Etiqueta: <span>psicoterapia</span>

psicoterapeuta pedro martins

Sonhar Acordado

Tendemos a nos repreender por olhar pela janela. Devias estar a trabalhar, a estudar, ou a fazer uma lista de tarefas. Pode parecer quase uma definição de tempo desperdiçado. Parece não produzir nada, não ter um propósito. É equiparado ao tédio, à distracção e à futilidade. O acto de colocar o queixo nas mãos junto de uma janela e deixar os olhos vaguear não goza de muito prestígio. Não andamos a dizer: “Eu tive um excelente dia: o ponto alto foi olhar pela janela”. Mas talvez numa sociedade melhor, esse é o tipo de coisa que as pessoas diriam umas às outras.

A questão do olhar através de uma janela é, paradoxalmente, não descobrir o que está a acontecer lá fora. É, antes, um exercício para descobrir o conteúdo das nossas próprias mentes. É fácil imaginar que sabemos o que pensamos, o que sentimos e o que se está a passar nas nossas cabeças. Mas raramente o fazemos inteiramente. Há uma grande parte daquilo que somos que circula inexplorado. O seu potencial está por explorar. É uma parte tímida que não surge sob a pressão do questionamento directo. Quando nos deixamos levar, o olhar pela janela oferece uma maneira de ouvir as sugestões mais silenciosas e as perspectivas das nossas partes mais profundas.

Platão sugeriu uma metáfora para a nossa mente: as nossas ideias são como pássaros pulsando na passareira dos nossos cérebros. Mas, para que as aves se estabelecessem, Platão entendeu que precisávamos de períodos de calma, livres de um propósito. Olhar pela janela oferece essa oportunidade. Nós vemos o mundo acontecer mas não precisamos de responder; não temos uma intenção particular e, portanto, as nossas partes mais profundas têm a possibilidade de serem ouvidas, como os sinos das igrejas, quando a cidade adormece.

O potencial de sonhar acordado não é reconhecido pelas sociedades obcecadas com a produtividade. Mas algumas das nossas maiores ideias surgem quando deixamos de nos sentir pressionados e, em vez disso, respeitamos o potencial criativo do devaneio. Sonhar acordado é uma rebelião estratégica contra as pressões imediatas (mas, de facto, insignificantes) – em favor da busca difusa, mas muito séria, do nosso Self.

psicoterapeuta

A importância da Vulnerabilidade

Há aspectos nossos que ao serem expostos a uma crítica pouco simpática podem resultar em humilhação.

Visto de perto nenhum de nós é impressionante. Ficamos acanhados, agitados, irritáveis e mal-humorados.

Sobre a pressão de certas situações gritamos, batemos com as portas e deixamos sair os nossos lamentos.

Vamos contra portas de vidro e damos quedas aparatosas na rua, aumentando a nossa colecção de episódios constrangedores.

Estamos constantemente preocupados como os outros nos vêem.

Desejamos o amor, mas somos distantes e pouco sensíveis com aqueles que nos são próximos.

Somos desajeitados nos nossos esforços para seduzir e dignos de pena na busca de atenção.

Os nossos corpos estão cheios de minudências e vulnerabilidades. De certos ângulos somos verdadeiramente embaraçosos.

Lutamos para esconder todas essas coisas. O nosso idiota interno é monitorizado com muito cuidado e implacavelmente silenciado.

Aprendemos desde os primeiros anos que a prioridade, quando se trata de vulnerabilidade, é disfarçá-la completamente. Sem arrependimento usamos o que podemos para parecer serenos, para apagar evidências das nossas tontices e para tentar aparentar sermos muito mais “normais” do que achamos que somos.

Estamos constantemente preocupados como os outros nos vêem.

Estamos, compreensivelmente, muito focados nas partes más da vulnerabilidade.

No entanto, a vulnerabilidade tem lados muito profundos e significativos.

Há momentos em que revelar fraquezas, longe de ser uma catástrofe, é a via para criar uma conexão.

Em certas situações podemos arriscar explicar, com rara franqueza, que estamos com medo, que às vezes nos sentimos mal e que fizemos muitas coisas disparatadas.

