Autor: <span>Pedro Martins</span>

Personalidade Depressiva - Pedro Martins Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Personalidade Depressiva

Paciente mulher com personalidade depressiva

P: Tenho de pensar em mim, preocupar-me/ocupar-me com as minhas coisas. Só penso nos outros, preocupando-me com eles constantemente, ocupo-me apenas com as coisas dos outros. Esqueço-me de comprar roupa para mim, estou sempre a comprar roupa para o Francisco. Cozinho para ele; se estou só, não cozinho, como qualquer coisa que haja em casa.

T: Como há muito lhe venho mostrando

P: É verdade… Mas depois – penso – fico vazia, não tenho nada que me interesse ou motive. Assim ao menos – ocupando-me com os outros – ando entretida, sinto-me mais preenchida.

 

Nunca ninguém reparou que andasse deprimida, nem ela própria disso se apercebia.

Era assim, sempre foi assim; ela e os outros sempre acharam que era normal.

São as derrotas sucessivas que a trazem à terapia. Não percebe porque tal acontece.

Abandona umas vezes, é abandonada outras.

Nos abandonos afectivos, fica algum tempo deprimida – depressão que nem pela intensidade nem pela duração tem características patológicas;

O único aspecto patológico (mas que é importante e significativo) é a ausência de revolta e acusação do objecto abandonante:

– Sente sempre que a culpa/responsabilidade foi toda sua.

Quando é ela a abandonar, o motivo consciente é a saturação e o desinteresse progressivo pela relação.

Interessa-se pouco com si própria. Quando tem uma nova relação amorosa anima-se por algum tempo.

Só que não repara, desconhece a depressão larvar em que se arrasta – a depressividade.

A depressividade é uma certa e específica forma de personalidade depressiva, a mais característica – que se revela pelo abatimento, sintoma patognomónico da doença depressiva (depressão/personalidade depressiva).

Traduz-se a queda/declínio da líbido (sexual lato sensu e narcísica), restando ou exacerbando-se a líbido ideal (dessexualizada) e a ligação de aconchego e dependência;

Numa outra linguagem e perspectiva, a queda da energia psíquica (perda da vitalidade).

 

O abatimento é o sinal nuclear da doença depressiva.

 

Reiteramos: o abatimento é o sinal nuclear da doença depressiva.

A alteração do humor, a tristeza, não é um sintoma essencial.

O certo é que há depressões sem tristeza, mas não existem depressões sem abatimento.

Na depressão normal, que se distingue, não só pela menor intensidade e duração e pela proporcionalidade da alteração à grandeza da perda actual, mas principalmente pelo predomínio da revolta sobre o sofrimento depressivo – há algum abatimento.

Mas o que caracteriza a depressão normal é o ressentimento e a raiva.

Na depressão doença, predomina o sentimento depressivo e a inibição (abatimento) sobre a revolta.

É que na depressão patológica subjaz (mesmo que latente) a depressividade por um lado; pelo outro, são recrutadas/reactivadas perdas afectivas anteriores; por outro ainda, a agressividade está inflectida sobre o próprio.

A partir de a: “Depressividade/Personalidade Depressiva” – Coimbra de Matos

A Defesa Psíquica - Pedro Martins - Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

A Defesa Psíquica

O processo defensivo, ou simplesmente defesa, é um processo de adaptação à realidade social; processo que – pelo seu excesso, persistência ou invariabilidade – se torna patogénico.

É importante sublinhar que os mecanismos de defesa do Eu têm uma função adaptativa.

A neurose é portanto uma doença de adaptação: sofrimento condicionado pelo emprego excessivo, não descriminado e inflexível das “defesas”.

Anna Freud, em 1946, faz uma lista dos mecanismos de defesa descritos na obra do seu pai:

– Recalcamento

– Regressão

– Formação reactiva

– Isolamento

– Anulação retroactica

– Projecção

– Introjecção

– Inflexão sobre si próprio

– Transformação no contrário

– Sublimação.

 

Estes são os diferentes tipos de resistências que o Eu opõe às necessidades instintivas, para as adaptar às exigências da realidade social ou da sua interiorização (Supereu).

