Categoria: <span>Psicologia Clínica</span>

auto-sabotagem psicoterapia

Auto-Sabotagem

É normal assumir que vamos procurar de forma activa a nossa felicidade, especialmente, em duas grandes áreas que nos podem conferir grande satisfação:

– os relacionamentos e a carreira profissional.

Daí ser estranho e até um pouco irritante descobrir que com muita frequência, alguns de nós, agimos como se estivéssemos deliberadamente a tentar arruinar as nossas hipóteses de obter aquilo que queremos.

Quando saímos em encontros amorosos com pessoas que nos parecem bons candidatos, por vezes, de forma súbita, iniciamos um comportamento demasiado opinativo, ou confrontador de forma desnecessária.

Não temos grande dificuldade em ser charmosos com pessoas pelas quais não temos assim tanto interesse.

No entanto, podemos afastar os nossos parceiros através da repetição de acusações ou explosões de raiva, como se de alguma forma desejássemos criar uma situação desagradável e triste, em que os nossos amados, exaustos e frustrados, se vissem forçados a abandonar-nos.

Apesar de gostarem de nós são incapazes de aturar tanto drama.

Podemos preferir escolher o que nos é familiar, mesmo que seja mau, em detrimento daquilo que é bom.

No trabalho podemos prejudicar a hipótese de sermos promovidos quando, sem motivo aparente, depois de muitos anos promissores, entramos em conflito com as chefias, ou falhamos na elaboração atempada de relatórios importantes.

Esse comportamento não pode ser explicado como sendo produto do azar.

Ele merece uma designação mais forte e intencional: Auto-Sabotagem.

O que pode explicar esse comportamento auto-destrutivo?

Em grande medida, a forma como a simples e enervante felicidade, por vezes, nos faz sentir.

Ainda que a felicidade seja claramente aquilo que fundamentalmente desejamos, para muitos de nós ela não corresponde àquilo que nós conhecemos:

– – Nós crescemos e aprendemos a acalmar-nos noutros cenários.

A possibilidade de sermos felizes, quando finalmente se concretiza, pode, por esse motivo, parecer contra-intuitiva e até mesmo assustadora.

Não corresponde ao que nos é familiar, e, não nos faz “sentir em casa”.

Podemos por isso preferir escolher o que nos é confortável e familiar, mesmo que seja pior, em detrimento daquilo que se apresenta como, estranhamente, satisfatório ou bom.

Atingir aquilo que desejamos pode ser insuportavelmente arriscado. Deixa-nos à mercê da fé, de nos entregarmos à esperança e à subsequente possibilidade de perda.

A Auto-Sabotagem pode causar tristeza, mas ao mesmo tempo fazer-nos sentir seguros por estarmos a controlar as coisas.

Pode ser útil recordar e usar o conceito de Auto-Sabotagem quando interpretamos o comportamento bizarro dos outros ou o nosso.

Devemos suspeitar sempre que nos apercebemos que estamos a comportar-nos de forma errática na companhia de pessoas que no fundo gostamos ou às quais queremos causar boa impressão.

Para além disso, quando confrontados com certas atitudes cruéis ou irresponsáveis por parte dos outros devemos ter a coragem de imaginar que as coisas, possivelmente, não são o que aparentam ser.

Podemos estar a observar não um opositor malévolo mas alguém ferido – de forma quase comovente – a praticar Auto-Sabotagem, e que, por isso, merece alguma paciência da nossa parte. Ao mesmo tempo, ser gentilmente persuadido a parar com a agressão contra si próprio.

Devemos tranquilizar-nos e a ajudar os outros a ver quão complicado e irritante pode ser a aproximação às coisas que verdadeiramente desejamos.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de Alain de Botton

neurónios em espelho

Neurónios Espelho – Da Telepatia à Empatia

Como sabemos o cérebro é um órgão construído por e, para a relação e comunicação; e agora sabemos que os neurónios espelho são a parte do cérebro especificamente destinada a essa missão.

As primeiras experiências em símios mostraram que os neurónios espelho não se excitavam unicamente quando o símio realizava uma acção dirigida a um fim, mas também quando observava que outro símio (ou humano) a executava. Daí que se tenha definido esta nova função desta classe de neurónios com a expressão “o símio observa o símio faz” e que agora tem a definição de neurónios em espelho.

