Autor: <span>Pedro Martins</span>

anorexia-nervosa. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Anorexia Nervosa

 História

O conhecimento da anorexia nervosa remonta às referências encontradas em Hipócrates, Galeno, e sobre Teresa de Ávila e as suas práticas com a rama de oliveira para induzir o vómito.

A história da Anorexia Nervosa começa na Europa Medieval com os casos de Anorexia Mística, sendo paradigmático, o de Santa Catarina de Siena.

As opiniões dividem-se entre os que pensam que a anorexia mística não é a mesma doença que actualmente é designada por anorexia mental (Caroline Bynum) e aqueles que encontram muitas semelhanças entre ambas (Rudolph Bell).

Apesar das reconhecidas diferenças a anorexia antiga pode ser melhor compreendida à luz da anorexia moderna.

A partir do Sec. XVII e XVIII a curiosidade científica de alguns médicos no estudo das “Mulheres Santas” que nada ingeriam, fizeram com que dessem ao fenómeno o nome de “Inedia Prodigiosa” e “Anorexia Mirabilis”.

Mas os primeiros olhares verdadeiramente científicos ocorrem em 1668 por Thomas Hobbes, ao observar uma jovem que não comia há 6 meses e à qual não atribuiu nenhum milagre mas considerou tratar-se de uma doença.

No seguimento, aparecem os nomes de Cotton Mathes (1633-1728), Erasmus Darwin (1731-1802) e Allrecht Von Halla (1708-1777).

Na história da anorexia nervosa há 2 descrições científicas que servem de marco.

Uma é a de Morton no Sec. XVII e a outra a de Lasègue e Gull no final do Sec. XIX. Já no Sec. XX a doença era atribuída ao mau funcionamento da hipófise fazendo com que fosse estabelecida uma confusão com a “doença de Sheehan” ou “doença de Simmonds”, e foi desta forma compreendida até à definição actual.

No entanto, aquela que é considerada a 1ª descrição de carácter científico duma situação idêntica à Anorexia Nervosa foi feita em 1698 num tratado de Tisiologia pelo médico Inglês Morton.

Louis-Victor Marcé (1859), descreveu pela primeira vez a anorexia mental.

Mas é a Gull e a Lasègue (1868), que são atribuídas as definições modernas de Anorexia Mental. Gull, em 1873 apresenta 3 casos clínicos de uma doença que intitulou de “Anorexia Histérica”.

Mais tarde publicou os três casos num artigo intitulado “Anorexia Nervosa”. A sua correcção no nome da doença deveu-se a facto de ter encontrado a mesma patologia num homem.

Nesse mesmo ano Lasègue, (fica-lhe a honra de ser considerado o primeiro) pertencente ao círculo de Charcot, publica um artigo sobre a “Anorexia Histérica”.

Louis-Victor Marcé (1859), descreveu pela primeira vez a anorexia mental.

Foi no entanto em 1873 por Lasègue e em 1874 por Gull que fica definida como um síndroma.

Gull o criador do termo anorexia nervosa que é utilizado nos países de língua inglesa, Alemanha e Rússia.

Laségue designou a patologia como sendo inicialmente anorexia histérica e depois anorexia mental, termo usado em França e Itália.

In : “CONTRIBUTO À COMPREENSÃO DA ANOREXIA MENTAL FEMININA A PARTIR DO PROCESSO DE SEPARAÇÃO-INDIVIDUAÇÃO”
Pedro Martins
anorexia distorção imagem corporal

Anorexia Nervosa – Caracterização

Caracterização da anorexia nervosa

A anorexia nervosa é caracterizada por uma atitude rígida, obsessiva e distorcida face ao peso, alimentação e gordura corporal.

Normalmente tem início na puberdade e na adolescência e é causa de morbilidade e mortalidade.

A tríade sintomática associada à anorexia mental é o emagrecimento, a anorexia (perda ou diminuição acentuada do apetite) e a amenorreia.