E ao invés de afugentarmos o outro, essas revelações podem servir para que nos vejam como mais humanos e, quem sabe, sentir que as suas próprias vulnerabilidades têm eco na vida dos outros.

Noutras palavras, as vulnerabilidades podem ser a primeira pedra de uma amizade, uma amizade propriamente dita, e não apenas um processo de admiração mútua, como troca de simpatias e consolos perante as dificuldades da vida.

Também há, é claro, formas más de lidar com a vulnerabilidade:

– Quando de forma agressiva impomos aos outros ajuda, ou quando as nossas falhas se repetem constantemente, ou quando ficamos mais perto da raiva ou da histeria, do que da tristeza e da melancolia.

A vulnerabilidade tem lados muito profundos e significativos.

A boa vulnerabilidade não espera que a outra pessoa resolva as nossas dificuldades.

Nós deixamos que eles vejam uma parte complicada de quem somos, simplesmente, na esperança que eles se sintam encorajados e mais confortáveis com eles mesmos para mostrar as partes que costumam esconder.

A boa vulnerabilidade é fundamentalmente generosa:

– Precisa do primeiro passo para ser revelada, assim como para torná-la mais segura para que as outras pessoas possam libertar-se e revelar algo do seu próprio Eu. É um presente em forma de um risco tomado por outra pessoa.

Para além disso, mostrar a vulnerabilidade é uma forma curiosa de mostrar quem nós somos, pois apesar das coisas embaraçosas, estamos longe de sermos vistos como ridículos ou dignos de pena.

Somos, pelo contrário, fortes o bastante para sermos fracos.

Deixamos que os nossos disparates e idiotices, a nossa raiva e a nossa tristeza sejam vistas, com a confiança de que essas características não têm que ser o veredicto final de quem nós somos.

É uma pequena tragédia gastar tanto tempo das nossas vidas a lutar para esconder as fraquezas, quando compartilhar abertamente a nossa vulnerabilidade é a via para que a amizade e amor possam acontecer.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
A partir de Alain de Botton “The importance of vulnerability”

psicoterapia zona de conforto

A Zona de Conforto é muito desconfortável

Consta que existe uma zona de conforto, mas tenho dúvidas que seja confortável.

Por princípio ninguém quer ficar no mesmo lugar. Na nossa natureza está o desejo de descobrir e conquistar coisas novas.

É esse ensejo pelo novo que nos faz avançar, mudar de lugar e concretizar novos objectivos.

Já diz o provérbio – parar é morrer.

Muitas vezes, apesar do receio vamos avançando. Mas quando o medo é muito grande ficamos paralisados.

Ter medo e ser incapaz de mudar, nada tem a ver com conforto, mas com desconforto.

É aqui, neste bloqueio, nesta impossibilidade de avançar que muitos vêm uma zona de conforto.

Mas ninguém que esteja nesta situação/zona está confortável.

O temor pelo novo é muitas vezes interpretado como um gosto pelo velho, pelo conhecido.

É a esta interpretação errónea que algumas vezes se dá o nome de zona de conforto.

Ter medo e ser incapaz de mudar nada tem a ver com conforto mas com desconforto.

Ficar parado é ver as coisas passarem sem lhes poder tocar. É passar ao lado da vida.

Como é hábito, certas expressões entram no vocabulário do dia-a-dia e passam a ser usadas na situação que der mais jeito.

Em grande medida a  expressão “zona de conforto” é usada para apontar o dedo a alguém que não investe, que não arrisca, que se acomoda.

Estes “julgamentos precipitados” acabam por não considerar o mais importante:

– O que leva alguém a acomodar-se com uma situação (trabalho ou relação) desagradável?

Não creio que possa falar em zona de conforto. Mais correcto será dizer que existe uma zona de desconforto:

– Uma zona desconfortável, onde as pessoas que permanecem lá se sentem sozinhas, frustradas e infelizes.

É exactamente por isso que é tão difícil sair de lá. Falta o brilho da alegria, o entusiasmo que alimenta o desejo de conquistar.

A coragem de avançar sem recear os tropeções  e as quedas; de conseguir rir e chorar.

