Mês: <span>Abril 2017</span>

psicoterapia lisboa

O seu psicoterapeuta é demasiado simpático?

O artigo Is your therapist to nice? fez-me recordar uma expressão que vem dos tempos da faculdade: “Terapia de Chá e Bolinhos”, e que diz respeito às psicoterapias em que os pacientes saem sempre felizes e contentes da sessão; com o sentimento de estarem em perfeita sintonia com o psicoterapeuta e de receberem excelentes conselhos para resolver os seus problemas.

O seu terapeuta concorda sempre consigo? Está constantemente a elogiá-lo? Sorri e gesticula com frequência em sinal de aprovação? Já reparou que sai quase sempre bem-disposto da sessão? Estes podem ser sinais de que o seu terapeuta é solidário, empático, cuidador e preocupado com o que se passa consigo, ou, sinais de que o seu terapeuta é excessivamente amável.

Se o seu psicoterapeuta é demasiado simpático talvez esteja na altura de procurar um novo.

Consideremos os riscos para a terapia resultantes de ter um terapeuta demasiado simpático:

É muito gratificante termos alguém que concorda sempre connosco, principalmente se ao longo da vida fomos sistematicamente contrariados. Esta atitude do terapeuta pode ir ao encontro do nosso desejo de finalmente termos alguém que concorde connosco, mas assim que surgir alguma pessoa que discorde voltará tudo à estaca zero. Isto acontece porque as atitudes do terapeuta não passam de “festinhas ao ego” não produzindo qualquer tipo de mudança estrutural.

A questão deve ser olhada de outro ângulo. Devido a vários impedimentos não conseguimos reagir da forma desejada contra as pessoas que invariavelmente fizeram com que as suas ideias, valores e escolhas se sobrepusessem às nossas, e dessa forma, contribuíram para o desenvolvimento de sentimentos de inferioridade. O importante é encontrar uma maneira de respondermos a essa desconsideração e assim recuperar a auto-estima que foi sendo esmagada.

Ao mesmo tempo, esta atitude do terapeuta faz aumentar os sentimentos de dependência negativa (também existe a positiva). Uma vez que as coisas acontecem a um nível superficial o paciente está sempre necessitado de um reforço positivo. É como se estivesse a comer alimentos pouco nutritivos (chá e bolinhos) e por isso está constantemente com fome. Não lhe é dado um alimento afectivo que o possa deixar saciado por mais tempo.

Por outro lado, se pensarmos objectivamente, a constante concordância não existe na vida real. Logo é uma fraude que põe em causa um dos pilares da psicoterapia: A Verdade.

Se o paciente teve pais muito intrusivos, excessivamente preocupados, que tinham opiniões sobre tudo e sobre nada, é natural que o seu Eu tenha sido formatado de forma muito rígida. Mas isso quer também dizer que está desejoso que o terapeuta lhe diga o que deve fazer, afinal foi assim que viveu toda a vida – a seguir as escolhas dos outros.

Nesse sentido é importante criar um espaço de liberdade que permita antes de mais questionar, abrir a porta à dúvida, considerar outros ângulos, outras perspectivas. Na maioria das vezes o paciente constrói uma narrativa que contraria a que lhe foi imposta, a única que tinha sobre si mesmo.

Muitos de nós tivemos pais que ficaram muito aquém do desejável. Nalguns casos podemos mesmo falar em maus pais. De qualquer forma, essa questão não se ultrapassa com novos pais (de preferência bonzinhos), mas reconhecendo que na maioria das vezes a maldade dos pais ficou a dever-se a algo que existia neles e que não foi provocado pela nossa maldade.

Chá e Bolinhos sabem muito bem. Sabem ainda melhor em boa companhia.
Mas a vida é muito mais do que isso. E a terapia também!

psicoterapia lisboa pedro martins

Porque é que você vai casar com a pessoa errada

É claro que estamos desesperados para evitar isso, mas não o faremos por muito boas razões:

1 – Nós não nos compreendemos bem
Somos todos loucos de maneiras muito particulares: neuróticos, desequilibrados, imaturos… Mas não sabemos bem porque somos assim e ninguém nos encoraja o suficiente para descobrirmos. Os nossos amigos querem ser simpáticos e estão mais virados para se divertirem connosco. Os nossos inimigos não se dão ao trabalho. Então, acabamos por ter um nível muito baixo de auto-conhecimento e não fazemos nenhuma ideia sobre quem possa ser compatível connosco.
A pergunta padrão de um primeiro encontro deveria ser: de que forma tu és louco? Mas é tão difícil saber…

2 – Nós não percebemos as outras pessoas
É difícil aceitar a loucura dos outros como aceitamos a nossa. No início eles mostram, naturalmente, o seu melhor. O ideal seria colocar todo o mundo a realizar uma bateria de testes psicológicos e a fazer 4 anos de terapia individual e de casal antes de tomar uma decisão. Em 2100 esta ideia vai soar a piada – vão perguntar porque a humanidade demorou tanto tempo para chegar aqui.