Os primeiros sinais da doença podem resultar de uma experiência de separação física ou psicológica da mãe.

Por exemplo, passar para uma escola mais distante, umas férias longe dos pais, ou começar a namorar/interessar-se por alguém e ser rejeitada.

O percurso da anoréxica na doença começa por norma com uma dieta auto-imposta (só 25% das anoréxicas que começam a fazer dieta tem excesso de peso) muito pobre onde se excluem os alimentos mais gordurosos e calóricos com o objectivo de perder 3/4 kg para diminuir certas partes do corpo e pode terminar numa mais radical ou mesmo total.

A perda inicial de peso é sentida como uma vitória, que vai trazer uma força adicional para a perseguição de um corpo cada vez mais magro.

Perder peso é sentido como um sinal de auto-controlo e de disciplina.

À medida que emagrece aumenta o medo do ganho ponderal ao ponto de não admitir que o peso fique estacionário, pois tem muito medo de ficar obesa em poucos dias.

Engordar é visto como um fracasso.

De forma inversa perder peso é sentido como um sinal de auto-controlo e de disciplina.

A anoréxica faz uma verificação diária da perda progressiva do peso.

Cada vez que o peso diminui, mesmo que apenas alguns gramas, é sentido como uma vitória na caminhada para o peso ideal.

Quando aumenta alguns gramas fica muito angustiada e em pânico.

A contagem obsessiva das calorias ingeridas e dos alimentos está sempre presente e parece contrastar com apetência para cozinhar para os familiares.

O exercício físico diário é quase obrigatório, em último caso pode resumir-se a caminhar a pé.

Os transtornos das condutas alimentares ocupam uma posição de cruzamento entre a infância e a idade adulta como ilustra a sua ocorrência electiva na adolescência, entre o psíquico e o somático, entre o individual e o social.

Este cruzamento ilustra a provável ligação entre esta patologia e os processos de mudança como por exemplo a puberdade e a autonomia.

Há uma impossibilidade de expressão através da representação psíquica que vai obrigar a recorrer a uma expressão actuada no corpo.

A anorexia nervosa pode ser considerada a expressão do bloqueio do desenvolvimento feminino.

As questões da adolescência – identidade, dependência, imagem corporal, o ideal – são as mesmas que se encontram na anorexia nervosa, a diferença está na forma como são elaboradas.

A anorexia nervosa pode ser considerada a expressão do bloqueio do desenvolvimento feminino, com fixação a uma imagem idealizada do corpo infantil, recusa do corpo sexuado, alicerçada numa relação simbiótica com a mãe e negação da feminilidade.

Se por um lado é a expressão de dificuldades e sofrimento psíquico, por outro, também representa uma tentativa de reorganização, re-adaptação e por isso, uma forma de auto-terapia.

O corpo magro é fácil de alcançar por qualquer rapariga, criando-se assim uma organização defensiva compensatória perante uma insatisfação interna.

As adolescentes com anorexia nervosa procuram uma nova oportunidade de serem compreendidas e que algumas coisas possam agora ser elaboradas, mas que ao mesmo tempo pode trazer desfechos fatais.

Não se pode anular uma situação existencial sem pôr em perigo a própria existência.

A partir do momento em que na anoréxica os processos defensivos do Eu forçam ao retraimento extremo, não muda mais nada e o sujeito agarra-se deuma forma quase delirante à ideia de imortalidade, que em casos extremos pode mesmo levar à morte.

Como manifestações fisiológicas da doença as anoréxicas apresentam:

amenorreia, enfraquecimento e queda do cabelo, lanugo, cianose das extremidades, magreza, caquexia ou emaciação, desidratação com possíveis sinais de choque, atraso no início ou interrupção do desenvolvimento pubertário, pele seca e descamativa, perda de pêlo axilar e púbico, cabelo seco e quebradiço, hipotermia, bradipneia, bradicardia, hipotensão, edemas periféricos e osteoporose.

