Autor: <span>Pedro Martins</span>

psicoterapia

Transtorno Obsessivo-Compulsivo

Os obsessivos são extremamente ordenados e escrupulosos.

Desta forma procuram controlar ao mínimo pormenor tudo aquilo que pudesse relacionar-se directa ou indirectamente com os seus problemas.

O excesso de controlo, domínio de si próprio e do outro é uma uma das características fundamentais da neurose obsessiva.

Estes pacientes encontrarem-se submetidos a certas ideias ou pensamentos fixos ou à necessidade compulsiva de executar actos que despertam neles reacções emocionais intensas e cujo significado profundo não chegam a compreender.

Os obsessivos procuram controlar ao mínimo pormenor tudo aquilo que possa relacionar-se com os seus problemas.

As obsessões surgem por imposição de uma necessidade interna, sentindo-se obrigados a respeitá-las, às vezes, sob coação de uma angústia irreprimível.

Na neurose obsessiva há um hiperinvestimento do pensar – ruminação ideativa, indecisão e dúvida sistemática; omnipotência das ideias, superstição e recurso a fórmulas mágicas.

Este hiperinvestimento do pensamento é um reflexo do contra-investimento (como bloqueio do impulso de agir), que se evidencia na riqueza de formações reactivas que o obsessivo apresenta: parcimónia, delicadeza.

Os sintomas com que mais vulgarmente o obsessivo expressa os seus conflitos são:

– dúvidas, cismas, obsessões de contraste (o aparecimento de pensamentos obscenos durante uma prece), ideias compulsivas, mania da limpeza, tendência exagerada para a ordem e para a simetria, medos de contacto, fobias, superstições, etc.

Traços de carácter: forte teimosia ou obstinação, tendências exageradas para a poupança e extrema disposição para a ordem.

Nos obsessivos há um hiperinvestimento do pensar – ruminação ideativa, indecisão e dúvida sistemática

O obsessivo caracteriza-se, ainda, pela utilização de mecanismos de defesa específicos.

Entre os mais importantes pode destacar-se o da formação reactiva, que está profundamente enraizado na sua personalidade e com o qual procura opor-se à sua culpa, às suas hostilidades e às suas agressões inconscientes.

Isto pode dar lugar, por exemplo, a um comportamento permanentemente exagerado de amabilidade e cortesia.

O isolamento é o mecanismo por meio do qual se tende a separar ou distanciar aquelas pessoas, pensamentos ou objectos que por diversos motivos inconscientes não podem estar juntos nem tocar-se.

O mecanismo de anulação é um dos mais comuns e talvez o exemplo mais conhecido seja a “lavagem compulsiva” como forma de anular uma acção prévia (real ou fantasiada) vivida como “ter-se sujado”.

Ou seja, a culpa persecutória, por ter realizado ou fantasiado uma má acção, uma “porcaria”, tem tendência a reparar-se através da lavagem das mãos.

O obsessivo, por outro lado destaca-se em geral pelo grande desenvolvimento intelectual e pela sua aguda inteligência.

Mas a sua mentalidade encontra-se perturbada pela persistência de traços mágicos e ideias supersticiosas provenientes da época da omnipotência e da magia infantil.

Bibliografia:

Culpa de Depressão – León Grinberg

Breves considerações sobre a neurose obsessiva – A. Coimbra de Matos

psicoterapia

O direito a estar triste. Entre a tristeza e a paixão

“Há um fenómeno social, que se vê muito na família e na escola, e que a mim me impressiona particularmente, que é o não reconhecimento por parte dos adultos que as crianças têm direito de estar tristes, ou a ter tristezas, ou a ter desgostos, ou a sofrer com as suas tristezas.”

A recusa do adulto em reconhecer a tristeza da criança corresponde à recusa do adulto em reconhecer a sua própria tristeza infantil e até a sua tristeza actual.

Quer dizer, ele também foi vítima disso, ele também teve tristezas que teve de esconder, que teve de disfarçar, que teve de resolver de uma certa maneira, porque os adultos, no seu tempo de criança, também já não lhe concediam o direito à sua tristeza.

Porque a tristeza conduz a uma reflexão sobre a própria pessoa, sobre o próprio eu, leva-nos a olhar para dentro e a procurarmos ver o que se passa dentro de nós.

Enquanto, que na paixão, por exemplo, a pessoa está toda voltada para fora e só vê o objecto amado, o objecto de amor.