Por medo do castigo, ou por culpabilidade, o indivíduo defende-se dos seus próprios impulsos, comportando-se pois, dentro de certa medida, como um inimigo de si próprio.

Resiste à satisfação imediata e directa – ao princípio do prazer – para melhor se adaptar à lei social: obedecendo assim, ao princípio da realidade.

A socialização exige portanto uma luta contra a vida instintiva, limitando-a no seu exercício e condicionando-a a certos padrões.

É o preço da civilização, o acesso à cultura; mas também o caminho para a neurose. Donde, a dificuldade em atingir um salutar equilíbrio entre a satisfação individual e a concórdia social.

O conflito, aberto ou interiorizado, é permanente e insolúvel; das suas proporções, orientação e compromissos resultará a saúde, o crime ou a doença.

 

Os mecanismos de defesa contra as pulsões surgem para controlar a ansiedade.

 

Os enumerados “mecanismos de defesa do Eu”, defendem, então, o indivíduo da sua impulsividade inata e biológica, dos seus instintos primários e não facilmente domáveis, da sua natureza animal – para o adaptar à realidade da ordem social, para o contemporizar com a cultura que o envolve.

São processos de adaptação das necessidades instintivas e individuais às necessidades civilizacionais e gregárias; utilizadas pelo Eu que coordena a vida de relação.

A designação de defesa presta-se, no entanto, a um certo mal-entendido: porquanto o indivíduo, quando utiliza as defesas, não se defende propriamente; mas ataca-se (pelo menos de certo modo), limitando-se.

Melhor seria falar-se em mecanismos de resistência do Eu: o Eu, representante da realidade, resiste a aceitar e ceder à pulsão e seus objectivos.

É certo que, numa perspectiva de benefícios futuros, o indivíduo se protege: resistindo à satisfação directa e imediata do instinto.

Ainda que à custa de um sofrimento momentâneo – evita o desprezar secundário, decorrente do castigo ou da culpabilidade, e propõe-se um prazer adiado, mas mais seguro, porque de acordo com as normas vigentes.

Por outro lado, também, o Eu defende-se do sentimento de medo ou de angústia ou ansiedade, que o aflorar das pulsões inaceitáveis (pelos outros ou pelo Supereu) necessariamente acarreta.

E é assim mesmo que os mecanismos de defesa – contra as pulsões – surgem: para controlar a ansiedade.

 

Os “mecanismos de defesa do Eu” defendem o indivíduo da sua impulsividade inata e biológica, dos seus instintos primários para o adaptar à realidade da ordem social.

 

Até aqui referimo-nos aos mecanismos de defesa dirigidos contra os instintos.

Mas o Eu utiliza outras defesas: o evitamento das situações ansiógenas (de perigo real ou imaginário) – mecanismo de defesa típico da fobia – e a negação (ou denegação) por porção inquietante ou desagradável da realidade – processo defensivo da perversão e da psicose.

Processos dirigidos contra o contacto ou a percepção da realidade operam pela fuga ou pelo desinvestimento; ambos condicionando uma retracção da expansão do Eu.

Umas e outras – defesas contra as pulsões e defesas contra a realidade – limitam a extensão e profundidade da vida relacional, facilitando a adaptação em certas circunstâncias, mas sendo sempre potencialmente patogénicas e frequentemente patológicas (sinal de sintoma de debilidade do Eu para enfrentar a pressão dos instintos ou das dificuldades do real).

Reconhece-se o carácter patológico quando funcionam de forma monótona, estereotipada, anacrónica e desadaptada; sistemática, predominante ou quase única (um indicador de saúde mental é a utilização fluida de diversos mecanismos de defesa).

 

“A defesa psíquica” – Coimbra de Matos

(Por se tratar de uma transcrição quase integral do artigo, optei por não colocar aspas)

Quão bons foram os seus pais?Pedro Martins Psicoterapeuta / Psicólogo Clínico

Quão bons foram os seus pais?

