Categoria: <span>Psicologia Clínica</span>

FOMO - medo de ficar fora

FOMO – O Medo de Ficar de Fora

FOMO – Fear of Missing Out, em português “medo de ficar de fora”, envolve uma ansiedade de que se possa estar a perder um momento excitante que está a acontecer noutro lugar.

É esse medo que faz com que se esteja sempre a atualizar o feed das redes sociais, para saber o que é que os outros estão a fazer. Não se quer sentir excluído.

O fenómeno, que já existe há vários anos, ganhou maiores proporções por causa das redes sociais — tudo porque agora consegue estar ligado a toda a gente em todos os momentos.

Pedro Martins afirma que “o FOMO é sentido independentemente da fonte de onde se obtém a informação do evento ou atividade social. Seja por um amigo ou nas redes sociais, o efeito é o mesmo”.

No entanto, com as redes sociais é natural que a ansiedade ainda possa ser maior: não há forma de não ver. “O próprio Facebook faz questão de lembrar que os meus amigos têm um evento, e os eventos que vão acontecer perto de mim”.

O psicoterapeuta Pedro Martins explica que o FOMO acontece porque não se pode estar em todo o lado ao mesmo tempo. Há que fazer escolhas: “A arte de viver é a arte da renúncia, é preciso renunciar a umas coisas para ter outras.”

“Nós temos limites e, de alguma forma, não reconhecer isso é uma via aberta para aumentar a ansiedade e a depressão”.

“Eu tenho de escolher a que festa vou mas, se fico a pensar que estou nesta festa e gostava de estar na outra, na verdade, acabo por não estar em nenhuma e dificilmente consigo tirar alguma satisfação. Se estamos com medo do que estamos a perder, dificilmente ganhamos alguma coisa”.

Para quem tenha este problema, Pedro Martins refere que o importante é perceber que é impossível estar em todo o lado e que há limites: “Pensamos que está alguma coisa mal connosco quando não conseguimos fazer tudo, e isso é uma atitude autodestrutiva e um objetivo impossível. Nós temos limites e, de alguma forma, não reconhecer isso é uma via aberta para aumentar a ansiedade e a depressão”.

Excertos de : “Teste. 10 perguntas para entender o seu nível de FOMO (o medo de ficar de fora do que se está a passar com os amigos). E como superá-lo.” – Conversa que tive com a jornalista Adriana Claro – MAGG

Ler o artigo: https://magg.pt/2018/05/19/teste-10-perguntas-para-entender-o-seu-nivel-de-fomo/

 

 

desejo necessidade psicoterapia

Desejo ou Necessidade?

A necessidade é uma tensão interna gerada pela falta.

Resolve-se pelo encontro do organismo em carência com aquilo que lhe falta. Como exemplo temos a fome e a tensão sexual.

Do encontro do sujeito em carência, em estado de necessidade, com aquilo que lhe falta ou de que precisa (coisa e/ou acção específica do meio) resulta em satisfação.

O que precisa pode ser:

  • uma coisa – um objecto material (como o alimento, quando a necessidade é a fome)
  • uma acção específica de outra pessoa – o comportamento adequado da pessoa adequada (o parceiro sexual, se a necessidade é a de intercurso sexual; o comportamento acolhedor, terno e de carícias quando se faz sentir a necessidade de contacto e conforto corporais)
  •  ou o investimento afectivo e estético – amor e admiração – da pessoa privilegiada (objecto preferencial) no caso de a necessidade premente ser afectiva e narcísica.

Coisa, acção, amor e apreço são os bens necessários e imprescindíveis.

O sujeito, no seu encontro com aquilo que o satisfaz, vive uma experiência de satisfação.

“A necessidade tem origem numa carência do organismo, o desejo na recordação de um prazer.”

O desejo é um sentimento de apetência resultante da reactivação da memória da satisfação já experimentada quando a necessidade de novo se faz sentir.

O desejo é, portanto, sempre secundário, só possível depois de uma primeira experiência de satisfação.

A fome traduz uma necessidade, o apetite é o desejo de algo que o indivíduo já saboreou.

A tensão sexual corresponde a um estado de necessidade sexual, o desejo sexual é o interesse em repetir uma experiência prazerosa.

A necessidade tem origem numa carência do organismo, o desejo na recordação de um prazer.