Quando se está apaixonado por uma pessoa, ou por uma ideia, ou seja lá o que for, a pessoa está toda voltada para fora.

Na tristeza, pelo contrário, a pessoa está toda voltada para dentro.

E na cultura ocidental nós recusamos muito a depressão, ao contrário do que acontece muito com os orientais que aproveitam muito para meditar, para pensar, para reflectir, para atingir o discernimento das coisas.

A palavra discernimento creio que significa compreender sentindo.

Corresponde mais a descobrir do que propriamente a compreender no sentido racional.

E a tristeza dá um discernimento, uma compreensão, nesse sentido, de que aliás todos nós nos apercebemos se voltarmos um pouco atrás e virmos o que foi a nossa vida.

A pessoa cresce, desenvolve-se e aperfeiçoa-se à custa desses movimentos de voltar para fora e de voltar para dentro o seu olhar.

Vemos que os momentos de tristeza nos conduziram a modificações importantes na vida.

Muitas vezes há essa reflexão, esse olhar para dentro de que às vezes a gente não se apercebe, de que não damos conta por isso, mas a verdade é que ele existe, porque a pessoa está voltada para dentro.

Nessas alturas, quer seja na adolescência quer seja na idade adulta, está de facto, a reflectir sobre todos os seus problemas, os mais íntimos, os mais pessoais, e menos voltada para as coisas de fora e para os problemas dos outros.

Esse discernimento corresponde mais a um fazer-se luz dentro de nós e portanto a compreendermo-nos melhor através de um fechar de olhos ao que está para fora e voltar o nosso olhar, a nossa compreensão das coisas para dentro.

Isso na infância é fundamental para que a pessoa cresça.

A pessoa cresce de facto, desenvolve-se, aperfeiçoa-se à custa desses movimentos de voltar para fora e de voltar para dentro o seu olhar.

De uma certa maneira são, movimentos de paixão e movimentos de tristeza.”

“Eu agora quero-me ir embora”
João dos Santos
Conversas com
João Sousa Monteiro

Narcisismo Normal e Patológico Pedro Martins Psicoterapeuta

Narcisismo Normal e Patológico

Existe um narcisismo normal, útil, baseado num amor são para consigo mesmo, que facilita o desenvolvimento de um amor são para com o outro e que implica uma protecção psíquica e somática.

O Eu deste tipo de narcisismo mostrará capacidade para gratificar e ser gratificado, e para reparar e elaborar lutos pelas perdas.

Por outro lado, há um narcisismo patológico em que predominam a inveja e a agressão para com o outro e para com o Self, que se reforça em função da atitude do ambiente familiar para com a criança.

Quando esta atitude é predominantemente negativa, aumenta a ferida narcísica e intensifica-se a patologia, com diminuição da auto-estima, aparecimento de afectos destrutivos e persecutórios, humilhação, difamação e desamparo, aos quais a criança pretende resistir com omnipotência e megalomania.

Bibliografia: Culpa e Depressão – Léon Grinberg

Psicoterapia

O Sintoma em Psicoterapia

Em psicoterapia o sintoma tem um estatuto diferente daquele que vulgarmente lhe é atribuído.

O que é um sintoma?

Se um paciente se queixa de depressão, falta de desejo sexual ou de incapacidade de pôr termo a uma relação onde é vítima de um parceiro violento, qual é o sintoma?

O sintoma não é necessariamente aquilo de que se tem consciência.

Talvez seja mais apropriado chamar-lhe queixa, que não deve ser confundida com sintoma.

Segundo Mezan, “a queixa” traduz uma percepção que o indivíduo tem sobre si mesmo, uma “teoria” a seu respeito que, como qualquer produção psíquica, deve ser tratada com respeito.”

No entanto, nada indica que essa “teoria” esteja de acordo com os “reais” significados.

Por outro lado, o sintoma, por norma, apresenta-se como absurdo; o paciente não consegue perceber a sua razão de ser nem de onde ele provém.Se soubesse, provavelmente, não recorreria a um psicólogo.

O sintoma é sentido como absurdo porque encontra-se desconectado da restante vida mental.

Perante a impossibilidade de estabelecer essa conexão o sujeito desenvolve uma teoria para dar sentido ao seu sintoma.

Factos improváveis, mas plausíveis, são usadas para explicar/justificar o sintoma.