Estranhamente, parece que nenhum ser humano pode crescer realmente saudável, a não ser que tenha sido amado muito profundamente por alguém (pais) durante os primeiros anos da sua vida.

Mas ainda estamos a aprender o que o amor dos pais pode realmente envolver. Então, quão bons foram os seus pais?

Aqui estão oito princípios de boa paternidade que podem ser usados para os avaliar.

 

1 – Sintonia

Os pais afectuosos descem ao nível da criança – às vezes literalmente, quando se dirigem a ela – para ver o mundo através dos seus olhos.

Eles compreendem que uma criança muito nova não se pode encaixar facilmente nas exigências externas e que, nos primeiros tempos, deve ser-lhe dada prioridade e colocada no centro das coisas, não para a “mimar”, mas para lhe dar uma oportunidade de crescer.

 

2 – Pequenas Coisas

Os pais afectuosos compreendem que a vida dos seus filhos gira em torno de particularidades que são, por qualquer medida adulta, muito pequenas.

As crianças de tenra idade sentir-se-ão enormemente felizes porque podem pôr as mãos numa massa qualquer ou ter a oportunidade de “espetar” uma colher numa tigela de ervilhas com energia ou dizer ‘bah’ muito alto.

E sentir-se-ão extremamente tristes porque o coelho de estimação perdeu um dos seus botões ou uma página do livro seu favorito rasgou-se.

O progenitor suficientemente bom sente que tem recursos suficientes dentro de si para não criticar a criança que está a fazer um grande alarido com o chamado ‘nada’.

Seguirá a criança na sua excitação com uma poça de água e na sua dor por causa de uma meia desconfortável.

 

Os bons progenitores sabem que aqueles que acabam por se apegar com segurança e capazes de tolerar a ausência são aqueles a quem originalmente foi permitido ter tanta dependência e ligação quanto necessário.

 

Compreende que a capacidade futura da criança ser atenciosa para com as outras pessoas e de lidar com desastres genuínos estará criticamente dependente de ela ter recebido por parte dos pais a sua grande cota de simpatia por uma série de tristezas adequadas à idade.

 

3 – Perdão

Os pais afectuosos saberão dar a melhor interpretação possível a um comportamento que possa parecer infeliz e desagradável para os outros:

a criança pequena não é ‘um desordeiro’, mas é claro que ficou muito perturbada com o nascimento do irmão. Não é ‘anti-social’, mas sente-se bem num pequeno círculo de pessoas conhecidas e especialmente reconfortantes.

A capacidade dos pais para dar explicações gentis e criativas continuará a moldar o funcionamento da própria consciência da criança; aprenderá a arte do perdão a si mesma. Não terá de se torturar pelos seus erros.

Não sofrerá as devastações da auto-aversão, nem, quando estragar tudo, será tentada a tirar a sua própria vida.

 

4 – Fases Estranhas

O progenitor afectuoso sentir-se-á suficientemente saudável para permitir que um filho seja esquisito durante algum tempo, sabendo que o chamado esquisito faz parte do desenvolvimento normal.

Não se sentirá nervoso por a criança ter decidido fingir que é um animal ou que quer comer apenas alimentos de cor vermelha ou ter um amigo imaginário a viver numa árvore do jardim.

O adulto terá fé no surgimento da sanidade – e na sabedoria de explorar uma série de opções possíveis antes de optar pela sensatez.

Será capaz de permanecer calmo diante de algumas birras e obsessões intensas, não precisará de desligar a irreverência a cada passo, será paciente em torno da infelicidade e não se deixará abater pelo mau humor do adolescente.

Os pais não atribuirão etiquetas à criança que a possam fixar num papel que estava apenas a experimentar.

 

A recompensa dos pais por todo o seu trabalho nunca será directa; chegará ao fim de muitos anos, observando que o seu filho se tornou ele próprio um bom pai.

 

Terão o cuidado de dizer a uma criança que ela é “a zangada”, “o filósofozinho”, “o sabichão” ou mesmo “a gentil”: isso permitirá à criança o luxo de escolher a sua própria identidade.

