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reprimido

A Repressão e o Reprimido

A Repressão e o Reprimido

Num sentido lato, a repressão é designada como a operação psíquica tendente a fazer desaparecer da consciência um conteúdo (ideia, afecto, etc.) desagradável ou inoportuno. Nesse sentido o recalcamento seria uma modalidade especial de repressão.

No sentido mais frequente, a repressão, opõe-se, sobretudo, do ponto de vista tópico ao recalcamento, quer pelo carácter consciente da operação, quer pelo facto do conteúdo reprimido se tornar simplesmente pré-consciente e não inconsciente.

Segundo Laplanche & Pontalis, a repressão seria um mecanismo consciente actuando ao nível da “segunda censura”, que Freud situa entre o consciente e o pré-consciente; tratar-se-ia de uma exclusão para fora da consciência actual, e não da passagem de um sistema (pré-consciente-consciente) para outro (inconsciente).

Do ponto de vista dinâmico, as motivações morais desempenham um papel determinante na repressão.

freudian slip

Freudian Slip /Acto Falhado

Freudian Slip / Acto falhado ou falho

Acto em que o resultado explicitamente visado não é atingido, antes se acha substituído por outro.

Fala-se de actos falhados/Freudian Slip não para designar o conjunto das falhas da palavra, da memória e da acção, mas para os comportamentos em que o indivíduo é habitualmente capaz de obter êxito, e cujo fracasso é tentado a atribuir apenas à sua falta de atenção ou ao acaso.

Freud demonstrou que os actos falhados eram, tal como os sintomas, formações de compromisso entre a intenção consciente do indivíduo e o recalcado.

 

Vocabulário da Psicanálise – J. Laplanche & J.B. Pontalis

negação

Negação: uma forma de lidar com as emoções

A negação é um termo teórico, que passou a ser usado na vida cotidiana, na maioria das vezes, distorcendo o seu significado.

Segundo o Vocabulário da Psicanálise – Laplanche & Pontalis, a negação ou (de) negação é o “processo pelo qual o indivíduo, embora formulando um dos seus desejos, pensamentos ou sentimentos, até aí recalcado, continua a defender-se dele negando que lhe pertença”; “recusa da percepção de um facto que se impõe no mundo exterior.”

A negação por um certo período de tempo pode ser considerada um mecanismo saudável.

A negação é um mecanismo de defesa inconsciente em que o conflito emocional e a ansiedade são evitados por recusa em reconhecer pensamentos, sentimentos, desejos, impulsos, ou factos que são conscientemente intoleráveis.

Em alguns casos, a negação por um certo período de tempo pode ser considerada um mecanismo saudável de mitigar o “intolerável”, dando à mente a oportunidade de elaborar e se adaptar.

Perante emoções demasiado intensas, a negação representa uma forma de preservar a coesão mental, ainda que a negação, em última análise, possa ser nociva.

Uma vez que negação também requer um investimento substancial de energia, implica que outras defesas sejam também utilizadas para manter os sentimentos inaceitáveis ​​afastados da consciência.

A perpetuação do uso das defesas e a sua falência acaba por ser uma das circunstâncias que levam algumas pessoas a procurar a psicoterapia.

Gradualmente as “defesas” tornarem-se cada fez mais inadequadas e ineficazes, deixando a dor emocional oculta (no seu estado original), ascender à superfície.

Os mecanismos de defesa podem ser encontrados em indivíduos saudáveis, mas a sua presença excessiva é, via de regra, indicação de possíveis sintomas neuróticos.

Trauma – Uma Introdução

No Vocabulário de Psicanálise, Laplanche e Pontalis descrevem trauma ou traumatismo (psíquico) como:

“Acontecimento da vida do indivíduo que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se acha o indivíduo de lhe responder de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos patogénicos duradouros que provoca na organização psíquica.”

No entanto, nem toda a experiência de trauma é um acontecimento específico; ele pode ser cumulativo.

Neste caso, uma vez que as causas são menos claras, torna-se mais difícil de lidar.

Conceito importante associado ao de trauma, é o de sinal de angústia.

Laplanche e Pontalis referem:” O sinal de angústia reproduz de forma atenuada a reacção de angústia vivida primitivamente numa situação traumática, o que permite desencadear operações de defesa.”

Segundo P. Casement, quando se considera a revivência do trauma é importante pensar em conjuntos inconscientes.

“Isso dá-nos uma lógica em termos da qual podemos entender como a mente regista inconscientemente elementos particulares como sendo da mesma natureza – porque foram anteriormente vivenciados juntos.

Assim eles passam a ser estabelecidos como relacionados, de forma atemporal e sem excepção.

Para o inconsciente a parte pode representar o todo, logo, qualquer coisa associada a uma situação traumática pode representar o trauma como um todo e pode deflagrar o sinal de ansiedade, alertando a mente inconsciente como se aquela situação traumática estivesse na eminência de se repetir.”

