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Quão bons foram os seus pais?Pedro Martins Psicoterapeuta / Psicólogo Clínico

Quão bons foram os seus pais?

Estranhamente, parece que nenhum ser humano pode crescer realmente saudável, a não ser que tenha sido amado muito profundamente por alguém (pais) durante os primeiros anos da sua vida.

Mas ainda estamos a aprender o que o amor dos pais pode realmente envolver. Então, quão bons foram os seus pais?

Aqui estão oito princípios de boa paternidade que podem ser usados para os avaliar.

 

1 – Sintonia

Os pais afectuosos descem ao nível da criança – às vezes literalmente, quando se dirigem a ela – para ver o mundo através dos seus olhos.

Eles compreendem que uma criança muito nova não se pode encaixar facilmente nas exigências externas e que, nos primeiros tempos, deve ser-lhe dada prioridade e colocada no centro das coisas, não para a “mimar”, mas para lhe dar uma oportunidade de crescer.

 

2 – Pequenas Coisas

Os pais afectuosos compreendem que a vida dos seus filhos gira em torno de particularidades que são, por qualquer medida adulta, muito pequenas.

As crianças de tenra idade sentir-se-ão enormemente felizes porque podem pôr as mãos numa massa qualquer ou ter a oportunidade de “espetar” uma colher numa tigela de ervilhas com energia ou dizer ‘bah’ muito alto.

E sentir-se-ão extremamente tristes porque o coelho de estimação perdeu um dos seus botões ou uma página do livro seu favorito rasgou-se.

O progenitor suficientemente bom sente que tem recursos suficientes dentro de si para não criticar a criança que está a fazer um grande alarido com o chamado ‘nada’.

Seguirá a criança na sua excitação com uma poça de água e na sua dor por causa de uma meia desconfortável.

 

Os bons progenitores sabem que aqueles que acabam por se apegar com segurança e capazes de tolerar a ausência são aqueles a quem originalmente foi permitido ter tanta dependência e ligação quanto necessário.

 

Compreende que a capacidade futura da criança ser atenciosa para com as outras pessoas e de lidar com desastres genuínos estará criticamente dependente de ela ter recebido por parte dos pais a sua grande cota de simpatia por uma série de tristezas adequadas à idade.

 

3 – Perdão

Os pais afectuosos saberão dar a melhor interpretação possível a um comportamento que possa parecer infeliz e desagradável para os outros:

a criança pequena não é ‘um desordeiro’, mas é claro que ficou muito perturbada com o nascimento do irmão. Não é ‘anti-social’, mas sente-se bem num pequeno círculo de pessoas conhecidas e especialmente reconfortantes.

A capacidade dos pais para dar explicações gentis e criativas continuará a moldar o funcionamento da própria consciência da criança; aprenderá a arte do perdão a si mesma. Não terá de se torturar pelos seus erros.

Não sofrerá as devastações da auto-aversão, nem, quando estragar tudo, será tentada a tirar a sua própria vida.

 

4 – Fases Estranhas

O progenitor afectuoso sentir-se-á suficientemente saudável para permitir que um filho seja esquisito durante algum tempo, sabendo que o chamado esquisito faz parte do desenvolvimento normal.

Não se sentirá nervoso por a criança ter decidido fingir que é um animal ou que quer comer apenas alimentos de cor vermelha ou ter um amigo imaginário a viver numa árvore do jardim.

O adulto terá fé no surgimento da sanidade – e na sabedoria de explorar uma série de opções possíveis antes de optar pela sensatez.

Será capaz de permanecer calmo diante de algumas birras e obsessões intensas, não precisará de desligar a irreverência a cada passo, será paciente em torno da infelicidade e não se deixará abater pelo mau humor do adolescente.

Os pais não atribuirão etiquetas à criança que a possam fixar num papel que estava apenas a experimentar.

 

A recompensa dos pais por todo o seu trabalho nunca será directa; chegará ao fim de muitos anos, observando que o seu filho se tornou ele próprio um bom pai.

 

Terão o cuidado de dizer a uma criança que ela é “a zangada”, “o filósofozinho”, “o sabichão” ou mesmo “a gentil”: isso permitirá à criança o luxo de escolher a sua própria identidade.

 

5 – Apegado

Os bons pais sabem que as crianças podem muito bem apegar-se por muito tempo, e nunca olharão para esta necessidade natural de tranquilidade em termos pejorativos.

Não dirão à criança para se animar e ser um “homenzinho” ou uma “jovem senhora” para sentirem-se orgulhosos.

Sabem que aqueles que acabam por se apegar com segurança e capazes de tolerar a ausência são aqueles a quem originalmente foi permitido ter tanta dependência e ligação quanto necessário.

 

6 – Perfeição

Um bom pai não se apresentará como sendo hollywoodesco, distante ou uma pessoa inalcançável, uma figura que a criança possa ser tentada a idealizar e a contemplar de longe.

Os bons pais saberão estar presentes e mostrar-se pessoas comuns na sua casa; dignos talvez, mas também, por vezes, inquinados, esquecidos, tolos e desejosos de tempo livre sem os filhos.

O bom pai saberá que os pais têm peculiaridades e defeitos para levar a criança a reconciliar-se com a sua própria humanidade – e também, eventualmente, sair de casa e seguir em frente com a sua própria vida.

 

7 – Bondade

Um bom pai saberá como fazer parecer ser monótono. Compreenderá que o que a criança precisa principalmente é de uma fonte de calma fiável, e não de fogos-de-artifício e excitação (tem o suficiente disso dentro da sua própria mente).

 

Os bons pais compreendem que deve ser dada prioridade à criança, não para a “mimar”, mas para lhe dar uma oportunidade de crescer.

 

Deve estar lá, no mesmo lugar, a dizer mais ou menos as mesmas coisas, durante décadas.

Deve ter o cuidado de ser previsível e de editar os seus estados de espírito inesperados, a criança não precisa de uma imagem completa de cada perturbação e tentação que percorre a mente dos seus cuidadores.

Os pais aceitam que ‘mamã’ ou ‘papá’ são papéis, não representações completas; deveria ser um privilégio das crianças não terem de conhecer os seus pais em todos os pormenores.

 

8 – Amor não-correspondido

Os bons pais não estão à procura de uma relação equilibrada. Ficam felizes por dar de forma unilateral. Não precisam que as crianças lhe perguntem como foi o seu dia ou o que pensa das novas medidas do governo.

Sabem que uma criança deve poder tomar um progenitor substancialmente por garantido.

A recompensa dos pais por todo o seu trabalho nunca será directa; chegará ao fim de muitos anos, observando que o seu filho se tornou ele próprio um bom pai.

Dito de forma simples: o amor é o comportamento atencioso, terno e extremamente paciente demonstrado por um adulto durante muitos anos em relação a uma criança que não pode deixar de estar largamente fora de controlo, confusa, frustrada e desconcertada – para que, com o tempo, possa tornar-se num adulto capaz de tomar o seu lugar na sociedade sem demasiada perda de espontaneidade, sem demasiado terror e com uma confiança básica nas suas próprias capacidades e possibilidades de realização.

Deveria ser uma questão de consternação global que, apesar dos nossos grandes avanços, ainda estamos apenas no alvorecer de saber como assegurar que todos tenhamos a infância amorosa que merecemos.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

A partir de: “ A test to Judge how good your parents were – Alain de Botton

Rebelião e Desobediência nos Adolescentes Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Rebelião e Desobediência nos Adolescentes

Por que é que os adolescentes discutem tanto e como é que os pais devem reagir?