 

5 – Apegado

Os bons pais sabem que as crianças podem muito bem apegar-se por muito tempo, e nunca olharão para esta necessidade natural de tranquilidade em termos pejorativos.

Não dirão à criança para se animar e ser um “homenzinho” ou uma “jovem senhora” para sentirem-se orgulhosos.

Sabem que aqueles que acabam por se apegar com segurança e capazes de tolerar a ausência são aqueles a quem originalmente foi permitido ter tanta dependência e ligação quanto necessário.

 

6 – Perfeição

Um bom pai não se apresentará como sendo hollywoodesco, distante ou uma pessoa inalcançável, uma figura que a criança possa ser tentada a idealizar e a contemplar de longe.

Os bons pais saberão estar presentes e mostrar-se pessoas comuns na sua casa; dignos talvez, mas também, por vezes, inquinados, esquecidos, tolos e desejosos de tempo livre sem os filhos.

O bom pai saberá que os pais têm peculiaridades e defeitos para levar a criança a reconciliar-se com a sua própria humanidade – e também, eventualmente, sair de casa e seguir em frente com a sua própria vida.

 

7 – Bondade

Um bom pai saberá como fazer parecer ser monótono. Compreenderá que o que a criança precisa principalmente é de uma fonte de calma fiável, e não de fogos-de-artifício e excitação (tem o suficiente disso dentro da sua própria mente).

 

Os bons pais compreendem que deve ser dada prioridade à criança, não para a “mimar”, mas para lhe dar uma oportunidade de crescer.

 

Deve estar lá, no mesmo lugar, a dizer mais ou menos as mesmas coisas, durante décadas.

Deve ter o cuidado de ser previsível e de editar os seus estados de espírito inesperados, a criança não precisa de uma imagem completa de cada perturbação e tentação que percorre a mente dos seus cuidadores.

Os pais aceitam que ‘mamã’ ou ‘papá’ são papéis, não representações completas; deveria ser um privilégio das crianças não terem de conhecer os seus pais em todos os pormenores.

 

8 – Amor não-correspondido

Os bons pais não estão à procura de uma relação equilibrada. Ficam felizes por dar de forma unilateral. Não precisam que as crianças lhe perguntem como foi o seu dia ou o que pensa das novas medidas do governo.

Sabem que uma criança deve poder tomar um progenitor substancialmente por garantido.

A recompensa dos pais por todo o seu trabalho nunca será directa; chegará ao fim de muitos anos, observando que o seu filho se tornou ele próprio um bom pai.

Dito de forma simples: o amor é o comportamento atencioso, terno e extremamente paciente demonstrado por um adulto durante muitos anos em relação a uma criança que não pode deixar de estar largamente fora de controlo, confusa, frustrada e desconcertada – para que, com o tempo, possa tornar-se num adulto capaz de tomar o seu lugar na sociedade sem demasiada perda de espontaneidade, sem demasiado terror e com uma confiança básica nas suas próprias capacidades e possibilidades de realização.

Deveria ser uma questão de consternação global que, apesar dos nossos grandes avanços, ainda estamos apenas no alvorecer de saber como assegurar que todos tenhamos a infância amorosa que merecemos.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

A partir de: “ A test to Judge how good your parents were – Alain de Botton

A Insónia Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

A Insónia

As perturbações do sono são um fenómeno frequente nas doenças de natureza emocional; a mais frequente de todas essas alterações é a insónia.

Qualquer que seja a sua origem, a atitude do médico – como sempre – deve ser a de procurar chegar a um diagnóstico etiológico correcto e não “atacar” directamente e “levianamente” o sintoma, prescrevendo um hipnótico.

Atitude tanto mais grave quanto se usam correntemente drogas que dão habituação e dependência.

Pode parecer que fazemos uma elementar recomendação para principiantes ou leigos; mas tal não é o que a experiência nos ensina, pois o erro assinalado é cometido, com frequência, por médicos idóneos.

Simplesmente, não estão suficientemente avisados ou prevenidos para resistir à solicitação dos doentes (…), que é, em regra, a de obter uma receita para induzir, aprofundar ou prolongar o sono.

