o ciclo autodestrutivo.

Mary podia agora responder aos problemas de auto-estima de maneira mais produtiva, e se quisesse, poderia fazer compras para o seu próprio prazer.

Freud referia que somos compelidos a repetir até nos lembrarmos.

A compulsão de Mary para fazer compras repetiu-se até que ela se recordou como e porque a sua auto-estima tinha sido afectada.

Embora fosse doloroso recordar isso, permitiu-lhe responder de maneira mais eficiente aos problemas de auto-estima.

A maioria dos comportamentos autodestrutivos, quer seja compulsão para comprar ou compulsão alimentar, acarreta alguma combinação de autodestruição e autoprotecção.

O desafio é descobrir as raízes de ambos os problemas para se encontrar uma resposta mais saudável.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de:

“Why Can’t I Stop Repeating the Same Stupid Behaviors?”

padrão relacional

Padrão Relacional das Escolhas Afectivas

Em relação à compulsão à repetição, Freud referiu que se trata de uma forma de não pensarmos, de não recordarmos as experiências dolorosas.

Muitas das “escolhas afectivas” que fazemos permitem repetir as nossas relações traumáticas sem termos que lidar os seus aspectos traumáticos. Na repetição há uma negação dos aspectos negativos.

Não deve, portanto, considerar-se uma coincidência, a “escolha” de parceiros diferentes para “relações idênticas”.

Logo, os aspectos negativos da relação anterior reaparecem nas novas relações.

Normalmente, esta compulsão à repetição não é consciente e, portanto, é necessário que seja explorada num cenário psicoterapêutico. Se assim não for, ao invés de compreender o fenómeno, repete-se a necessidade de escapar ao contacto com a experiência dolorosa.

Somente a elaboração da experiência passada permite, verdadeiramente, alterar o padrão relacional.

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