In : “CONTRIBUTO À COMPREENSÃO DA ANOREXIA MENTAL FEMININA A PARTIR DO PROCESSO DE SEPARAÇÃO-INDIVIDUAÇÃO” – Pedro Martins

A Interpretação dos Sonhos. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

A Interpretação dos Sonhos

“A interpretação dos sonhos é a via régia que conduz ao conhecimento do inconsciente da vida psíquica.” S. Freud

Na “Interpretação dos Sonhos” (1900) S. Freud lança ideias inovadoras que vão permitir uma nova compreensão dos sonhos, defendendo que se trata de uma actividade psíquica organizada e com leis próprias.

O sonho é produzido pelo próprio sonhador e não provém de uma fonte exterior a ele.

Desta forma demarca-se dos métodos tradicionais de interpretar os sonhos recorrendo à decifração em função de chaves simbólicas culturais associadas a uma previsão do futuro.

A melhor metáfora para explicar de forma simplificada o facto de o sonho ter normalmente uma aparência estranha e confusa talvez seja a da “censura”.

No seu percurso de formação o sonho passa por uma censura (situada entre o inconsciente e o consciente) que determina se ele pode ou não prosseguir os seus intentos.

Para conseguir enganar a censura ele necessita de mudar a sua aparência através de um mecanismo de distorção – trabalho do sonho:

  • Processo que transforma o conteúdo latente em conteúdo manifesto).

O sonho é composto pelo conteúdo latente (pensamentos/desejos que estão ocultos e serão mais tarde descodificados/interpretados recorrendo ao método da associação livre);

e pelo conteúdo manifesto (corresponde aquilo que o indivíduo sonha e se recorda de forma mais ou menos imprecisa quando acorda) que normalmente é composto por materiais/acontecimentos recentes (restos diurnos).

“A interpretação dos sonhos é a via régia que conduz ao conhecimento do inconsciente da vida psíquica.”

O sonho manifesto, ou seja, aquilo que a censura permitiu que viesse até à superfície da consciência, foi alcançado devido a uma máscara de aparência inócua e de significado praticamente impenetrável.

Para transformar o sonho nessa coisa inocente/inofensiva/caótica/desconexa foi necessário recorrer a certas ferramentas:

 – Condensação: consiste em reunir num único elemento vários elementos; muito poderoso; torna o sonho difícil de entender

– Deslocamento: substitui os pensamentos mais significativos do sonho por pensamentos acessórios, desfocando o conteúdo importante e dissimulando a realização do desejo

– Representabilidade: transforma os pensamentos do sonho em imagens

– Elaboração secundária: consiste em apresentar o conteúdo onírico sob a forma de um cenário coerente e inteligível

– Dramatização: procedimento análogo ao do encenador que transpõe o texto escrito para a representação

É através desta acção conjunta organizada que se forma o sonho, “o guardião do sono”.

A Síndrome do Burnout. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

A Síndrome do Burnout

Burnout – “Oito em cada dez portugueses estão exaustos e querem mudar de emprego”: eis o título de uma notícia do PÚBLICO, na semana passada, onde se divulgava o resultado de um inquérito.

Esta forma de exaustão é global, é uma epidemia, e foi baptizada em língua inglesa com um nome cuja tradução ainda não foi fixada com rigor nas línguas latinas: burn-out.

Diz-se que o pai do conceito é Graham Greene, que o utilizou como título de um romance, de 1960, A Burnt-out Case (a ortografia do termo inglês tinha, então, um t final).

O burnout é uma doença da civilização, exclusivamente ligada aos aspectos que caracterizam a organização contemporânea do trabalho.

Distingue-se, pois, da depressão, que não precisa do contexto laboral para se revelar.

Esta doença do bom cidadão trabalhador, que sofre um “incêndio” metafórico (como sugere a palavra inglesa) apresenta os seguintes sintomas:

fadiga até ao limite do esgotamento, ansiedade, incapacidade de controlar o stress, despersonalização e impotência.

Esta doença do “too much” é reveladora de um demónio – o demónio do trabalho – que retira o mais precioso dos nossos bens: o tempo.