Quem consulta o médico nestas circunstâncias nem sempre está disposto a enfrentar os verdadeiros problemas com que se debate; e procura, consciente ou inconscientemente, ignorá-los, levando o médico a cair na “esparrela”.

Excertos do artigo “A Insónia”, publicado originalmente em 1977, Jornal do Médico, XCV, 1769: 398, Novembro.

Aprender a usar a Raiva - Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Aprender a usar a Raiva

Há muitas razões para acreditar que um dos principais problemas no mundo de hoje é o excesso de raiva.

Mas pode ser bastante mais realista, ainda que estranho, insistir precisamente no oposto.

Qualquer que seja a impressão gerada por uma multidão de enfurecidos, o problema muito mais comum mas invisível (por natureza) é a tendência contrária.

Ou seja, uma incapacidade generalizada das pessoas de se zangar. Uma inépcia em conseguirem queixar-se com eficácia.

Engole-se a frustração e a amargura.

A consequência de não permitir que nenhuma das nossas dores legítimas seja expressa, é o surgimento de sinais (subterrâneos) de depressão.

Por cada pessoa que grita demasiado alto, há pelo menos vinte que perderam (injustamente) a sua voz.

Não estamos aqui a falar de uma raiva delirante que não leva a lado nenhum.

Não se trata de reabilitar a barbárie, trata-se de defender a capacidade de falar, de se manifestar – com dignidade e equilíbrio – para corrigir algo que não está bem, e oferecer àqueles que nos rodeiam outra perspectiva.

O problema é que dizemos a nós próprios – nos relacionamentos ou no trabalho – que os outros devem ter as suas boas razões para se comportarem da forma que se comportam; que devemos ser amáveis e bons e que seria uma afronta aos esforços dos outros manifestarmo-nos sobre um problema que, certamente, nem sequer compreendemos inteiramente.

Temos tendência para carregar a nossa modéstia desde a infância.

É uma excepção permitir que uma criança manifeste a sua frustração. Grande parte dos pais não está disposta a isso. Alguns pais estão mais interessados em ter um “bom menino”.

 

No trabalho, uma preocupação inabalável com a gentileza, a polidez e a deferência pode acabar por proporcionar as condições perfeitas para ser um pau para toda a obra.

 

Desde o primeiro momento, eles fazem saber à criança que ser “travesso” não tem graça e que esta não é uma família onde as crianças podem fazer o que bem lhes apetece com os adultos.

Birras, queixinhas e acesso de raiva não são bem aceites.

Isto certamente garante a obediência a curto prazo, mas paradoxalmente, o bom comportamento imposto inicialmente (contranatura) é geralmente um precursor de várias dificuldades.

Entre elas a dificuldade em respeitar as hierarquias e a figuras de autoridade, e um enorme mal-estar mental na idade adulta.

Sentir-se suficientemente amado para poder zangar-se e responder mal (dentro de certos limites) às figuras parentais pertence à saúde mental.

Pais verdadeiramente maduros têm regras e permitem que os seus filhos (por vezes) as quebrem.

Caso contrário, dá-se uma espécie de morte interior, resultado de ter tido de ser muito bonzinho cedo demais e de se resignar ao ponto de vista do outro sem mostrar a sua perspectiva, uma autodefesa.

Nos relacionamentos, isto pode significar uma tendência para embarcar numa viagem durante muitos anos, não em termos de abuso (embora também isso), mas de aceitar pequenas humilhações, que são uma espécie de dado adquirido nas pessoas que não conseguem mostrar o seu desagrado.

No trabalho, uma preocupação inabalável com a gentileza, a polidez e a deferência pode acabar por proporcionar as condições perfeitas para ser um pau para toda a obra.

Deveríamos – por vezes – reaprender a arte negligenciada de sermos educadamente chatos.

O objectivo é protestar com firmeza, mas de forma controlado: “desculpe-me, mas você está a destruir o que sobrou da minha vida; sinto muito, mas você está arruinar as minhas possibilidades de ser feliz; Peço desculpa, mas chega, não vou permitir que continue…”

 

A consequência de não permitir a expressão da raiva, que nenhuma das nossas dores legítimas seja expressa, é o surgimento de sinais (subterrâneos) de depressão.