A importância desta descoberta para a compreensão da mente humana é tal que foi comparada com a representação que teve o ADN para a neurobiologia.

O que incrementou enormemente o interesse pelos neurónios em espelho foi o facto de que eles não se excitam apenas quando o sujeito observa actos motores realizados por outras pessoas, mas também quando observa expressões faciais ou escuta tonalidades vocais que manifestam emoções.

Actualmente começa-se a falar mais em “sistema em espelho” do que em neurónios espelho, pois parece que todo o cérebro faz parte deste sistema.

Gallese, Eagle e Migone (2007) falam em simulação incorporada como o processo que faz com que quando percebemos os gestos e as expressões faciais dos outros, ou escutamos o tom da sua voz, compreendemos a emoção que o outro está a experimentar, não por inferência ou analogia, mas directamente, uma vez que se produz em nós – automática e inconscientemente – um estado corporal que compartilhamos.

Em todas as esferas dos processos mentais – emoções, sensações e intenções – que sejam expressas através de actos intencionais, de expressões faciais ou da linguagem, a percepção activa nos observadores, mediante os neurónios em espelho, os mesmos circuitos neuronais que se activam no sujeito observado. Ou seja, o cérebro do observador reproduz aquilo que está a observar, estabelecendo-se assim, uma linha directa de comunicação entre sujeitos.

Merece ser salientado que os neurónios em espelho do observador não só reproduzem um acto motor, se for o caso, mas também codificam a intenção do acto, de forma que a programação neuronal no cérebro do observador cumpre-se até ao final mesmo que os últimos movimentos do acto se produzam fora do campo de visão.

O conhecimento do papel dos neurónios espelho na comunicação humana permite-nos entender muitas coisas que até alguns anos permaneciam no terreno da especulação. Entre elas estava a antiga intuição de Freud (1912) sobre a comunicação entre o inconsciente do paciente e o inconsciente do analista, o qual chegou a ser pensado como sendo telepatia.

Pelo que foi referido, sabemos que experimentar uma emoção ou observar a expressão da mesma emoção experimentada por outros excita, graças ao sistema em espelho do cérebro, os mesmos circuitos neuronais e, portanto, o observador está a viver no seu interior a mesma emoção, ainda que de maneira inconsciente. É isto que nos permite falar em empatia.

Portanto, em psicoterapia o conteúdo da comunicação do paciente e a matiz emocional transmitida através da sua voz, suas expressões faciais e gestos, estimulam imediatamente no analista/terapeuta – por simulação incorporada – os circuitos neuronais correspondentes e viverá, ainda que seja a um nível menor de intensidade subliminar ou inconsciente, as mesmas emoções que o paciente. Como é evidente, as emoções do analista que de alguma forma se transmitem através das suas respostas, tom de voz, prosódia, silêncios, atitudes e expressões faciais quando se trabalha face a face, provocam também no paciente uma simulação incorporada, de forma que se produz um ininterrupto feedback emocional entre um e outro.

Tudo isto tem, naturalmente um efeito terapêutico. Graças à simulação incorporada o analista experimenta uma emoção similar à que lhe é transmitida, mas à sua maneira, já que nem o seu cérebro nem o conjunto das suas experiências e aprendizagens são idênticas às do paciente. Portanto, em virtude deste feedback, o paciente receberá do analista uma simulação incorporada que será uma versão modificada da sua própria experiência, a qual terá um efeito regulador do seu estado emocional. A repetição contínua deste efeito regulador durante o processo terapêutico dá lugar a modificações significativas.

Adaptado de Joan Coderch
“La prática de la psicoterapia relacional”

psicólogo

A esperança

Para muitos de nós a esperança teve um custo muito elevado para voltarmos a apostar nela.

É possível que tenhamos sido expostos a grandes decepções quando éramos mais jovens ou num momento em que estávamos muito frágeis para lidar com elas.

Talvez esperássemos que os nossos pais ficassem juntos mas separaram-se. Ou esperávamos que algo que desejávamos muito acontecesse, mas não aconteceu. Talvez após nos atrevermos a amar alguém e, depois de algumas semanas de felicidade, tudo tenha terminado.