3 – Não estamos acostumados a sermos felizes
Pensamos que queremos ser felizes, mas o que realmente queremos é aquilo a que estamos acostumados – e isso, no geral, inclui não ser feliz. Ao crescermos muitos de nós tivemos sentimentos sombrios e problemáticos: sentimo-nos controlados, humilhados ou abandonados. Em resumo: sofrimento. E agora, independentemente do que dizemos, na maioria das vezes, continuamos a procurar o conhecido. Isso explica porque rejeitamos os candidatos equilibrados, maduros, confiáveis e, de alguma forma, um pouco “chatos”, e porque nos inclinamos secretamente para aqueles que (inconscientemente sabemos) irão tropeçar nas coisas mais óbvias.

4 – Ser solteiro é péssimo
É preciso ter uma certa tranquilidade num sábado, para lidar com o reboliço da noite e a efervescência do desejo sexual para conseguir ser exigente. Não é por acaso que a maioria de nós fecha os olhos e arranja uma pessoa qualquer.

5 – O instinto tem mais prestígio do que deveria
O casamento era uma decisão racional. Tinha a ver com uma parcela de terra. Tudo era combinado entre as famílias. Era horrivelmente frio e calculista. Agora temos os “casamentos românticos”. É preciso que seja sobre aquilo que sentimos. Não se pode pensar demais. Se paramos para analisar a situação, imediatamente, deixa de ser romântico. Na verdade, a coisa mais romântica seria fazer um repentino pedido de casamento, depois de apenas algumas semanas de relação, numa capela em Las Vegas às 3 da manhã.

6 – Nós não frequentamos “Escolas do Amor”

Nós não temos nenhuma informação. Não temos aulas. Não falamos abertamente com pessoas casadas e evitamos os divorciados. Então avançamos sem saber porque é que os casamentos realmente fracassam – e achamos que é por causa da simples estupidez de todos aqueles casais com quem não temos nada em comum.

7 – Congelar a felicidade
Nós queremos que as coisas boas sejam permanentes… Aquele passeio de gôndola em Veneza com o sol a refletir na água; jantar maravilhosamente num pequeno restaurante, perdidos numa enorme paixão. Então, nós casamos para que esse sentimento dure para sempre. Mas depois tudo se esfuma e a única coisa que fica é o nosso parceiro, mas agora, parece outro.

8 – Você quer parar de pensar no amor
É tão doloroso! A tristeza, os encontros, os envolvimentos de uma noite… Como queremos terminar com tudo isso, acabamos por casar para parar de pensar constantemente no amor.

Estes são os motivos pelos quais você irá casar com a pessoa errada – se já não o fez.

Mas a culpa não é totalmente sua. Ninguém nos ensina. Então, é claro que nos estatelamos.

Nós, como espécie, eventualmente aprenderemos. Esta loucura inconsequente não pode continuar. Muitas pessoas vão magoar-se. Daqui a umas centenas de anos, pelo menos, encontraremos uma forma de resolver isto – com toda a certeza.

Traduzido e adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton

psicoterapia lisboa

Como sobreviver a um família disfuncional

Toda a família disfuncional tem pais mentalmente perturbados.

Um deles é o “pai-chefe mentalmente perturbado”, e o outro, se houver outro, é o “facilitador do pai-chefe perturbado”.

Estes pais tornam-se directores de casting e criam os papéis que cada filho vai desempenhar.

Um filho, normalmente o mais velho, desempenha o papel de sábio. Os outros desempenham papéis variados que compartilham um denominador comum: todos eles têm um lugar aceite na família.

O último papel é o de bode expiatório. Este deve assumir a grande parte da raiva da família e é visto como não pertencendo verdadeiramente à família e é, portanto, um rejeitado.

Os irmãos recebem permissão dos pais para tratar o bode expiatório da maneira que lhes apetecer.

