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Do Domínio ao Abuso Narcisista Pedro Martins Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Do Domínio ao Abuso Narcisista

Mães-Filhas – Do Domínio ao Abuso Narcisista

Toda a mulher que alcança a condição de mãe vê-se confrontada com dois modelos de realização, que correspondem a aspirações geralmente contraditórias: ou mãe, ou mulher.

É verdade que estes dois modelos podem coexistir numa mesma pessoa, numa mesma identidade, num mesmo corpo.

Mas existem mulheres que se tornam quase exclusivamente mães, demitindo-se do seu papel de mulher.

A patologia do apego consiste em dar ao filho (bebé) todo o espaço, exercendo uma omnipotência sobre um ser totalmente dependente, exigindo em troca uma entrega igualmente infinita.

Ruth Klüger: “Só as crianças são mais dependentes que (algumas) as mulheres, é por isso que as mães são muitas vezes tão dependentes da dependência dos seus filhos em relação a elas.”

Devido à dependência total, embora transitória, os bebés de ambos os géneros esperam dedicação total da mãe.

Para a menina a mãe é também sua semelhante.

É por isso que a dependência originária não tem a mesma ressonância e não terá as mesmas consequências para cada um dos géneros.

Por esse mesma razão, observaremos esta questão, maioritariamente, na relação mãe-filha.

Nos primeiros meses de vida, a chegada de uma criança exige muito tempo e atenção, até mesmo uma certa abnegação.

Mas isso não é motivo para que uma mulher tenha por missão dedicar-se exclusivamente à filha, nem, sobretudo, obter a satisfação que deveria sentir ou reencontrar junto do parceiro.

Pelo contrário, muitas encontram a sua razão de viver na simbiose com a filha-espelho, tendo o pai sido reduzido, no melhor dos casos à transparência ou – no pior – à condição de obstáculo a ser removido.

 

O abuso narcisista é também um “abuso identitário” porquanto os filhos são despojados da sua própria identidade

 

Totalmente dedicada à filha – mas sobretudo através da filha, a si mesma e aos seus sonhos de grandeza – afasta-se do parceiro.

O lugar do pai junto da filha é inexistente pois a mãe apropriou-se da criança.

A filha é apenas o brinquedo passivo do abuso narcisista, o objecto indefeso do todo-poderoso amor devorador da mãe.

Protegido pelas virtudes da maternidade, e depois de ter “despachado” o pai, a mãe pode usar a criança para projectar nela as suas próprias fantasias de sucesso – glória e amor total – que ela não conseguiu realizar na sua vida de mulher.

Embora também exista domínio da mãe sobre o menino, é antes de tudo sobre a filha que ela se exerce, nas formas mais obscuras e mais arcaicas, chegando por vezes à violência.

Obrigação de conformidade aos modelos, depreciação do sexo feminino, imposição de segredos, culpabilizações e intrusões de toda a ordem são as formas mais visíveis – entre as quais, a confusão de identidades constitui provavelmente a forma mais subtil, mas também a mais perigosa.

 

A filha é o brinquedo passivo e indefeso do abuso do todo-poderoso amor devorador da mãe.

 

O “abuso narcisista” da criança pelos pais e, em particular, pela mãe, é a projecção do progenitor sobre a criança.

Os dons da criança são explorados, não para desenvolver os seus próprios recursos, mas para satisfazer as necessidades de gratificação dos pais.

Mas, se o abuso narcisista pode adoptar várias configurações:

– pai-filho, mãe-filho, pai-filha, mãe-filha – é no entanto esta última que assume as formas mais puras e devastadoras.

O abuso narcisista é também um “abuso identitário”, sendo que os filhos são colocados num lugar que não é o seu.

E, ao mesmo tempo, despojados da sua própria identidade justamente por aquela – a mãe – que tem a responsabilidade de ajudar a construí-la.

Sejam quais forem as causas, é muito provável que o resultado, para as meninas, seja a reprodução da insatisfação materna.