A necessidade revela-se ao nível psicológico por um estado de tensão e desconforto internos (psíquicos).

O desejo revela-se por um estado de excitação psíquica e uma fantasia de realização do desejo com antecipação representada da satisfação.

Bibliografia: “O inconsciente primário ou virtual e a psicossomática” – A. Coimbra de Matos

Como a negligência emocional nos afecta. Pedro Martins Psicoterapeuta

Como a Negligência Emocional nos Afecta

Muitos de nós caminhamos pela vida com numerosos danos emocionais. Os mais comuns são as depressões e a ansiedade; sendo que ambas têm muito impacto nos relacionamentos afectivos.

De onde surgiram estas problemáticas?

Na maioria das vezes da infância, em particular da primeira infância.

A forma como fomos cuidados quando eramos crianças pequenas tem um efeito desmesurado na nossa vida profissional e pessoal.

O que necessitamos é, acima de tudo, pais responsivos: adultos que cuidam das nossas necessidades com sensibilidade e carinho.

Isso, literalmente, define muito das nossas vidas.

Pode não parecer muito importante, mas devido à falta desse amor responsivo, muitas vidas estão aquém do que poderiam e deveriam ser.

“A negligência emocional na infância afecta profundamente o desenvolvimento”

Entre as pesquisas que permitiram demonstrar os efeitos da negligência nas crianças está a “Still Face Experiment” -, efectuada pelo Dr. Ed Tronick, director da Unidade de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard.

 

 

Se uma criança pode ficar tão transtornada após alguns segundos de comportamento frio e insensível por parte da mãe, podemos ficar com uma noção do que pode acontecer se este género de negligência persistir ao longo de anos.

Não é de admirar que alguns de nós não nos sintamos muito bem interiormente. Basta ter passado por situações idênticas  às do vídeo durante os primeiros anos da nossa vida (ou mais) para que marcas – profundas ou leves -, nos acompanhem.

“O amor é imprescindível para a estabilidade emocional”

Mas aperceber-nos de como somos vulneráveis não nos deve entristecer. Pelo contrário, podemos compreender melhor como fracassamos e estabelecer um elo entre o passado e as nossas dificuldades presentes.

Experiências como a “Still Face Experiment” são uma preciosa ajuda para nos compreendermos emocionalmente, e lançam uma luz científica sobre as origens dos nossos problemas.

Esta experiência prova algo inquestionável: o amor é imprescindível para a sanidade mental. A quantidade, mas principalmente, a qualidade desse amor, é determinante para uma vida que se deseja emocionalmente rica.

 

prazer felicidade psicoterapia

Felicidade vs. Prazer. Descubra as Diferenças

A felicidade é a longo prazo, aditiva e generosa. É dar. Está ligado à serotonina.

O prazer é de curto prazo, aditivo e egoísta. É receber. Está ligado à dopamina.

Esta não é apenas uma questão semântica, é uma diferença fundamental que se pode ver nos nossos circuitos neuronais. Parece que o prazer e a felicidade se substituem um ao outro, que são maneiras diferentes de obter o mesmo. Mas não são. Pelo contrário, são coisas que se podem confundir quando se trata do curto prazo, mas, no longo prazo, não poderiam ser mais diferentes.

São ambos constructos culturais. Ambos respondem aos impulsos físicos directos, mas cada vez mais, aos culturais.

Os comerciantes e as campanhas de marketing apontam para a venda de prazer. Esse é um atalho para o sucesso, uma receita que se repete. Fazer com que as pessoas fiquem dependentes da satisfação oferecida pela cafeína, tabaco ou açúcar é um modelo de negócio. Mas para além do uso de certas substâncias, actualmente, os “social media” estão a fazer uso da relação entre a raiva e a dopamina (a raiva é uma das emoções mais presente nas redes sociais) para construir um novo tipo de dependência.

 

“A felicidade é mais difícil de atingir. Requer mais paciência e mais planeamento.”

 

Por outro lado, a felicidade é algo mais difícil de adquirir. Requer mais paciência e mais planeamento. É possível encontrar a felicidade na visão infantil do mundo, mas é mais provável encontrá-la numa série consciente e madura de escolhas, a maioria das quais relacionadas com a generosidade e com a procura de ligações afectivas.

