Autor: <span>Pedro Martins</span>

Por que é tão importante desenvolver uma vinculação?

A vinculação não é importante, é vital.

No momento do nascimento, o recém-nascido é cem por cento imaturo, o que nos torna dependentes da nossa mãe ou da pessoa encarregue de cuidar de nós.

A figura principal de vinculação, geralmente a mãe, é a responsável por satisfazer as necessidades básicas do recém-nascido (fome, protecção, calor, sono, etc.).

Não é apenas uma questão de melhorar a vida da criança, mas permitir que ela sobreviva.

Os estudos científicos e a prática clínica levam-nos a concluir que os bebés e as crianças que tiveram figuras de vinculação que atendiam às suas necessidades são:

Mais auto-confiantes, mais autónomas, têm uma boa capacidade de resolução de conflitos, são mais resilientes, têm uma auto-estima maior, são valorizados no trabalho, nos relacionamentos e com os amigos. Enfim, são mais felizes.

Existem coisas importantes que uma figura de vinculação deve ter em conta:

– Explicitar o seu amor à criança

– Incentivar a sua autonomia

– Legitimar as emoções e ajudar a geri-las

– Dedicar tempo de qualidade aos filhos

– Atender às necessidades dos filhos

– Protegê-los de situações perigosas de maneira equilibrada (sem serem super-protectores)

– Estabelecer limites claros e respeitosos

 

Os adolescentes que têm um apego seguro tendem a ter uma auto-estima alta

 

É importante notar que a ideia de quanto mais melhor, é falsa. As crianças precisam apenas de estímulo suficiente.

Foi demonstrado que os adolescentes que têm uma vinculação segura tendem a ter uma auto-estima alta, enquanto os adolescentes que têm uma vinculação insegura tendem a ter uma auto-estima mais baixa.

Isso é generalizável para qualquer estágio vital. John Bowlby, pai da teoria da vinculação, referiu que a auto-estima de uma pessoa está intimamente relacionada com o seu estilo de apego.

 

Vinculação Insegura

As consequências de uma vinculação insegura são terríveis e para toda a vida, a menos que algo seja feito para repará-la.

Existem diferentes estilos de apego inseguro, mas, em geral, as consequências da falta de protecção ou a superprotecção e a não promoção da autonomia são:

A dificuldade ou incapacidade de ser autónomo em diferentes áreas da vida

Baixa auto-estima

Um sentimento constante de desprotecção

Autocrítica constante

Ansiedade, somatização, medos, insegurança

Incapacidade de regular as suas próprias emoções

Dificuldade em ser empático

Maior probabilidade de desenvolver uma adição

Dependência emocional.

 

Para especificar um pouco mais, as pessoas que têm uma vinculação insegura do tipo evitante têm medo da intimidade e da proximidade.

Enquanto na vinculação insegura do tipo ansioso ambivalente, a pessoa é insegura e pouco autónoma, necessitando de outras pessoas para desenvolver os seus projectos de vida.

 

A reparação da vinculação só pode ser feita num relacionamento vertical.

 

A vinculação insegura evitante é normalmente fruto de pais autoritários, enquanto a vinculação ansiosa ambivalente é mais frequente em ambientes superprotetores, onde não há promoção da autonomia.

 

 Razões para o aumento da vinculação insegura

Primeiro, destacamos a falta de tempo que os pais passam com os filhos.

Entre outras coisas, é resultado dos horários de trabalho e da hiperestimulação em que estamos imersos.

Tudo isto dificulta a dedicação de tempo de qualidade aos filhos.

Em segundo lugar, encontramos crianças que são super-protegidas ou que se desenvolvem em contextos de desprotecção.

Ambos os estilos educacionais têm consequências muito semelhantes.

Outros aspectos que influenciam são o ritmo vertiginoso a que as crianças estão sujeitas (em resultado de uma sociedade hiperactiva), ausência de limites, modelos parentais rígidos e autoritários em que não é permitida a expressão de emoções, superestimulação, uso abusivo das novas tecnologias em detrimento da conexão social e emocional.

 

Reparar a vinculação insegura

A vinculação insegura pode ser reparada, pois o cérebro é orientado e tende para a saúde mental. Por isso vamos sempre a tempo de reparar um apego inseguro.

Um aspecto essencial para a reparação da vinculação é que ela deve ser feita num relacionamento vertical, ou seja, não pode ser realizada pelos nossos amigos ou parceiros (relacionamentos horizontais).

As Relações verticais ocorrem em contextos psicoterapêuticos.

É claro que um amigo, um parente e um relacionamento podem trazer muitos aspectos positivos, mas não é possível reparar uma vinculação nesses contextos, somente em relacionamentos verticais (psicoterapeuta-paciente).

Adaptado por Pedro Martins a partir de uma a entrevista a Rafael Guerrero

A Satisfação Conjugal Depende do Desejo Sexual das Mulheres - Pedro Martins Psicoterapeuta/Psicólogo Clínico

A Satisfação Conjugal Depende do Desejo Sexual das Mulheres

O declínio do desejo sexual nas mulheres prediz menor satisfação para ambos os parceiros.

O casamento é projectado para consolidar a permanência de um relacionamento, no entanto, muitos cônjuges ficam insatisfeitos com o casamento.

Os pesquisadores identificaram uma (outra) fonte potencial dessa insatisfação:

– Uma incompatibilidade na forma como os desejos sexuais dos casais mudam ao longo do tempo (McNulty et al., 2019).

McNulty e os seus colegas avaliaram, em casais heterossexuais recém- casados, o desejo sexual, a frequência, a satisfação conjugal e outras dimensões, como o stress e sintomas depressivos.

Eles também observaram se os recém-casados ​​tiveram filhos no decorrer do estudo.

Em dois estudos longitudinais (um de um ano e outro de quatro anos), os pesquisadores descobriram que em média, os níveis de desejo sexual das mulheres eram não apenas inferiores aos dos homens no início dos seus casamentos, mas também com muito mais variações ​​que nos homens.

Os níveis de desejo sexual dos homens permaneceram mais altos e mais constantes que os das mulheres ao longo dos dois estudos.

Além disso, declínios do desejo sexual das mulheres prediziam um declínio na satisfação conjugal nos dois membros do casal.

Curiosamente, embora a libido das mulheres tenha diminuído ao longo do tempo, a frequência das relações sexuais dos casais não diminuiu.

Isto sugere que as mulheres, provavelmente, tinham relações sexuais mesmo quando não o desejavam.

Como os dados foram recolhidos ao longo do tempo, os autores também avaliaram a possibilidade inversa – que a satisfação conjugal em declínio era preditiva de menos desejo sexual. No entanto, isso não foi suportado pelos dados.