E a palavra “demónio” justifica-se plenamente porque os estudiosos desta doença social dizem que ela tem um equivalente na acédia medieval – esse mal de que sofriam os monges na Idade Média e que os fazia perder a fé no sistema divino.

O burnout é uma doença da civilização, exclusivamente ligada aos aspectos que caracterizam a organização contemporânea do trabalho.

Por conseguinte, o burnout é para as empresas o que a acédia foi para a Igreja.

Em média, o tempo de trabalho é hoje superior ao que vigorava no século XIX.

Todas as utopias que prometiam uma sociedade do lazer e viam no progresso tecnológico um meio que nos libertaria do trabalho foram desmentidas.

Pior do que isso: a evolução e multiplicação dos utensílios, em vez de serem factores de libertação, dilataram o tempo de trabalho e elevaram à máxima potência a lógica económica que se realiza na corrida pelo aumento da produção e do lucro.

Evidentemente, isso só foi possível pondo em prática métodos de gestão que submetem, controlam, pressionam, induzem a uma competição que quebra solidariedades e criam delatores.

Veja-se, aliás, como o apelo governamental à delação – algo que outrora seria considerado abjecto – se começa a generalizar.

O burnout consiste em ultrapassar o limiar da resistência a uma adaptação violenta, coerciva, que, no limite, exige dos empregados que eles sejam “empreendedores” e, até, que os artistas se inclinem perante os códigos e as prerrogativas das indústria culturais.

Adaptação e flexibilidade são os nomes da actual ideologia do trabalho e da produção.

A descoberta desta doença chamada burnout deve-se muito a um médico americano (nascido na Alemanha em 1926), chamado Herbert J.

Freudenberger, que a diagnosticou em si mesmo.Ao tratar de toxicómanos numa clínica de Nova Iorque, ele descobriu a certa altura que estava mais doente do que eles.

O burnout consiste em ultrapassar o limiar da resistência a uma adaptação violenta e coerciva.

Esta situação é a regra em que vivemos: os hospitais estão cheios de médicos doentes; as escolas estão cheias de professores que temem mais as aulas e a avaliação a que estão submetidos do que os alunos que eles ensinam e avaliam; os guardas das prisões estão tão encarcerados como os detidos que eles vigiam. Não há exterior ao tempo de trabalho.

E, imersos em tudo isto, aqueles que dizem combater o capitalismo, ou pelo menos as suas lógicas mais nefastas, não fazem senão exaltar o trabalho e fixar as formas de vida que ele implica.

O axioma de Carl Schmitt, segundo o qual o nosso inimigo se assemelha a nós, encontra aqui uma bela confirmação.

António Guerreiro

in Ípsilon (21.03.2014)

Catarse - Método Catártico. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Catarse – Método Catártico

Catarse – Método Catártico – Método de Psicoterapia em que o efeito terapêutico procurado é um “purgação” (catharsis), uma descarga adequada dos afectos patogénicos.

O tratamento permite ao indivíduo evocar e até reviver os acontecimentos traumáticos a que esses afectos estão ligados, e ab-reagi-los.

Historicamente, o “método catártico” pertence ao período (1880-1895) em que a terapêutica psicanalítica se define progressivamente a partir de tratamentos operados em estado hipnótico.

O termo catharsis é uma palavra grega que significa purificação, purgação.

Foi utilizado por Aristóteles para designar o efeito produzido no espectador pela tragédia:

“A tragédia é a imitação de uma acção virtuosa e realizada que, por meio do temor  e da piedade, suscita purificação de certas paixões.”

Breuer e depois Freud retomaram este termo, que exprime para eles o efeito esperado de uma ab-reacção adequada do traumatismo.

Sabe-se efectivamente que, segundo a teoria desenvolvida nos Estudos sobre a Histeria (1895), os afectos que não conseguiram encontrar o caminho para a descarga ficam “coarctados”, exercendo então efeitos patogénicos.

