Autor: <span>Pedro Martins</span>

psicoterapia

As Várias Caras do Narcisismo

As várias caras do narcisismo

A cultura popular recorre há muito tempo a traços narcisistas para construir personagens problemáticos, desde Dorian Gray (Oscar Wilde) a Don Draper (série Mad Man). Gaston de “A Bela e o Monstro” apresenta um modelo apatetado, mas razoavelmente válido de grandiosidade, provavelmente a característica mais reconhecível em pessoas com um elevado narcisismo ou com Distúrbio Narcísico da Personalidade – NPD.

Esse fanfarrão corajoso – Gaston – canta: “Como espécime, sim, sou intimidador!… Como vês, eu tenho bíceps de sobra!… Eu sou especialmente bom a cuspir!… E não há bocadinho de mim que não esteja coberto de cabelo. ” Os narcisistas podem realmente ver-se como estando no topo – em termos de talento, aparência e sucesso.

Mas é um erro supor que todos os narcisistas são assim tão óbvios. “Nem todos os narcisistas se preocupam com a aparência, a fama ou o dinheiro”, refere Malkin. “Se nos concentrarmos muito no estereótipo, perdemos muitas características que não têm nada a ver com a vaidade ou com a ganância”.

Alguns narcisistas, por exemplo, podem ser da variedade “comum”, e na verdade dedicarem as suas vidas a ajudar os outros.

Podem até concordar com declarações como: “Eu sou a pessoa mais prestativa que eu conheço” ou “Eu serei recordado pelas boas acções que fiz”. “Todos nós temos conhecimento de mártires grandiosamente altruístas, abnegados até o ponto de não suportarmos estar com eles”, refere Malkin.

E há narcisistas altamente introvertidos, ou “vulneráveis”. Esses indivíduos sentem que são temperamentalmente mais sensíveis do que os outros. Reagem mal (até) a pequenas críticas e precisam de reafirmação constante. A forma como se sentem especiais pode ser negativa: podem ver-se como a pessoa mais feia da festa ou sentir-se como um génio incompreendido num mundo que recusa reconhecer os seus dons.

O que todos os subtipos de narcisistas têm em comum, refere Malkin, é “auto-aprimoramento”. Os pensamentos, comportamentos e as suas posições separam-nos dos outros, e esse sentimento de distinção acalma-os, porque eles estão em luta com um entendimento instável que fazem de si mesmos.

“Os narcisistas sentem-se superiores aos outros”, refere Brummelman, “mas não estão, necessariamente, satisfeitos consigo mesmos como pessoa”.

Uma ligação à Depressão

A luta entre sentirem-se superiores e ao mesmo tempo insatisfeitos consigo mesmos, está no cerne de uma nova concepção de narcisismo, centrada tanto na depressão quanto na grandiosidade.

“A hipótese que se coloca é que os narcisistas são propensos a altos mais altos e baixos mais baixos”, refere Seth Rosenthal ” tem a constante necessidade de ter a sua grandeza verificada pelo mundo à sua volta. Mas quando contactam com a realidade, podem ficar deprimidos.”

Um retrocesso, como a perda de emprego, um divórcio, ou até mesmo o desprezo por algo que tinham planeado, afecta a auto-imagem cuidadosamente polida do indivíduo narcisista, “este é um verdadeiro ataque contra quem ele é”, refere Steven Huprich. “Alguém que ele pensava que iria confiar nele presentemente não o aprecia muito e não está disposto a suportá-lo mais. Não é de estranhar que ele se encontre mais em baixo e deprimido.”

Naturalmente, mesmo pessoas com estados mentais saudáveis lutam para lidar com tais mudanças dramáticas, refere Huprich, “mas para as personalidades narcisistas, a perda é realmente muito difícil, porque sugere vulnerabilidade e fraqueza. Isso indica que você não está realmente imune aos desafios da vida, os altos e baixos.”

Nesses momentos o narcisista também pode exibir uma atitude defensiva e de raiva. “Quando não recebem a admiração que desejam, sentem-se envergonhados e atacam agressivamente”, refere Brummelman. Outros, provavelmente, não terão o mesmo tipo de explosões agressivas.

Quando uma decepção rasga a camada espessa de grandiosidade narcísica e auto-promoção, e penetra no seu núcleo, a melancolia resultante ou a fúria explosiva pode motivá-los a procurar ajuda externa.

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), de facto, aconselha os clínicos que indivíduos com NPD podem apresentar um humor deprimido. No entanto é raro procurarem tratamento para o seu narcisismo. “Eu nunca ouvi ninguém dizer, ‘Eu acho que sou uma personalidade narcisista'”, refere Huprich.

Isso não significa que os narcisistas não têm consciência do seu traço. Um estudo de 2011 publicado no Journal of Personality and Social Psychology com um título provocador, “Você, provavelmente, acha que este artigo é sobre si” – relatou que os narcisistas tinham uma percepção sobre a sua personalidade: Eles descreveram-se como arrogantes e sabiam que os outros os viam de forma menos positiva do que eles próprios se viam.

Mas geralmente não vêem isso como um problema, e a questão continua sobre se a sua grandiosidade reflecte uma crença rígida na sua superioridade ou mascara uma ausência subjacente da auto-confiança.