 

Pensamos muito em ir de férias e experimentar novas actividades. Há muito entusiasmo em aprender outras línguas e em experimentar pratos estrangeiros.

Mas o verdadeiro exotismo e aventura podem estar mais perto de casa: na esfera emocional, e na coragem e originalidade necessárias para dar um impulso à raiva contida.

Já temos os discursos escritos nas nossas cabeças. É provável que haja um cônjuge, um pai, um colega ou um filho que não tenha ouvido o suficiente de nós durante demasiado tempo – e seria um benefício incalculável para o nosso bem-estar emocional e físico ter uma palavra a dizer.

Os tímidos imaginam sempre que a raiva pode destruir tudo o que é bom.

Esquecem – porque a sua infância os encorajou a fazê-lo – que a expressão raiva também pode ser profundamente libertador e fonte de mudanças.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de Alain de Botton “Learning how to be angry”

Por que precisamos sentir-nos escutados - Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Por que precisamos sentir-nos escutados?

Um dos nossos desejos mais profundos – talvez mais profundo do que nos apercebemos – é sermos escutados e que as outras pessoas reconheçam alguns dos nossos sentimentos.

Queremos que – em momentos-chave – o nosso sofrimento seja compreendido, as ansiedades notadas e a nossa tristeza legitimada.

Não queremos que os outros concordem necessariamente com todos os nossos sentimentos, mas desejamos que, pelo menos, os validem.

 

Quando estamos furiosos, queremos que a outra pessoa diga:

Vejo que chegaste ao teu limite. Imagino que neste momento queiras desaparecer.

Quando estamos tristes, queremos que alguém diga:

Sei que estás em baixo e compreendo porque estás assim.

E quando já não aguentamos mais nada, queremos que alguém diga empaticamente:

Tem sido demasiado para ti; reconheço-o facilmente; claro que sim.

 

Parece absurdamente simples, e, de certa forma é. E, no entanto, tão pouco deste néctar emocional do reconhecimento recebemos de facto, ou presenteamos uns aos outros.

O hábito dos nossos sentimentos não serem devidamente escutados e reconhecidos começa na infância.

Os pais, mesmo os mais amorosos, escorregam frequentemente neste domínio.

Não é que teoricamente não se preocupem intensamente com os seus filhos, mas que não estimem que o verdadeiro cuidado envolve reflectir regularmente o estado de espírito das crianças – em vez de afastar subtilmente esses estados de espírito ou negar que eles existem.

Aqui estão algumas trocas típicas entre pais e filhos em que não se dá esse reconhecimento:

Criança: Estou a sentir-me triste.

Pai: Não sejas tonto, não pode ser, estamos de férias.

 

Criança: Estou realmente preocupada.

Pai: Querida, isso é ridículo, não há nada a recear aqui.

 

Criança: Quem me dera que nunca mais houvesse escola.

Pai: Não sejas tão tonto. Despacha-te que temos de sair de casa às oito.

 

Amamos tanto os nossos filhos, que não queremos imaginar que eles possam estar tristes ou preocupados, perdidos ou a passar um momento terrivelmente difícil na escola

 

Como as coisas poderiam ser diferentes, e a criança teria uma oportunidade de crescer de outra forma, se tais diálogos fossem ligeiramente afinados: se, por exemplo, os pais dissessem:

 

‘É realmente esquisito como podemos ficar tristes nos momentos mais estranhos, como nas férias…’

Ou: ‘Vejo que estás assustado: aquele vento lá fora está realmente muito forte…’

Ou: ‘Deve ser horrível começar a manhã logo com duas aulas de matemática, particularmente depois de um fim-de-semana tão agradável…’

 

Há uma razão pela qual não reconhecemos as coisas como poderíamos: o medo.

Os sentimentos que afastamos são todos, de uma forma ou de outra, emocionalmente inconvenientes, perturbadores ou aborrecidos:

Amamos tanto os nossos filhos, que não queremos imaginar que eles possam estar tristes ou preocupados, perdidos ou a passar um momento terrivelmente difícil na escola.