 

Em média os níveis de desejo sexual das mulheres são inferiores aos dos homens.

 

Para os casais que tiveram filhos durante o decorrer do estudo, o desejo sexual das mulheres diminuiu ainda mais acentuadamente, mas o dos homens ainda tendia a permanecer estável.

No entanto, os autores enfatizam que, como os casais sem filhos também apresentaram declínios, a paternidade não é o único factor a influenciar a libido das mulheres e a satisfação conjugal dos casais.

Os autores sugerem que o desejo sexual nas mulheres pode funcionar não apenas para facilitar a reprodução, mas também para favorecer a ligação dos casais.

Eles especulam que, uma vez casadas, as mulheres podem não sentir uma necessidade tão grande de sexo para garantir o vínculo com os maridos.

Os pesquisadores referem que os resultados podem ser diferentes em casais homossexuais. Em futuros estudos é importante considerar outros grupos e culturas.

Além disso, os casais do estudo eram todos recém-casados; portanto, os autores acreditam que as correlações podem mudar para casais mais velhos ou não-casados.

Os pesquisadores também recomendam estudar os factores que podem prevenir/impedir o declínio do desejo nas mulheres, como “estar mais disposto a reconhecer e a responder às necessidades sexuais de um parceiro, tendo consciência que o sexo dá trabalho e o desejo tem flutuações”.

Referem que uma incompatibilidade no desejo sexual nos casais é normal e típico e os casais podem procurar resolver esses problemas com um terapeuta.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de :

Relationship Satisfaction Is Closely Tied to Women’s Sexual Desire – Madeleine A. Fugère

Pensa que a Dor Crónica é puramente física? Pedro Martins - Psicólogo Clínico/Psicoterapeuta

A dor crónica é puramente física?

A dor crónica não é simplesmente uma questão biomédica – é também psicológica e social.

Embora o British Journal of Medicine faça referência a um problema grave no que diz respeito à dor crónica e ao consumo de opioides nos Estados Unidos (Mackey & Kao, 2019), outros países enfrentam problemas semelhantes.

A dor crónica (DC); dor que dura três ou mais meses ou além do tempo de cura esperado, é uma epidemia que afecta actualmente milhões de pessoas.

A DC pode deixar vidas em pausa, uma vez que impede a pessoa de trabalhar, exercitar-se, ter relações sexuais, hobbies ou até sair de casa.

Uma razão pela qual nos encontramos nesta situação deve-se ao facto de a dor ser historicamente enquadrada como um problema “biomédico”.

Portanto, foi tratado principalmente com soluções biomédicas, como comprimidos e procedimentos médicos. No entanto, a dor crónica não está a ser tratada.

As taxas de dependência de opioides aumentam rapidamente e a prevalência de dor crónica continua a subir (Nahin et al., 2019).

Embora isso não signifique que se deva tirar os medicamentos das mãos de pessoas que sofrem de dor a longo prazo – o que é anti-ético na melhor das hipóteses e cruel na pior -, mas, claramente, algo tem mudar.

Graças aos recentes avanços da ciência e da medicina, agora entendemos a dor melhor do que nunca.

Pesquisas sobre manejo e tratamento da dor avançam diariamente, e os erros anteriores estão a ser corrigidos.

 

A dor “física” também é, – sempre -, afectada pelas emoções.

 

Para entender melhor a dor, vamos primeiro defini-la:

É uma “experiência sensorial e emocional desagradável”. Dito de outra forma, a dor é física e emocional 100% do tempo. Nunca é apenas emocional ou física.

Isto é confirmado por pesquisas em neurociência que indicam que a dor é processada por várias partes do cérebro, incluindo o sistema límbico – unidade responsável pelas emoções (Martucci & Mackey, 2018).

A dor “física” também é, – sempre -, afectada pelas emoções.

Por que temos dor?

A dor serve como sistema de resposta a perigos no corpo, mantendo-nos seguros e vivos, alertando-nos sobre possíveis riscos, e ensina-nos a evitar situações perigosas.

Quando queimamos a mão numa coisa quente, as probabilidades de aprender com esse acidente e não o repetirmos são altas.

Se torcemos um pé numa corrida, a dor leva-nos a parar, procurar ajuda e tratar o pé.

Você pode razoavelmente acreditar que a dor está localizada exclusivamente no corpo, na parte que dói.

Mas enquanto as informações sensoriais do corpo são críticas para o processamento da dor, ela é, realmente, construída pelo cérebro.

A evidência disso está na condição designada por “dor fantasma” nos membros, na qual uma vítima de um acidente perde um membro e continua a sentir uma dor enorme na parte do corpo que não está lá.

Se a dor estivesse localizada exclusivamente no corpo, a ausência de um membro deveria significar ausência de dor.

 

A dor serve como sistema de resposta a perigos no corpo, mantendo-nos seguros e vivos.

 

Também é razoável acreditar que a dor se deve exclusivamente a problemas biológicos com base no corpo, conforme sugerido pelo modelo biomédico (por exemplo, “o problema está nos tecidos”).

No entanto, o que sabemos actualmente – e na verdade, sabemos há décadas – é que a dor não é biomédica, mas biopsicossocial (Gatchel, 2004).

Isso significa que há três domínios sobrepostos (igualmente importantes), a termos em conta, se queremos tratar efectivamente a DC: biologia, psicologia e o funcionamento social.

O domínio biológico, geralmente, recebe mais atenção, mas restam dois terços do modelo.

Os factores psicossociais, essenciais para o tratamento eficaz, são frequentemente ignorados.

 

A pesquisa revela que as emoções negativas, pensamentos catastróficos e comportamentos pouco saudáveis exacerbam a dor crónica

 

O domínio psicológico da dor inclui pensamentos e crenças (por exemplo, “estou mal; nunca melhorarei”); expectativas e experiências anteriores; emoções (por exemplo, ansiedade, raiva, depressão) e comportamentos.

Os factores sociais incluem status socioeconómico, acesso a cuidados, família, amigos, cultura, comunidade, contexto e outros factores sócio-ambientais.

A pesquisa em neurociência revela que as emoções negativas, pensamentos catastróficos e comportamentos pouco saudáveis, efectivamente, exacerbam a dor, agravam os sintomas e mantêm a pessoa presa num ciclo de medo, inactividade, miséria e dor.

Dito de outra maneira: stress, ansiedade, depressão, pensamentos catastróficos, expectativas negativas com foco na dor, retraimento social e falta de exercício, pioram a dor.