Isso acabou por criar em nós uma profunda associação entre esperança e risco. Daí que possamos viver de forma mais tranquila a decepção, e com receio a esperança.

A solução é lembrarmo-nos que podemos, apesar dos nossos medos, sobreviver à perda da esperança.

Já não somos aqueles que sofreram as decepções que nos levaram a sermos estas pessoas tímidas. As condições que forjaram os nossos receios já não correspondem à nossa vida actual.

O inconsciente pode, como é seu costume, estar a ler o presente através das lentes usadas no passado, mas o que tememos que possa acontecer – na verdade – já aconteceu.

Estamos a projectar no futuro uma catástrofe que pertence a um passado onde nos vimos impossibilitados de responder adequadamente.

Para além disso, o que fundamentalmente distingue a idade adulta, da infância, é que o adulto tem acesso a mais fontes de esperança do que a criança.

Podemos sobreviver a uma desilusão aqui e ali, porque nós já não vivemos numa pequena província, delimitada pela família, o bairro e a escola.

Nós temos um mundo inteiro onde podemos nutrir-nos de uma variedade de esperanças que, inevitavelmente, alguma pode resultar numa desilusão, mas – e essa é a grande diferença – apenas ocasional.

 

Traduzido e Adaptado por Pedro Martins

a partir de Alain de Botton

clínica

Porque a verdade sobre nós pode ser muito difícil…

Porque a verdade sobre nós pode ser muito difícil, somos todos peritos a enganar-nos.

As nossas técnicas são abrangentes, diabólicas e, muitas vezes, extremamente criativas.

Aqui estão algumas das principais manobras que empregamos para atirar areia para os nossos próprios olhos:

DISTRACÇÃO / DEPENDÊNCIA
Podemos encontrar várias coisas que tenham a força suficiente para manter os nossos pensamentos longe dos inquietantes conflitos internos.

O trabalho é uma das favoritas, as notícias são outra, e a terceira, o álcool.

Não apreciamos muito estas actividades em si mesmo.

Nós gostamos delas porque têm a capacidade de nos manter afastados do que tememos.

EXULTAÇÃO
Uma tristeza que não somos capazes de admitir é muitas vezes coberta com doses exageradas de contentamento.

Em comparação, a nossa felicidade não é tão grande quanto a nossa incapacidade de nos deixarmos tocar pela tristeza.

Assim, desenvolvemos uma teimosa tendência para dizer que está tudo muito bem: “Está tudo maravilhoso, não está?!”

A insistência nesta narrativa não deixa espaço para ideias e sentimentos contrários.

Recorremos a várias coisas que têm a força suficiente para manter os nossos pensamentos longe dos inquietantes conflitos internos. O trabalho é uma das favoritas, as notícias são outra, e a terceira, o álcool.

IRRITABILIDADE
A Negação da raiva em relação a uma determinada pessoa ou situação, muitas vezes transforma-se numa irritabilidade generalizada.

Esta mentira é tão bem sucedida que na verdade ficamos realmente impedidos de perceber o que se está a passar.

Acreditamos piamente que estamos a perder a paciência com as coisas:

“Alguém mudou o comando da televisão de sítio, não há ovos no frigorífico, a conta da luz é ligeiramente maior que o esperado…”

Estamos tão fixados neste funcionamento que não conseguimos considerar outras possibilidades.

Os nossos cérebros estão tão cheios de ser tudo tão frustrante e irritante que habilmente não deixamos espaço para nos focarmos na verdadeira questão.

DENIGRAÇÃO
Dizemos a nós mesmos que, simplesmente, não nos importamos com nada.

Seja o amor, a vida profissional/intelectual ou o quotidiano.

E, estamos muito empáticos com a nossa falta de interesse e desprezo pelas coisas.

Fazemos um grande esforço para torná-lo muito claro para os outros e para nós mesmos – estamos completamente despreocupados.

Não há margem para erro. Nós, simplesmente, não nos importamos.

“Eles são todos estúpidos. É um desperdício de dinheiro. Que idiotas.”

Podemos continuar com incessantes explicações altamente respeitáveis e argumentos valiosos sobre as razões de nada nos impressionar.

Sempre muito racionais e objectivos.

Somos mais eloquentes e espertos em eliminar qualquer ideia de que podemos estar interessados em algo, do que a defender tudo o que realmente amamos.