Ao longo de anos de pesquisa, Huprich e os seus colegas desenvolveram um conceito que pode ter uma relação com o narcisismo. Designaram-no de: “auto-estima maligna”. É uma explicação potencial para uma constelação de transtornos de personalidade não diagnosticáveis clinicamente com características sobrepostas, incluindo estilos de personalidade depressiva, auto-destrutiva e masoquista.

Aplicada mais amplamente aos subtipos narcisistas, a teoria sugere que a insegurança profundamente arraigada sobre o Eu e um senso extremamente frágil de auto-estima pode levar a pensamentos e comportamentos desajustados.

“As pessoas podem desenvolver uma auto-estima maligna no contexto dos seus relacionamentos.”

Os narcisistas extrovertidos exibem uma grandiosa procura de atenção. Os narcisistas vulneráveis, no entanto, simplesmente sucumbem à sua auto-imagem danificada. “Não são capazes de manter uma percepção coerente de quem são, então, quando são atacados, em vez de lutar, que é a primeira reacção do grandioso narcisista, eles têm uma reacção imediata de tristeza, de depleção e depressão” refere Huprich.

As pessoas podem desenvolver uma auto-estima maligna no contexto dos seus relacionamentos. Estes indivíduos podem ter tido experiências inconsistentes com os seus pais, relacionadas, em particular, com a forma como o sucesso e realização foram reconhecidos.

Os pais poderiam ter-se recusado a reconhecer ou a desencorajar as conquistas, tirando os óculos cor-de-rosa do narcisismo saudável que poderiam ter facilitado o caminho para os novos desafios na vida da criança.

As experiências da infância podem ter um papel primordial, mas os níveis elevados de traços de narcisismo ou NPD resultam da influência combinada da natureza e do ambiente.”Existem traços de personalidade que vêm ao mundo connosco”, refere Kali Trzesniewski. O ambiente pode enfraquecer ou fortalecer esses traços.

Os resultados de um estudo com gémeos indicaram que o narcisismo era um traço altamente hereditário. Noutro estudo verificou-se que as crianças em idade pré-escolar agressivas e que procuravam atenção eram mais propensas a tornarem-se adultos narcisistas.

Os estilos parentais, a influência de outras relações e os ambientes sociais e culturais podem encorajar (ou deter) o seu desenvolvimento.

Um elevado narcisismo não é o mesmo que uma elevada auto-estima. “Entre eles existe apenas uma fraca relação”.

Brummelman e seus colegas descobriram que quando as mães e os pais são calorosos e afetuosos, passam tempo com os seus filhos e mostram interesse pelas suas actividades, “as crianças gradualmente interiorizam a crença de que são indivíduos meritórios – o núcleo da auto-estima -, e isso não se transforma em narcisismo.

Em contrapartida, a sobrevalorização dos pais – colocar as crianças num pedestal – promove traços narcisistas.

Para evitar o aumento de narcisistas, é melhor os pais dizerem às crianças: “fizeste um bom trabalho”, em vez de: “mereceste ganhar” ou “porque é não foste tão bom quanto ela?”

Um foco precoce e pronunciado sobre o sucesso pode levar a um apego inseguro entre os pais e os filhos. Pode fazer com que os filhos apreendam que o amor e a atenção de uma mãe ou de um pai só estão disponíveis se as expectativas elevadas forem atingidas.

As crianças que sentem que nunca conseguem corresponder aos desejos dos pais podem tornar-se adultos com um ego frágil e ficarem presos a pensamentos e comportamentos narcisistas de forma a suster o ego.

Ludden refere que os pais que criam narcisistas, “apresentam aos seus filhos um mundo onde tudo é uma competição: “Há vencedores e perdedores e tu tens que ser o vencedor.” Uma abordagem mais saudável seria ensinar as crianças que “eles não têm que ser o melhor, mas apenas, o melhor que podem ser.”

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
A partir de “The Real Narcissists” – Rebecca Webber

narcisismo

Os verdadeiros narcisistas

Por todo o lado se ouve falar em narcisistas, mas este rótulo é bastante mal usado, na maioria das vezes, para descrever alguém contra quem temos algo.

No inverno passado uma amiga contou-me que estava a considerar divorciar-se. Disse: “Acho mesmo que o meu marido é um narcisista”.

Recentemente estive num almoço em que um dos presentes explicava a dinâmica da sua família: “A minha tia é tão narcisista, não sei como é que o meu tio ainda está com ela”.

O termo narcisista tem sido amplamente utilizado para descrever não apenas familiares complicados e ressentimentos em relação aos ex-companheiros mas também presidentes de alguns países e toda a geração conhecida como Millennials.

O narcisismo está realmente tão difundido ou em crescimento na população em geral?

Um consenso crescente entre os psicólogos diz que não, não é assim.

O verdadeiro narcisismo patológico sempre foi raro e permanece assim:

– Afecta cerca de um por cento da população, e a sua prevalência não mudou desde que os clínicos começaram a medi-lo.

A maioria (mas não todos) dos supostos narcisistas de hoje são vítimas inocentes de um uso excessivo do rótulo.

São indivíduos normais com egos saudáveis que podem ocasionalmente elogiar as suas realizações, sendo que alguns até podem ser um pouco vaidosos.

O Narcisismo é um traço que cada um de nós apresenta em maior ou menor grau.