Mais do que nunca, controlamos nossos cérebros controlando o que colocamos neles. Os “media” que escolhemos, as interacções que desenvolvemos e as substâncias que ingerimos condicionam a forma como vivenciamos as coisas.

É difícil resistir à satisfação imediata, sempre tão sedutora e cumpridora da promessa de prazer. Mas, quem sabe, conseguimos resistir estoicamente e escolher a felicidade.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de “The pleasure/happiness gap” – Seth Godin

mundo moderno

Como o Mundo Moderno nos está Afectar

O mundo moderno tem muitas coisas maravilhosas (a odontologia é boa, os carros são confiáveis, podemos facilmente entrar em contacto a partir do México com a nossa avó na Escócia) – mas também é poderosa e tragicamente capaz de causar um alto nível de ansiedade e estados depressivos.

Existem seis características particulares da modernidade que têm um efeito psicologicamente perturbador. Cada uma tem uma cura potencial, que só pode ser colocada em acção colectivamente quando conhecermos mais sobre o problema em questão.

 

  1. Meritocracia:

As nossas sociedades dizem-nos que todas as pessoas são “livres de fazer”, caso tenham talento e energia. A desvantagem dessa ideia, ostensivamente libertadora e apaixonante, é que qualquer insucesso sentido não é, como no passado, um acidente ou infortúnio, mas um sinal claro de falta de talento ou preguiça. Se aqueles que estão no topo merecem todo o seu sucesso, então aqueles que estão no fundo, certamente, devem merecer todo o seu fracasso. Uma sociedade que pensa em si mesma como meritocrática em vez de olhar para os que falharam como desafortunados, rotula-os de perdedores.

A cura é uma crença forte e culturalmente apoiada em duas grandes ideias: a sorte, que diz que o sucesso não depende apenas do talento e do esforço; e a tragédia, que diz que as pessoas boas e decentes podem falhar, e merecem compaixão em vez de desprezo.

 

  1. Individualismo:

Uma sociedade individualista prega que o indivíduo e suas realizações são “tudo” e que todos são capazes de ter um destino especial. Não é a comunidade que importa; A união, o grupo, é para os desesperançados. Ser “comum” é considerado uma maldição. Como resultado a maioria de nós acabará, estatisticamente falando, associada ao fracasso.

A cura passa pelo culto da boa vida trivial – e apreciar os prazeres simples do quotidiano.

 

  1. Secularismo:

As sociedades seculares não acreditam em qualquer coisa que seja maior ou superior a elas mesmas. As religiões costumavam ter o papel de manter os nossos caminhos insignificantes e batalhas internas em perspectiva. Mas agora não há nada para admirar ou relativizar nos seres humanos, cujos triunfos e percalços acabam por ser um tudo ou um nada.

A cura envolveria a utilização regular de fontes de transcendência para gerar uma perspectiva benigna e relativizada sobre as nossas mágoas: a música, as estrelas à noite, os vastos desertos ou os oceanos tornar-nos-iam mais humildes.

 

  1. Romantismo:

A filosofia do romantismo diz-nos que para cada um de nós há uma pessoa muito especial que nos pode tornar completamente felizes. No entanto, de uma maneira geral, temos que nos contentar com relacionamentos aceitáveis com alguém que é muito agradável em várias coisas e muito difícil noutras. Parece um desastre – em comparação com as nossas grandes expectativas.

A cura passa por perceber que não errámos: fomos encorajados a acreditar num sonho muito improvável. Em vez disso, devemos construir as nossas ambições em torno da amizade e do amor fraternal.

 

  1. Os média:

Os meios de comunicação têm um prestígio enorme e um lugar gigantesco nas nossas vidas – mas rotineiramente orientam a nossa atenção para as coisas que assustam, preocupam e irritam, ao mesmo tempo que nos retiram o poder de termos uma acção pessoal efectiva sobre essas coisas. Normalmente foca os lados menos bons da natureza humana, e deixa por mostrar a existência de boas intenções, responsabilidade e decência.

A cura passaria por notícias que se concentrassem em apresentar soluções ao invés de gerar indignação; despertar uma consciencialização para problemas sistémicos ao invés de enfatizar os bodes expiatórios e os monstros emblemáticos – e isso nos lembraria, frequentemente, que as notícias sobre as quais precisamos focar-nos veem das nossas próprias vidas e experiências directas.