Pois o sobre-investimento pela mãe vem acompanhado de um défice de amor real, que a criança transforma em falta de auto-estima,

A insaciável busca de reconhecimento e necessidade de amor nunca é apaziguada.

 

(continuação no artigo: Conquistar o Amor da Mãe Narcisista)

Bibliografia: Meres-Filles ; Une Relation A Trois – Caroline Eliacheff e Nathalie Heinich

como construímos a nossa identidade

Como construímos a nossa Identidade

A construção da Identidade passa por um processo de identificação.

O termo identificação em psicologia presta-se a uma certa dificuldade porque é utilizado em dois sentidos:

1 – Identificação como operação mental de reconhecimento, como actividade gnóstica; identificar um objecto ou uma pessoa consiste em caracterizá-lo e reconhecê-lo, sendo portanto uma acção intelectual de abstracção e generalização e de comparação, uma operação lógico-dedutiva que enriquece a experiência sensório-motora e a actividade da senso-percepção.

2 – Identificação como movimento construtivo da personalidade, consistindo numa transformação do próprio por apropriação de características do outro.

A identificação – construção da identidade – nem sempre se faz pela interiorização de qualidades e atributos do outro, designada de identificação positiva. A identificação também se processa no sentido oposto: modificação do próprio pela criação de características opostas às do modelo; é a chamada identificação negativa (neste caso é mais um objecto de contraste do que de identificação).

Na identificação positiva está em causa uma relação amorosa com o objecto de identificação; na identificação negativa, uma relação de agressividade (“gosto tanto dele que quero ser como ele” , odeio-o tanto que quero ser bem diferente”).

Por isso a identidade positiva é estável e tranquilizadora, e a identidade negativa, instável e inquietante. A identidade negativa é um importante factor na génese do comportamento dissocial, mas também – em certa medida – da diferenciação individual.

Não se nasce com uma identidade psíquica; ela é uma construção pessoal.

Não se nasce com uma identidade psíquica; construímos a nossa identidade subjectiva. A identidade é, pois, uma construção pessoal. Até porque a percepção de que nós temos (quem somos e para onde tendemos), que temos do outro e que o outro tem de nós, é indicada pela introjecção do que necessitamos e pela projecção daquilo que desejamos; pois na compreensão das pessoas e de nós próprios a descriminação e avaliação cognitivas têm como suporte prínceps a qualificação emocional.

Parte-se, é certo, da identidade biológica, objectiva e de um programa genético para o seu desenvolvimento. Mas – sublinho – de um programa aberto: que permite um leque relativamente amplo de evoluções possíveis, mesmo da própria constituição biológica; muito mais, da organização mental.

O meio, sobretudo o ambiente afectivo-humano e socio-cultural, modela-nos e, até certo ponto, pode transformar-nos. As relações pessoais (interpessoais) significativas – na sua essência, relações intersubjectivas -, são a base e o veículo da construção identificativa que nos forma e, a todo o tempo, transforma. Somos, pelo menos em certa medida, uma criação do sistema relacional em que vivemos e convivemos – vale dizer, da relação afectiva em que fomos envolvidos e nos envolvemos: seja, uma criatura do outro e para o outro.

Porém, e sobremaneira, somos também – e desde o início – criadores activos (passe a redundância), espontâneos e livres do nosso ser psíquico, da identidade peculiar que nos vai definindo e diferenciando. Ser intencional por excelência, o homem constrói-se – mais que é construído. Para além de sermos – é preciso dizê-lo -, nós próprios, os construtores do mundo – e únicos obreiros, com os outros (em colaboração, abraço humano), do universo civilizacional e político que psicologicamente habitamos.

É esta posição eminentemente intencional e transformadora – de mim e do outro, meu parceiro de relação – e que nos distingue dos bichos.

E é no vínculo com o semelhante, na relação de apego e intimidade – relação biunívoca de amor e de descoberta – que me conheço e reconheço: sei quem sou e o que valho.

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