Resumindo mais tarde a teoria da catarse, escreve Freud:

“Supunha-se que o sintoma histérico tinha origem quando a energia de um processo psíquico não podia chegar à elaboração consciente e era dirigida para a enervação corporal (conversão) […].

A cura era obtida pela libertação do afecto desviado, e a sua descarga por vias normais (ab-reacção).

A catarse nem por isso deixa de ser uma das dimensões de toda a psicoterapia analítica. […]

Do mesmo modo, a perlaboração, a simbolização pela linguagem, estavam já pré-figuradas no valor catártico que Breuer e Freud reconheciam à expressão verbal:

“É na linguagem que o homem encontra um substituto para o acto, substituto graças ao qual o afecto pode ser ab-reagido quase da mesma maneira…”

Vocabulário da Psicanálise – J. Laplanche & J.B. Pontalis

Benefício primário e secundário da doença. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Benefício Primário e Secundário da Doença

Benefício da doença designa de um modo geral qualquer satisfação directa ou indirecta que um individuo retira da sua doença.

O benefício primário é o que entra em consideração na própria motivação de uma neurose: satisfação encontrada no sintoma, fuga para a doença, modificação vantajosa das relações com o meio.

O benefício secundário poderia distinguir-se do precedente do seguinte modo:

– pela sua aparição posterior, como vantagem suplementar ou utilização pelo indivíduo  de uma doença já constituída;

– pelo seu carácter extrínseco em relação ao determinismo inicial da doença e ao sentido dos sintomas;

– pelo faco de se tratar de satisfações narcísicas ou ligadas à auto-conservação, em vez de satisfações directamente libidinais.

Benefício da doença designa qualquer satisfação directa ou indirecta que um individuo retira da sua doença.

O “benefício primário” está ligado ao próprio determinismo dos sintomas.

Podemos distinguir duas partes:

– A “parte interna do benefício primário” consiste na redução de tensão proporcionada pelo sintoma; este, por doloroso que seja, tem por fim evitar ao indivíduo conflitos às vezes mais penosos: é o chamado mecanismo de “fuga para a doença”.

– A “parte externa do benefício primário” estaria ligada às modificações introduzidas pelo sintoma nas relações interpessoais do indivíduo.

Assim, uma mulher oprimida pelo marido pode obter, graças à neurose, mais ternura e atenção, vingando-se ao mesmo tempo dos maus tratos sofridos.

Mas se Freud designa este último aspecto de benefício pelos termos “externo ou acidental”, é exactamente porque a fronteira que o separa do benefício secundário é difícil de traçar.

Para descrever este, Freud refere-se ao caso da neurose traumática, e mesmo ao de uma invalidez física resultante de um acidente.

O benefício secundário materializa-se aqui pela pensão paga ao inválido, poderoso motivo que se opõe a uma readaptação: “ Ao contrário da sua enfermidade, começaríamos por lhe retirar os seus meios de subsistência, uma vez que, ele não seria capaz de retomar o seu antigo trabalho”.

Vocabulário da Psicanálise – J. Laplanche & J.B. Pontalis

Narcisismo compensação narcísica. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Narcisismo: Compensação Narcísica

A prótese narcísica é uma forma de compensação por sentimentos (principalmente) de inferioridade.

Através desta estratégia de compensação o sujeito procura criar uma nova imagem de si através da correcção da falha (narcísica).

Uma vez que a falha se situa ao nível interno, este processo está condenado ao fracasso.

Por muitos pincéis e tintas que se use para retocar a imagem, por baixo ela mantém-se inalterada.

Esta tentativa de engrandecimento não passa de uma luta inglória, porque, apesar do esforço continuado, é uma espécie de remar contra a maré.

Os recursos em vez de serem colocados ao serviço do próprio são desperdiçados em manobras, muitas vezes desesperadas, de esconder – desse sujeito que se pretende grandioso – todas as imperfeições.

Ao não compreender mais profundamente os sentimentos de inferioridade não poderá ultrapassá-los.