 

  1. Aperfeiçoamento:

As sociedades modernas enfatizam que depende de nós sermos profundamente felizes, sanos e realizados. Como resultado, acabamos a detestar-nos, sentir-nos fracos e que estamos a desperdiçar a vida.

Uma cura seria uma cultura que promove permanentemente a ideia de que a perfeição não está ao nosso alcance – que esta, do ponto de vista mental, ligeiramente (e por vezes muito) tristonho é uma parte inescapável da condição humana e do que precisamos, acima de tudo, são bons amigos com quem podemos estar e conversar honestamente sobre nossos verdadeiros medos e vulnerabilidades.

As causas do sofrimento psicológico no nosso mundo são – actualmente – muito maiores e mais activas do que as curas que necessitamos. Nós merecemos muita pena pelo preço que pagamos por termos nascido nos tempos modernos. Mas, mais esperançosamente, as curas estão disponíveis de forma individual e colectiva, se reconhecermos, com clareza suficiente, as fontes das nossas verdadeiras ansiedades e tristezas.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de “How the modern world makes us mentally ill” – Alain de Botton

falar alto e bom som

Falar alto e bom som

Por vezes pode parecer terrivelmente claro que, simplesmente, ninguém liga, ninguém se importa. Mal dão conta da nossa presença, dificilmente se aproximam para ouvir o que temos a dizer, não apanham nenhuma das nossas deixas – e, estão extremamente absorvidos com os seus próprios projetos e preocupações do dia-a-dia.

Com base em tais evidências, é fácil para nós cairmos numa conclusão perigosamente condenadora e muito dolorosa sobre nossa situação: estamos profundamente sozinhos – muito longe de qualquer possibilidade de conexão ou compreensão.

Mas a verdade pode ser ao mesmo tempo bastante mais simples e mais esperançosa.

De uma maneira geral estamos bastante disponíveis para ajudar quando percebemos que é urgente fazê-lo, mas também estamos distraídos e ocupados com nossas vidas para conseguirmos ​ aperceber-nos que se passa algo com as pessoas que nos são próximas, a menos que o problema seja apresentado de forma menos intrincada e mais clara.

Então, mas só então, entramos em acção e fazemos uso de todas as nossas capacidades e determinação de lidar com o sofrimento das outras pessoas. Por outras palavras, respondemos bem aos berros, mas terrivelmente com o subentendido.

A questão toma outra proporção nos casos trágicos em que alguém que conhecemos põe termo à sua própria vida. Estamos certos de que se tivéssemos sabido que se sentiam tão desesperados, teríamos feito qualquer coisa para ajudar. Ao mesmo tempo, também sabemos que não fazemos muitas perguntas, não olhamos muito de perto para certos sinais, e certamente, damos a impressão de estarmos constantemente ocupados. Acabamos a sentir-nos, obviamente, destroçados.

Ganharíamos muito se tivéssemos em conta certos factos sobre a natureza humana sem rancor ou surpresa quando estamos mais frágeis e desesperados. A aparente indiferença dos outros é verdadeiramente aparente. Precisamos aprender a falar de modo que se oiça – até que se oiça.

Infelizmente, tendemos a não ter confiança para fazê-lo precisamente quando é mais necessário, devido a um constrangimento primitivo que se apodera de nós quanto estamos frágeis, como se cada ser humano tivesse que passar pela vida contando apenas consigo. Parte da tragédia de estar desesperado é sentirmos que o nosso sofrimento é ilegítimo.

No entanto, nunca devemos esquecer-nos que, seja qual for a indiferença que possamos sentir, estamos rodeados de pessoas que quando vêem alguém em perigo, se atiram ao mar para o salvar. Se sabemos de forma clara que alguém (mesmo apenas um conhecido) está a precisar muito de nós, provavelmente deixamos tudo e corremos para ajudar.

Mas, ao mesmo tempo, somos incapazes de ler mentes e interpretar indirectas. Da próxima vez que estivermos em dificuldades, devemos lembrar-nos de que não devemos sentir-nos diminuídos por pedir ajuda, sabendo que a maioria das pessoas que nos rodeiam responderá à nossa dor uma vez que a ouçam. Precisamos lembrar-nos de falar alto e bom som.