Ao mesmo tempo a pesquisa refere que podemos exercer algum controle sobre a dor, através do manejo das emoções, pensamentos e crenças, mediante vários tipos de terapia.

Além disso, facultar aos pacientes educação e compreensão sobre a dor pode reduzi-la, assim como a incapacidade associada.

As abordagens psicossociais para o tratamento da dor são tão promissoras que foram incorporados nas clínicas de tratamento da dor da UCSF e de Stanford.

Portanto, se você tem dor crónica, lembre-se do seguinte: mudar o seu cérebro pode modificar a sua dor.

A saúde emocional afecta directamente sua saúde física, porque o cérebro e o corpo estão conectados.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

A partir de “Think Pain Is Purely Medical? Think Again.” – Rachel Zoffness

Crescer sem psicoterapia - Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicólogo Clínico

Crescer Emocionalmente sem Terapia

Crescer emocionalmente é difícil de conseguir por conta própria.

De vez em quando, encontro alguém que parece ter crescido sem terapia, uma pessoa relativamente equilibrada e satisfeita, pouco sobrecarregada com conflitos internos.

Como psicanalista e psiquiatra, interrogo-me sobre isso. Crescer emocionalmente apresenta tantas dificuldades e desafios que ultrapassá-las com sucesso parece uma tarefa assustadora.

Onde é que a criança tem o guia para desenvolver um senso de autonomia pessoal enquanto também desfruta de relacionamentos com as outras pessoas?

Como é que um filho de três ou treze anos descobre como lidar com a inveja que tem dos outros, as questões da sexualidade, os seus desejos destrutivos e vingativos?

Como é que a criança pode saber que a sua dor de estômago representa ansiedade em ir para a escola, ou que sua preocupação com a escola pode servir para distraí-la de preocupações mais sérias sobre fantasias e acontecimentos que surgem em casa?

Há uma razão para que tantos filmes sobre ou para crianças (como o E.T.) retratem os adultos como pessoas que não compreendem o mundo das crianças: há uma certa verdade nisso.

Mesmo os pais mais intuitivos e empáticos não conseguem compreender completamente o mundo interior de uma criança, mesmo que eles já tenham sido crianças.

No entanto, os seus esforços são importantes e os pais costumam ajudar as crianças a aprender, a aceitar, a entender e a regular os seus sentimentos e desejos.

 

É muito difícil vermos os nossos pontos cegos.

 

Mas há sempre sentimentos de vergonha e culpa que as crianças preferem que os pais não conheçam, e sentimentos e fantasias que os pais não conseguem imaginar.

Uma menina de quatro anos pode dizer descaradamente à mãe que planeia casar-se com o pai, mas esconde o quanto ela adoraria fazer desaparecer o irmão mais novo.

Independentemente da forma como a mãe responde, a menina ainda está muito por sua conta, enquanto tenta discernir a fantasia da realidade.

Com pouco conhecimento ou experiência, as crianças são chamadas a lidar com os seus desejos imperiosos e as autocríticas.

Com os seus corpos em mudança e as exigências dos pais e professores, sem mencionar a existência de doenças, tristezas, rejeições de amigos, e golos falhados.

Os pais podem ajudar a crescer emocionalmente (e também podem magoar), mas há sempre muito mais coisas do que aquelas que eles podem controlar.

Com os seus recursos limitados, as crianças passam por fases onde despontam medos, peculiaridades, crenças, rituais e maneiras de se relacionar com o mundo.

Estas adaptações diminuem e fluem, mudam, ficam inactivas e reaparecem.

Todos nós carregamos pelo menos parte dessa bagagem -eu-estou-a-lidar-com-esta-loucura-o-melhor-que-posso-, para a vida adulta, e normalmente queremos deixar conteúdo da bagagem por analisar.

É tão difícil ver os nossos próprios pontos cegos, e surpreendentemente, a maioria de nós deseja ferreamente apegar-se a eles.

 

Mesmo os pais mais intuitivos e empáticos não conseguem compreender completamente o mundo interior de um filho.

 

No meu consultório vejo constantemente pessoas que se casaram para evitar um envolvimento profundo e depois divorciam-se porque o envolvimento não é suficientemente profundo;

ou que, inconscientemente, estão a fazer um esforço tão grande para serem diferentes dos seus pais, que não conseguem fazer com que o relacionamento funcione com um parceiro;

ou que continuam a fazer jogos e a tentar não se vingar de pequenos ou grandes traumas de infância.

Muitas vezes eles dizem-me: “Eu deveria ter vindo vê-lo há vinte anos”, e eu não discordo.

Por que eles não vieram?

Na maioria das vezes, as pessoas transportam os sentimentos desconfortáveis que têm sobre as suas lutas emocionais da infância para o presente.

As pessoas falam sobre o estigma de procurar ajuda para os problemas emocionais, mas o mais importante e omitido “estigma” são sobretudo, as próprias hesitações e as auto-depreciações.

A afirmação “Preciso de ajuda e vou obtê-la” raramente é mal recebida, mas a vergonha de querer ou precisar de ajuda para estas questões é tão grande que poucas pessoas se sentem à vontade para a verbalizar.

 

Como existe muito do passado no presente, mesmo que invisível, os obstáculos emocionais ao trabalho, ao amor e ao lazer são muitos.

 

Quando eu estava na faculdade, tinha tanta vergonha e medo de precisar de terapia como qualquer outra pessoa, mas existiam coisas que me incomodavam e com as quais eu não conseguia lidar.

Naquela altura, ter feito psicoterapia por um curto período de tempo ajudou-me a reconhecer que compreendia muito pouco sobre mim e sobre os meus sentimentos em relação à minha família – um começo muito útil.

Voltar a fazer psicoterapia quando era estudante de medicina ajudou ainda mais.

Durante a formação para psicanalista fiz uma psicoterapia mais longa que me proporcionou uma sensação tremendamente gratificante de finalmente desatar os nós emocionais mais apertados e ocultos.

Que sorte não me ter sentido obrigado a fingir que era maduro a ponto de me privar da ajuda essencial dos outros.

Freud sugeriu que era desejável que as pessoas pudessem amar e trabalhar, e, alguns, acrescentou, brincar.

Podem parecer coisas simples – amor, trabalho e diversão -, mas exigem equilíbrio emocional e flexibilidade, além de percepções realistas de si mesmo e dos outros.

Como existe muito do passado no presente, mesmo que invisível, os obstáculos emocionais ao trabalho, ao amor e ao lazer são muitos.

Embora algumas pessoas de facto atinjam estes objectivos aparentemente simples, mas realmente muito ambiciosos, é muito mais fácil quando alguém nos ajuda a esclarecer certas percepções erróneas.