À medida que os pré-adolescentes entram na adolescência, expande-se a sua capacidade de raciocinar como um adulto e de fazer escolhas.

Ao mesmo tempo, entram no período de “separação-individuação” e de formação de uma “identidade adulta independente”. Ambas as tarefas podem levar a uma enorme frustração e angústia dos pais.

Segundo Nadine Medlin:

“A separação-individuação psicológica é o processo pelo qual o jovem adulto renegoceia a relação com os pais.

A resolução da crise de identidade envolve a síntese do passado e do presente, uma vez que o adolescente se reintegra de tal forma que permite que o jovem adulto assuma o seu lugar na sociedade.

Ambos os processos são uma parte vital do impulso para um ajustamento pessoal saudável.”

Para concretizar estas tarefas com sucesso, muitos adolescentes iniciam discussões com os pais, muitas vezes por razões triviais.

Isto pode ser especialmente instigador para os adultos, uma vez que não parece existir nenhuma razão por detrás das querelas que ocorrem.

As tentativas de raciocinar com o adolescente quase sempre acabam em fracasso.

Isto tem a ver com as origens do argumento, que se relacionam com o adolescente desenvolver duas competências:

– Afinar as suas capacidades verbais para expressar o seu ponto de vista

– Fazer entender que se trata de um adulto que pode tomar decisões independentes sobre a sua vida

Nenhum deles tem, necessariamente, nada a ver com a resolução de problemas ou conflitos, que tendem ambos a ser o centro das atenções dos pais.

 

Forçar o adolescente a fazer a escolha “correcta” raramente funciona e quase sempre resulta em confrontação.

 

Aceitar que a discussão que está a ter com o seu adolescente é uma actividade necessária pela qual eles têm que passar é muito difícil para uma grande parte dos pais, uma vez que não queremos que eles repitam os erros que cometemos enquanto adolescentes.

Queremos transmitir a nossa experiência, as frustrações que tivemos de suportar nas nossas próprias vidas para alcançar algo.

No entanto, cometer erros de mau julgamento faz parte do nosso crescimento; a função dos pais é tentar impedir que as decisões afectem permanentemente a forma como a vida se desenrola.

Tentar forçar o adolescente a fazer a escolha correcta raramente funciona e quase sempre resulta em confrontação.

As proibições categóricas que funcionavam com crianças mais novas tendem a cair em saco roto com os adolescentes.

Digamos, por exemplo, que o seu filho quer ir a uma festa na casa de um amigo onde os pais estão fora durante o fim-de-semana.

Declarações morais vagas, como “ainda arranjas problemas” ou “algo mau pode acontecer”, não são aceitáveis para o adolescente.

É necessário que os pais pensem através dos seus próprios sentimentos de mal-estar antes de responderem.

O que é que realmente receia que ocorra na casa da outra pessoa? Vai haver bebidas ou drogas? Serão estes receios apenas um reflexo da sua própria adolescência?

Quando você percebe o que realmente o incomoda e em que medida isso diz respeito à sua própria adolescência, então a honestidade é aconselhada.

Diga claramente quais são as suas preocupações morais e por que razão não dará autorização ao seu filho para fazer algo, mas esteja ciente de que isso não significa que haverá uma obediência inquestionável.

 

A função dos pais não é impedir que os filhos adolescentes comentam erros, mas impedir que os erros os afectem de forma permanente.

 

Muito provavelmente haverá protestos tais como “Bem, eu não sou você” ou “Você simplesmente não entende!”

No entanto, se você deu explicações fundamentadas e lógicas que são consistentes com as suas crenças pessoais, então é muito mais provável que o adolescente assinta no cumprimento da sua decisão.

Mesmo que o adolescente argumente para “salvar a face”, aceitará a proibição a um nível mais profundo.

Se usar um tom de voz calmo, tiver considerado os desejos e argumentos do seu filho, e os princípios subjacentes à sua decisão forem consistentes com os valores morais da família, estas coisas são normalmente muito mais importantes do que as próprias palavras.

Lembre-se de que o que você deseja que o adolescente retire da discussão é o processo de tomada de decisão que foi seguido.

É isto que será recordado muito depois de a festa ou outra fonte de discussão ter sido esquecida.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

A partir de: “Rebellion and Defiance in Adolescents” – James A. Powell

Imagem de Michael-Pouteyo

As Mães são Sempre as Culpadas? Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

As Mães São Sempre as Culpadas?

“As Mães São Sempre as Culpadas”. Mito ou realidade?

O que é que o mito da mãe esquizofrenogénica nos impede de tentar compreender?

 

Nenhum relato da história da psiquiatria do século XX está completo sem uma discussão sobre a “mãe esquizofrenogénica”, uma invenção sinistra da saída da imaginação dos psiquiatras misóginos.

A “mãe esquizofrenogénica”, como referem, foi considerada a única responsável pela génese do sofrimento rotulado como “esquizofrenia” nos seus filhos.

Como Allan F. Mirsky e colegas observaram num artigo sobre as Irmãs Genain, “Os anos 50 foram a era em que o conceito de ‘mãe esquizofrenogénica’ foi amplamente aceite.

No livro “Mística Feminina”, Betty Friedan referiu:

“De repente, descobriu-se que a mãe podia ser responsabilizada por quase tudo.

Em todos os casos de crianças perturbadas, mas também de adultos alcoólicos, suicidas, esquizofrénicos, psicopatas, neuróticos; na homossexualidade masculina, impotência;  promiscuidade feminina, frigidez; asma, e em todas as perturbações dos americanos, poderia ser encontrada uma mãe…

Claramente, algo estava ‘errado’ com as mulheres americanas.”

Este culpar da mãe é frequente na literatura psiquiátrica de meados do século, como escreveu a psicóloga Stella Chess em 1965:

“O procedimento padrão é assumir que o problema da criança é reactivo (à relação com a mãe) ao contacto materno num relacionamento individual.

Situações particulares que se encaixam nestas especulações são citadas como típicas dos sentimentos da criança e das atitudes da mãe, e são tomadas como prova da universalidade da tese das atitudes maternas nocivas.”

Ou como John Neill, MD, observou uma geração depois:

“Tornou-se prática comum acreditar que as mães eram a causa da psicose dos seus filhos.”

Mas será que os psiquiatras realmente “culparam a mãe” com exclusão de todas as outras causas? De onde veio essa noção?

 

O conceito de mãe esquizofrenogénica não era suficiente para explicar a génese da esquizofrenia

 

Como na maioria dos mitos, o mito do foco da psiquiatria na mãe esquizofrenogénica tem um fundo de verdade.

Num artigo de 1948, a psiquiatra alemã Frieda Fromm-Reichmann escreveu:

“O esquizofrénico é dolorosamente desconfiado e ressentido com as outras pessoas, devido à severa manipulação e rejeição que encontrou nas pessoas importantes da sua infância e juventude, como regra, principalmente uma mãe esquizofrenogénica.”

A Dra. Fromm-Reichmann era uma psicanalista famosa pela sua compaixão e habilidade em manejar até os casos mais complicados, aparentemente intratáveis ​​de “esquizofrenia” com psicoterapia intensiva e sem medicação.