CRITICAR / DESAPROVAR
Nós crescemos a censurar e a desaprovar profundamente certo tipo de comportamentos e de pessoas.

O que não admitimos é que somos tão condenadores porque necessitamos afastar da consciência que uma parte nossa, de facto, gosta daquilo que condena.

Nós atacamos certos gostos sexuais como sendo totalmente depravados – precisamente por sabermos que os compartilhamos em algum lugar dentro de nós.

Ficamos encantados quando determinadas pessoas são apanhadas ou envergonhadas na imprensa; “o que eles fizeram foi totalmente horrível”, insistimos, na nossa indignação que esconde qualquer risco de manchar a conexão entre nós e eles.

Quando os nossos sentimentos ficam muito confusos, na verdade, acabamos por passa-los para outra pessoa.

Ao invés de aceitá-los como os nossos, convencemo-nos que eles só existem nos outros – que nós atacamos e censuramos por os terem.

A Negação da raiva em relação a uma determinada pessoa ou situação, muitas vezes transforma-se numa irritabilidade generalizada.


DEFENSIVIDADE

Quando surge algo de indesejável e nos coloca numa situação complicada, podemos recorrer a uma estratégia altamente eficaz: ficar ofendido.

Um colega tenta dar-nos um ponto de vista, mostrar-nos outro ângulo, mas é instantaneamente acusado de indelicadeza e de arrogância.

Alguém nos aponta algo e ficamos furiosos porque estão a colocar-nos em cheque em algo difícil para nós.

O sentimento de ofendido ocupa-nos por completo.

Deixamos de prestar atenção à situação em si, que apesar de ser correcta é indesejável. Desta forma ficamos impedidos de lidar com ela.

CINISMO/DESESPERO
Estamos tristes com algo mas confrontarmo-nos com isso seria muito difícil.

Assim, generalizamos e universalizamos a tristeza. Não dizemos que o X ou o Y nos deixou tristes.

Dizemos que tudo é terrível e todo mundo é horrível.

Vamos espalhar a dor – de modo a que a nossa dor particular e com causas concretas não possa ser alvo da nossa atenção.

A nossa tristeza é, dessa forma, afastada e diluída no mundo.

Traduzido/Adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton

psicoterapia

O direito a estar triste. Entre a tristeza e a paixão

“Há um fenómeno social, que se vê muito na família e na escola, e que a mim me impressiona particularmente, que é o não reconhecimento por parte dos adultos que as crianças têm direito de estar tristes, ou a ter tristezas, ou a ter desgostos, ou a sofrer com as suas tristezas.”

A recusa do adulto em reconhecer a tristeza da criança corresponde à recusa do adulto em reconhecer a sua própria tristeza infantil e até a sua tristeza actual.

Quer dizer, ele também foi vítima disso, ele também teve tristezas que teve de esconder, que teve de disfarçar, que teve de resolver de uma certa maneira, porque os adultos, no seu tempo de criança, também já não lhe concediam o direito à sua tristeza.

Porque a tristeza conduz a uma reflexão sobre a própria pessoa, sobre o próprio eu, leva-nos a olhar para dentro e a procurarmos ver o que se passa dentro de nós.

Enquanto, que na paixão, por exemplo, a pessoa está toda voltada para fora e só vê o objecto amado, o objecto de amor.

Quando se está apaixonado por uma pessoa, ou por uma ideia, ou seja lá o que for, a pessoa está toda voltada para fora.

Na tristeza, pelo contrário, a pessoa está toda voltada para dentro.

E na cultura ocidental nós recusamos muito a depressão, ao contrário do que acontece muito com os orientais que aproveitam muito para meditar, para pensar, para reflectir, para atingir o discernimento das coisas.

A palavra discernimento creio que significa compreender sentindo.

Corresponde mais a descobrir do que propriamente a compreender no sentido racional.

E a tristeza dá um discernimento, uma compreensão, nesse sentido, de que aliás todos nós nos apercebemos se voltarmos um pouco atrás e virmos o que foi a nossa vida.

A pessoa cresce, desenvolve-se e aperfeiçoa-se à custa desses movimentos de voltar para fora e de voltar para dentro o seu olhar.