Em qualquer idade, pode ser difícil crescer emocionalmente, dar o próximo passo no desenvolvimento.

E, os quiproquós no desenvolvimento são resolvidos com muito mais facilidade, e, geralmente, de forma mais profunda, com, do que sem terapia.

No entanto, apesar de existirem outras opções, muitos de nós parecem preferir crescer da maneira mais difícil – sozinhos -.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
a partir de: Growing Up Without Therapy – Lawrence D. Blum

Ansiedade de Desempenho - Psicoterapia

Ansiedade de Desempenho

Muitos actores, políticos, atletas, figuras públicas e músicos sofrem de ansiedade de desempenho – também conhecido como “medo do palco” – Barbra Streisand, Beyonce, Adele, Emma Stone, David Beckham, Whoopi Goldberg, Oprah Winfrey, Thomas Jefferson, Warren Buffett, Mahatma Gandhi, para citar alguns.

Aqueles que não são famosos também se debatem com a ansiedade de desempenho. Isso inclui gestores, escritores, académicos, advogados e até profissionais de saúde mental.

Debati-me com o “medo do palco” enquanto estudante e sofria com as dúvidas quando tocava piano em público. Então, pratiquei mais. Os meus mentores e professores garantiram-me que eu “não me deveria preocupar”.

Essas garantias não ajudaram. Senti-me sozinha e confusa. As pessoas não queriam falar sobre o “medo do palco”; agiam como se fosse contagioso.

Apesar da minha ansiedade apresentei-me, mas a experiência foi esgotante, confusa e perturbadora.

 

A ansiedade de desempenho ou “medo do palco” não afecta apenas as pessoas sujeitas a grande exposição 

 

Alguns sintomas da ansiedade de desempenho

Hoje, a ansiedade de desempenho é menos estigmatizada, mas continua a debilitar e a desmoralizar muitas pessoas. A ansiedade de desempenho apresenta sintomas físicos e psicológicos, como:

– Tremores

– Insegurança

– Pavor de cometer erros; Humilhação

– Vergonha de não ser “perfeito” perante uma plateia

– Grande preocupação com o que as pessoas pensam

– Medo de decepcionar os outros

– Preocupações em parecer “esquisito” ou “estúpido”

– Ruminação constante ou pensamento circular

 

O medo leva à “luta” ou à “fuga”

Quando as pessoas ficam assustadas e se sentem atacadas, elas tentam defender-se. Infelizmente, a luta pode transformar-se num ataque a si próprio.

Esquecendo o que sabe, a pessoa acredita que o público não irá apreciá-los ou vai rir deles.

Como exemplo, alguns artistas procrastinam na preparação para uma apresentação – e depois dizem que não tiveram tempo suficiente para se preparar!

Outros param completamente de fazer apresentações.

A forma como alguém se aproxima – ou evita uma ameaça é importante para entender e gerir a ansiedade de desempenho.

Os psicanalistas chamam às respostas defensivas à ansiedade de “defesas do ego” porque o ego (ou o Eu) está a proteger-se da percepção de um temido desastre.

 

Quando as pessoas ficam assustadas e se sentem atacadas, elas tentam defender-se. Infelizmente, a luta pode transformar-se num ataque a si próprio.

 

Diminuir a ansiedade

Exemplo 1

Clara temia que o público desaprovasse as suas performances e, frequentemente sentia-se inibida em expressar as suas ideias musicais.

As suas mãos ficavam geladas e isso causava-lhe um grande sofrimento. Na terapia, ela percebeu que os seus medos e sensações físicas tinham um significado emocional na sua vida.

Os seus pais divorciaram-se quando ela era muito jovem. Clara não conseguia entender a depressão da sua mãe ou o desaparecimento do seu pai.

Ela assumiu que tinha tido algum papel na separação e sentiu-se responsável e culpada.

Clara sentiu que os seus pais eram indiferentes e que não respondiam às suas necessidades. Eles também não tinham ideia do impacto que as suas acções tinham na filha.

Ela ficou furiosa com os humores da sua mãe e a ausência do seu pai, mas tentou sempre ser uma filha “perfeita” para encobrir a sua raiva.

Clara usou duas defesas do ego para se proteger da ansiedade:

Ela negou a sua raiva porque temia que a raiva fizesse com que as pessoas a abandonassem.

Ela desconectou-se das suas emoções, raiva e medo em particular, fora do cenário das apresentações, mas tornou-se ansiosa quando estava em palco, temendo que uma apresentação “imperfeita” fizesse com que o público a desaprovasse.

Enquanto Clara e eu trabalhámos para entender as raízes mais profundas das suas mãos frias, ela descobriu que a sua ansiedade era um sinal de um sentimento desconfortável, como o medo ou a raiva.

Percebida essa conexão, poderia expressar-se através de palavras e, posteriormente, através das suas performances, que ela antecipou com prazer, em vez de medo.

 

Hoje, a ansiedade de desempenho é menos estigmatizada, mas continua a debilitar e a desmoralizar muitas pessoas.

 

Exemplo 2

Francisco tornou-se violoncelista apesar das objecções dos seus pais, que acreditavam que os músicos “acabavam a tocar no metro”. Ele persistiu nos seus estudos, mas desenvolveu uma dor no braço.

Francisco consultou vários médicos que não encontraram nenhum problema físico.

Fiz-lhe a seguinte pergunta: “Vamos considerar que a dor no seu braço provém de alguns sentimentos dentro de si – dentro da sua mente”.

Embora duvidoso, ele começou a explorar as suas reacções emocionais como uma pista importante para a sua dor física.

Ele passou a compreender como o medo e a raiva eram uma expressão da sua ansiedade de desempenho.

Ele temia comprovar que os seus pais estavam certos se não triunfasse.

Na verdade, ele estava tão enfurecido com eles por duvidarem da sua capacidade que às vezes quando estava preocupado batia no seu próprio braço.

Descobrir esses sentimentos ajudou-o a eliminar a sua dor e permitiu que Francisco controlasse a sua ansiedade de desempenho.

 

Descobrir certos sentimentos ajudou Francisco a eliminar a sua dor e permitiu que controlasse a sua ansiedade de desempenho.

 

Como gerir a ansiedade de desempenho

Aqui estão algumas coisas importantes a serem lembradas sobre a ansiedade no desempenho:

Não existe uma performance “perfeita”. A perfeição existe nas nossas mentes, fantasias e desejos.

Sentir ansiedade não significa que você não é excelente naquilo que faz.

A ansiedade é um sinal para desenvolver a curiosidade sobre as reacções e acções de alguém.