Mudar é doer. Sofrimento em psicoterapia. Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Mudar é doer. Sofrimento em psicoterapia

Ao ler o artigo “Mudar é doer” lembrei-me de algo que se passou há uns anos. Um amigo meu estava a considerar iniciar uma psicoterapia mas antes quis conversar comigo para esclarecer algumas questões. Falei-lhe superficialmente do processo, os moldes e os objectivos.

Como me atrasei a dar-lhe um contacto ele marcou com o psicoterapeuta de uma amiga. Saiu de lá em choque porque nada do que eu lhe tinha dito batia com o que acabara de ouvir. Entre elas estavam as coisas que encontrei no artigo: “Mas se tiver coragem de enfrentar esse estado de coisas; de dor insuportável, mas necessária, verá o incrível milagre da vida acontecer diante dos seus olhos.”

O que podemos encontrar nesta frase?

Em primeiro lugar temos uma espécie de sedução/manipulação por parte do psicoterapeuta: – É corajoso ou não é? Se não for pode ir embora. Aqui só há lugar para corajosos. Mas eu sinto que você é corajoso para enfrentar as coisas.

Depois de a coragem estar à flor da pele, aplica-se o segundo golpe – Não pode fugir à dor insuportável, porque, obviamente, ela é necessária. Para quê? Para ver um incrível milagre acontecer! Nesse caso vale bem a pena. Quando é que começamos?

Perante esta aceitação tácita, o paciente está condenado às atrocidades que estão para vir. Se não as suportar é porque não é corajoso, e o milagre da vida não quer nada com os fracos. Moral da história: Se as coisas correrem mal a culpa é sua!

Vamos passar ao lado do adjectivo “insuportável”, porque a dor em si é quanto baste. Introduzir mais dor em pessoas que certamente passaram por muitas ou que as vivem neste momento é mais que maldade, é uma perversão (caso esta pessoa não tenha perdido para sempre a esperança na psicoterapia, terá mais um problema quando entrar no gabinete do novo terapeuta).

A psicoterapia não é, nem pode ser uma fonte de dor, muito menos insuportável. Há coisas que custam, que são difíceis, mas não o são porque fazemos terapia – já o eram muito antes. Na verdade, é por essa razão que as pessoas decidem fazer psicoterapia: superar os bloqueios que as impedem de ter uma vida melhor.

psicólogo clínico procurar respostas

Efeito Streetlight – Onde procurar respostas

É muito comum sermos levados pelo “streetlight efect” – procurar algo no local onde incide a luz em vez do local onde foi perdido. Os seres humanos tendem a procurar respostas nos lugares onde é mais fácil pesquisar do que os locais onde é provável que elas estejam. Em aspectos importantes da nossa vida o efeito “streetlight” pode ter um grande impacto.

Crentes de que estamos a procurar as respostas no local certo, empenhamo-nos de corpo e alma nessa busca. Como sempre acontece, alguma resposta acabará por ser encontrada, maioria das vezes, a errada.

Implicações: terminamos relações pela razão errada, deixamos o emprego pela razão errada, vamos viver para outro país pela razão errada, etc.

Ao procurarmos fora as respostas que estão dentro de nós, não só acumulamos opções erradas, como vamos vivendo numa espécie de equívoco em relação a nós e ao mundo que nos rodeia.

Não é fácil redireccionar o foco de luz para nós, e muitas vezes necessitamos da ajuda do outro, mas só abrindo a nossa mão podemos dizer, “afinal as chaves estão aqui”.

psicoterapia tinder

A Síndrome de Tinderela

Ter vários pretendentes com quem se conversa nas redes sociais e não concretizar nada com nenhum, não é azar mas parte do Síndrome de Tinderela (o nome desta síndrome tem origem na aplicação Tinder).

Através do Tinder muitas pessoas conseguiram ter mais encontros amorosos num mês do que ao longo de toda a vida. A parte negativa desta forma simples, acessível e imediata de fazer “match” com alguém é precisamente a facilidade com que ambas as partes encontram o “par perfeito” através de um perfil de características adornadas e fotografias retocadas.

Flertar com um ou vários homens ao mesmo tempo através das redes sociais não garante o início de um relacionamento bem-sucedido. Pelo contrário, o uso constante destas ferramentas digitais está associado ao medo que uma mulher tem de se dar a conhecer e conhecer uma pessoa de maneira real, de experimentar sentimentos mais profundos e de se comprometer.