 

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de Alain de Botton

sociabilidade não é sinónimo de festa

Sociabilidade não é sinónimo de festa

A ideia de sociabilidade é hoje fortemente associada a encontrar prazer em ir e, com grande probabilidade, dar festas.

Ser sociável significa aceitar a ideia de estar numa sala repleta de pessoas, muitas delas desconhecidas, a maioria das quais com um copo na mão, as luzes mais fracas do que habitual, e música um pouco mais alta do que o necessário.

Construímos conexões genuínas quando ousamos trocar pensamentos em que nos expomos, e deixamos ver quem realmente somos.

As festas tornaram-se sinónimo de sociabilidade por causa de certas ideias subjacentes sobre o que a verdadeira conexão social pode requerer e implicar.

Assumimos que a sociabilidade surge naturalmente quando bastantes pessoas estão juntas numa sala;

o que implica falar muito e, com marcada alegria sobre coisas que acontecem nas nossas vidas, de forma inteligente – idealmente – recorrendo a piadas divertidas, e se possível, envolvendo coincidências marcantes.

No entanto essas suposições levantam duas grandes objecções.

Em primeiro lugar, a verdadeira sociabilidade – que é uma conexão real entre duas pessoas – quase nunca é construída através de conversas superficiais, mas é o resultado de mostrarmos as nossas vulnerabilidades ​​diante de outra pessoa, e partilhar que por vezes nos sentimos confusos e solitários, sem sabermos muito bem o que fazer da vida.

Construímos conexões genuínas quando ousamos trocar pensamentos em que nos expomos, e deixamos ver quem realmente somos.

Fazemos amigos reais através da partilha franca e sem censura.

Em segundo lugar, a verdadeira sociabilidade requer um contexto.

Geralmente estamos sobre tanta pressão para parecermos normais, autossuficientes e sólidos, que somos, compreensivelmente, levados a espontaneamente esconder o verdadeiro Eu.

O nosso funcionamento padrão é – sem que nada de sinistro possa ser retirado daqui – é fingir sobre quem somos e como realmente correm as nossas vidas.

Isto sugere que uma ocasião genuinamente social pode ser bastante diferente do que normalmente imaginamos.

Pensamos num “bom anfitrião” como alguém que garante que haja vinho suficiente e, num instante, garanta que as pessoas saibam os nomes umas das outras.

Mas no sentido profundo, um bom anfitrião é alguém que cria as condições para que os estranhos possam começar a sentir-se seguros para mostrar quem são junto dos outros.

Fazemos amigos reais através da partilha franca e sem censura.

Infelizmente, o mundo moderno parece particularmente resistente a qualquer coisa que pareça pouco natural no que diz respeito a festas.

O pensamento é simplesmente acondicionar a sala e deixar o resto acontecer.

Mas um compromisso com uma sociabilidade mais profunda pode levar-nos a reconhecer que dependemos de uma pequena coreografia artística para nos levar à zona psicológica onde as conexões se podem desenrolar.

Podemos precisar de incentivo para compartilhar um pouco do que é mais profundo em nós.

Precisamos da ajuda de ligações não apenas para encontrar novas oportunidades de investimento, mas para nos conectarmos mais profundamente e compartilhar sentimentos.

As festas, tal como estão actualmente estruturadas, constituem um astuciosa distorção por uma minoria, talvez apenas dez por cento da humanidade, para persuadir o resto de nós de que recebemos o contacto social que desejamos.

Na verdade, é preciso que uma pessoa seja bastante limitada e misantrópica para sentir que o que se passa normalmente numa festa possa ser considerado algo que permite uma ligação entre dois seres humanos.

Se tivermos terror de festas, devemos ser generosos em relação aos nossos sentimentos.

Isso não significa que não gostamos das outras pessoas, pelo contrário, temos uma concepção demasiado ambiciosa de contacto social para aguentar o que é oferecido na maioria das festas.

A marca de uma pessoa verdadeiramente sociável pode, em muitas situações, ser simplesmente um forte desejo de ficar em casa.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de “Why Truly Sociable People Hate Parties” – Alain de Botton

the need to be alone psicoterapia

A necessidade de estar sozinho

Uma vez que a nossa cultura atribui um valor muito alto à sociabilidade, pode ser particularmente estranho ter de explicar o quanto

– em certos momentos – precisamos estar sozinhos.