É importante referir que as observações acima foram retiradas dum artigo que nem sequer se referia directamente à etiologia da esquizofrenia, mas era dedicado quase exclusivamente à dinâmica da relação terapeuta-paciente.

A análise dos escritos dos colegas de orientação psicanalítica da Dra. Fromm-Reichmann nos anos 50 e 60 revela que desde o início eles entenderam perfeitamente que o conceito de mãe esquizofrenogénica não era suficiente para explicar a génese da esquizofrenia e que essa condição era provavelmente o resultado de famílias perturbadas, e não apenas de mães perturbadas.

Por exemplo, Trude Tietze (1949), escreveu sobre o papel do pai:

“Pouco se sabe sobre os pais de crianças esquizofrénicas. Nenhuma investigação sistemática ao pai foi realizada em conexão com o presente estudo.

No entanto foram entrevistados oito pais e a impressão era de que eles também tinham muitos problemas de personalidade. Pareciam pessoas perfeccionistas e obsessivas, tão doentes quanto as esposas.”

Da mesma forma, os psiquiatras Ruth e Theodore Lidz escreveram:

“Nos nossos dados, é visível que as influências paternas são tão nocivas quanto as maternas.”

As suas descobertas foram replicadas nos estudos de Clardy,  Nuffield, Wahl, entre outros, que confirmaram o papel de todos os membros da família.

 

É realmente um exagero sugerir que consequências terríveis podem ocorrer quando esse relacionamento corre mal?

 

O psiquiatra DD Jackson achou que a esquizofrenia deveria ser estudada como uma “doença de origem familiar que envolve um ciclo complicado de vetores que vão muito para além do que pode ser conotado pelo termo ‘mãe esquizofrenogénica’.

Lidz e seus colegas concordaram, observando:

“Uma vez que os nossos estudos estavam a pôr a descoberto sérias dificuldades em quase todas as áreas nessas famílias, preferimos equilibrar o assunto, direccionando a atenção para a situação total ao invés do foco na mãe.”

De qualquer forma, a relação mãe-filho é sem dúvida o relacionamento humano mais importante que existe.

É realmente um exagero sugerir que consequências terríveis podem ocorrer quando esse relacionamento corre mal?

O artigo de Tietze, acima, discute o caso clínico de uma jovem mulher com esquizofrenia cuja mãe estava obcecada em impedir a filha de se masturbar.

Essa mulher cheirava as mãos da filha durante o dia para verificar se ela se tinha masturbado, e efectuou duas mutilações cirúrgicas no clitóris da criança; uma quando tinha um ano e outra quando ela tinha dois.

Essa mesma mãe inspeccionava a vulva da sua filha todas as noites e batia-lhe se julgasse que os lábios da vulva estavam “irritados”.

Será que as acções desta mãe tiveram algo a ver com os problemas que a filha apresentou mais tarde? Com toda a certeza.

Mas reconhecer o papel do trauma infligido pela mãe a uma determinada pessoa não é o mesmo que culpar a mãe por toda a “doença mental”.

A questão é meramente académica? Não.

Olhemos a resposta do psicólogo L. Alan Sroufe a um artigo publicado no New York Times em 2012.

 

É visível que as influências paternas são tão nocivas quanto as maternas

 

O artigo discutiu o estudo de 2009 do MTA por Brooks e colegas nos quais 600 crianças com o rótulo de diagnóstico “TDAH” (Perturbação de hiperatividade com défice de atenção) foram seguidos por oito anos, e que não encontraram benefícios a longo prazo da medicação para essa perturbação em nenhuma das vinte e quatro variáveis ​​de resultado.

Dr. Sroufe concluiu:

“A ilusão de que os problemas de comportamento das crianças podem ser curados com drogas impede-nos como sociedade de procurar as soluções mais complexas e necessárias.

As drogas deixam toda gente – políticos, cientistas, professores e pais – livres de responsabilidades. Todos, excepto as crianças, claro.

Nem todos viram as coisas dessa maneira.

Numa resposta à opinião do Dr. Sroufe a autora Judith Warner acusou-o de querer fazer “uma viagem de volta a uma época… em que se acreditava que as crianças com doenças psiquiátricas eram vítimas de ‘mães esquizofrenogênicas tóxicas'”.

Mas nem o estudo do MTA nem o artigo do Dr. Sroufe fizeram menção às “mães esquizofrenogénicas”.

Esta tempestade num copo de água acaba por nos afastar da questão principal:

Um amplo estudo desenvolvido ao longo de vários anos não encontrou benefícios a longo prazo para o uso de poderosas drogas (dadas a milhões de crianças) que provocam alterações no cérebro.

Essas foram as conclusões que merecem uma discussão séria – e não evocações de “mães esquizofrenogénicas”.

Mais recentemente, surgiu um artigo no Washington Post descrevendo um pouco da história da Chestnut Lodge, a instituição privada no Maryland onde a Dra. Fromm-Reichmann realizou o seu trabalho inovador.

 

Reconhecer o papel do trauma infligido pela mãe a uma determinada pessoa não é o mesmo que culpar as mães por toda a “doença mental

 

O artigo foi bastante sobranceiro:

“À medida que a compreensão das causas biológicas e químicas das doenças mentais crescia, a ligação de Chestnut Lodge à psicanálise freudiana passou a parecer datado. Poderia realmente ser tratada uma psicose debilitante – e ocasionalmente perigosa – falando sobre a mãe? ”

Além do facto de que a psicoterapia não poder ser reduzida a “falar sobre a mãe”, ainda não há evidências confiáveis ​​de uma causa química ou biológica da esquizofrenia ou de qualquer outro “distúrbio funcional” comummente tratado com drogas.

Enquanto isso, desde o tempo que Fromm-Reichmann desenvolveu o seu trabalho, uma montanha de evidências se tem acumulado, conectando a esquizofrenia ao abuso sexual, abuso físico, abuso emocional, e uma grande variedade de outras categorias de experiências adversas na infância.

A correlação entre experiências adversas na infância e esquizofrenia é robusta e confiável.

Ele atravessa fronteiras nacionais, estratos sociais e etnias. Foi verificado repetidamente em estudos longitudinais, estudos transversais, e em estudos de casos.

Os autores do abuso podem ser pais, padrastos, avós, tios, irmãos mais velhos, primos, não parentes – e sim, às vezes mães.

Estes estudos também demonstraram que não existe um estilo de parentalidade especificamente ” esquizofrenogénico “.

Pelo contrário, qualquer uma das várias influências tóxicas (algumas em grande parte fora do controle dos pais, como doenças infantis ou morte de um dos pais) pode fazer com que o equilíbrio se incline para a esquizofrenia ou qualquer outra “doença mental”.

Por exemplo, um estudo descobriu que entre 45% e 60% dos pacientes diagnosticados com esquizofrenia foram sujeitos a abuso sexual na infância.

 

A ilusão de que os problemas de comportamento das crianças podem ser curados com drogas impede-nos como sociedade de procurar outras soluções

 

E, como o leitor sem dúvida já sabe, a grande maioria dos abusos sexuais na infância é perpetrada por homens, não por mulheres.

Esta é uma descoberta que deve ser recebida com alarme, e não como piada sobre “culpar a mãe”.

Mas também deve ser recebido com esperança, já que o abuso sexual infantil e outras experiências adversas na infância são problemas sobre os quais podemos agir.