A síndrome Tinderela levanta um paradoxo interessante, mas muito preocupante. As aplicações e – em geral – a tecnologia sugerem facilitar a nossa vida, no entanto, ao invés de as apps como o Tinder servirem como plataforma facilitadora para ampliar o círculo social e começar a conhecer pessoas reais, estas estão a tornar-se causa de maior afastamento e solidão.

Não estou certo que exista a síndrome Tinderela, como não estou certo que todas as pessoas que utilizam este género de aplicações se enquadrem no quadro descrito. Para muitas pode ser uma alavanca importante para dar início a uma relação que se pode ir aprofundando. Uma ferramenta importante para enfrentar a timidez. Mas para grande parte das pessoas não passa de um jogo de bate-e-foge, onde quase todos perdem, mesmo quando vencem.

psicoterapia

Processar as Emoções

É um capricho das mentes que nem todas as nossas emoções sejam plenamente reconhecidas, compreendidas ou mesmo, verdadeiramente sentidas.

Existem sentimentos que se encontram numa forma “não processada” dentro de nós.

Muitas inquietações podem, por exemplo, permanecer sem autorização de acesso e de interpretação. Nesse caso, é possível que se manifestem sobre a forma de ansiedade generalizada.

Sob a sua influência, podemos sentir medo de passarmos tempo sozinhos, uma compulsiva necessidade de permanecermos ocupados, ou ficarmos presos a actividades que garantam que nos mantemos afastados do que nos assusta.

Um tipo semelhante de desaprovação pode acontecer em torno da mágoa.

Alguém pode ter abusado da nossa confiança e levar-nos a duvidar da sua bondade, ou afectado a nossa auto-estima.

A dor está algures dentro de nós, mas à superfície adoptamos uma frágil alegria; entorpecemo-nos quimicamente ou então adoptamos um tom de cinismo generalizado que mascara a ferida que nos foi infligida.

Pagamos caro por não “processar” os nossos sentimentos.

As nossas mentes crescem apreensivas quanto ao seu conteúdo. Não conseguimos dormir porque durante o dia não processámos certos sentimentos – a insónia é a vingança dos pensamentos que por serem omitidos, não foram processados durante dia.

Ficamos deprimidos com tudo, porque não podemos ficar tristes com nada.

Evitamos processar emoções porque o que sentimos é tão contrário à nossa auto-imagem, tão ameaçador para as ideias que a nossa sociedade tem de normalidade e tão em desacordo com quem gostaríamos de ser.

Uma atmosfera propícia ao processamento seria aquela em que as dificuldades do ser humano fossem calorosamente reconhecidas e amavelmente aceites.

Não é por preguiça ou desleixo que não nos conhecemos, mas porque tememos que seja doloroso.

Processar emoções requer bons amigos, psicoterapeutas competentes e momentos para reflectir.

Então, podemos baixar as nossas defesas (normais) de forma segura e permitir que o material venha à superfície e seja explorado.

Muitas vezes tomamos consciência que, numa área ou outra, a vida não é o que gostaríamos que fosse. Mas só aceitando e processando essas emoções, o nosso estado anímico pode melhorar.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton – Unprocessed Emotion

psicoterapia

As Várias Caras do Narcisismo

As várias caras do narcisismo

A cultura popular recorre há muito tempo a traços narcisistas para construir personagens problemáticos, desde Dorian Gray (Oscar Wilde) a Don Draper (série Mad Man). Gaston de “A Bela e o Monstro” apresenta um modelo apatetado, mas razoavelmente válido de grandiosidade, provavelmente a característica mais reconhecível em pessoas com um elevado narcisismo ou com Distúrbio Narcísico da Personalidade – NPD.

Esse fanfarrão corajoso – Gaston – canta: “Como espécime, sim, sou intimidador!… Como vês, eu tenho bíceps de sobra!… Eu sou especialmente bom a cuspir!… E não há bocadinho de mim que não esteja coberto de cabelo. ” Os narcisistas podem realmente ver-se como estando no topo – em termos de talento, aparência e sucesso.