Mas enquanto diagnosticamos os amigos, parentes e os colegas dos nossos filhos, os verdadeiros narcisistas patológicos não são reconhecidos porque a maioria de nós não conhece as múltiplas formas que a condição pode tomar.

O que é o Narcisismo (e não é)

O Narcisismo é um traço que cada um de nós apresenta em maior ou menor grau.

Mas como se tornou um traço negativo, foi necessário adicionar o “saudável” para especificar o tipo de narcisismo aceite socialmente.

Um pequeno grau de narcisismo é bom, é saudável.

Segundo Craig Malkin, o narcisismo “é a capacidade de nos vermos a nós mesmos e aos outros através de óculos cor-de-rosa”.

Isso pode ser benéfico porque ajuda a nos sentirmos um pouco especiais.

O narcisismo alimenta a confiança que nos permite assumir riscos, como tentar ser promovido ou convidar para jantar alguém que nos despertou interesse.

No entanto, sentir-se muito especial pode ser problemático.

Desenvolvido por Robert Raskin e Calvin S. Hall em 1979, o inventário de personalidade narcisista (Narcissistic Personality Inventory – NPI) é a medida mais usada para medir este traço.

Na sua aplicação pede-se ao sujeito para escolher entre pares de declarações que avaliam os níveis de modéstia, assertividade, inclinação para liderar e disposição para manipular os outros.

As Pontuações variam entre 0 e 40, com a média a diminuir tendencialmente a meio da adolescência, dependendo do grupo testado.

Aqueles cujo resultado é um desvio padrão acima dos seus pares podem razoavelmente ser considerados narcisistas.

No entanto, uma pontuação em qualquer posição ao longo da vasta gama da escala ainda pode indicar uma personalidade fundamentalmente saudável.

O narcisismo é a capacidade de nos vermos a nós mesmos e aos outros através de óculos cor-de-rosa.

O diagnóstico de narcisismo patológico – é um transtorno de saúde mental – e envolve critérios diferentes.

“O Distúrbio Narcísico da Personalidade – NPD” é uma manifestação extrema”, refere Eddie Brummelman.

O transtorno só pode ser diagnosticado por um profissional de saúde mental e no caso de se suspeitar que os traços narcisistas de uma pessoa possam prejudicar o seu funcionamento diário.

A disfunção pode estar relacionada com uma identidade autocentrada e causar atrito nos relacionamentos devido a problemas com a empatia e a intimidade .

Pode também surgir de um antagonismo patológico caracterizado por grandiosidade e busca de atenção.

“O narcisismo é um continuum, e a perturbação fica no final”, refere Brummelman.

O NPI pode detectar o nível de narcisismo de uma pessoa, mas os efeitos adicionais na vida real são necessários para o diagnóstico de NPD.

“Um transtorno de personalidade é um distúrbio generalizado na capacidade de uma pessoa controlar as suas emoções, manter um senso estável de identidade e de si mesmo e manter relacionamentos saudáveis no trabalho, nas amizades e no amor “, diz Malkin. – É uma questão de rigidez.

Alguém que tenha uma pontuação elevada no NPI pode, de facto, ocasionalmente, sentir-se estranho ou em stress em interacções sociais, mas para alguém com NPD, Malkin refere, “todas as defesas psicológicas estão incessantemente a trabalhar contra o funcionamento saudável”.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
A partir de “The Real Narcissists” – Rebecca Webber

psicoterapia lisboa

O seu psicoterapeuta é demasiado simpático?

O artigo Is your therapist to nice? fez-me recordar uma expressão que vem dos tempos da faculdade: “Terapia de Chá e Bolinhos”, e que diz respeito às psicoterapias em que os pacientes saem sempre felizes e contentes da sessão; com o sentimento de estarem em perfeita sintonia com o psicoterapeuta e de receberem excelentes conselhos para resolver os seus problemas.

O seu terapeuta concorda sempre consigo? Está constantemente a elogiá-lo? Sorri e gesticula com frequência em sinal de aprovação? Já reparou que sai quase sempre bem-disposto da sessão? Estes podem ser sinais de que o seu terapeuta é solidário, empático, cuidador e preocupado com o que se passa consigo, ou, sinais de que o seu terapeuta é excessivamente amável.

Se o seu psicoterapeuta é demasiado simpático talvez esteja na altura de procurar um novo.

Consideremos os riscos para a terapia resultantes de ter um terapeuta demasiado simpático:

É muito gratificante termos alguém que concorda sempre connosco, principalmente se ao longo da vida fomos sistematicamente contrariados. Esta atitude do terapeuta pode ir ao encontro do nosso desejo de finalmente termos alguém que concorde connosco, mas assim que surgir alguma pessoa que discorde voltará tudo à estaca zero. Isto acontece porque as atitudes do terapeuta não passam de “festinhas ao ego” não produzindo qualquer tipo de mudança estrutural.

A questão deve ser olhada de outro ângulo. Devido a vários impedimentos não conseguimos reagir da forma desejada contra as pessoas que invariavelmente fizeram com que as suas ideias, valores e escolhas se sobrepusessem às nossas, e dessa forma, contribuíram para o desenvolvimento de sentimentos de inferioridade. O importante é encontrar uma maneira de respondermos a essa desconsideração e assim recuperar a auto-estima que foi sendo esmagada.