Assim, vive confinado entre a imagem negativa e distorcida de si (porque só consegue ver-se parcialmente) e a imagem desejada de grandeza.

Flutuando entre uma coisa e outra, dará à costa trazido pela maré.

Compulsão à Repetição. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Compulsão à Repetição

A compulsão a repetir não é propriamente um “automatismo” (isto é, forma de repetição condicionada pelo hábito), mas a busca de uma satisfação que ficou em suspenso, representando a persistência de um desejo não realizado.

Ao nível da psicopatologia concreta, [a compulsão à repetição é um] processo incoercível e de origem inconsciente.

No qual o indivíduo se coloca activamente em situações penosas, repetindo assim experiências antigas sem se recordar do protótipo e tendo pelo contrário a impressão muito viva de que se trata de algo de plenamente motivado na actualidade.

É de toda a evidência que a psicanálise viu-se confrontada desde a origem com fenómenos de repetição.

Se encararmos nomeadamente os sintomas, por um lado alguns deles são manifestamente repetitivos (rituais obsessivos, por exemplo), e, por outro, o que define o sintoma em psicanálise é precisamente o facto de reproduzir, de maneira mais ou menos disfarçada, certos elementos de um conflito passado.

De um modo geral, o recalcado procurar “retornar” ao presente, sobre a forma de sonhos, de sintomas, do agir: “o que permaneceu incompreendido retorna; como uma alma penada, não tem repouso até encontrar resolução e libertação”

A compulsão à repetição é a busca de uma satisfação que ficou em suspenso.

Trata-se de uma reacção em face da não-aceitação do insucesso.

Sendo tanto mais fácil de organizar-se como fenómeno “compulsivo” (que se impõe no agir) – e por vezes obsessivo (que se impõe no pensar) e “o de repetição” – quanto menor for a tolerância à frustração ou, o que vem dar ao mesmo, maior a dependência do objecto e a necessidade de materializar o fantasma.

A “compulsão a repetir” é, assim, a sequência do que chamamos o vazio traumático:

– a necessidade imperiosa e reiterada de preencher uma lacuna na execução do plano (do fantasma de antecipação do prazer); lacuna que foi sentida como traumatismo.

A compulsão a repetir está ligada à não-aceitação da realidade frustrante, da inevitabilidade da perda; logo uma incapacidade de fazer o trabalho de luto.

O grande especialista em crianças é a mãe. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

O Grande Especialista em Crianças é a Mãe

D. Winnicott, autor do conceito de mãe suficientemente boa, refere que esta é uma mãe atenta e capaz de se adaptar activamente às necessidades do seu filho-

Mas ao mesmo tempo, é capaz de frustrar criando uma desilusão gradativa necessária ao desenvolvimento.

“Com o tempo, o bebé começa a precisar da mãe para ser mal sucedido na sua adaptação (…). Para uma criança, seria muito aborrecido continuar a vivenciar uma situação de omnipotência quando ela já dispõe de mecanismos que lhe permitem conviver com as frustrações e as dificuldades do seu meio ambiente.”

Com a proliferação de estudos e livros publicados sobre bebés e crianças as mães podem ficar confusas e a enfraquecer a conexão emocional com os filhos.

Nunca tivemos acesso a tanta informação como agora. Livros, sites, artigos, blogs, cursos, terapeutas, etc.

Apesar desta lista interminável os pais parecem cada vez mais inseguros e ansiosos em relação aos seus papéis.

Para cada dúvida existe um milhão de respostas, parte delas contraditórias.

O conhecimento que poderiam adquirir nessas leituras por vezes gera mais ansiedade do que tranquilidade.

Em grande medida a educação é a transmissão de um modelo que existe em cada um de nós.

A expressão “mãe suficientemente boa” implica a ausência de um imperativo de perfeição.

A mãe aprendeu muito mais pelo facto de já ter sido criança – de ter observado outros pais com os seus filhos, de ter brincado (fantasiado) aos pais e às mães -, do que poderá aprender com este tipo de livros.