Mas é um erro supor que todos os narcisistas são assim tão óbvios. “Nem todos os narcisistas se preocupam com a aparência, a fama ou o dinheiro”, refere Malkin. “Se nos concentrarmos muito no estereótipo, perdemos muitas características que não têm nada a ver com a vaidade ou com a ganância”.

Alguns narcisistas, por exemplo, podem ser da variedade “comum”, e na verdade dedicarem as suas vidas a ajudar os outros.

Podem até concordar com declarações como: “Eu sou a pessoa mais prestativa que eu conheço” ou “Eu serei recordado pelas boas acções que fiz”. “Todos nós temos conhecimento de mártires grandiosamente altruístas, abnegados até o ponto de não suportarmos estar com eles”, refere Malkin.

E há narcisistas altamente introvertidos, ou “vulneráveis”. Esses indivíduos sentem que são temperamentalmente mais sensíveis do que os outros. Reagem mal (até) a pequenas críticas e precisam de reafirmação constante. A forma como se sentem especiais pode ser negativa: podem ver-se como a pessoa mais feia da festa ou sentir-se como um génio incompreendido num mundo que recusa reconhecer os seus dons.

O que todos os subtipos de narcisistas têm em comum, refere Malkin, é “auto-aprimoramento”. Os pensamentos, comportamentos e as suas posições separam-nos dos outros, e esse sentimento de distinção acalma-os, porque eles estão em luta com um entendimento instável que fazem de si mesmos.

“Os narcisistas sentem-se superiores aos outros”, refere Brummelman, “mas não estão, necessariamente, satisfeitos consigo mesmos como pessoa”.

Uma ligação à Depressão

A luta entre sentirem-se superiores e ao mesmo tempo insatisfeitos consigo mesmos, está no cerne de uma nova concepção de narcisismo, centrada tanto na depressão quanto na grandiosidade.

“A hipótese que se coloca é que os narcisistas são propensos a altos mais altos e baixos mais baixos”, refere Seth Rosenthal ” tem a constante necessidade de ter a sua grandeza verificada pelo mundo à sua volta. Mas quando contactam com a realidade, podem ficar deprimidos.”

Um retrocesso, como a perda de emprego, um divórcio, ou até mesmo o desprezo por algo que tinham planeado, afecta a auto-imagem cuidadosamente polida do indivíduo narcisista, “este é um verdadeiro ataque contra quem ele é”, refere Steven Huprich. “Alguém que ele pensava que iria confiar nele presentemente não o aprecia muito e não está disposto a suportá-lo mais. Não é de estranhar que ele se encontre mais em baixo e deprimido.”

Naturalmente, mesmo pessoas com estados mentais saudáveis lutam para lidar com tais mudanças dramáticas, refere Huprich, “mas para as personalidades narcisistas, a perda é realmente muito difícil, porque sugere vulnerabilidade e fraqueza. Isso indica que você não está realmente imune aos desafios da vida, os altos e baixos.”

Nesses momentos o narcisista também pode exibir uma atitude defensiva e de raiva. “Quando não recebem a admiração que desejam, sentem-se envergonhados e atacam agressivamente”, refere Brummelman. Outros, provavelmente, não terão o mesmo tipo de explosões agressivas.

Quando uma decepção rasga a camada espessa de grandiosidade narcísica e auto-promoção, e penetra no seu núcleo, a melancolia resultante ou a fúria explosiva pode motivá-los a procurar ajuda externa.

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), de facto, aconselha os clínicos que indivíduos com NPD podem apresentar um humor deprimido. No entanto é raro procurarem tratamento para o seu narcisismo. “Eu nunca ouvi ninguém dizer, ‘Eu acho que sou uma personalidade narcisista'”, refere Huprich.

Isso não significa que os narcisistas não têm consciência do seu traço. Um estudo de 2011 publicado no Journal of Personality and Social Psychology com um título provocador, “Você, provavelmente, acha que este artigo é sobre si” – relatou que os narcisistas tinham uma percepção sobre a sua personalidade: Eles descreveram-se como arrogantes e sabiam que os outros os viam de forma menos positiva do que eles próprios se viam.