Ao mesmo tempo, esta atitude do terapeuta faz aumentar os sentimentos de dependência negativa (também existe a positiva). Uma vez que as coisas acontecem a um nível superficial o paciente está sempre necessitado de um reforço positivo. É como se estivesse a comer alimentos pouco nutritivos (chá e bolinhos) e por isso está constantemente com fome. Não lhe é dado um alimento afectivo que o possa deixar saciado por mais tempo.

Por outro lado, se pensarmos objectivamente, a constante concordância não existe na vida real. Logo é uma fraude que põe em causa um dos pilares da psicoterapia: A Verdade.

Se o paciente teve pais muito intrusivos, excessivamente preocupados, que tinham opiniões sobre tudo e sobre nada, é natural que o seu Eu tenha sido formatado de forma muito rígida. Mas isso quer também dizer que está desejoso que o terapeuta lhe diga o que deve fazer, afinal foi assim que viveu toda a vida – a seguir as escolhas dos outros.

Nesse sentido é importante criar um espaço de liberdade que permita antes de mais questionar, abrir a porta à dúvida, considerar outros ângulos, outras perspectivas. Na maioria das vezes o paciente constrói uma narrativa que contraria a que lhe foi imposta, a única que tinha sobre si mesmo.

Muitos de nós tivemos pais que ficaram muito aquém do desejável. Nalguns casos podemos mesmo falar em maus pais. De qualquer forma, essa questão não se ultrapassa com novos pais (de preferência bonzinhos), mas reconhecendo que na maioria das vezes a maldade dos pais ficou a dever-se a algo que existia neles e que não foi provocado pela nossa maldade.

Chá e Bolinhos sabem muito bem. Sabem ainda melhor em boa companhia.
Mas a vida é muito mais do que isso. E a terapia também!

psicoterapia lisboa pedro martins

Porque é que você vai casar com a pessoa errada

É claro que estamos desesperados para evitar isso, mas não o faremos por muito boas razões:

1 – Nós não nos compreendemos bem
Somos todos loucos de maneiras muito particulares: neuróticos, desequilibrados, imaturos… Mas não sabemos bem porque somos assim e ninguém nos encoraja o suficiente para descobrirmos. Os nossos amigos querem ser simpáticos e estão mais virados para se divertirem connosco. Os nossos inimigos não se dão ao trabalho. Então, acabamos por ter um nível muito baixo de auto-conhecimento e não fazemos nenhuma ideia sobre quem possa ser compatível connosco.
A pergunta padrão de um primeiro encontro deveria ser: de que forma tu és louco? Mas é tão difícil saber…

2 – Nós não percebemos as outras pessoas
É difícil aceitar a loucura dos outros como aceitamos a nossa. No início eles mostram, naturalmente, o seu melhor. O ideal seria colocar todo o mundo a realizar uma bateria de testes psicológicos e a fazer 4 anos de terapia individual e de casal antes de tomar uma decisão. Em 2100 esta ideia vai soar a piada – vão perguntar porque a humanidade demorou tanto tempo para chegar aqui.

3 – Não estamos acostumados a sermos felizes
Pensamos que queremos ser felizes, mas o que realmente queremos é aquilo a que estamos acostumados – e isso, no geral, inclui não ser feliz. Ao crescermos muitos de nós tivemos sentimentos sombrios e problemáticos: sentimo-nos controlados, humilhados ou abandonados. Em resumo: sofrimento. E agora, independentemente do que dizemos, na maioria das vezes, continuamos a procurar o conhecido. Isso explica porque rejeitamos os candidatos equilibrados, maduros, confiáveis e, de alguma forma, um pouco “chatos”, e porque nos inclinamos secretamente para aqueles que (inconscientemente sabemos) irão tropeçar nas coisas mais óbvias.

4 – Ser solteiro é péssimo
É preciso ter uma certa tranquilidade num sábado, para lidar com o reboliço da noite e a efervescência do desejo sexual para conseguir ser exigente. Não é por acaso que a maioria de nós fecha os olhos e arranja uma pessoa qualquer.

5 – O instinto tem mais prestígio do que deveria
O casamento era uma decisão racional. Tinha a ver com uma parcela de terra. Tudo era combinado entre as famílias. Era horrivelmente frio e calculista. Agora temos os “casamentos românticos”. É preciso que seja sobre aquilo que sentimos. Não se pode pensar demais. Se paramos para analisar a situação, imediatamente, deixa de ser romântico. Na verdade, a coisa mais romântica seria fazer um repentino pedido de casamento, depois de apenas algumas semanas de relação, numa capela em Las Vegas às 3 da manhã.

6 – Nós não frequentamos “Escolas do Amor”

Nós não temos nenhuma informação. Não temos aulas. Não falamos abertamente com pessoas casadas e evitamos os divorciados. Então avançamos sem saber porque é que os casamentos realmente fracassam – e achamos que é por causa da simples estupidez de todos aqueles casais com quem não temos nada em comum.

7 – Congelar a felicidade
Nós queremos que as coisas boas sejam permanentes… Aquele passeio de gôndola em Veneza com o sol a refletir na água; jantar maravilhosamente num pequeno restaurante, perdidos numa enorme paixão. Então, nós casamos para que esse sentimento dure para sempre. Mas depois tudo se esfuma e a única coisa que fica é o nosso parceiro, mas agora, parece outro.