Vemos que os momentos de tristeza nos conduziram a modificações importantes na vida.

Muitas vezes há essa reflexão, esse olhar para dentro de que às vezes a gente não se apercebe, de que não damos conta por isso, mas a verdade é que ele existe, porque a pessoa está voltada para dentro.

Nessas alturas, quer seja na adolescência quer seja na idade adulta, está de facto, a reflectir sobre todos os seus problemas, os mais íntimos, os mais pessoais, e menos voltada para as coisas de fora e para os problemas dos outros.

Esse discernimento corresponde mais a um fazer-se luz dentro de nós e portanto a compreendermo-nos melhor através de um fechar de olhos ao que está para fora e voltar o nosso olhar, a nossa compreensão das coisas para dentro.

Isso na infância é fundamental para que a pessoa cresça.

A pessoa cresce de facto, desenvolve-se, aperfeiçoa-se à custa desses movimentos de voltar para fora e de voltar para dentro o seu olhar.

De uma certa maneira são, movimentos de paixão e movimentos de tristeza.”

“Eu agora quero-me ir embora”
João dos Santos
Conversas com
João Sousa Monteiro

Auto-suficiência: o outro lado

– Ninguém sabe como eu me sinto, ninguém se interessa…
– Já disseste a alguém como te sentes?

A expectativa de que os outros saibam como nos sentimos sem termos de o expressar, na maioria das vezes, não se concretiza.

A narrativa acaba por ser: “Não se interessam, não gostam de mim …”

O desejo de ser compreendido e que o outro venha ao nosso encontro sem necessidade de o expressarmos encontra paralelo na infância precoce onde a mãe antecipa os desejos/necessidades da criança e as satisfaz. Excluindo este “fenómeno” que resulta de uma profunda ligação mãe-bebé (que se desfaz gradualmente), a criança vai desde o início manifestando as suas necessidades e procurando pelos meios que dispõe que elas sejam satisfeitas.

Quando as coisas não correm bem nesta fase do desenvolvimento, a criança – amanhã adulto – vai-se fechando sobre si própria e reforçando a crença que pode, essencialmente, contar consigo mesma.

Se para algumas pessoas é difícil pedir ajuda, para outras isso é quase impossível. Sentem que pedir é uma espécie de pedinchar, sinónimo de pequenez, e nesse sentido, exposição de uma falha, de uma fragilidade que é necessário ocultar.

Quando pedem ajuda fazem-no de uma forma tão atabalhoada que por vezes mais parece que os outros é que sentem necessidade de os ajudar.

O receio de pedir e não receber não só expõe o sentimento de insuficiência como o pode ampliar.

Então, numa espécie de vitória invertida aguentam estoicamente em silêncio ao mesmo tempo que desenvolvem sentimentos hostis em relação ao outro que “não se interessa”.

Desta forma vai-se ampliando a distância, quando a proximidade é – e sempre foi – o maior desejo.

masturbação

Masturbação (?)

Recentemente, em casa de uns amigos, passou-se o seguinte:

O filho deles andava aos saltos de um lado para o outro, mas a mão, raramente se desprendia dos calções.

Não estará com vontade de fazer chichi, alguém perguntou. Descontraidamente, o pai respondeu, “está entretido…”

A manipulação dos órgãos genitais está associada à masturbação, mas para ser considerada masturbação falta o essencial, a fantasia.

A masturbação com um verdadeiro significado sexual é praticada em segredo, às escondidas e não no meio da sala onde todas as pessoas podem ver.

Os pais apercebem-se do que está acontecer e, felizmente, a maioria faz vista grossa à exploração que a criança faz do corpo.

Naturalmente, descobre que há partes mais agradáveis que outras.

Provavelmente, passa mais despercebido, mas é habitual encontrar-se crianças entretidas com o lóbulo da orelha ou a fazer caracóis com o cabelo.

Destituir de qualquer tipo de significado a manipulação dos genitais é cair no oposto.

Esta exploração passageira do corpo liga-se com emoções e fantasias vagas que prepara a sexualidade adulta.

Nos adultos a vida sexual infantil está reprimida, esquecida, sendo que muitos ficam angustiados com esta fase dos seus filhos, e são excessivamente severos em relação a este comportamento.