A vergonha é um sentimento complexo sobre si mesmo e também um medo de rejeição do público. Isso pode ser resolvido através da compreensão da fonte do seu desconforto emocional.

Perceba que a autocrítica intensa vem da mente do artista. Não é necessariamente o que o público sente.

Sintomas físicos como mãos frias, estômago embrulhado e dores de cabeça são algumas das maneiras pelas quais o corpo transmite pistas sobre o seu estado emocional.

Através da terapia, Clara e Francisco aprenderam a falar livremente sobre a raiva e o medo. Eles começaram a compreender que os sintomas físicos podem resultar de emoções difíceis de lidar. Uma vez expressadas as emoções, o sintoma físico começou a desaparecer.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

A partir de: What’s at the Root of Performance Anxiety? – Julie Jaffee Nagel

Três formas das mulheres heterossexuais escolherem os homens errados. Pedro Martins Psicólogo Clínico

Três formas das mulheres heterossexuais escolherem os homens errados

Se você está à procura de um relacionamento de longo prazo, esteja ciente dos seus instintos.

Muitas mulheres heterossexuais ficam frustradas com a procura de um parceiro para um relacionamento a longo prazo.

Pode ser útil que as mulheres reconheçam quando são atraídas por homens que dificilmente permanecerão em relações duradouras.

 

Atracção física

Embora seja difícil que algumas mulheres admitam, a atractividade física é importante.

As mulheres heterossexuais são indubitavelmente atraídas por homens com boa aparência (Eastwick e Finkel, 2008; Kurzban e Weeden, 2005; Sprecher, 1989).

Parte da atração por homens fisicamente atraentes pode ser inconsciente (Eastwick et al., 2011) e baseada na evolução (homens atraentes podem possuir genes de melhor qualidade, ver Perrilloux et al., 2010).

Também podem sentir-se atraídas por outras qualidades positivas que parecem andar de mãos dadas com a atractividade física, como melhores personalidades e experiências de vida mais ricas (Dion et al., 1972; Griffin e Langlois, 2006).

 

As mulheres heterossexuais são indubitavelmente atraídas por homens com boa aparência

 

No entanto, se está à procura de relacionamentos estáveis ​​a longo prazo, pode ser melhor não procurar homens atraentes.

Homens muito atraentes e masculinos são mais propensos a serem infiéis às suas parceiras (Rhodes et al., 2012).

Além disso, homens altamente atraentes têm maior probabilidade de se divorciarem das suas esposas, talvez porque tenham menos capacidade de resistir a oportunidades de se envolver com novas parceiras em potencial (Ma-Kellams et al., 2017).

 

Uma voz sexy

 

As mulheres são frequentemente atraídas por homens com vozes sensuais.

As mulheres tendem a preferir vozes mais profundas e masculinas nos homens, uma característica associada a níveis mais altos de testosterona (Simmons, et al., 2011).

A atractividade vocal e a atractividade física geralmente correspondem; homens cujas vozes são julgadas como mais atraentes também tendem a ser classificados como tendo rostos mais atraentes (Saxton et al., 2006).

Da mesma forma, homens com vozes atraentes também são mais simétricos (a simetria corporal também está ligada à qualidade genética e à atractividade física, ver Hughes et al., 2002).

Espera-se também que indivíduos classificados como tendo vozes mais atraentes tenham personalidades mais agradáveis ​​(Zuckerman et al., 1991).

 

As mulheres são frequentemente atraídas por homens com vozes sensuais.

 

Embora as mulheres heterossexuais possam preferir parceiros masculinos com vozes sensuais, homens com vozes atraentes tendem a ter mais parceiras sexuais e são mais propensos a serem infiéis durante os relacionamentos de longo prazo (Gallup & Frederick, 2010).

A atractividade vocal não está apenas associada à probabilidade de ter um caso; está associado a um maior risco de ter vários casos, bem como a um maior risco de fazer sexo com uma parceira que já está noutro relacionamento, um fenómeno conhecido como “mate poaching” (Hughes et al., 2004).

Embora as vozes sensuais pareçam apelativas, como os homens altamente atraentes discutidos acima, homens com vozes muito sensuais podem ser melhores parceiros a curto prazo do que a longo prazo.

 

Homens comprometidos

Curiosamente, as mulheres heterossexuais são frequentemente atraídas por homens comprometidos.

Essa situação é designada de “mate-choice copying” e também ocorre noutros animais, por exemplo, peixes e aves (Uller e Johansson, 2002).

Nos seres humanos, o interesse de outras mulheres indica que um homem tem qualidades desejáveis ​​- em certo sentido, ele está “pré-validado”.

A preferência por homens comprometidos é mais forte quando os homens têm namoradas do que esposas (Schmitt e Buss, 2001).

No entanto, para relacionamentos de longo prazo, pode não ser a melhor ideia, envolver-se com homens que já têm parceiras.

Se esses homens estiverem dispostos a deixar as suas parceiras por você, eles podem reagir da mesma maneira quando outra nova parceira em potencial aparecer.

 

As mulheres heterossexuais são frequentemente atraídas por homens comprometidos

 

Uma maneira de evitar “mate-choice copying” pode passar por ter mais experiência sexual.

Waynforth (2007) sugere que mulheres com mais experiência sexual não sentem a necessidade de copiar as escolhas; ter mais confiança nas suas próprias escolhas de parceiros pode reduzir o impulso de copiar as escolhas de outras pessoas.

 

Namorar os homens certos

Se você está à procura de um relacionamento de curto prazo, um homem fisicamente atraente com uma voz sexy pode ser o parceiro perfeito para si.

No entanto, se você estiver à procura de um relacionamento a longo prazo, pode ser útil procurar homens com outras características, igualmente desejáveis.

O respeito mútuo parece ser crucial para uma parceria de sucesso a longo prazo.

De facto, existe uma relação mais forte entre o respeito e a satisfação em relacionamentos a longo prazo do que com o amor por um parceiro (Frei e Shaver, 2002).

A honestidade também está associada a melhores resultados nos relacionamentos de longo prazo e a maior bem-estar (Brunell et al., 2010).

Em termos de atractividade física, casais que se parecem uns com os outros ao nível da atractividade física parecem ter parcerias mais longas e estáveis ​​(Feingold, 1988).

Além disso, à medida que conhecemos, gostamos e nos respeitamos mais uns aos outros, a atractividade física torna-se menos importante no início e na manutenção de um relacionamento de longo prazo (Hunt et al., 2015).

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

A partir de: Three ways heterossexual women choose the wrong men – Madeleine A. Fugère

Raciocínio Motivado Por que vemos o que queremos ver Pedro Martins Psicoterapeuta

Raciocínio Motivado – Por Que Vemos o Que Queremos Ver?