Mas geralmente não vêem isso como um problema, e a questão continua sobre se a sua grandiosidade reflecte uma crença rígida na sua superioridade ou mascara uma ausência subjacente da auto-confiança.

Ao longo de anos de pesquisa, Huprich e os seus colegas desenvolveram um conceito que pode ter uma relação com o narcisismo. Designaram-no de: “auto-estima maligna”. É uma explicação potencial para uma constelação de transtornos de personalidade não diagnosticáveis clinicamente com características sobrepostas, incluindo estilos de personalidade depressiva, auto-destrutiva e masoquista.

Aplicada mais amplamente aos subtipos narcisistas, a teoria sugere que a insegurança profundamente arraigada sobre o Eu e um senso extremamente frágil de auto-estima pode levar a pensamentos e comportamentos desajustados.

“As pessoas podem desenvolver uma auto-estima maligna no contexto dos seus relacionamentos.”

Os narcisistas extrovertidos exibem uma grandiosa procura de atenção. Os narcisistas vulneráveis, no entanto, simplesmente sucumbem à sua auto-imagem danificada. “Não são capazes de manter uma percepção coerente de quem são, então, quando são atacados, em vez de lutar, que é a primeira reacção do grandioso narcisista, eles têm uma reacção imediata de tristeza, de depleção e depressão” refere Huprich.

As pessoas podem desenvolver uma auto-estima maligna no contexto dos seus relacionamentos. Estes indivíduos podem ter tido experiências inconsistentes com os seus pais, relacionadas, em particular, com a forma como o sucesso e realização foram reconhecidos.

Os pais poderiam ter-se recusado a reconhecer ou a desencorajar as conquistas, tirando os óculos cor-de-rosa do narcisismo saudável que poderiam ter facilitado o caminho para os novos desafios na vida da criança.

As experiências da infância podem ter um papel primordial, mas os níveis elevados de traços de narcisismo ou NPD resultam da influência combinada da natureza e do ambiente.”Existem traços de personalidade que vêm ao mundo connosco”, refere Kali Trzesniewski. O ambiente pode enfraquecer ou fortalecer esses traços.

Os resultados de um estudo com gémeos indicaram que o narcisismo era um traço altamente hereditário. Noutro estudo verificou-se que as crianças em idade pré-escolar agressivas e que procuravam atenção eram mais propensas a tornarem-se adultos narcisistas.

Os estilos parentais, a influência de outras relações e os ambientes sociais e culturais podem encorajar (ou deter) o seu desenvolvimento.

Um elevado narcisismo não é o mesmo que uma elevada auto-estima. “Entre eles existe apenas uma fraca relação”.

Brummelman e seus colegas descobriram que quando as mães e os pais são calorosos e afetuosos, passam tempo com os seus filhos e mostram interesse pelas suas actividades, “as crianças gradualmente interiorizam a crença de que são indivíduos meritórios – o núcleo da auto-estima -, e isso não se transforma em narcisismo.

Em contrapartida, a sobrevalorização dos pais – colocar as crianças num pedestal – promove traços narcisistas.

Para evitar o aumento de narcisistas, é melhor os pais dizerem às crianças: “fizeste um bom trabalho”, em vez de: “mereceste ganhar” ou “porque é não foste tão bom quanto ela?”

Um foco precoce e pronunciado sobre o sucesso pode levar a um apego inseguro entre os pais e os filhos. Pode fazer com que os filhos apreendam que o amor e a atenção de uma mãe ou de um pai só estão disponíveis se as expectativas elevadas forem atingidas.

As crianças que sentem que nunca conseguem corresponder aos desejos dos pais podem tornar-se adultos com um ego frágil e ficarem presos a pensamentos e comportamentos narcisistas de forma a suster o ego.

Ludden refere que os pais que criam narcisistas, “apresentam aos seus filhos um mundo onde tudo é uma competição: “Há vencedores e perdedores e tu tens que ser o vencedor.” Uma abordagem mais saudável seria ensinar as crianças que “eles não têm que ser o melhor, mas apenas, o melhor que podem ser.”

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
A partir de “The Real Narcissists” – Rebecca Webber

auto-sabotagem psicoterapia

Auto-Sabotagem

É normal assumir que vamos procurar de forma activa a nossa felicidade, especialmente, em duas grandes áreas que nos podem conferir grande satisfação:

– os relacionamentos e a carreira profissional.