O verdadeiro mito da mãe esquizofrenogénica é a ideia de que os psiquiatras sempre difundiram a ideia de que as mães são as únicas responsáveis ​​pela esquizofrenia nos seus filhos.

E esse mito tem sido usado por muito tempo como um espantalho para desviar a atenção da discussão séria sobre o papel do abuso e do trauma na génese da esquizofrenia e de outros tipos de sofrimento mental, e para promover explicações biológicas e intervenções farmacológicas para essas condições.

É hora de acabar com esse mito de uma vez para sempre.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de “The Real Myth of the Schizophrenogenic Mother” – Patrick Hahn

Dar Demasiado Colo Estraga a Criança?

Dar Demasiado Colo Estraga a Criança?

“Dar demasiado colo estraga a criança”.

Poucos são os pais que nunca ouviram essa afirmação.

Apesar de ser uma ideia comum na sociedade, os especialistas recomendam:

  • dêem o máximo de colo, amor, carinho e cuidado aos bebés; eles precisam disso.

— Estamos sob a égide do mito de que o colo mima.

A primeira experiência que o bebé tem de “colo” é o útero da mãe.

Nele, a pele do feto está em permanente contacto com a água (liquido amniótico), sentindo-se envolvido.

No parto, o bebé deixa esse espaço contentor e tem uma sensação de “queda”.

O que ele mais quer é ser acolhido imediatamente para retornar àquele sentimento de contenção — refere Vera Laconelli, psicanalista e directora do Instituto Gerar.

O contacto da pele dos bebés com os pais ajuda a estimular o sistema nervoso central da criança.

Nos primeiros momentos de vida, o bebé não reconhece o limite do seu próprio corpo e será a partir do colo, do toque, que essa sensação se formará.

É ao receber o colo que o bebé percebe que é desejado e amado pelos cuidadores.

“Se você deixar o bebé a chorar para ver se ele “se habitua”, a única coisa a que ele vai se acostumar é a sofrer.

Quando o bebé sofre uma experiência de desamparo, ele chora porque esse é o único recurso que tem.

Se alguém acode a esse choro, mesmo que não lhe tire o sofrimento, demonstra à criança que ela não vai estar sozinha na hora da dor.”

Mães Narcisistas Pedro Martins Psicoterapeuta

Mães Narcisistas

Quando a psicóloga Karyl McBride começou a ler livros sobre o vínculo mãe-filha, não pôde deixar de chorar.

Esses textos despertaram lembranças do seu passado. Ela tentou encontrar situações que a lembrassem do apego e da proximidade com a mãe.

Detalhes como o perfume que ela usava, o som da sua voz ou a temperatura da sua pele quando ela a abraçava. Mas não chegou a nenhuma.

Foi assim que ela teve consciência dessa carência e deu conta que, pelo menos na literatura, não havia nada escrito para filhas de mulheres não-maternais.

“Embora esta seja uma relação que muitas vezes deixa grandes feridas, não encontrei nada escrito que falasse sobre isso.”

“As meninas não odiavam as suas mães e a maternidade era mostrada como uma instituição sagrada na maioria das culturas”, escreveu mais tarde no seu texto “A minha mãe não me mima: como superar as sequelas causadas por uma mãe narcisista” (2018).

Este foi um projecto que ela desenvolveu como uma espécie de catarse: uma viagem emocional à sua infância, momento em que se sentiu carente de afecto e absolutamente invisível.

“Há mães tão emocionalmente carentes e tão ensimesmadas e egoístas que são incapazes de dar amor incondicional e apoio emocional às suas filhas.

 

As filhas das mães narcisistas gastam tempo e energia a tentar obter amor, atenção e validação do resto das pessoas, sem resultado.

 

Eu vi como os relacionamentos turbulentos das minhas pacientes com as suas mães, bem como a relação com a minha mãe, estavam claramente relacionados com o narcisismo materno.”

 

Quais são as dinâmicas da relação entre uma filha e uma mãe narcisista?

As meninas criadas por uma mãe narcisista sentem falta da empatia e a incapacidade da sua progenitora se sintonizar com o mundo emocional delas.

Não se sentem reconhecidas, ouvidas ou vistas. Elas referem que são invisíveis para os seus pais.

E, embora em alguns casos não tenham consciência dessas situações, elas crescem com a sensação de que as suas necessidades emocionais não são satisfeitas pelos adultos.

Podem ter um teto, roupas, comida, e todas essas coisas físicas asseguradas, mas as suas emoções não são escutadas ou validadas.

A mãe narcisista não demonstra afecto pela filha, a menos que isso a ajude em alguma coisa.

O carinho é uma retribuição, algo que é dado como moeda de troca. Não é incondicional.

Então cresce e vive toda a sua vida em torno das necessidades do outro, tentando fazer a sua mãe feliz, sem espaço para se auto-construir.

 

Quais são as consequências na vida quotidiana de um adulto ter crescido com uma mãe narcisista?

Como a menina não conseguiu fazer a sua mãe feliz, ela internaliza uma mensagem negativa de “eu não sou suficientemente boa”.

A internalização da falta de empatia e de amor faz com que sinta que “ninguém me pode amar”, “sinto-me vazia”, “não confio nos meus próprios sentimentos”, “as dúvidas paralisam-me”.

Depois, as filhas das mães narcisistas gastam tempo e energia a tentar obter amor, atenção e validação do resto das pessoas, sem resultado. Isso causa-lhes tristeza, raiva, angústia e decepção.

 

“Eu vi como os relacionamentos turbulentos das minhas pacientes com as suas mães, bem como a relação com a minha mãe, estavam claramente relacionados com o narcisismo materno.”

 

A necessidade primordial de se sentir unida a alguém é interrompida e deixa essa cicatriz, porque quando a confiança é afectada na infância, torna-se difícil confiar nos outros na idade adulta.

Além disso, torna a pessoa susceptível a atrair inconscientemente outros narcisistas na sua vida, mas agora na figura de amigos ou amantes, porque é a maneira de “gostar e ser gostada” que conhecem.

A menina, já adulta, não confia em si mesma e cresce sempre com dúvidas.

A falta de validação de quem elas são e das suas emoções faz com que se tratem a si mesmas como foram tratadas pela mãe narcisista.

Isso inclui serem duras consigo e não darem crédito a nada das coisas que constroem e conquistam.

 

Como a menina não conseguiu fazer a sua mãe feliz, ela internaliza uma mensagem negativa de “eu não sou suficientemente boa”.

 

Se a pessoa não se submete a um tratamento e toma a seu cargo a sua recuperação, vai experimentar sintomas semelhantes aos do transtorno de stress pós-traumático.

 

Como se explica uma mãe narcisista?

O narcisismo resulta de um trauma na infância. E não distingue géneros. São adultos que também foram vítimas de pais narcisistas.

Crescem sem terem consciência, sem trabalhar em si mesmos, a noção de que não são responsáveis ​​por seus próprios sentimentos ou comportamentos e, portanto, transmitem o que eu chamo de “legado do amor distorcido”.

Como especialista, decidi aprofundar a relação filha-mãe, mas também a relação pais e filhos, do género masculino, que são narcisistas.

McBride enfatiza a relação mãe-filha, porque as meninas, ao contrário dos seus irmãos homens, enfrentam uma dinâmica que eles não têm: a mãe narcisista vê a filha como uma extensão, não como alguém independente, com sua própria identidade.