8 – Você quer parar de pensar no amor
É tão doloroso! A tristeza, os encontros, os envolvimentos de uma noite… Como queremos terminar com tudo isso, acabamos por casar para parar de pensar constantemente no amor.

Estes são os motivos pelos quais você irá casar com a pessoa errada – se já não o fez.

Mas a culpa não é totalmente sua. Ninguém nos ensina. Então, é claro que nos estatelamos.

Nós, como espécie, eventualmente aprenderemos. Esta loucura inconsequente não pode continuar. Muitas pessoas vão magoar-se. Daqui a umas centenas de anos, pelo menos, encontraremos uma forma de resolver isto – com toda a certeza.

Traduzido e adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton

psicoterapia lisboa

Como sobreviver a um família disfuncional

Toda a família disfuncional tem pais mentalmente perturbados.

Um deles é o “pai-chefe mentalmente perturbado”, e o outro, se houver outro, é o “facilitador do pai-chefe perturbado”.

Estes pais tornam-se directores de casting e criam os papéis que cada filho vai desempenhar.

Um filho, normalmente o mais velho, desempenha o papel de sábio. Os outros desempenham papéis variados que compartilham um denominador comum: todos eles têm um lugar aceite na família.

O último papel é o de bode expiatório. Este deve assumir a grande parte da raiva da família e é visto como não pertencendo verdadeiramente à família e é, portanto, um rejeitado.

Os irmãos recebem permissão dos pais para tratar o bode expiatório da maneira que lhes apetecer.

Os bodes expiatórios são demonizados pelos pais e, portanto, merecem qualquer tipo de tratamento.

Os irmãos ficam contentes por terem alguém que lhes permita sentirem-se superiores e sobre quem podem descarregar a raiva com que seus pais, inconscientemente, os contaminaram.

Numa família disfuncional ninguém sai ileso, mas o bode expiatório é o mais afectado.

É difícil sobreviver a uma família disfuncional porque os pais fazem lavagens cerebrais aos filhos, o que leva a considerá-los como bons pais.

Estes, geralmente, treinam os filhos mais velhos para os elogiar e defender caso algum dos irmãos expresse alguma crítica.

Cada membro da família tem um papel que é repetidamente representado, de modo que, quando um filho chega à idade adulta, os seus hábitos, atitudes e sentimentos parecem normais.

Assim, parece completamente normal o filho mais velho gozar, magoar, insultar e, em geral, tratar o bode expiatório como um ser inferior.

Uma e outra vez, é dito ao filho aquilo que ele é e em que acredita.

A melhor maneira de ripostar é não reagir mais à manipulação, à depreciação e demonização encetada pela família.

Depois de algum tempo, o filho considera que é realmente a pessoa que foi moldado para ser, e já não se preocupa em tentar encontrar o seu verdadeiro Eu.

Isto é particularmente verdade para os membros da família que têm os melhores papéis, como aquele que interpreta o sábio.

O bode expiatório é o que tem mais probabilidades de despertar do feitiço, porque o seu papel é o mais repugnante.

No entanto, R. Laing adverte: “Se o bode expiatório, por exemplo, exclama para um qualquer membro da família, ou especialmente para os pais – “Isto é uma loucura! Esta família é louca! “-, o bode expiatório será severamente punido.

Ninguém deve lançar quaisquer dúvidas sobre a mitologia familiar.

É por isso que as famílias muitas vezes se sentem ameaçadas quando um de seus membros começa a fazer terapia.

Eles temem que as mitologias familiares, tão bem ensaiadas durante tantos anos, possam cair como as peças de dominó, uma após a outra.

O medo é infundado. Mesmo quando o bode expiatório ou outros irmãos com papéis menores na família acordam e começam a entender como são as coisas, são tratados como se fossem os loucos e às vezes são até internados em hospitais psiquiátricos, a fim de acalmá-los e de os trazer “de volta à sanidade” (isto é, de volta a um lugar de lealdade à mitologia da família).

Na verdade, despertar e individuar-se das famílias disfuncionais é uma longa e árdua provação.

A fim de encontrar a sanidade depois de ter sido sujeito a uma lavagem cerebral durante anos, deve-se antes de tudo ter ajuda – quer de amigos que passaram pelo mesmo, quer de um profissional que ajude a lidar com os sentimentos de traição à família.

Numa família disfuncional ninguém sai ileso, mas o bode expiatório é o mais afectado.

Os bodes expiatórios destas famílias viram os seus egos esmagados e é extremamente difícil para eles afirmarem-se ou pensarem por si mesmos.

A família vai ostracizar, gozar, desprezar, rebaixar e castigar de todas as formas aqueles que se separam, e fazer com que se sintam traidores.

Eles farão tudo e mais alguma coisa para evitar uma ruptura, pois isso ameaça a santidade e a identidade da família.

A família disfuncional jamais vai parar ou deixar em paz aqueles que despertam.

Aqueles que acordam em muitos casos precisarão de cortar completamente com a família disfuncional, e mesmo assim a família tentará de todas as formas interferir nesse rompimento.

Os membros que “acordarem” precisarão de lutar.

A melhor maneira de ripostar é não reagir mais à manipulação, à depreciação e demonização encetada pela família disfuncional.

A melhor vingança é, como dizem, viver uma vida boa.

O bode expiatório pode, na vida adulta, deixar de desempenhar o papel que lhe foi designado, mas não será fácil.