Portanto, numa psicoterapia, perante o sintoma, não deve ter-se a mesma atitude que a medicina.

O médico procura aliviar ou remover o sintoma que perturba a saúde do paciente. Neste caso o paciente não é “sujeito do seu mal”, mas “vítima”.

Do psicólogo espera-se que estabeleça as condições para que o paciente, ao seu ritmo, possa criar novas conexões que lhe permitam uma compreensão mais profunda da situação e de si, e ao mesmo tempo, o extinguir dos sintomas.

A insensibilidade dos Terapeutas perante os Pacientes

“A insensibilidade do analista (maneira afectada de cumprimentar, exigência formal de “contar tudo”, a atenção dita flutuante que, afinal, não o é e certamente não é apropriada para as comunicações dos analisandos, impregnadas que estão de sentimentos e frequentemente trazidas com grande dificuldades) tem por efeito:

(1) o paciente sente-se ofendido pela falta ou pela insuficiência de interesse;

(2) como ele não quer pensar mal de nós, nem nos considerar desfavoravelmente, procura a causa dessa não-reacção nele mesmo, ou seja, na qualidade daquilo que nos comunicou;

(3) finalmente, duvida da realidade do conteúdo que antes estava tão próximo do sentimento.”

Entre os inúmeros exemplos sobre aspectos técnicos subjacentes à prática clínica, a escolha do primeiro parágrafo do Diário Clínico de Sándor Ferenczi (7 de Janeiro de 1932) prende-se com o facto de se tratar de um dos primeiros testemunhos sobre a “obrigatoriedade” de dar ao espaço terapêutico autenticidade.

Como refere Kupermann “A noção de sensibilidade, oriunda do campo da estética, é empregue por Ferenczi no seu sentido rigoroso como a capacidade de afectar e de ser afectado pelo outro, e não no sentido coloquial, que poderia remeter-nos às ideias de plácida benevolência ou de compreensão ilimitada e passiva etc., que foram apressadamente associadas a sua figura. A insensibilidade ou a hipocrisia é, assim, a principal figura do álibi passível de ser empregue pelos analistas para escapar das duras consequências do acto analítico.”

mudança psíquica

Mudança Psíquica no Processo Terapêutico

Mudança Psíquica

O que chamamos de carácter (Cordech, 2010) de uma pessoa, a sua maneira de ser, a forma como se comporta perante a vida e com os outros em geral depende deste estrato profundo da mente, cujo conjunto é o que consideramos o inconsciente de procedimento ou não reprimido.

E é este nível básico da vida mental que é modificado mediante a interacção e a experiência intersubjectiva que o paciente e terapeuta vivem durante o processo terapêutico, produzindo-se, como consequência disto, a mudança psíquica.

Isto não deveria causar-nos estranheza, pois é totalmente espectável que a mente que foi estruturada através da interacção do sujeito com o meio ambiente, apenas possa, através da interacção, ser modificada. (Loewld, 1960, 1979).

 

 

Realidad, Interracción y cambio psíquico
La prática de la psicoterapia relacional
Joan Coderch de Sans

Auto-suficiência: o outro lado

– Ninguém sabe como eu me sinto, ninguém se interessa…
– Já disseste a alguém como te sentes?

A expectativa de que os outros saibam como nos sentimos sem termos de o expressar, na maioria das vezes, não se concretiza.

A narrativa acaba por ser: “Não se interessam, não gostam de mim …”

O desejo de ser compreendido e que o outro venha ao nosso encontro sem necessidade de o expressarmos encontra paralelo na infância precoce onde a mãe antecipa os desejos/necessidades da criança e as satisfaz. Excluindo este “fenómeno” que resulta de uma profunda ligação mãe-bebé (que se desfaz gradualmente), a criança vai desde o início manifestando as suas necessidades e procurando pelos meios que dispõe que elas sejam satisfeitas.

Quando as coisas não correm bem nesta fase do desenvolvimento, a criança – amanhã adulto – vai-se fechando sobre si própria e reforçando a crença que pode, essencialmente, contar consigo mesma.

Se para algumas pessoas é difícil pedir ajuda, para outras isso é quase impossível. Sentem que pedir é uma espécie de pedinchar, sinónimo de pequenez, e nesse sentido, exposição de uma falha, de uma fragilidade que é necessário ocultar.

Quando pedem ajuda fazem-no de uma forma tão atabalhoada que por vezes mais parece que os outros é que sentem necessidade de os ajudar.