 

Quando a confiança é afectada na infância, torna-se difícil confiar nos outros na idade adulta.

 

É por isso que ela pressiona a rapariga a agir e reagir tal como ela faria. E, por efeito, quando a filha não recebe validação desde a mais tenra idade, descobre que não tem transcendência no mundo e que os seus esforços não têm nenhum efeito.

“Há muitos temas de adultos que não devem ser expostos aos filhos. Tem de se permitir que eles sejam crianças, para se concentrarem nas coisas que importam para eles.

Não devem ser sobrecarregados com as preocupações dos “crescidos”. Pais narcisistas envolvem os seus filhos prematuramente no mundo adulto.

Uma mãe narcisista que constantemente confia à filha as dificuldades que tem no seu relacionamento com o marido, por exemplo, não entende como isso pode ser doloroso para a menina.

A filha sabe que compartilha traços com o pai e com a mãe; portanto, a menina interpreta a crítica ao pai como uma crítica a si mesma.

 

Como se rompe com o legado narcisista?

Ao trabalhar com um adulto vítima de uma relação parental narcisista, deve, em primeiro lugar, reunir-se os antecedentes, identificar o problema, e entendê-lo a um nível cognitivo.

Processar os sentimentos relacionados com a situação: sentir e reprogramar as mensagens negativas herdadas.

O conceito chave é a aceitação.

Separar-se psicologicamente da mãe e começar a construir uma consciência autêntica.

 

Os pais narcisistas envolvem os seus filhos prematuramente no mundo adulto.

 

Pergunte a si mesma quais são os seus direitos, reconheça o seu valor, a sua capacidade de assumir compromissos e desenvolver uma mãe interior: tornar-se alguém que pode nutrir-se, amar e cuidar-se a si mesma.

Então pode começar a ter um relacionamento saudável com a sua mãe, identificar as suas próprias características narcísicas e a recusar-se a transmitir esse legado. Todos podem mudar.

No entanto, embora a perspectiva seja encorajadora, não é um caminho fácil: “A terapia é necessária nesse processo para que o paciente se possa sentir validado e reconhecido.

É difícil para os pacientes desenvolver este “processo de acusação” às suas mães por causa dos sentimentos de culpa e do tabu que essa questão desperta.

O perdão é algo interno que vem depois de processar o trauma de uma infância difícil.

É claro, costumo recomendar aos meus pacientes que evitem confrontar a mãe ou o pai narcísico porque eles não aceitarão a responsabilidade ​​e a discussão terminará com os pais a acusar o filho de estar errado ou louco.

E como você evita ser uma mãe narcisista?

Com empatia. Se você se emociona com os sentimentos dos outros, você não é narcisista. É tão simples A empatia é a antítese do narcisismo. E, portanto, essa é a melhor maneira de cuidar de um filho.

 

Entrevista de Juan Cruz Giraldo a Karyl McBride

Traduzida/adaptada por Pedro Martins

Infantilização dos filhos - Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

A Infantilização dos Filhos

Tratar um adulto como se fosse uma criança – infantilização -, cria um ciclo de dependência.

A ponto de vermos jovens adultos a perguntar constantemente, o que fazer e como fazê-lo.

Os efeitos negativos da infantilização nos adultos estão bem documentados:

– traduzem-se numa crescente diminuição da capacidade de funcionar autonomamente.

Mesmo nas crianças, a infantilização pode ter consequências negativas.

Imagine que tem uma filha pequena que acabou de aprender a atar os atacadores dos ténis.

Ela, objectivamente, leva mais tempo para fazer isso do que você.

Como normalmente está com pressa para sair de casa, você vai continuar atar-lhe os atacadores de manhã para não perder uns minutos preciosos.

Ao assumir essa tarefa que ela já pode fazer sozinha, você está a afectar o sentimento de autonomia da sua filha, mesmo que esteja a fazer isso por um motivo perfeitamente legítimo.

A infantilização nos adultos traduz-se numa crescente diminuição da capacidade de funcionar autonomamente.

Depois deste exemplo, imagine o que acontece com os pais muito narcísicos.

Os pais narcísicos precisam que os filhos permaneçam dependentes deles por muito tempo.

Quando os filhos crescem estes pais têm muito medo de não se sentirem importantes na vida dos filhos.

Nathan Winner e Bonnie Nicholson (2018), estudaram o papel da superprotecção: tratamento continuado dos filhos como se fossem crianças – infantilização.

De acordo com os autores, a superprotecção envolve excesso de envolvimento e intrusão, combinada com calor humano e pronta capacidade de resposta, em situações em que as crianças não precisam de ajuda nem de se sentirem seguras.

Os pais super-protectores, ao manterem os filhos dependentes deles, podem impedir o desenvolvimento adequado da independência do jovem adulto.

O que, por sua vez, leva o indivíduo a não ser capaz de viver uma vida adulta.

A superprotecção envolve excesso de envolvimento e intrusão.

Os pesquisadores acreditam que o controlo excessivo presente na superprotecção está no centro das dificuldades que os filhos de pais narcisistas podem sentir.

Winner & Nicholson definem o “controlo psicológico parental” como uma intrusão emocional, e não apenas tentativas de limitar a criança a tornar-se um adulto.

Os resultados (obtidos através de correlações) permitiram que os autores considerassem a relação entre o comportamento de controlo excessivo dos pais e o narcisismo das crianças.

Noutras palavras, os sujeitos com sentimentos de inferioridade, foram os que estiveram expostos a pais intrusivos que os tentavam controlar.

Os autores concluem que os pais que vão longe demais no seu desejo de permanecerem proeminentes e envolvidos na vida dos filhos contribuem para o desenvolvimento de sentimentos de inferioridade.

Os pais intrusivos levam os filhos a desenvolver sentimentos de inferioridade.

A existência desta relação sugere que os problemas narcísicos podem ser transmitidos de geração em geração.

Os pais emocionalmente intrusivos produzem filhos que, por sua vez, sentem que essa é a melhor maneira de criar um filho.

Também é importante notar que os pais que são demasiado controladores, efectivamente, são muito carinhosos enquanto cuidam dos filhos e lhes dão tudo (ou mais do que tudo).

Assim, os filhos sentem que serão amados se acederam os desejos dos pais, deteriorando ainda mais o seu sentimento de autonomia.

Ter sido tratado como uma criança não significa que você tenha que ser criança para sempre.

Ao ter uma percepção da forma como se deu o seu crescimento pode, finalmente, reconhecer o seu próprio potencial para ser um adulto e encetar movimentos no sentido da independência .

Dormir na Cama dos Pais Pedro Martins Psicoterapeuta

Dormir na Cama dos Pais

Muito se tem escrito sobre a vontade dos filhos irem dormir para a cama do casal e se os pais devem ou não permitir.

Mas fala-se menos sobre a vontade dos pais terem os filhos a dormir com eles, e, em alguns casos, a permanecer lá durante anos.

De uma maneira geral, aconselha-se que a criança durma sozinha a partir do quarto ou sexto mês de vida, no sentido de favorecer o desenvolvimento da sua autonomia.

Para que a criança possa desenvolver a “capacidade de estar só” – Winnicott -, é importante que os pais a coloquem a dormir sozinha.

O simples facto de a criança dormir sozinha faz com que a “capacidade de estar só” se desenvolva?

A resposta é não.

O desenvolvimento da autonomia está dependente das características do vínculo mãe-bebé. 