Cada nova situação na sua vida despertará a resposta do bode expiatório que lhe foi condicionada durante toda a infância.

Vão ser necessários vários anos, mas, eventualmente, o bode expiatório pode descobrir quem realmente é, e pode começar a viver uma vida que reflicta as suas próprias aspirações ao invés das frustrações dos seus pais.

Traduzido e adaptado por Pedro Martins
A partir de: Gerald Schoenewolf – How to Survive a Dysfunctional Family

relação psicoterapia

Adiar o início da Psicoterapia

Caminhando entre as insondáveis razões que levam as pessoas a adiar o começo de uma psicoterapia, deparamos com várias que, apesar de reconhecerem a necessidade, optam por coisas, digamos, menos convencionais. Tenho algo contra? Nada a opor, se forem uma ajuda. Na maioria das vezes não são uma ajuda, e quando o são, por norma é temporária (o seu efeito é proporcional à relação que se estabelece). Porque as pessoas optam por elas? Posso pensar que as considerem mais rápidas, mais baratas, mais eficazes, etc. Mas pode ser que uma das razões possa assentar no tipo de relação que se estabelece (ou não).

Recordo uma jovem mulher que recebi e que se mostrou muito interessada em discutir a minha orientação. Ainda que de forma superficial conhecia as principais correntes psicoterapêuticas. Para além disso conversamos um pouco sobre ela e sobre a sua vida. Ao falar-me das suas relações compreendi melhor o grande interesse sobre a minha orientação e até que ponto eu fazia uso das teorias.

Para ela se sentir segura era fundamental que existisse algo que a pudesse manter separada dos outros. Um muro de betão, um vidro ou uma fina película, conforme o género de relação.

No nosso caso queria assegurar-se que entre mim e ela existiria uma teoria que nos separava. Ficaria mais segura em saber que não era eu (a nossa relação) que a estava a ajudar mas a teoria.

As suas relações (defeituosas, intrusivas, insuficientes) levaram a que as conexões emocionais se fossem reduzindo e sujeitas a um grande escrutínio. Antes de entrar precisava saber o que ia encontrar. Por norma não é possível saber o que vai acontecer, antes de acontecer. Na ausência desse conhecimento fazia uso do conhecimento adquirido, supondo que, seguramente – para o bem e para o mal – se ia repetir.

Mas por muitas voltas que se dê, aquilo que foi estruturado na interacção com o “outro” só na relação com o “outro” pode ser modificado, através de uma nova, fresca e sadia via de conexão emocional.

emagrecer

Por que comemos demais?

É claro que muitos de nós comemos demais. E em resposta, cresceu uma enorme indústria que nos aconselha a consumir e proporciona tudo o que existe de mais saudável.

Mas isso é não compreender de todo porque começámos a comer quantidades excessivas. Não tem nada a ver com comida, e, portanto, tentar mudar a nossa dieta não é o foco mais lógico para concentrar os nossos esforços. Nós comemos muito porque estamos realmente com fome daquilo que não está disponível.

Parece natural que tudo o que poderíamos querer deveria estar à mão. Os supermercados e as lojas gourmet são templos icónicos da sociedade de consumo e os restaurantes não se poupam a esforços para nos satisfazer.

Poderíamos ser tentados por uma mariscada? Ou uma selecção de vegetais regionais regados com azeite proveniente de uma pequena quinta nos Pirinéus?

Mas se pudéssemos realmente escolher será que não quereríamos um menu ligeiramente diferente? Por exemplo:

Conversa sincera com o pai, marinada em perdão mútuo.
– Amor maternal carinhoso * (* adequado para aqueles que estão em dieta livre de críticas).
– Amizade madura servida com farripas de memórias.
– Conversa fresca, polvilhada com boa disposição (para dois).
– Flirt ao natural (o nosso Sommelier recomenda, como acompanhamento ideal, um copo de Chateau Fantaisie).

E para a sobremesa, talvez:

– Uma generosa fatia de cumplicidade com chocolate derretido.
Ou:
– Enternecidos momentos de compaixão, acompanhados com lágrimas de compreensão (especialidade da casa)

Por outras palavras, não é comida que desejamos.

Os menus dos nossos restaurantes (apesar de tentadores) conduzem-nos em direcções muito limitadas e restritas. Eles entendem – e respondem – apenas a um segmento estreito dos nossos verdadeiros apetites.

Na verdade, falamos muito de comida e tão pouco do que necessitamos. Não é de marisco, queijo da serra ou picanha do Brasil que nós precisamos, mas de amizades onde possamos confessar as nossas ansiedades, sermos ouvidos e perdoados; Precisamos de ajuda para nos acalmar em momentos-chave, assegurando que podemos suportar o pior que possa estar a acontecer. Precisamos de alguém que nos possa ajudar a descobrir os nossos verdadeiros talentos no local de trabalho e oferecer-nos um guia para alcançar nosso verdadeiro potencial.

Sabemos que não é num pacote de batatas fritas ou numa fatia de pizza que está a resolução do problema mas não sabemos para onde nos virar e temos, pelo menos, uma satisfação imediata.

A tragédia não está no nosso apetite insaciável, mas na dificuldade em ter acesso às coisas emocionais e psicológicas para alimentar as nossas almas desnutridas.