Nós, os sufocados, sem tempo para nós mesmos, damos uma enorme importância às outras pessoas.

Escutamos atentamente as suas histórias, entregamo-nos e respondemos com emoção e empatia.

Ao longo do tempo fomos sendo afastados dos nossos próprios processos de pensamento-

As inúmeras exigências externas impedem-nos de escutar os nossos receios.

A pressão de uma alegria superficial é suficiente para negar a legitimidade dos nossos estados internos latentes – e, uma camada de senso comum achata as nossas peculiaridades e desejos.

Os momentos em que estamos sozinhos podem ser uma condição prévia para se ser um amigo melhor e um companheiro verdadeiramente atento.

Precisamos estar sozinhos porque a vida junto das outras pessoas desenrola-se muito rapidamente.

O ritmo é implacável: as piadas, os insights, as emoções.

Às vezes, para cinco minutos de vida social necessitamos de uma hora para reflectir.

É uma peculiaridade das nossas mentes que nem todas as emoções que nos impactam são, de uma vez, totalmente reconhecidas, compreendidas ou mesmo – por assim dizer – verdadeiramente sentidas.

Depois de passarmos tempo com os outros, há uma miríade de sensações que permanecem numa forma “não processada” dentro de nós.

É possível que alguém tenha tocado num assunto que nos deixou ansiosos, provocando pequenos impulsos para fazermos mudanças nas nossas vidas.

Talvez uma brincadeira tenha mexido em sentimentos desconhecidos que vale a pena descodificar e compreender.

Talvez alguém tenha disparado subtilmente um dardo agressivo contra nós, e não tivemos a possibilidade de reconhecer o ferimento.

Precisamos de algum tempo de tranquilidade para consolar-nos, formulando uma explicação sobre a origem do que sentimos.

Somos mais vulneráveis ​​e temos uma pele mais macia do que somos encorajados a imaginar.

O recolhimento em nós mesmos pode ser interpretado como falta de disponibilidade para o outro, mas os nossos momentos solitários são, na realidade, uma homenagem à riqueza da existência social.

Se não tivéssemos tempo para estarmos sozinhos, não teríamos opiniões originais, nem perspectivas vivas e autênticas.

Somos atraídos pela solidão, não porque desprezamos os outros, mas porque respondemos adequadamente ao que a companhia dos outros implica.

Largos momentos sozinhos podem, na realidade, ser uma condição prévia para se ser um amigo melhor e um companheiro verdadeiramente atento.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de “The need to be alone” – Alain the Botton

psicoterapeuta pedro martins

Sonhar Acordado

Tendemos a nos repreender por olhar pela janela. Devias estar a trabalhar, a estudar, ou a fazer uma lista de tarefas. Pode parecer quase uma definição de tempo desperdiçado. Parece não produzir nada, não ter um propósito. É equiparado ao tédio, à distracção e à futilidade. O acto de colocar o queixo nas mãos junto de uma janela e deixar os olhos vaguear não goza de muito prestígio. Não andamos a dizer: “Eu tive um excelente dia: o ponto alto foi olhar pela janela”. Mas talvez numa sociedade melhor, esse é o tipo de coisa que as pessoas diriam umas às outras.

A questão do olhar através de uma janela é, paradoxalmente, não descobrir o que está a acontecer lá fora. É, antes, um exercício para descobrir o conteúdo das nossas próprias mentes. É fácil imaginar que sabemos o que pensamos, o que sentimos e o que se está a passar nas nossas cabeças. Mas raramente o fazemos inteiramente. Há uma grande parte daquilo que somos que circula inexplorado. O seu potencial está por explorar. É uma parte tímida que não surge sob a pressão do questionamento directo. Quando nos deixamos levar, o olhar pela janela oferece uma maneira de ouvir as sugestões mais silenciosas e as perspectivas das nossas partes mais profundas.

Platão sugeriu uma metáfora para a nossa mente: as nossas ideias são como pássaros pulsando na passareira dos nossos cérebros. Mas, para que as aves se estabelecessem, Platão entendeu que precisávamos de períodos de calma, livres de um propósito. Olhar pela janela oferece essa oportunidade. Nós vemos o mundo acontecer mas não precisamos de responder; não temos uma intenção particular e, portanto, as nossas partes mais profundas têm a possibilidade de serem ouvidas, como os sinos das igrejas, quando a cidade adormece.