O desenvolvimento da “capacidade de estar só” está dependente do vínculo mãe-bebé. São as características deste vínculo que determinam se este processo será mais fácil ou mais difícil.

PAIS QUE DORMEM COM OS FILHOS

Nem sempre são os filhos a ir para a cama dos pais. Há casos em que acontece o contrário.

Devido aos medos que a criança manifesta na hora de adormecer muitos pais (a mãe ou o pai) dormem na cama dos filhos e por lá ficam.

Uns ficam umas horas, outros uns dias.

Mas temos também os pais que, aparentemente, trocaram de forma definitiva, a sua cama pela dos filhos.

O contrário também acontece, com os filhos a permanecer indefinidamente na cama dos pais.

Este funcionamento, de tão prolongado, adquire um carácter de normalidade.

Em ambos os casos a intimidade do casal está ameaçada ou, pelo menos, condicionada.

Muitas vezes, o nascimento de um filho é uma excelente justificação para os pais dormirem separados ou porem os filhos a dormir com eles, contornando, assim, os problemas pré-existentes no casal.

Ao mesmo tempo, o nascimento de um filho mexe, em certos casos, profundamente com a vida do casal:

O cansaço físico e emocional; a mãe que não aceita o seu corpo depois da gravidez, e por isso se afasta para não ter contacto íntimo com o parceiro; o pai que sente ciúmes do tempo que a mãe dedica ao filho; a diminuição do desejo sexual; etc.

Por vezes as mães sentem-se culpadas por continuarem a ser mulheres, depois da maternidade.

É como se o novo papel de mãe, para ser exercido plenamente implicasse recusar a sua feminilidade, e as coisas a ela associadas.

É muito importante que o pai não se afaste como homem e faça sentir à mãe que ela ainda é uma mulher desejada e com desejos.

Isto é importante para o casal como para o filho, na medida em que a mãe não busca somente na criança a gratificação afectiva.

 A presença dos filhos na cama dos pais é uma ameaça à intimidade do casal.

Existem casos em que as mães têm medo de que algo fatal possa acontecer com o bebé se não dormirem com ele.

Passam grande parte da noite acordadas a ouvir o batimento cardíaco do bebé e a respiração, para se assegurarem que continua vivo.

Normalmente, isto está associado a sentimentos de culpa.

Por vezes, a ansiedade, o medo e a angústia dos pais é apaziguada de forma mais cómoda colocando os filhos a dormir com eles na cama do casal.

Nos casos em que um filho passou por uma situação traumática, ou na elaboração de certas perdas, dormir com a criança durante um tempo pode ser importante para recuperar a confiança e, aos poucos, voltar para a sua cama.

FILHOS QUE DORMEM COM OS PAIS

Nos casos em que a cama é compartilhada, é habitual que a criança durma com os pais, sempre ou alternadamente até chegar aos dois ou três anos de vida e depois vá para o seu quarto, sem qualquer implicação emocional para a criança ou para os pais.

Portanto, no nosso caso, a questão não é dormir ou não dormir na cama do casal, mas saber o que leva os pais a fazerem-no.

Em abstracto podemos dizer que as coisas vão bem quando é a criança que quer dormir com os pais e não tanto, quando são os pais que precisam de dormir com os filhos.

10 Razões para a Ansiedade nos Adolescentes Pedro Martins Psicoterapeuta psicólogo clínico

10 Razões para a Ansiedade nos Adolescentes

A ansiedade é uma das principais razões que levam os adolescentes (mas também os adultos) a iniciarem uma psicoterapia.

Alguns jovens são tão perfeccionistas que ficam paralisados com o medo do fracasso. Outros preocupam-se tanto com o que seus colegas pensam sobre eles que são incapazes de desfrutar das coisas.

Alguns suportaram circunstâncias difíceis ao longo das suas vidas. Mas outros têm famílias estáveis, com muitos recursos e pais que os apoiam.

Suspeito que o aumento da ansiedade seja reflexo das várias mudanças sociais e culturais que vivemos nas últimas duas décadas.

Aqui estão as 10 principais razões:

 

  1. A tecnologia oferece uma fuga pouco saudável

O acesso constante a dispositivos digitais permite que as crianças escapem das emoções desconfortáveis, como o tédio, a solidão ou a tristeza. Mal entram no carro começam a jogar no telemóvel, e quando estão no quarto a maioria do tempo é usado a conversar nas redes sociais.

Agora estamos a ver o que acontece quando toda uma geração passou a infância a evitar o desconforto. A tecnologia substituiu oportunidades para aumentar a força mental, e assim não desenvolveram as capacidades necessárias para lidar com os desafios quotidianos.

 

A função dos pais não é fazer com que os filhos estejam sempre felizes.

 

  1. A ditadura da felicidade

A felicidade é tão enfatizada na nossa cultura que alguns pais acham que a sua função é fazer com que os filhos estejam sempre felizes. Quando uma criança está triste, os pais procuram logo animá-la. Quando ela está irritada, tudo fazem para a acalmar.

As crianças crescem a acreditar que, se não se sentirem sempre felizes, algo deve estar errado. Isso cria muita agitação interna. Eles não entendem que é normal e saudável sentirem-se tristes, frustrados, culpados e desapontados.

 

  1. Os pais estão a dar elogios contraproducentes

Dizer coisas como “Tu és o corredor mais rápido da equipa” ou “Tu és a mais inteligente da turma” não gera auto-estima. Em vez disso, pressiona as crianças a viver de acordo com esses rótulos. Isso pode levar a um medo paralisante de falhar ou de rejeição.

 

  1. Os pais estão a ficar prisioneiros da competição para o sucesso

Muitos pais tornaram-se assistentes pessoais dos filhos adolescentes. Eles trabalham arduamente para garantir que os filhos possam competir: contratam explicadores e treinadores desportivos particulares. Os pais fazem tudo para ajudar os adolescentes a impressionar na escola. Passam a mensagem de que o filho deve destacar-se em tudo para conseguir um cobiçado lugar nas melhores faculdades.

 

Dizer “Tu és a mais inteligente da turma” gera mais ansiedade que auto-estima.

 

  1. As crianças não estão a desenvolver capacidades emocionais

Nós colocamos o foco na preparação académica e investimos pouco em ensinar as crianças a lidar com as emoções que precisam para ter sucesso. De facto, uma pesquisa de estudantes universitários do primeiro ano revelou que 60% não se sentem emocionalmente preparados para a vida universitária.

Saber gerir o tempo, combater o stress e lidar com os sentimentos são componentes fundamentais para viver uma boa vida. Sem estas capacidades, não é de admirar que os adolescentes estejam ansiosos com as dificuldades quotidianas.

  1. Os pais agem mais como protectores do que guias

Algures ao longo da vida, muitos pais começaram a acreditar que o seu papel é ajudar as crianças a crescer com o mínimo de cicatrizes emocionais e físicas possíveis. Eles tornaram-se tão superprotetores que os filhos nunca lidaram com os desafios por conta própria. Consequentemente, estas crianças cresceram a acreditar que são muito frágeis para lidar com as realidades da vida.

 

  1. Os adultos não sabem ajudar as crianças a enfrentar os medos correctamente.

Num extremo do espectro, vamos encontrar pais que pressionam demasiado os filhos. Eles forçam os filhos a fazer coisas que os aterrorizam. Do outro lado, vamos encontrar pais que não puxam pelas crianças. Eles deixam os filhos afastarem-se de qualquer coisa que pareça provocar ansiedade.