A indústria alimentar tem travado os sintomas da nossa infelicidade, não as suas causas – e, portanto, as soluções que oferece são frágeis e temporárias.

Há umas centenas de anos era quase impossível para a maioria das pessoas a encontrar algo delicioso para comer. Desde então, uma grande quantidade de engenho humano tem sido dedicado a seduzir o paladar. Nós conseguimos ir muito além das nossas expectativas. Mas em tantas outras áreas, mal começámos a suprir o que ansiamos consumir, que são, para dizer mais claramente: compreensão, ternura, perdão, reconciliação e proximidade.

Nós não comemos muito porque somos insaciáveis, mas porque vivemos num mundo onde as prateleiras ainda estão vazias dos ingredientes que verdadeiramente desejamos.

Adaptado e traduzido por Pedro Martins a partir
de Alain de Botton

o perigo das crianças perfeitas

Os perigos das crianças perfeitas

As crianças “perfeitas” fazem os trabalhos de casa a tempo e horas, mantêm o quarto arrumado, são um bocadinho tímidas, estão sempre prontas para ajudar os pais e são muito cautelosas nas suas brincadeiras.

Uma vez que não levantam muitos problemas, tendemos a assumir que está tudo bem com as crianças bem comportadas.

Não são razão para uma preocupação particular. Essa atenção é dirigida às crianças que fazem asneiras.

As pessoas imaginam que as crianças bem comportadas estão bem porque fazem tudo o que se espera delas.

E é precisamente aí que está o problema. As tristezas secretas – e as dificuldades futuras – da menina ou menino bonzinho começam com a excessiva necessidade de satisfizer.

As crianças “perfeitas” não são “perfeitas” por um capricho da natureza, mas porque não têm outra opção.

A sua bondade é uma necessidade ao invés de uma escolha.

Assumimos que está tudo bem com as crianças bem comportadas porque não levantam problemas.

Muitas das crianças “perfeitas” são boas por amor a um pai deprimido que não consegue lidar com mais complicações ou dificuldades.

Ou talvez sejam muito bem comportadas para acalmar um pai violento que se poderia tornar insuportavelmente assustador perante qualquer sinal de conduta menos do que perfeita.

Ou talvez os pais sejam muito ocupados e distraídos e só sendo muito boa criança, poderia esperar conseguir atenção dos pais.

Embora a repressão de emoções produza uma obediência agradável a curto prazo, armazena uma enorme quantidade de dificuldades na vida adulta.

Os educadores e os pais mais experientes devem detectar os sinais de gentileza exagerada – e lidar com eles de acordo com o risco que representam.

As crianças “perfeitas” dizem palavras adoráveis e são especialistas em satisfazer as expectativas dos seus públicos, mas os seus pensamentos e sentimentos reais permanecem soterrados.

Nesse sentido, podem viver numa amargura corrosiva, apresentar sintomas psicossomáticos e surtos repentinos.

Os educadores e os pais mais experientes devem detectar os sinais de gentileza exagerada.

O problema da criança boazinha é que ela não tem a experiência de que as outras pessoas são capazes de tolerar a sua maldade.

Elas perderam um privilégio vital concedido à criança saudável:

– O de ser capaz de mostrar os seus lados invejosos, gananciosos, ego-maníacos e, apesar disso, ser tolerada e amada.

As pessoas do género “irrepreensível”, normalmente, apresentam problemas particulares em torno da sexualidade.

Em criança podem ter sido elogiadas por serem puras e inocentes.

No entanto, quando se tornam adultos, como todos nós, descobrem os arrebatamentos do sexo.

E podem encontrar excitação em situações que aos seus olhos podem ser repugnantes e perversas mas indescritivelmente prazerosas.

Isto pode contrastar radicalmente com a imagem do que eles estão “autorizados” a ser.

Podem, em resposta, negar os seus desejos, ficarem frios e desprendidos dos seus corpos – ou cederem aos seus anseios apenas de uma forma desproporcional, que seja destrutiva para outras partes das suas vidas.

As crianças “perfeitas” são especialistas em satisfazer as expectativas dos outros.

No trabalho, o adulto exemplar também vai ter problemas. Tal como as criança, eles seguem as regras.

Nunca arranjam problemas e tomam muito cuidado para não irritar ninguém.

Mas, como sabemos, quem segue todas as regras não chega muito longe na vida adulta.

Quase tudo o que é interessante, que vale a pena fazer, vai encontrar um certo grau de oposição.

Estar devidamente maduro envolve uma relação franca e sem medo com a própria escuridão, complexidade e ambição.

Envolve aceitar que nem tudo o que nos faz felizes agradará aos outros ou será honrado como particularmente “agradável” pela sociedade -, mas, apesar de tudo, pode ser importante para nos mantermos ligados.

O desejo de ser bom é uma das coisas mais bonitas do mundo, mas para ter uma vida verdadeiramente boa, às vezes precisamos ser (com os padrões da boa criança) frutífera e corajosamente mauzinhos.

Traduzido/Adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton

auto-sabotagem psicoterapia

Auto-Sabotagem

É normal assumir que vamos procurar de forma activa a nossa felicidade, especialmente, em duas grandes áreas que nos podem conferir grande satisfação:

– os relacionamentos e a carreira profissional.

Daí ser estranho e até um pouco irritante descobrir que com muita frequência, alguns de nós, agimos como se estivéssemos deliberadamente a tentar arruinar as nossas hipóteses de obter aquilo que queremos.