A Neuropsicologia do Raciocínio Motivado

Uma vez Obi-Wan Kenobi aconselhou Luke Skywalker a não confiar nos seus olhos, porque “os teus olhos podem enganar-te”.

A maioria de nós pode lembrar-se de um exemplo em que os nossos olhos nos enganaram e viram o que eles queriam ver:

Uma pessoa em que estávamos a pensar, ao longe, numa rua movimentada; uma pedra em forma de coração que procurávamos na praia.

Há décadas que este fenómeno – Raciocínio/Percepção Motivado -, é investigado.

De facto, o mundo como o concebemos na nossa consciência não é exactamente uma representação precisa do que ele realmente é.

A nossa percepção é frequentemente tendenciosa, selectiva e maleável.

Os nossos desejos podem afectar o que vemos, condicionando a maneira como processamos as informações visuais.

Num estudo de 1954, quando estudantes de universidades rivais assistiam a um jogo de futebol entre as suas equipas, houve discussão, uma vez que os estudantes disseram ter visto mais faltas cometidas pela equipa adversária.

 

Os nossos desejos e objectivos têm uma influência incontestável nas nossas vidas.

 

Por que somos propensos a ver o que queremos ver?

Pesquisas recentes publicadas na Nature Human Behavior demonstram como as nossas motivações e desejos podem dar origem a dois tipos de viés:

Um viés perceptivo (quando as nossas motivações influenciam de cima para baixo as nossas percepções) e um viés de resposta (quando relatamos ter visto o que queremos ver).

O estudo efectuado por investigadores da universidade de Stanford explora como esses vieses afectam as nossas percepções.

O estudo

Enquanto estavam a fazer uma ressonância magnética, os participantes realizaram uma tarefa de categorização visual.

Foram-lhes apresentadas imagens compostas que mostravam uma mistura de um rosto (masculino / feminino) e uma cena (interna / externa) em diferentes dimensões.

Os participantes tiveram quatro segundos para decidir se a imagem tinha “mais rosto” ou “mais cena”, ganhando dinheiro por cada categoria acertada.

 

Os nossos desejos podem afectar o que vemos.

 

Os pesquisadores, então, manipularam a motivação dos participantes para verem um tipo de imagem em detrimento de outra (por exemplo, um rosto sobre uma cena), informando-os que eles poderiam ganhar (ou perder) dinheiro extra se a próxima imagem que eles vissem fosse de uma categoria específica (uma face).

Os resultados mostraram que os participantes tenderam a demonstrar vieses nos seus julgamentos perceptivos, alinhados com as suas motivações e desejos.

Nomeadamente, eles tendiam a rotular as imagens ambíguas como exibindo a categoria associada à recompensa (face).

Isso ocorreu mesmo quando as suas percepções estavam incorrectas, levando a perdas monetárias.

Assim, o desejo de ver uma certa imagem afectou o julgamento dos participantes, reflectindo um viés perceptivo e de resposta – eles não apenas tendiam a referir o que desejavam ver, mas também eram mais propensos a realmente ver o que queriam ver.

 

Como fazemos julgamentos perceptivos?

Como é que os participantes do estudo decidiram se estavam a olhar para um rosto ou uma cena?

Tudo começa nos olhos. A informação viaja dos olhos para o córtex visual primário no lobo occipital do cérebro.

Uma teoria sugere que a informação é processada em duas vias visuais: a via ventral, que se pensa ser responsável por codificar o que estamos a ver; e a via dorsal, pela percepção das localizações onde ocorre o evento visual.

Na via ventral, existem áreas específicas contendo neurónios que são mais selectivos para a percepção de rostos e neurónios mais especializados em cenas.

Um julgamento perceptivo pode ser feito através da comparação da actividade dos neurónios mais selectivos para a percepção de faces e os neurónios mais selectivos para a percepção de cenas:

A região que mostra mais actividade deve “vencer” e a categoria representada por esses neurónios deve ser seleccionada.

 

A nossa percepção é frequentemente tendenciosa, selectiva e maleável.

 

O que os resultados do presente estudo sugerem é que os neurónios nessas regiões também podem ser influenciados por sistemas de atenção e recompensa.

De facto, os pesquisadores foram capazes de investigar os mecanismos neuronais correspondentes dos dois vieses e explorar como a motivação dos participantes para ver uma categoria (face) sobre a outra (cena) influenciou os seus julgamentos perceptivos.

Como tal, maiores vieses motivacionais estavam ligados a mais actividade neuronal nas áreas visuais ventrais do cérebro, enquanto a actividade no núcleo accumbens – uma região central do sistema de recompensa do cérebro – correlacionava-se com os vieses de resposta dos participantes.

Os nossos desejos e objectivos têm uma influência incontestável nas nossas vidas.

Como a pesquisa demonstra, essas influências afectam não apenas a nossa cognição, emoções e comportamento, mas também – literalmente – como vemos o mundo.

Segundo Yuan Chang Leong, o seu estudo tem duas implicações importantes.

A primeira tem a ver com a nossa representação do mundo. “Na maioria dos casos, gostaríamos de ter uma visão objectiva da realidade para fazer julgamentos precisos com base em evidências objectivas.

Se estivermos cientes de como os desejos pintam a nossa percepção, podemos tomar medidas para corrigir mentalmente o viés ”, refere Leong.

A segunda implicação diz respeito à maneira como nos relacionamos com os outros – em particular aqueles que não compartilham os nossos desejos e crenças:

“Sabendo que os outros podem realmente estar a ver as coisas de maneira diferente de nós, e nenhum de nós está necessariamente mais próximo da realidade objectiva, seriamos mais capazes de simpatizar com a forma como agem e se sentem.”

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

A partir de: Why we see what we want to see – Marianna Pogosyan

Casamento - Casei-com-a-pessoa-errada.-Pedro-Martins-Psicoterapeuta

Casamento: Casei Com a Pessoa Errada?

“Não há nada de errado em se ter casado com a pessoa errada” – Alain de Botton

Alain de Botton analisa a questão do casamento a partir de uma perspectiva politicamente incorrecta, mas muito lúcida:

“Ninguém é perfeito. O problema é que, antes do casamento, raramente entramos na nossa própria complexidade.

O casamento acaba por ser uma espécie de aposta esperançosa feita por duas pessoas – que ainda não sabem bem quem são nem em quem se converterão -, que se unem tendo em vista um futuro que são incapazes de conceber e tiveram o cuidado de evitar investigar.”

De acordo com este pensamento, José Abadi refere que:

“Todos os relacionamentos implicam um risco, que tem a ver com o imponderável e o imprevisível.