Daí ser estranho e até um pouco irritante descobrir que com muita frequência, alguns de nós, agimos como se estivéssemos deliberadamente a tentar arruinar as nossas hipóteses de obter aquilo que queremos.

Quando saímos em encontros amorosos com pessoas que nos parecem bons candidatos, por vezes, de forma súbita, iniciamos um comportamento demasiado opinativo, ou confrontador de forma desnecessária.

Não temos grande dificuldade em ser charmosos com pessoas pelas quais não temos assim tanto interesse.

No entanto, podemos afastar os nossos parceiros através da repetição de acusações ou explosões de raiva, como se de alguma forma desejássemos criar uma situação desagradável e triste, em que os nossos amados, exaustos e frustrados, se vissem forçados a abandonar-nos.

Apesar de gostarem de nós são incapazes de aturar tanto drama.

Podemos preferir escolher o que nos é familiar, mesmo que seja mau, em detrimento daquilo que é bom.

No trabalho podemos prejudicar a hipótese de sermos promovidos quando, sem motivo aparente, depois de muitos anos promissores, entramos em conflito com as chefias, ou falhamos na elaboração atempada de relatórios importantes.

Esse comportamento não pode ser explicado como sendo produto do azar.

Ele merece uma designação mais forte e intencional: Auto-Sabotagem.

O que pode explicar esse comportamento auto-destrutivo?

Em grande medida, a forma como a simples e enervante felicidade, por vezes, nos faz sentir.

Ainda que a felicidade seja claramente aquilo que fundamentalmente desejamos, para muitos de nós ela não corresponde àquilo que nós conhecemos:

– – Nós crescemos e aprendemos a acalmar-nos noutros cenários.

A possibilidade de sermos felizes, quando finalmente se concretiza, pode, por esse motivo, parecer contra-intuitiva e até mesmo assustadora.

Não corresponde ao que nos é familiar, e, não nos faz “sentir em casa”.

Podemos por isso preferir escolher o que nos é confortável e familiar, mesmo que seja pior, em detrimento daquilo que se apresenta como, estranhamente, satisfatório ou bom.

Atingir aquilo que desejamos pode ser insuportavelmente arriscado. Deixa-nos à mercê da fé, de nos entregarmos à esperança e à subsequente possibilidade de perda.

A Auto-Sabotagem pode causar tristeza, mas ao mesmo tempo fazer-nos sentir seguros por estarmos a controlar as coisas.

Pode ser útil recordar e usar o conceito de Auto-Sabotagem quando interpretamos o comportamento bizarro dos outros ou o nosso.

Devemos suspeitar sempre que nos apercebemos que estamos a comportar-nos de forma errática na companhia de pessoas que no fundo gostamos ou às quais queremos causar boa impressão.

Para além disso, quando confrontados com certas atitudes cruéis ou irresponsáveis por parte dos outros devemos ter a coragem de imaginar que as coisas, possivelmente, não são o que aparentam ser.

Podemos estar a observar não um opositor malévolo mas alguém ferido – de forma quase comovente – a praticar Auto-Sabotagem, e que, por isso, merece alguma paciência da nossa parte. Ao mesmo tempo, ser gentilmente persuadido a parar com a agressão contra si próprio.

Devemos tranquilizar-nos e a ajudar os outros a ver quão complicado e irritante pode ser a aproximação às coisas que verdadeiramente desejamos.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de Alain de Botton

neurónios em espelho

Neurónios Espelho – Da Telepatia à Empatia

Como sabemos o cérebro é um órgão construído por e, para a relação e comunicação; e agora sabemos que os neurónios espelho são a parte do cérebro especificamente destinada a essa missão.

As primeiras experiências em símios mostraram que os neurónios espelho não se excitavam unicamente quando o símio realizava uma acção dirigida a um fim, mas também quando observava que outro símio (ou humano) a executava. Daí que se tenha definido esta nova função desta classe de neurónios com a expressão “o símio observa o símio faz” e que agora tem a definição de neurónios em espelho.

A importância desta descoberta para a compreensão da mente humana é tal que foi comparada com a representação que teve o ADN para a neurobiologia.