Para além do mais, é possível que a espessa camada de informações impeça os pais de serem eles mesmos; e só quando se desprendem dessa quantidade de “instruções” conseguem envolver-se mais profundamente com os filhos.

À medida que a ansiedade diminui as mães têm mais consciência das suas capacidades e qualidades, e dessa forma, conseguem tirar mais proveito da informação disponível, conservando a conexão emocional.

A expressão “mãe suficientemente boa” implica a ausência de um imperativo de perfeição.

Ao mesmo tempo, o reconhecimento que a mãe faz das suas imperfeições deve constituir algo mais libertador do que opressivo.

A mãe já foi filha, e por isso trás consigo recordações de tê-lo sido e de ter sido cuidada por uma mãe, e estas lembranças tanto podem ajudá-la como atrapalhar na sua experiência como progenitora.

No entanto, só muito excepcionalmente, encontramos mães que por graves perturbações são incapazes de cuidar dos filhos ao ponto de os colocar em risco.

Felizmente todas as mães falham, amam os seus filhos mas não são perfeitas, e por isso não conduzem os seus filhos para um mundo falso e delirante.

Psicologização. Psi quê? Importa-se de repetir? Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Psicologização. Psi quê? Importa-se de repetir?

Em virtude do aumento da presença da psicologia e dos psicólogos na vida quotidiana, começou a ouvir-se falar de psicologizar; psicologizante; psicologização.

Em meu entender, esse termo, nos exemplos em que era usado, referia-se a uma atitude passiva e permissiva dos pais/educadores em relação ao comportamento das crianças e dos adolescentes.

“Agora fazem tudo o que querem”; “Psicologia para aqui, psicologia para ali, não sei onde isto vai parar”;

“Agora não se pode tocar nas criancinhas”; “No meu tempo levavam umas palmadas e acabava-se logo com as parvoíces”; “são uns delinquentes, deixam-nos fazer tudo”.

A propósito da psicologização, ocorreu-me uma “conversa” que o Dr. João dos Santos teve com João Sousa Monteiro:

«Uma mãe desejava falar-me e trazia o filho de 8 ou 9 anos. O miúdo queria assistir à conversa.

Era uma família de elevado nível social e cultural, e tinham conversas muito intelectuais com os filhos.

A mãe queria conversar comigo porque tinha um problema qualquer com o miúdo, e o miúdo dizia que também queria assistir à conversa, que não queria ficar de fora.

Eu disse-lhe: “Não não, tu agora esperas aí porque eu preciso falar com a tua mãe, ela tem umas coisas para me dizer que não quer que tu oiças, portanto esperas aí fora”.

E o miúdo disse-me assim: “mas eu posso ouvir tudo, porque eu até sei o que é o superego”.

E eu disse-lhe: “tu não sabes nada o que é o superego, o superego não é nada disso que tu imaginas, é isto que eu te vou mostrar”.

Agarrei-o por um braço e disse-lhe: “se tu não vais já lá para fora, levas dois estalos e então ficas logo a saber o que é o superego».

“Agora fazem tudo o que querem, não se pode tocar nas criancinhas”

Aqui temos um bom exemplo de que psicologizar tem pouco a ver com permissividade.

Temos um terapeuta (um adulto) que pensa no bem-estar da criança; que sabe que existem certos espaços, que para salvaguarda (mental) da criança, ela não deve ter acesso a eles.

É mentalmente tranquilizador (apesar de frustrante) para uma criança saber (que lhe mostrem) qual é o seu espaço e qual é o do outro.

E que ao entrar em espaços “proibidos”, apesar de muito desejados, existe alguém que a protege e lhe coloca um limite.

Actualmente, as crianças são vistas de forma muito diferente e a psicologia deu o seu contributo ao emprestar uma maior compreensão deste “ser complexo”.

Daí resultaram, como resultam sempre, várias interpretações e respectivas aplicações. A psicologização parece ser uma delas.

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