Os bodes expiatórios são demonizados pelos pais e, portanto, merecem qualquer tipo de tratamento.

Os irmãos ficam contentes por terem alguém que lhes permita sentirem-se superiores e sobre quem podem descarregar a raiva com que seus pais, inconscientemente, os contaminaram.

Numa família disfuncional ninguém sai ileso, mas o bode expiatório é o mais afectado.

É difícil sobreviver a uma família disfuncional porque os pais fazem lavagens cerebrais aos filhos, o que leva a considerá-los como bons pais.

Estes, geralmente, treinam os filhos mais velhos para os elogiar e defender caso algum dos irmãos expresse alguma crítica.

Cada membro da família tem um papel que é repetidamente representado, de modo que, quando um filho chega à idade adulta, os seus hábitos, atitudes e sentimentos parecem normais.

Assim, parece completamente normal o filho mais velho gozar, magoar, insultar e, em geral, tratar o bode expiatório como um ser inferior.

Uma e outra vez, é dito ao filho aquilo que ele é e em que acredita.

A melhor maneira de ripostar é não reagir mais à manipulação, à depreciação e demonização encetada pela família.

Depois de algum tempo, o filho considera que é realmente a pessoa que foi moldado para ser, e já não se preocupa em tentar encontrar o seu verdadeiro Eu.

Isto é particularmente verdade para os membros da família que têm os melhores papéis, como aquele que interpreta o sábio.

O bode expiatório é o que tem mais probabilidades de despertar do feitiço, porque o seu papel é o mais repugnante.

No entanto, R. Laing adverte: “Se o bode expiatório, por exemplo, exclama para um qualquer membro da família, ou especialmente para os pais – “Isto é uma loucura! Esta família é louca! “-, o bode expiatório será severamente punido.

Ninguém deve lançar quaisquer dúvidas sobre a mitologia familiar.

É por isso que as famílias muitas vezes se sentem ameaçadas quando um de seus membros começa a fazer terapia.

Eles temem que as mitologias familiares, tão bem ensaiadas durante tantos anos, possam cair como as peças de dominó, uma após a outra.

O medo é infundado. Mesmo quando o bode expiatório ou outros irmãos com papéis menores na família acordam e começam a entender como são as coisas, são tratados como se fossem os loucos e às vezes são até internados em hospitais psiquiátricos, a fim de acalmá-los e de os trazer “de volta à sanidade” (isto é, de volta a um lugar de lealdade à mitologia da família).

Na verdade, despertar e individuar-se das famílias disfuncionais é uma longa e árdua provação.

A fim de encontrar a sanidade depois de ter sido sujeito a uma lavagem cerebral durante anos, deve-se antes de tudo ter ajuda – quer de amigos que passaram pelo mesmo, quer de um profissional que ajude a lidar com os sentimentos de traição à família.

Numa família disfuncional ninguém sai ileso, mas o bode expiatório é o mais afectado.

Os bodes expiatórios destas famílias viram os seus egos esmagados e é extremamente difícil para eles afirmarem-se ou pensarem por si mesmos.

A família vai ostracizar, gozar, desprezar, rebaixar e castigar de todas as formas aqueles que se separam, e fazer com que se sintam traidores.

Eles farão tudo e mais alguma coisa para evitar uma ruptura, pois isso ameaça a santidade e a identidade da família.

A família disfuncional jamais vai parar ou deixar em paz aqueles que despertam.

Aqueles que acordam em muitos casos precisarão de cortar completamente com a família disfuncional, e mesmo assim a família tentará de todas as formas interferir nesse rompimento.

Os membros que “acordarem” precisarão de lutar.

A melhor maneira de ripostar é não reagir mais à manipulação, à depreciação e demonização encetada pela família disfuncional.

A melhor vingança é, como dizem, viver uma vida boa.

O bode expiatório pode, na vida adulta, deixar de desempenhar o papel que lhe foi designado, mas não será fácil.

Cada nova situação na sua vida despertará a resposta do bode expiatório que lhe foi condicionada durante toda a infância.

Vão ser necessários vários anos, mas, eventualmente, o bode expiatório pode descobrir quem realmente é, e pode começar a viver uma vida que reflicta as suas próprias aspirações ao invés das frustrações dos seus pais.

Traduzido e adaptado por Pedro Martins
A partir de: Gerald Schoenewolf – How to Survive a Dysfunctional Family

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