É importante que os pais/educadores possam entender e aceitar esta fase como fazendo parte do desenvolvimento, e preparação para uma vida sexual adulta e satisfatória.

negação

Negação: uma forma de lidar com as emoções

A negação é um termo teórico, que passou a ser usado na vida cotidiana, na maioria das vezes, distorcendo o seu significado.

Segundo o Vocabulário da Psicanálise – Laplanche & Pontalis, a negação ou (de) negação é o “processo pelo qual o indivíduo, embora formulando um dos seus desejos, pensamentos ou sentimentos, até aí recalcado, continua a defender-se dele negando que lhe pertença”; “recusa da percepção de um facto que se impõe no mundo exterior.”

A negação por um certo período de tempo pode ser considerada um mecanismo saudável.

A negação é um mecanismo de defesa inconsciente em que o conflito emocional e a ansiedade são evitados por recusa em reconhecer pensamentos, sentimentos, desejos, impulsos, ou factos que são conscientemente intoleráveis.

Em alguns casos, a negação por um certo período de tempo pode ser considerada um mecanismo saudável de mitigar o “intolerável”, dando à mente a oportunidade de elaborar e se adaptar.

Perante emoções demasiado intensas, a negação representa uma forma de preservar a coesão mental, ainda que a negação, em última análise, possa ser nociva.

Uma vez que negação também requer um investimento substancial de energia, implica que outras defesas sejam também utilizadas para manter os sentimentos inaceitáveis ​​afastados da consciência.

A perpetuação do uso das defesas e a sua falência acaba por ser uma das circunstâncias que levam algumas pessoas a procurar a psicoterapia.

Gradualmente as “defesas” tornarem-se cada fez mais inadequadas e ineficazes, deixando a dor emocional oculta (no seu estado original), ascender à superfície.

Os mecanismos de defesa podem ser encontrados em indivíduos saudáveis, mas a sua presença excessiva é, via de regra, indicação de possíveis sintomas neuróticos.

psicoterapia

Implodir ou explodir?

Implodir ou explodir? A resposta não é fácil e, normalmente, a decisão está dependente dos (supostos) efeitos colaterais da explosão, ou seja, como recuperar dos danos resultantes – reais ou imaginados.

Embora provoque grandes estragos, a implosão (explosão interna) tem a “vantagem” de ser controlada pelo próprio.

Já na explosão (externa), o maior receio é a imprevisibilidade quanto aos (supostos) estragos. Temem-se os efeitos no outro e o reflexo no próprio.

É complicado abordar esta questão sem sabermos o que está por trás, mas tomemos o exemplo:

Imaginemos que a Filipa diminui e amesquinha constantemente a Inês através de observações desagradáveis, comentários depreciativos e a responsabiliza por tudo o que de mal ocorre.

Um dos efeitos nefastos da Inês não reagir traduz-se no desenvolvimento de sentimentos de desvalorização e de inculpação – absorção da maldade do outro transformando-a em sua-; algo que se pode enraizar profundamente no Eu a ponto de se constituir como parte integrante deste.

Neste caso, podemos supor que a “explosão” seria a resposta adequada, mas temos que considerar um aspecto. O que representa a Filipa para a Inês?

Se pensarmos que se trata de uma figura com uma grande representação afectiva, é natural que a reacção da Inês  possa ser bloqueada devido ao receio (normalmente fantasiado) de vir a perder a relação com a Filipa. Quando o medo é grande é muito mais provável que se dê uma implosão do que uma explosão.

Uma das conclusões que se podem tirar é que certas dinâmicas relacionais implicam custos muito elevados.

As coisas não são tão simples como tentei demonstrar, são, até, muito mais complexas. Cada caso é um caso, mas implodir não é a solução, pelo contrário, é uma forma de perpetuar certos padrões relacionais.

 

Trauma – Uma Introdução

No Vocabulário de Psicanálise, Laplanche e Pontalis descrevem trauma ou traumatismo (psíquico) como:

“Acontecimento da vida do indivíduo que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se acha o indivíduo de lhe responder de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos patogénicos duradouros que provoca na organização psíquica.”

No entanto, nem toda a experiência de trauma é um acontecimento específico; ele pode ser cumulativo.

Neste caso, uma vez que as causas são menos claras, torna-se mais difícil de lidar.