Além disso, podemos pensar que ao reconhecer um sentimento difícil, o tornará muito pior do que é. Isso significará fomentá-lo indevidamente ou ceder inteiramente a ele.

Receamos que, se dermos um pouco de espelhamento imparcial aos nossos filhos, possamos estar a encorajá-los a tornarem-se depressivos, cronicamente tímidos ou inteiramente resistentes à autoridade.

Mas é exactamente o oposto. Uma vez escutados, os nossos filhos não se afundam nos sentimentos que os assolam, mas libertam-se deles.

A pessoa zangada fica menos enfurecida quando a dimensão da sua frustração é reconhecida.

A criança rebelde cresce mais, e fica mais inclinada a cumprir e aceitar as normas quando os seus sentimentos de querer incendiar a escola, partir os óculos ao director e fugir para uma ilha deserta tiverem sido escutados e identificados.

Os sentimentos tornam-se menos fortes assim que lhes é dado espaço para se expressarem. Tornamo-nos “bullies” quando ninguém nos ouve, e nunca porque nos ouviram em demasia.

 

Um dos nossos desejos mais profundos é sermos escutados e que as outras pessoas reconheçam alguns dos nossos sentimentos

 

O problema dos sentimentos não reconhecidos não acaba – infelizmente – com a infância. Os casais passam rotineiramente pelo mesmo. Por exemplo:

 

Parceiro 1: Às vezes sinto que não me ouves…

Parceiro 2: Só podes estar a brincar comigo; eu dedico-me tanto a esta relação. 

 

Parceiro 1: Estou preocupado com a possibilidade de ser despedido

Parceiro 2: Isso não é possível, trabalhas tanto.

 

O caminho para um divórcio litigioso ou para um caso extraconjugal começa a traçar-se.

 

A boa notícia é que é possível melhorar bastante as coisas com muito pouco esforço.

Basta, simplesmente, aprendermos a mudar a forma como habitualmente respondemos às afirmações daqueles que nos interessam.

Só precisamos reconhecer os seus sentimentos, mesmo os potencialmente embaraçosos, durante alguns momentos, usando certas frases mágicas:

 

Eu vejo que tu precisas muito de…

Tu deves estar a sentir-te tão…

Compreendo perfeitamente que…

 

Tais frases podem mudar o curso das vidas. A pessoa que precisa que os seus sentimentos sejam reconhecidos quase nunca usará isso como licença para aumentar a sua angústia ou culpa.

As leis da psicologia ditam que uma crise começa imediatamente a desvanecer uma vez que um simples espelhamento sem julgamento tenha tido lugar.

 

A pessoa zangada fica menos enfurecida quando a dimensão da sua frustração é escutada e reconhecida

 

Não precisamos de ser escutados por todos. Podemos suportar muitos sentimentos não reconhecidos quando determinadas pessoas – algumas delas na nossa infância, e idealmente uma delas no nosso “quarto” e no nosso círculo de amizades – de vez em quando nos escuta e nos faz voltar para nós.

Aquele que reclama, a pessoa movida por um desejo rígido de que todos os outros a ouçam, evidencia as consequências assustadoras de nunca ter sido ouvida quando isso era importante.

Quase não há limite para o que podemos estar dispostos a fazer por aqueles que nos prestam a imensa honra, psicologicamente redentora, de ocasionalmente nos escutarem, reconhecendo o que realmente estamos a sentir, por estranho, melancólico ou inconveniente que possa ser.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de: Why We Need to Feel Heard – Alain de Botton

A História da Solidão - Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

A História da Solidão

Até há cerca de um século atrás, quase ninguém vivia sozinho; Como é que a vida moderna se tornou tão solitária?

Nós temos fome de intimidade; vamos secando sem ela. E no entanto, muito antes da actual pandemia, o isolamento forçado e o distanciamento social, os humanos tinham começado afastar-se e isolar-se.

Antes dos tempos modernos, muito poucos seres humanos viviam sozinhos.