O potencial de sonhar acordado não é reconhecido pelas sociedades obcecadas com a produtividade. Mas algumas das nossas maiores ideias surgem quando deixamos de nos sentir pressionados e, em vez disso, respeitamos o potencial criativo do devaneio. Sonhar acordado é uma rebelião estratégica contra as pressões imediatas (mas, de facto, insignificantes) – em favor da busca difusa, mas muito séria, do nosso Self.

psicoterapeuta

A importância da Vulnerabilidade

Há aspectos nossos que ao serem expostos a uma crítica pouco simpática podem resultar em humilhação.

Visto de perto nenhum de nós é impressionante. Ficamos acanhados, agitados, irritáveis e mal-humorados.

Sobre a pressão de certas situações gritamos, batemos com as portas e deixamos sair os nossos lamentos.

Vamos contra portas de vidro e damos quedas aparatosas na rua, aumentando a nossa colecção de episódios constrangedores.

Estamos constantemente preocupados como os outros nos vêem.

Desejamos o amor, mas somos distantes e pouco sensíveis com aqueles que nos são próximos.

Somos desajeitados nos nossos esforços para seduzir e dignos de pena na busca de atenção.

Os nossos corpos estão cheios de minudências e vulnerabilidades. De certos ângulos somos verdadeiramente embaraçosos.

Lutamos para esconder todas essas coisas. O nosso idiota interno é monitorizado com muito cuidado e implacavelmente silenciado.

Aprendemos desde os primeiros anos que a prioridade, quando se trata de vulnerabilidade, é disfarçá-la completamente. Sem arrependimento usamos o que podemos para parecer serenos, para apagar evidências das nossas tontices e para tentar aparentar sermos muito mais “normais” do que achamos que somos.

Estamos constantemente preocupados como os outros nos vêem.

Estamos, compreensivelmente, muito focados nas partes más da vulnerabilidade.

No entanto, a vulnerabilidade tem lados muito profundos e significativos.

Há momentos em que revelar fraquezas, longe de ser uma catástrofe, é a via para criar uma conexão.

Em certas situações podemos arriscar explicar, com rara franqueza, que estamos com medo, que às vezes nos sentimos mal e que fizemos muitas coisas disparatadas.

E ao invés de afugentarmos o outro, essas revelações podem servir para que nos vejam como mais humanos e, quem sabe, sentir que as suas próprias vulnerabilidades têm eco na vida dos outros.

Noutras palavras, as vulnerabilidades podem ser a primeira pedra de uma amizade, uma amizade propriamente dita, e não apenas um processo de admiração mútua, como troca de simpatias e consolos perante as dificuldades da vida.

Também há, é claro, formas más de lidar com a vulnerabilidade:

– Quando de forma agressiva impomos aos outros ajuda, ou quando as nossas falhas se repetem constantemente, ou quando ficamos mais perto da raiva ou da histeria, do que da tristeza e da melancolia.

A vulnerabilidade tem lados muito profundos e significativos.

A boa vulnerabilidade não espera que a outra pessoa resolva as nossas dificuldades.

Nós deixamos que eles vejam uma parte complicada de quem somos, simplesmente, na esperança que eles se sintam encorajados e mais confortáveis com eles mesmos para mostrar as partes que costumam esconder.

A boa vulnerabilidade é fundamentalmente generosa:

– Precisa do primeiro passo para ser revelada, assim como para torná-la mais segura para que as outras pessoas possam libertar-se e revelar algo do seu próprio Eu. É um presente em forma de um risco tomado por outra pessoa.

Para além disso, mostrar a vulnerabilidade é uma forma curiosa de mostrar quem nós somos, pois apesar das coisas embaraçosas, estamos longe de sermos vistos como ridículos ou dignos de pena.

Somos, pelo contrário, fortes o bastante para sermos fracos.

Deixamos que os nossos disparates e idiotices, a nossa raiva e a nossa tristeza sejam vistas, com a confiança de que essas características não têm que ser o veredicto final de quem nós somos.

É uma pequena tragédia gastar tanto tempo das nossas vidas a lutar para esconder as fraquezas, quando compartilhar abertamente a nossa vulnerabilidade é a via para que a amizade e amor possam acontecer.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
A partir de Alain de Botton “The importance of vulnerability”

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