Conceito importante associado ao de trauma, é o de sinal de angústia.

Laplanche e Pontalis referem:” O sinal de angústia reproduz de forma atenuada a reacção de angústia vivida primitivamente numa situação traumática, o que permite desencadear operações de defesa.”

Segundo P. Casement, quando se considera a revivência do trauma é importante pensar em conjuntos inconscientes.

“Isso dá-nos uma lógica em termos da qual podemos entender como a mente regista inconscientemente elementos particulares como sendo da mesma natureza – porque foram anteriormente vivenciados juntos.

Assim eles passam a ser estabelecidos como relacionados, de forma atemporal e sem excepção.

Para o inconsciente a parte pode representar o todo, logo, qualquer coisa associada a uma situação traumática pode representar o trauma como um todo e pode deflagrar o sinal de ansiedade, alertando a mente inconsciente como se aquela situação traumática estivesse na eminência de se repetir.”

Trauma: “Acontecimento da vida do indivíduo que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se acha o indivíduo de lhe responder de forma adequada.

P. Casement dá-nos um exemplo através de uma vinheta clínica:

Uma menina de dois anos de idade foi levada pela mãe para ser vacinada antes de viajar para o estrangeiro.

Para poder aplicar a vacina na coxa da criança, o médico pediu à mãe para levantar o vestido da filha.

Até aí nada de anormal, à excepção, talvez, da presença desse relativamente estranho – o médico de família.

Mas depois de ficar chocada com a súbita dor da injecção, foram necessários alguns meses para que a criança fosse capaz de recuperar da experiência que parecia estar sempre iminente.

Mais especificamente, ela demonstrava um claro sinal de ansiedade sempre que a mãe tentava trocar-lhe as roupas.

Qualquer tentativa da mãe de levantar o vestido da criança era recebida com gritos.

Uma reacção semelhante era evidente quando se tirava qualquer outra peça de roupa; quanto mais perto da parte inferior do corpo mais intensa era a reacção.

Outras pessoas tinham mais sucesso do que a mãe nessa operação, mas ninguém podia levantar-lhe o vestido.

Podemos ver neste exemplo como várias associações relacionadas com a situação de perigo foram estabelecidas em torno do trauma original.

As mais específicas eram as seguintes: a mãe com a criança ao colo levantando o vestido.

Associações menores também podiam ser identificadas: roupas perto da coxa e pessoas como a mãe.

Era perceptível que a criança tinha mais confiança no pai do que na mãe quando estava no colo.

Mas quando a criança estava no colo de outra pessoa, o pai tornava-se a fonte de ansiedade caso estendesse as mãos para ajudar a tirar a roupa.

O sinal de angústia reproduz de forma atenuada a reacção de angústia vivida primitivamente numa situação traumática.

Por isso, dava a sensação de existirem diferentes níveis de associação a funcionar:

– uma pessoa-colo do sexo feminino era mais temida do que uma pessoa-colo do sexo masculino, particularmente quando associada à tentativa de tirar a roupa.

Também um homem de braços estendidos para ajudar, quando associado à tentativa de tirar roupas, era mais temido do que uma mulher na mesma posição.

Neste exemplo podemos ver que o trauma passou a ser associado a um conjunto de elementos principais:

– estar no colo de uma mulher; roupas removidas ou levantadas; um homem a estender as mãos para fazer algo.

Reconhecendo intuitivamente as associações às quais sua filha reagia, a mãe encontrou uma maneira de lidar com o problema.

Ao colocar a criança na banheira e molhando as roupas, ao invés de tentar despi-la ao colo distanciou-se da situação traumática.

Conseguiu então tirar roupas que estavam molhadas em vez de secas.

Roupas molhadas não tinham participado no trauma original, de modo que essa diferença permitiu à criança aceitar uma nova maneira de se despir, apesar de que remover roupas ainda era parte daquilo que a mãe fazia.

Ela não estava, portanto, evitando completamente a experiência, mas encontrando uma maneira de fazer face a ela – na medida em que a criança estava em condições de a tolerar.

Gradualmente os vínculos associativos tornaram-se mais fracos e as roupas secas também puderam ser removidas: primeiro, removidas quando ela estava sentada numa banheira vazia e, depois, sentada ao colo da mãe.

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