O receio de pedir e não receber não só expõe o sentimento de insuficiência como o pode ampliar.

Então, numa espécie de vitória invertida aguentam estoicamente em silêncio ao mesmo tempo que desenvolvem sentimentos hostis em relação ao outro que “não se interessa”.

Desta forma vai-se ampliando a distância, quando a proximidade é – e sempre foi – o maior desejo.

jung

Psicoterapia: A teoria e o terapeuta

“Conheça todas as teorias. Domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana.” Carl G. Jung

 

Por vezes contactam-me com o intuito de saber qual é a orientação que eu sigo em psicoterapia. É muito ingrato ter que responder a uma questão que está colocada ao contrário, e que se for respondida nos termos em que me é feita acabo por reforçar a ideia de que são as teorias que ajudam as pessoas.

 

De qualquer forma, tento clarificar a questão, sublinhando que mais importante do que procurar teorias é procurar psicoterapeutas. Esse é o factor essencial. As teorias devem ser deixadas para segundo plano.

 

“Considerar primário aquilo que é secundário é a raiz de todos os erros.” Meister Eckhart

 

P.S. – Num próximo post abordarei a questão: Porque andam as pessoas à procura de teorias ao invés de procurarem pessoas?

P.S. – É claro que as teorias não são todas iguais.

masturbação

Masturbação (?)

Recentemente, em casa de uns amigos, passou-se o seguinte:

O filho deles andava aos saltos de um lado para o outro, mas a mão, raramente se desprendia dos calções.

Não estará com vontade de fazer chichi, alguém perguntou. Descontraidamente, o pai respondeu, “está entretido…”

A manipulação dos órgãos genitais está associada à masturbação, mas para ser considerada masturbação falta o essencial, a fantasia.

A masturbação com um verdadeiro significado sexual é praticada em segredo, às escondidas e não no meio da sala onde todas as pessoas podem ver.

Os pais apercebem-se do que está acontecer e, felizmente, a maioria faz vista grossa à exploração que a criança faz do corpo.

Naturalmente, descobre que há partes mais agradáveis que outras.

Provavelmente, passa mais despercebido, mas é habitual encontrar-se crianças entretidas com o lóbulo da orelha ou a fazer caracóis com o cabelo.

Destituir de qualquer tipo de significado a manipulação dos genitais é cair no oposto.

Esta exploração passageira do corpo liga-se com emoções e fantasias vagas que prepara a sexualidade adulta.

Nos adultos a vida sexual infantil está reprimida, esquecida, sendo que muitos ficam angustiados com esta fase dos seus filhos, e são excessivamente severos em relação a este comportamento.

É importante que os pais/educadores possam entender e aceitar esta fase como fazendo parte do desenvolvimento, e preparação para uma vida sexual adulta e satisfatória.

mudança psíquica

Mudança Psíquica em Psicoterapia

Segundo Mitchell, a mudança psíquica obtém-se quando o psicoterapeuta encontra uma forma de participar que o paciente experimenta como fresca e nova, distinta de tudo o que tinha escutado até então.

Uma forma em que o terapeuta viva, simultaneamente, as suas próprias experiências e as do paciente; uma forma na qual paciente e terapeuta encontram uma nova via de conexão emocional.

As ideias de Mitchell estão de acordo com as minhas convicções de que nada podemos compreender do outro desde fora, porque nesse caso só vamos perceber a partir dos nossos próprios pressupostos, teorias e valores.

Para entender o paciente, o terapeuta tem que implicar-se profunda e emocionalmente com ele, vivendo a partir de dentro e sentindo com ele.

 

Realidad, Interracción y Cambio Psíquico
La prática de la psicoterapia relacional II
Joan Coderch de Sans

Pensamento mágico. Pedro Martins Psicólogo clínico Psicoterapeuta

Pensamento Mágico

O termo pensamento mágico designa o pensamento que se apoia numa fantasia de omnipotência para criar uma realidade psíquica …

Identificação Projectiva. Pedro Martins - Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Identificação Projectiva

Em situações desconfortáveis com outra pessoa, por vezes é difícil saber de onde vem o desconforto, de nós ou do outro. …

Adoecer Mentalmente. Pedro Martins Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Adoecer Mentalmente

Adoecer Mentalmente: Durante bastante tempo podemos conseguir lidar suficientemente bem com as coisas. Conseguimos ir trabalhar …