O contacto com a situação é a melhor maneira de vencer o medo, mas apenas quando é feito de forma gradual. Sem prática e orientação, as crianças nunca ganham a confiança para enfrentar os medos de frente.

 

O papel dos pais não é evitar que as crianças cresçam sem cicatrizes.

 

  1. Os pais evitam a culpa e o medo

A parentalidade desperta emoções desconfortáveis, como culpa e medo. Mas, em vez de se permitirem a sentir essas emoções, muitos pais estão a mudar a forma de exercer a parentalidade. Então, eles não deixam os filhos fora de vista porque isso aumenta a sua ansiedade, ou sentem-se culpados por dizer não aos filhos a ponto de cederem. Consequentemente, passam aos filhos a ideia de que as emoções desconfortáveis ​​são intoleráveis.

 

  1. Crianças não têm tempo livre suficiente para brincar

Com tantas actividades as crianças foram ficando sem tempo para brincar. Algumas actividades ajudam a introduzir e a fortalecer regras, mas o jogo desestruturado ensina habilidades vitais para crianças, como a forma de lidar com o inesperado, com desentendimentos sem uma arbitragem dos adultos. Brincar sozinho ensina as crianças a lidar com a solidão, com os seus pensamentos e a ficarem confortáveis ​​na sua própria pele.

 

  1. As hierarquias familiares estão desreguladas

Embora as crianças passem a impressão de que gostariam de decidir sobre várias coisas, no fundo, elas sabem que não são capazes de tomar boas decisões sozinhas. Eles querem que os pais sejam líderes. E quando a hierarquia fica confusa – ou mesmo invertida – a ansiedade aumenta.

 

Criámos um ambiente que gera mais ansiedade nos jovens do que resiliência. Se tivermos em conta os pontos referidos atrás podemos ajudar as crianças a construir a estrutura mental necessária para se manterem saudáveis.

 

Adaptado a partir de “10 reasons teens have so much anxiety today” – Amy Moran

10 Traços que Podemos Encontrar nos Pais Tóxicos. Pedro Martins Psicoterapeuta

10 Traços dos Pais Tóxicos

É muito difícil criar filhos e ninguém tem o direito de julgar quando se trata do estilo parental de alguém.

Há uma linha muito ténue entre os erros cometidos pelos pais e o comportamento inadequado dos pais tóxicos.

Este artigo pode ajudar a determinar e lidar com situações tóxicas que prejudicam a nossa vida.

1 – “Sê o melhor, mas não te esqueças que não és nada de especial.”

Os pais tóxicos esperam que os filhos tenham um desempenho ao mais alto nível.

No entanto, todas as realizações da criança são consideradas dentro do esperado, portanto, não valorizadas.

Os comentários desagradáveis podem destroçar a vida das crianças, porque crescem convictas que são uma decepção para os pais.

2 – “Aceite a nossa ajuda, mas pare de se aproveitar.”

Estes pais oferecem algo que os filhos, verdadeiramente, não precisam. Mas qualquer recusa gera ressentimento.

Os filhos pensam: “Os meus pais, provavelmente, querem companhia e sentir que são importantes”. Então, aceitam a ajuda, agradecem aos pais e oferecem algo em troca.

Mas não há final feliz porque os pais estão sempre a recordar aos filhos os “favores” que fizeram por eles.

Os filhos ficam reféns dos pais:
– Caso recusem a ajuda dos pais: os filhos sentem-se mal por recusar a ajuda de um parente
– Caso aceitem a ajuda dos pais: os filhos sentem que devem ser gratos aos pais pelo apoio e devem estar prontos para retribuir a ajuda a qualquer momento.

Quando crescemos com pais tóxicos podemos não reconhecê-los como tal.

3 – “Vá embora, mas não me deixe.”

Nas famílias saudáveis, os pais ajudam os filhos a sair de casa e viver a sua própria vida.

Os pais tóxicos nunca querem que os filhos saiam, mas estão sempre atirar à cara que a casa, o dinheiro e a comida são deles.

Qualquer tipo de objecção e argumentação dos filhos é ignorada.

O que estes pais realmente querem? Querem que os filhos sejam submissos e permaneçam ao seu lado!

4 -“Faz o que eu te digo, mas culpa-te a ti próprio se falhares.”

Neste caso, os pais tratam os filhos como um objecto: fazem os seus próprios planos e esperam que os filhos os acompanhem.

A propósito, eles não se importam com as consequências de controlar completamente a vida dos filhos. Se algo der errado, a culpa não é deles.

“Eu fiz tudo por ti”. Frase típica dos pais tóxicos.

5 – “Progrida mas esqueça os seus planos para o futuro.”

Os pais querem que os filhos sejam bem-sucedidos, mas não consideram a forma como isso será feito.

Por exemplo, podem esperar que os filhos construam uma carreira de sucesso desde que nunca saiam de casa.

Os pais narcisistas ficam entusiasmados com as conquistas dos filhos por dois motivos:
– Gostam de se gabar do sucesso (que sentem como seu) dos filhos para que os outros os invejem.
– Filhos bem-sucedidos garantem uma vida melhor para os pais.

Ao mesmo tempo, existem outros pais que estão sempre a lembrar aos filhos que existe uma enorme distância entre os seus desejos a realidade.

Aos poucos os filhos vão interiorizando o pensamento dos pais: “Para quê sonhar alto se os sonhos não se podem realizar?!”

6 – “Confie em mim, mas… cuidado”

Vida privada? Espaço pessoal? Não existem para os filhos de pais tóxicos.

Se você tentar restringir o acesso dos seus pais ao seu “território pessoal”, eles vão acusá-lo de não confiar neles.

Mesmo na sua própria casa um filho adulto não está protegido, uma vez que estes tipos de pais não usam as chaves sobresselentes apenas em caso de emergência.

Os filhos devem responder a todas as perguntas – “Porque não lavaste a chávena?” ou “Porque gastaste dinheiro nessa porcaria?”

Estes pais não respeitam as vidas e as decisões pessoais dos filhos.

7 – “Nem vale a pena tentares porque não chegas lá.”

Quanto mais baixa a auto-estima de uma criança, mais fácil é controlá-la.

Os pais tóxicos discorrem sobre as falhas e os defeitos dos filhos e, na maioria dos casos, comentam a sua aparência, porque é uma das questões mais delicadas, principalmente, nos adolescentes.

Se não existem “defeitos óbvios”, os pais, simplesmente, inventam-nos, e com isso, os filhos vão desenvolvendo sentimentos de inferioridade.

São pais que têm muita dificuldade em aceitar o sucesso e a força de vontade dos filhos.

Relacionamentos com pais tóxicos podem ser difíceis de cortar. Você pode precisar de se distanciar para criar os limites que não consegue estabelecer directamente com eles.

8 – “Partilha comigo, mas não te sintas ridicularizada.”

Os pais narcísicos obrigam os filhos a contar-lhes tudo e às vezes fazem-nos sentir culpados por não compartilharem os seus sentimentos.

Mais tarde, essa mesma informação é usada contra os próprios filhos.

Parentes, vizinhos e outras pessoas estão a par de tudo o que a adolescente compartilhou com os pais. E, os pais, realmente, não vêm nada de errado nisso.