Não existe um ideal, vivemos a aceitar as imperfeições recíprocas para nos aproximarmos da felicidade possível.”

 

O problema é que, antes do casamento, raramente entramos na nossa própria complexidade.

 

A ideia da cara-metade é um estereótipo do passado?

Ao longo do tempo, a ideia de casamento estava ligada a questões mais racionais do que sentimentais.

Mas o casamento da “razão” foi perdendo para o casamento com base em sentimentos, refere Botton.

A boa notícia é que não importa se damos conta de que casámos com a pessoa errada.

Não devemos abandonar essa pessoa, mas a ideia romântica sobre a qual a compreensão ocidental do casamento se tem baseado nos últimos 250 anos:

-Existe um ser perfeito que pode satisfazer todas as nossas necessidades e todos os nossos desejos.

Séculos atrás, um casal formava uma família e o amor não era o objectivo fundamental desse vínculo.

Actualmente as famílias assentam no amor – ou, pelo menos, tentam. No entanto, o amor é problemático porque não está garantido.

O erro é acreditar na existência da pessoa certa, explica o psicanalista Any Krieger. “É um erro esperar que o outro preencha as nossas faltas”.

 

“É um erro esperar que o outro preencha as nossas faltas”.

 

“Não há nada mais importante do que aceitar e admitir a complexidade de quem somos.

Temos aspectos negativos e positivos, temos luzes e temos sombras.

Temos traços do nosso carácter que resolvemos de maneira saudável e temos conflitos que continuam a aprisionar-nos.

Aprender a aceitar a imperfeição e até mesmo transformar essa falha em algo simpático e atraente é uma das chaves para o amor.”

Pelo contrário, o outro sinaliza essa falta, mostra a nossa incompletude, refere Krieger.

Outra forma de desmistificar o amor ideal é proposta por Arthur Aron, psicólogo americano que refere que com uma conversa profunda, íntima e sincera, com base num teste padronizado de 36 perguntas, duas pessoas podem terminar juntas.

Durante o processo de averiguação da eficácia do teste de Aron, dois participantes acabaram por casar.

A primeira das 36 perguntas é simples:

“Se eu pudesse convidar qualquer pessoa para uma refeição, quem convidaria?”.

A última pergunta aponta para um nível muito mais profundo de entendimento e intimidade:

“Compartilhe um problema pessoal e peça ao seu interlocutor para lhe dizer como ele ou ela teria agido para resolvê-lo. Pergunte-lhe também como ele acha que você se sente em relação ao problema que você partilhou. ”

De Botton sugere que nos primeiros encontros escondemos muito do que somos:

Numa sociedade mais sábia e consciente de si mesma do que a nossa, uma pergunta comum num dos primeiros encontros seria: ‘E tu, que problemas tens?’

 

Esperar-o-pior-pode-levar-ao-pior.-Pedro-Martins-Psicoterapeuta

Esperar o Pior Pode Levar ao Pior

Um novo estudo mostra como os neuróticos criam as suas próprias profecias auto-realizáveis. Esperar o pior pode levar ao pior.

Você está prestes a encontrar-se com uma pessoa que conheceu online, talvez um futuro namorado; a ir a uma entrevista de emprego solicitada por uma empresa.

Inegavelmente, estas parecem ser grandes oportunidades, mas elas podem despertar muitas questões e medos internos.

Eles vão gostar de você o suficiente para avançar para um relacionamento, romântico ou profissional?

O que fará quando se encontrar com eles?

Você pensa nos momentos em que falhou em situações semelhantes e só consegue imaginar que as coisas vão correr mal.

Se disser a coisa errada a decepção será ainda maior.

E se deixar as suas crenças políticas escaparem na conversa, apenas para descobrir que essa pessoa pensa exactamente o oposto?

E se a sua mente ficar em branco quando tentar responder a uma pergunta importante?

 

As crenças negativas fazem com que as pessoas vejam as suas experiências através de um conjunto distorcido de percepções.

 

De acordo com a teoria cognitiva das emoções, a manutenção das crenças disfuncionais impedem as pessoas de vivenciarem a felicidade e leva-as a sentirem-se deprimidas e ansiosas.

Estas crenças disfuncionais incluem:

– Ideias de que as outras pessoas não gostam de você;

– Esperar o pior numa nova situação;

– Usar as ocasiões em que não teve sucesso como prova de que nunca terá êxito no futuro.

Segundo a teoria cognitiva as crenças negativas que você mantém sobre si mesmo fazem com que veja as suas experiências através de um conjunto distorcido de percepções.

 

O que faz manter as percepções negativas?

1 – Você teve tantas experiências negativas no passado que se acostumou ao fracasso e agora ele está enraizado na sua identidade.

2 – Os traços de personalidade distorcem as suas percepções de uma forma que impossibilitam que você tenha expectativas de que alguma coisa boa lhe vai acontecer.

Um estudo de Wilson McDermut e al. refere que os traços neuróticos de personalidade desempenham um papel importante ao afectarem as crenças disfuncionais das pessoas e, como resultado, a felicidade delas.

Em suma, a sua personalidade pode muito bem preparar o terreno para você ter crenças que atrapalhem o seu sucesso e felicidade. A questão é como.

O estudo de McDermut et al. sugere que a tendência para manter percepções distorcidas sobre si mesmo e das suas capacidades, e expectativas negativas parece mais provável de se desenvolver em pessoas cuja personalidade tende a olhar o mundo com preocupação e ansiedade.

Se crenças disfuncionais que indivíduos altamente neuróticos mantêm forem abordadas através de uma intervenção, então é possível ajudá-los a reverter o processo e desenvolver crenças renovadas nas suas capacidades.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

A partir de: “Expecting the Worst Can Lead to the Worst If You’re Neurotic” – Susan Krauss Whitbourne

Mães emocionalmente indisponíveis

Mãe Emocionalmente Indisponível

Mãe Emocionalmente Indisponível

“Acho que literalmente ansiava por amor e atenção quando era criança.

Quanto mais a minha mãe se afastava, mais frenética me tornava. Comecei a comportar-me mal porque sabia que assim ela me daria atenção, mesmo que isso significasse ser castigada.

Parece estranho, mas foi o que eu fiz. Ao não conseguir ter o amor, lutei para ter a raiva dela. Pelo menos, naqueles momentos, ela estava lá.” – Natália

Outra mulher descreve o que fazia para ter a mãe emocionalmente presente:

“Quando eu era muito jovem percebi que a minha mãe gostava de fazer de enfermeira.

Isso fazia com que se sentisse importante e reconhecida, coisa, que eu acho, não acontecia no seu dia-a-dia.