Quando saímos em encontros amorosos com pessoas que nos parecem bons candidatos, por vezes, de forma súbita, iniciamos um comportamento demasiado opinativo, ou confrontador de forma desnecessária.

Não temos grande dificuldade em ser charmosos com pessoas pelas quais não temos assim tanto interesse.

No entanto, podemos afastar os nossos parceiros através da repetição de acusações ou explosões de raiva, como se de alguma forma desejássemos criar uma situação desagradável e triste, em que os nossos amados, exaustos e frustrados, se vissem forçados a abandonar-nos.

Apesar de gostarem de nós são incapazes de aturar tanto drama.

Podemos preferir escolher o que nos é familiar, mesmo que seja mau, em detrimento daquilo que é bom.

No trabalho podemos prejudicar a hipótese de sermos promovidos quando, sem motivo aparente, depois de muitos anos promissores, entramos em conflito com as chefias, ou falhamos na elaboração atempada de relatórios importantes.

Esse comportamento não pode ser explicado como sendo produto do azar.

Ele merece uma designação mais forte e intencional: Auto-Sabotagem.

O que pode explicar esse comportamento auto-destrutivo?

Em grande medida, a forma como a simples e enervante felicidade, por vezes, nos faz sentir.

Ainda que a felicidade seja claramente aquilo que fundamentalmente desejamos, para muitos de nós ela não corresponde àquilo que nós conhecemos:

– – Nós crescemos e aprendemos a acalmar-nos noutros cenários.

A possibilidade de sermos felizes, quando finalmente se concretiza, pode, por esse motivo, parecer contra-intuitiva e até mesmo assustadora.

Não corresponde ao que nos é familiar, e, não nos faz “sentir em casa”.

Podemos por isso preferir escolher o que nos é confortável e familiar, mesmo que seja pior, em detrimento daquilo que se apresenta como, estranhamente, satisfatório ou bom.

Atingir aquilo que desejamos pode ser insuportavelmente arriscado. Deixa-nos à mercê da fé, de nos entregarmos à esperança e à subsequente possibilidade de perda.

A Auto-Sabotagem pode causar tristeza, mas ao mesmo tempo fazer-nos sentir seguros por estarmos a controlar as coisas.

Pode ser útil recordar e usar o conceito de Auto-Sabotagem quando interpretamos o comportamento bizarro dos outros ou o nosso.

Devemos suspeitar sempre que nos apercebemos que estamos a comportar-nos de forma errática na companhia de pessoas que no fundo gostamos ou às quais queremos causar boa impressão.

Para além disso, quando confrontados com certas atitudes cruéis ou irresponsáveis por parte dos outros devemos ter a coragem de imaginar que as coisas, possivelmente, não são o que aparentam ser.

Podemos estar a observar não um opositor malévolo mas alguém ferido – de forma quase comovente – a praticar Auto-Sabotagem, e que, por isso, merece alguma paciência da nossa parte. Ao mesmo tempo, ser gentilmente persuadido a parar com a agressão contra si próprio.

Devemos tranquilizar-nos e a ajudar os outros a ver quão complicado e irritante pode ser a aproximação às coisas que verdadeiramente desejamos.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de Alain de Botton

psicólogo clínico

Os pensamentos patológicos

Para weiss, o que podemos chamar de instrumento operativo para a adaptação à realidade são os “pensamentos”, conscientes e inconscientes, os quais podem ser saudáveis ou patológicos.

Os pensamentos patológicos podem ser erróneos acerca da realidade externa ou sobre si mesmo, e conduzem a atitudes e comportamentos desadaptados da realidade que são fonte de sofrimento para o sujeito e, frequentemente, para quem com ele convive.

Estes pensamentos patológicos formaram-se, quase sempre, em consequência de um comportamento inadequado por parte dos pais, de relações conflituosas no ambiente familiar, por exemplo com os irmãos, ou de outras circunstâncias complexas que o indivíduo não pode assimilar.

Referi comportamento inadequado por parte dos pais porque os pensamentos patológicos não são fruto unicamente da negligência ou maltrato, mas também de um comportamento que origine uma má interpretação da realidade.

Por exemplo, um comportamento muito protector pode induzir na criança o pensamento de não se sentir capacitado para fazer frente a situações difíceis. Uma mãe que sofra de grande ansiedade nos momentos das inevitáveis e quotidianas separações mãe/criança provocará na criança o pensamento de que a separação é má e que deve ser evitada, que a realidade é perigosa, que é responsável pelo sofrimento da mãe, etc.

Adaptado de Joan Coderch
“La prática de la psicoterapia relacional”

Pensamento mágico. Pedro Martins Psicólogo clínico Psicoterapeuta

Pensamento Mágico

O termo pensamento mágico designa o pensamento que se apoia numa fantasia de omnipotência para criar uma realidade psíquica …

Identificação Projectiva. Pedro Martins - Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Identificação Projectiva

Em situações desconfortáveis com outra pessoa, por vezes é difícil saber de onde vem o desconforto, de nós ou do outro. …

Adoecer Mentalmente. Pedro Martins Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Adoecer Mentalmente

Adoecer Mentalmente: Durante bastante tempo podemos conseguir lidar suficientemente bem com as coisas. Conseguimos ir trabalhar …