Trauma: “Acontecimento da vida do indivíduo que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se acha o indivíduo de lhe responder de forma adequada.

P. Casement dá-nos um exemplo através de uma vinheta clínica:

Uma menina de dois anos de idade foi levada pela mãe para ser vacinada antes de viajar para o estrangeiro.

Para poder aplicar a vacina na coxa da criança, o médico pediu à mãe para levantar o vestido da filha.

Até aí nada de anormal, à excepção, talvez, da presença desse relativamente estranho – o médico de família.

Mas depois de ficar chocada com a súbita dor da injecção, foram necessários alguns meses para que a criança fosse capaz de recuperar da experiência que parecia estar sempre iminente.

Mais especificamente, ela demonstrava um claro sinal de ansiedade sempre que a mãe tentava trocar-lhe as roupas.

Qualquer tentativa da mãe de levantar o vestido da criança era recebida com gritos.

Uma reacção semelhante era evidente quando se tirava qualquer outra peça de roupa; quanto mais perto da parte inferior do corpo mais intensa era a reacção.

Outras pessoas tinham mais sucesso do que a mãe nessa operação, mas ninguém podia levantar-lhe o vestido.

Podemos ver neste exemplo como várias associações relacionadas com a situação de perigo foram estabelecidas em torno do trauma original.

As mais específicas eram as seguintes: a mãe com a criança ao colo levantando o vestido.

Associações menores também podiam ser identificadas: roupas perto da coxa e pessoas como a mãe.

Era perceptível que a criança tinha mais confiança no pai do que na mãe quando estava no colo.

Mas quando a criança estava no colo de outra pessoa, o pai tornava-se a fonte de ansiedade caso estendesse as mãos para ajudar a tirar a roupa.

O sinal de angústia reproduz de forma atenuada a reacção de angústia vivida primitivamente numa situação traumática.

Por isso, dava a sensação de existirem diferentes níveis de associação a funcionar:

– uma pessoa-colo do sexo feminino era mais temida do que uma pessoa-colo do sexo masculino, particularmente quando associada à tentativa de tirar a roupa.

Também um homem de braços estendidos para ajudar, quando associado à tentativa de tirar roupas, era mais temido do que uma mulher na mesma posição.

Neste exemplo podemos ver que o trauma passou a ser associado a um conjunto de elementos principais:

– estar no colo de uma mulher; roupas removidas ou levantadas; um homem a estender as mãos para fazer algo.

Reconhecendo intuitivamente as associações às quais sua filha reagia, a mãe encontrou uma maneira de lidar com o problema.

Ao colocar a criança na banheira e molhando as roupas, ao invés de tentar despi-la ao colo distanciou-se da situação traumática.

Conseguiu então tirar roupas que estavam molhadas em vez de secas.

Roupas molhadas não tinham participado no trauma original, de modo que essa diferença permitiu à criança aceitar uma nova maneira de se despir, apesar de que remover roupas ainda era parte daquilo que a mãe fazia.

Ela não estava, portanto, evitando completamente a experiência, mas encontrando uma maneira de fazer face a ela – na medida em que a criança estava em condições de a tolerar.

Gradualmente os vínculos associativos tornaram-se mais fracos e as roupas secas também puderam ser removidas: primeiro, removidas quando ela estava sentada numa banheira vazia e, depois, sentada ao colo da mãe.

Catarse - Método Catártico. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Catarse – Método Catártico

Catarse – Método Catártico – Método de Psicoterapia em que o efeito terapêutico procurado é um “purgação” (catharsis), uma descarga adequada dos afectos patogénicos.

O tratamento permite ao indivíduo evocar e até reviver os acontecimentos traumáticos a que esses afectos estão ligados, e ab-reagi-los.

Historicamente, o “método catártico” pertence ao período (1880-1895) em que a terapêutica psicanalítica se define progressivamente a partir de tratamentos operados em estado hipnótico.

O termo catharsis é uma palavra grega que significa purificação, purgação.

Foi utilizado por Aristóteles para designar o efeito produzido no espectador pela tragédia:

“A tragédia é a imitação de uma acção virtuosa e realizada que, por meio do temor  e da piedade, suscita purificação de certas paixões.”

Breuer e depois Freud retomaram este termo, que exprime para eles o efeito esperado de uma ab-reacção adequada do traumatismo.

Sabe-se efectivamente que, segundo a teoria desenvolvida nos Estudos sobre a Histeria (1895), os afectos que não conseguiram encontrar o caminho para a descarga ficam “coarctados”, exercendo então efeitos patogénicos.

Resumindo mais tarde a teoria da catarse, escreve Freud:

“Supunha-se que o sintoma histérico tinha origem quando a energia de um processo psíquico não podia chegar à elaboração consciente e era dirigida para a enervação corporal (conversão) […].

A cura era obtida pela libertação do afecto desviado, e a sua descarga por vias normais (ab-reacção).