Alguns dos momentos mais felizes da minha infância estão entrelaçados com bronquite, acredite ou não.

Quando eu estava doente, ela tinha de me incluir na interminável lista de tarefas das quais ela se queixava constantemente.

Mas na maior parte do tempo, ela ignorava-me.”

 

O anseio por amor e atenção da mãe emocionalmente indisponível é a marca registada desta filha

 

Identificar uma mãe emocionalmente indisponível

Os filhos destas mães foram emocionalmente negligenciados, embora possam ter dificuldade em reconhecê-lo, pois as suas necessidades externas não foram apenas satisfeitas adequadamente, mas também, consideradas com atenção.

Estas mães tratam das coisas de forma escrupulosa; as casas impecavelmente organizadas e as crianças bem aprumadas.

Embora possam ser muito boas a tratar da casa e muito activas nas suas comunidades, elas não prestam atenção às necessidades emocionais dos filhos, nem aos seus sentimentos.

Estas mães podem, elas próprias ter uma vinculação evitante ou, simplesmente, não gostarem das exigências da maternidade.

Alexandra refere:

“A minha mãe não respondia às minhas necessidades e quanto mais carente me sentia, menos atenção me dava.

Ela via o choro como um sinal de fraqueza e acusava-nos disso.

Cedo aprendi a pedir pouco porque era realmente melhor quando não fazia exigências.

O meu irmão e eu reagíamos a ela da mesma forma, e só na minha adolescência, quando vi as mães dos meus amigos a agirem é que percebi o quanto a minha mãe era fria.

Eu fiz psicoterapia durante alguns anos e ainda tenho dificuldade em pedir ajuda, carinho ou qualquer outra coisa. Tenho 45 anos e ainda sou muito defensiva.”

 

Como uma mãe emocionalmente indisponível o pode afectar

Ao contrário da mãe controladora ou de uma pessoa com traços narcísicos que deliberadamente faz do filho um satélite a circular à sua volta, a mãe emocionalmente indisponível faz isso sem querer.

Na verdade ela só quer ter uma relação a um nível superficial.

 

Parece estranho, mas foi o que eu fiz. Ao não conseguir ter o amor, lutei para ter a raiva dela. Pelo menos, naqueles momentos, ela estava lá.” – Natália

 

O anseio por amor e atenção da mãe é a marca registada desta filha, e ela lidará com isso eliminando as suas emoções e necessidades emocionais, consciente e inconscientemente, ou tornando-se subordinada a esse anseio.

Aqueles que se revestem de armaduras sofrem de problemas de confiança, dificuldade em manter uma ligação e problemas para identificar sentimentos, e têm um estilo de vinculação evitante.

Aqueles que estão subordinados pelos seus anseios continuam a tentar chamar à atenção das suas mães, por vezes, recorrendo a substitutos pouco saudáveis para preencher o vazio nos seus corações.

Reconhecer a negligência emocional que se sofreu é, frequentemente, um caminho longo, como explicou uma filha de 43 anos:

“Quando eu ouvia as palavras ‘negligência emocional’, imediatamente pensava em alguém que era pobre e morava numa barraca, porque eu pensava que negligência emocional era parte de não ter coisas suficientes.

Mas agora percebo perfeitamente que se pode ser emocionalmente pobre e viver numa casa linda, com piscina e court de ténis.

A minha mãe nunca me deu uma palavra de apoio ou validação e levei vinte anos para perceber que aquilo que sentia em relação à minha infância era real.

Você pode estar esfomeado com o frigorífico cheio de comida e negligenciado com um armário cheio de roupas novas e dinheiro para gastar.

Demorei muito tempo para conseguir acreditar em mim mesma.”

 

Reconhecer a negligência emocional que se sofreu é, frequentemente, um caminho longo.

 

Enredado na confusão

Um dos enigmas para as filhas de mães emocionalmente indisponíveis é o intrigante fenómeno de como a mãe pode estar fisicamente presente e completamente ausente do ponto de vista emocional.

Para a criança pequena, isto é mentalmente confuso e, à medida que a criança amadurece, ela pode permanecer assim e desenvolver uma profunda insegurança.

Provavelmente, perguntará se há algo errado com ela. Ela é demasiado carente ou exigente? Está pedindo demais?

Ou pode perguntar se está apenas a inventar. Essas perguntas podem atormentar uma filha durante a vida adulta, como explicou Laura:

“Uma parte de mim queria que a minha mãe fosse má de maneiras que pudessem ser vistas – barafustando e gritando ou talvez até mesmo bater-me, mas isso nunca aconteceu.

À superfície, ela parecia ser uma óptima mãe e, acredite em mim, toda a gente pensava assim.

Mas ela nunca realmente me ouviu ou se importou verdadeiramente comigo.

 

A minha mãe nunca me deu uma palavra de apoio ou validação e levei vinte anos para perceber que aquilo que sentia em relação à minha infância era real.

 

Ela era inacessível e fria. Eu lutei durante anos, pensando que a culpa, de alguma forma, era minha.

Quando me casei, entrei em choque quando encontrei a família do meu marido pela primeira vez.

Francamente pensei que a mãe dele estava a representar. Mas ao longo do tempo, percebi que aquilo que eu estava a ver eram demonstrações genuínas de amor e carinho. Percebi que, afinal, eu não era louca.”

 

Passos para a cura

A descoberta é o primeiro passo e implica reconhecer a forma como a sua mãe a tratava e, em seguida, começar a ver como você se adaptou a ela.

Comportamentos que você sempre considerou serem partes inatas da sua personalidade, muitas vezes revelam ser o resultado de tentar lidar com o ambiente emocional da sua família de origem.

Independentemente da forma como reagiu à indisponibilidade emocional é importante ter em atenção o peso de certos aspectos:

– Confiar nos outros é um problema na sua vida

– O grau em que você deseja ou desdenha ligações próximas

– Se você tende a isolar-se e a minimizar a importância dos relacionamentos

– Se você está sempre alerta e temerosa num relacionamento e tem problemas com limites saudáveis

– O grau em que você é emocionalmente inteligente e consegue identificar e agir de acordo com os seus sentimentos

– Se você está a repetir o padrão, sentindo-se atraído por amigos e parceiros emocionalmente indisponíveis

 

A recuperação é possível, embora seja preciso tempo e esforço.

A melhor opção é o acompanhamento por um terapeuta experiente.

A boa notícia é que você não precisa permanecer para sempre aquela menina à espera da mãe (que não veio nem virá). Existem outras formas de sair daquele quarto da infância.

 

Traduzido/adaptado por P

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