9 – “Você tem que lidar com os problemas dos adultos, mas ainda não tem direitos.”

Nas famílias tóxicas, os pais compartilham os seus problemas e as suas responsabilidades com os filhos.

As crianças são arrastadas para situações para as quais não estão preparadas.

Os adolescentes são obrigados a ouvir as queixas dos pais, ajustar-se a uma “situação complicada”, colocar-se no lugar dos pais, ajudar, tolerar e consolar.

Infelizmente, nestes casos, os filhos não têm o direito de expressar a sua opinião. Só são considerados maduros para aquilo que interessa aos pais.

10 – “Tenha medo de mim, mas ame-me.”

Para os pais tóxicos, um ataque emocional é sinónimo de amor e atenção.

Nestas famílias, as crianças conseguem perceber o estado de espírito dos pais pelo som que fazem ao pousar as chaves quando chegam a casa, ou pela forma como arrastam os pés ao caminhar.

Estas crianças vivem em constante medo e apreensão.

Estes pais, geralmente, ficam ofendidos quando as suas acções (supostamente) amáveis são olhadas com desconfiança.

Recorrem com frequência ao: “Eu fiz tudo por ti, e tu és tão ingrato”.

Os pais tóxicos não querem que os filhos saiam de casa, mas estão sempre atirar à cara que a casa, o dinheiro e a comida são deles.

Como lidar com pais tóxicos?

É muito difícil libertar-se de uma atmosfera tóxica – mesmo para adultos!

No entanto, aqui ficam algumas sugestões que podem ajudar a proteger os limites pessoais e a salvar um relacionamento.

Primeiro, precisamos perceber os seguintes factos:

Nós não podemos mudar o passado.

Um relacionamento tóxico é como uma espécie de doença crónica – é muito difícil curá-la, então é melhor evitar qualquer tipo de complicação.

As recomendações baseiam-se no entendimento de que cada pessoa tem dos seus próprios direitos e necessidades.

Você tem o direito de:

Viver na sua própria casa com as suas próprias regras.

Não tomar parte na resolução de problemas de outros parentes.

Limitar o acesso ao seu espaço.

Pensar pela sua cabeça e ignorar seus pais quando eles disserem “Eu sei o que é melhor para ti”.

Gerir os seus recursos: dinheiro, tempo e esforço.

Escolher os seus interesses pessoais em detrimento dos dos seus pais.

Adaptado a partir de “10 traits of toxic parents who ruin their children’s lives without realizing it”

Illustrated by Marat Nugumanov for BrightSide.me

Porque os pais também devem colocar limites a si próprios. Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Os pais também devem colocar limites a si próprios

O medo do mundo exterior leva os pais a querer controlar a vida dos filhos. Mas será que os pais não deveriam colocar limites a si próprios?

“Eu não sei com quem meu filho namora, ou o que ele faz quando não está em casa. Eu gostaria de saber com quem conversa e quem conhece na internet.

Cada vez que chega a casa eu me pergunto o que ele fez o dia todo mas ele não me explica nada. Fecha-se em copas.

Às vezes eu mexo nas coisas dele ou entro no computador dele.” Estes são apenas alguns dos comentários repetidos entre pais de adolescentes.

A razão pela qual muitos pais fazem extensos interrogatórios aos seus filhos tem a ver com os medos gerados pelo mundo exterior.

Pode ser resumido no medo de que algo de mau aconteça aos filhos. O mundo, a rua ou a internet estão cheios de perigos.

Ao longo da adolescência, os jovens realizam duas operações que estão intimamente ligadas e que são necessárias.

Por um lado, ao sentir a necessidade de criar o seu próprio espaço eles recolhem-se na sua própria privacidade, livre da tutela dos pais que controlam tudo e, por outro, precisam explorar o mundo para alcançar a exogamia, que lhes permitirá formar uma família, sair de casa, ou assumir as suas próprias responsabilidades e viver em sociedade.

Há uma geração atrás, os adolescentes faziam estas duas operações rompendo com os pais numa mudança radical.

Tinham outros interesses, ouviam outra música, vestiam-se de maneira diferente. Num dado momento, havia uma ruptura, fruto de uma crise, e o jovem afastava-se dos pais e iniciava uma vida mais autónoma. Falava-se em rebeldia da juventude.

Para evitar que o adolescente tenha frustrações os pais acabam por super-proteger os filhos.

Actualmente, apesar da ilusão de que não há diferença entre uma geração e a outra, ela manifesta-se de outras maneiras. É algo estrutural em cada geração, mesmo que tenha novas formas.

Em relação às gerações passadas, agora tudo é mais subtil. Os pais esforçam-se para ouvir a mesma música, vestem-se da mesma forma, são pais “modernos”.

Mas, ao mesmo tempo, assim como com os seus próprios pais, eles tentam impedir os filhos de se separarem e acabam por recorrer à superprotecção.

O argumento usado é o de evitar que o adolescente tenha frustrações. No entanto, os pais fazem isso pelos filhos ou por eles?

Verificamos, ouvindo os adolescentes, que eles têm dificuldade em criar espaços de intimidade porque os pais estão muito em cima deles.

Uma mãe disse-me: “Eu quero que minha filha sinta que eu sou amiga dela”.

Efectivamente há perigos na sociedade e há jovens que fazem coisas delicadas. De qualquer forma, esta época não é pior do que outras em termos de perigos.

No entanto, já não vemos crianças na rua a brincar sozinhas – quando no passado era a coisa mais normal do mundo.

Na era da informação, tudo é amplificado. Algo que acontece no Bornéu pode servir para assustar os pais e pensar que isso certamente pode acontecer com os seus filhos.

Tudo isto esconde outra questão que o psicanalista Jacques Alain Miller define como “a intromissão do adulto na criança”. O que significa isto?

A intrusão tem a ver com querer moldar as crianças à nossa imagem, baseada em ideais, o que é verdadeiramente impossível e está na base do conflito geracional.

Os pais devem permitir que o adolescente possa experimentar e encontrar os seus próprios limites.

O adolescente deixa de ser transparente aos olhos dos seus pais e fecha-se mais sobre si mesmo.

A reacção dos pais é de mais controlo, opinar sobre a sua vida, interferir nos estudos, nas amizades, nos momentos de diversão, pressioná-lo para que saia ou deixe de sair, imiscuir-se sobre o que lhes convém.

A reacção lógica dos adolescentes é geralmente o silêncio ou o negativismo, o que gera um círculo vicioso de impotência e mal-estar.

Provavelmente ajuda recordar que nós adultos fomos adolescentes e que passámos por situações de confusão, momentos difíceis e que há algo inevitável em tudo isso.

Nas associações de pais, geralmente insiste-se em falar sobre como colocar limites nos filhos.

Podemos brincar com isso e pensar se os pais não precisam de se limitar para intervir menos na vida dos filhos.

Pense nos limites como uma separação. Separar-se deles para poder acompanhá-los melhor na jornada que, definitivamente, é deles.

A nossa é a nossa. Aproveitar isto para fazer uma introspecção sobre a nossa vida como adultos.

São muitos os pais que pensam que os filhos têm de viver as suas próprias experiências, cometer erros, serem mais autónomos.

Como se diz em francês: “faire confiance”, que nada mais é do que permitir que o adolescente possa experimentar e encontrar os seus próprios limites.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de “Por qué los padres también deberían ponerse límites en la relación con sus hijos” – Mario Izcovich

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