A catarse nem por isso deixa de ser uma das dimensões de toda a psicoterapia analítica. […]

Do mesmo modo, a perlaboração, a simbolização pela linguagem, estavam já pré-figuradas no valor catártico que Breuer e Freud reconheciam à expressão verbal:

“É na linguagem que o homem encontra um substituto para o acto, substituto graças ao qual o afecto pode ser ab-reagido quase da mesma maneira…”

Vocabulário da Psicanálise – J. Laplanche & J.B. Pontalis

Benefício primário e secundário da doença. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Benefício Primário e Secundário da Doença

Benefício da doença designa de um modo geral qualquer satisfação directa ou indirecta que um individuo retira da sua doença.

O benefício primário é o que entra em consideração na própria motivação de uma neurose: satisfação encontrada no sintoma, fuga para a doença, modificação vantajosa das relações com o meio.

O benefício secundário poderia distinguir-se do precedente do seguinte modo:

– pela sua aparição posterior, como vantagem suplementar ou utilização pelo indivíduo  de uma doença já constituída;

– pelo seu carácter extrínseco em relação ao determinismo inicial da doença e ao sentido dos sintomas;

– pelo faco de se tratar de satisfações narcísicas ou ligadas à auto-conservação, em vez de satisfações directamente libidinais.

Benefício da doença designa qualquer satisfação directa ou indirecta que um individuo retira da sua doença.

O “benefício primário” está ligado ao próprio determinismo dos sintomas.

Podemos distinguir duas partes:

– A “parte interna do benefício primário” consiste na redução de tensão proporcionada pelo sintoma; este, por doloroso que seja, tem por fim evitar ao indivíduo conflitos às vezes mais penosos: é o chamado mecanismo de “fuga para a doença”.

– A “parte externa do benefício primário” estaria ligada às modificações introduzidas pelo sintoma nas relações interpessoais do indivíduo.

Assim, uma mulher oprimida pelo marido pode obter, graças à neurose, mais ternura e atenção, vingando-se ao mesmo tempo dos maus tratos sofridos.

Mas se Freud designa este último aspecto de benefício pelos termos “externo ou acidental”, é exactamente porque a fronteira que o separa do benefício secundário é difícil de traçar.

Para descrever este, Freud refere-se ao caso da neurose traumática, e mesmo ao de uma invalidez física resultante de um acidente.

O benefício secundário materializa-se aqui pela pensão paga ao inválido, poderoso motivo que se opõe a uma readaptação: “ Ao contrário da sua enfermidade, começaríamos por lhe retirar os seus meios de subsistência, uma vez que, ele não seria capaz de retomar o seu antigo trabalho”.

Vocabulário da Psicanálise – J. Laplanche & J.B. Pontalis

Compulsão à Repetição. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Compulsão à Repetição

A compulsão a repetir não é propriamente um “automatismo” (isto é, forma de repetição condicionada pelo hábito), mas a busca de uma satisfação que ficou em suspenso, representando a persistência de um desejo não realizado.

Ao nível da psicopatologia concreta, [a compulsão à repetição é um] processo incoercível e de origem inconsciente.

No qual o indivíduo se coloca activamente em situações penosas, repetindo assim experiências antigas sem se recordar do protótipo e tendo pelo contrário a impressão muito viva de que se trata de algo de plenamente motivado na actualidade.

É de toda a evidência que a psicanálise viu-se confrontada desde a origem com fenómenos de repetição.

Se encararmos nomeadamente os sintomas, por um lado alguns deles são manifestamente repetitivos (rituais obsessivos, por exemplo), e, por outro, o que define o sintoma em psicanálise é precisamente o facto de reproduzir, de maneira mais ou menos disfarçada, certos elementos de um conflito passado.

De um modo geral, o recalcado procurar “retornar” ao presente, sobre a forma de sonhos, de sintomas, do agir: “o que permaneceu incompreendido retorna; como uma alma penada, não tem repouso até encontrar resolução e libertação”

A compulsão à repetição é a busca de uma satisfação que ficou em suspenso.

Trata-se de uma reacção em face da não-aceitação do insucesso.

Sendo tanto mais fácil de organizar-se como fenómeno “compulsivo” (que se impõe no agir) – e por vezes obsessivo (que se impõe no pensar) e “o de repetição” – quanto menor for a tolerância à frustração ou, o que vem dar ao mesmo, maior a dependência do objecto e a necessidade de materializar o fantasma.

A “compulsão a repetir” é, assim, a sequência do que chamamos o vazio traumático:

– a necessidade imperiosa e reiterada de preencher uma lacuna na execução do plano (do fantasma de antecipação do prazer); lacuna que foi sentida como traumatismo.

A compulsão a repetir está ligada à não-aceitação da realidade frustrante, da inevitabilidade da perda; logo uma incapacidade de fazer o trabalho de luto.

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