O que incrementou enormemente o interesse pelos neurónios em espelho foi o facto de que eles não se excitam apenas quando o sujeito observa actos motores realizados por outras pessoas, mas também quando observa expressões faciais ou escuta tonalidades vocais que manifestam emoções.

Actualmente começa-se a falar mais em “sistema em espelho” do que em neurónios espelho, pois parece que todo o cérebro faz parte deste sistema.

Gallese, Eagle e Migone (2007) falam em simulação incorporada como o processo que faz com que quando percebemos os gestos e as expressões faciais dos outros, ou escutamos o tom da sua voz, compreendemos a emoção que o outro está a experimentar, não por inferência ou analogia, mas directamente, uma vez que se produz em nós – automática e inconscientemente – um estado corporal que compartilhamos.

Em todas as esferas dos processos mentais – emoções, sensações e intenções – que sejam expressas através de actos intencionais, de expressões faciais ou da linguagem, a percepção activa nos observadores, mediante os neurónios em espelho, os mesmos circuitos neuronais que se activam no sujeito observado. Ou seja, o cérebro do observador reproduz aquilo que está a observar, estabelecendo-se assim, uma linha directa de comunicação entre sujeitos.

Merece ser salientado que os neurónios em espelho do observador não só reproduzem um acto motor, se for o caso, mas também codificam a intenção do acto, de forma que a programação neuronal no cérebro do observador cumpre-se até ao final mesmo que os últimos movimentos do acto se produzam fora do campo de visão.

O conhecimento do papel dos neurónios espelho na comunicação humana permite-nos entender muitas coisas que até alguns anos permaneciam no terreno da especulação. Entre elas estava a antiga intuição de Freud (1912) sobre a comunicação entre o inconsciente do paciente e o inconsciente do analista, o qual chegou a ser pensado como sendo telepatia.

Pelo que foi referido, sabemos que experimentar uma emoção ou observar a expressão da mesma emoção experimentada por outros excita, graças ao sistema em espelho do cérebro, os mesmos circuitos neuronais e, portanto, o observador está a viver no seu interior a mesma emoção, ainda que de maneira inconsciente. É isto que nos permite falar em empatia.

Portanto, em psicoterapia o conteúdo da comunicação do paciente e a matiz emocional transmitida através da sua voz, suas expressões faciais e gestos, estimulam imediatamente no analista/terapeuta – por simulação incorporada – os circuitos neuronais correspondentes e viverá, ainda que seja a um nível menor de intensidade subliminar ou inconsciente, as mesmas emoções que o paciente. Como é evidente, as emoções do analista que de alguma forma se transmitem através das suas respostas, tom de voz, prosódia, silêncios, atitudes e expressões faciais quando se trabalha face a face, provocam também no paciente uma simulação incorporada, de forma que se produz um ininterrupto feedback emocional entre um e outro.

Tudo isto tem, naturalmente um efeito terapêutico. Graças à simulação incorporada o analista experimenta uma emoção similar à que lhe é transmitida, mas à sua maneira, já que nem o seu cérebro nem o conjunto das suas experiências e aprendizagens são idênticas às do paciente. Portanto, em virtude deste feedback, o paciente receberá do analista uma simulação incorporada que será uma versão modificada da sua própria experiência, a qual terá um efeito regulador do seu estado emocional. A repetição contínua deste efeito regulador durante o processo terapêutico dá lugar a modificações significativas.

Adaptado de Joan Coderch
“La prática de la psicoterapia relacional”

Pensamento mágico. Pedro Martins Psicólogo clínico Psicoterapeuta

Pensamento Mágico

O termo pensamento mágico designa o pensamento que se apoia numa fantasia de omnipotência para criar uma realidade psíquica …

Identificação Projectiva. Pedro Martins - Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Identificação Projectiva

Em situações desconfortáveis com outra pessoa, por vezes é difícil saber de onde vem o desconforto, de nós ou do outro. …

Adoecer Mentalmente. Pedro Martins Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Adoecer Mentalmente

Adoecer Mentalmente: Durante bastante tempo podemos conseguir lidar suficientemente bem com as coisas. Conseguimos ir trabalhar …