Lentamente, há não muito mais de um século, isso mudou.

Nos Estados Unidos, mais de uma em cada quatro pessoas vive agora sozinha; em algumas partes do país, especialmente nas grandes cidades, essa percentagem é ainda mais elevada.

Podemos viver sozinhos sem nos sentirmos sós, e podemos sentir-nos sós sem vivermos sozinhos, mas as duas coisas estão intimamente ligadas, o que torna o confinamento muito mais difícil de suportar.

A solidão, escusado dizê-lo, é terrível para a saúde.

Em 2017 e 2018, o antigo cirurgião-geral americano Vivek H. Murthy declarou a existência de uma “epidemia de solidão”, e o Reino Unido nomeou um ministro da Solidão.

Para diagnosticar esta doença, os médicos da U.C.L.A. desenvolveram uma Escala de Solidão.

 

Com frequência; por vezes; raramente; ou nunca se sente desta forma?

– Estou infeliz por fazer tantas coisas sozinho.

– Não tenho ninguém com quem falar.

– Não posso tolerar sentir-me tão só.

– Sinto-me como se ninguém realmente me compreendesse.

– Já não estou próximo de ninguém.

– Não há ninguém a quem possa recorrer.

– Sinto-me isolado dos outros.

 

“Solidão” é um termo em voga e, como todos os termos em voga, cobre todo o tipo de coisas que a maioria das pessoas prefere não nomear e não tem ideia de como resolver.

 

Antes dos tempos modernos, muito poucos seres humanos viviam sozinhos. Como é que a vida moderna se tornou tão solitária?

 

Há muitas pessoas que gostam de estar sozinhas.

Eu própria gosto de estar sozinha. Mas o isolamento, que é uma coisa de que eu gosto, é diferente da solidão, que é uma coisa que detesto.

A solidão é um estado de profunda angústia.

Os neurocientistas apresentam a solidão como um estado de hipervigilância cujas origens se encontram entre os nossos antepassados primatas e no nosso próprio passado de caçadores-coletores.

Grande parte da investigação neste campo foi conduzida por John Cacioppo, no Center for Cognitive and Social Neuroscience, na Universidade de Chicago.

Cacioppo, que morreu em 2018, era conhecido como o Dr. Solidão.

No novo livro “Together: The Healing Power of Human Connection in a Sometimes Lonely World” (Harper Wave), Murthy desenvolve a teoria evolutiva da solidão de Cacioppo, que foi testada por antropólogos da Universidade de Oxford.

Estes traçaram as suas origens desde há cinquenta e dois milhões de anos, até aos primeiros primatas.

Os primatas precisam de pertencer a um grupo social íntimo, a uma família ou a um bando, para poderem sobreviver.

Isto é especialmente verdade para os humanos (humanos que não conhecemos podem muito bem matar-nos; problema que não é partilhado pela maioria dos outros primatas).

Estar separado do grupo – quer esteja sozinho ou se encontre entre um grupo de pessoas que não o conhecem e não o entendem – desencadeia uma resposta de luta-ou-fuga.

Cacioppo argumentou que o corpo interpreta o estar sozinho, ou estar com estranhos, como uma emergência.

“Ao longo de milénios, esta hipervigilância em resposta ao isolamento ficou incorporada no nosso sistema nervoso e produz a ansiedade que associamos à solidão”, refere Murthy.

A nossa respiração fica mais rápida, o coração acelera, a pressão arterial sobe e temos dificuldade em dormir.

 

Os neurocientistas apresentam a solidão como um estado de hipervigilância

 

Agimos com medo, na defensiva e focados em nós próprios, o que afasta as pessoas que poderiam realmente ajudar-nos.

Desta forma, as pessoas solitárias não fazem o que mais as beneficiaria: juntar-se aos outros.

Evolutivamente falando, entrar em pânico enquanto se está sozinho é altamente adaptativo, mas num mundo em que as leis (na sua maioria) nos impedem de nos matarmos uns aos outros, e precisamos de trabalhar com estranhos todos os dias, é uma espécie de tiro pela culatra.

Murthy refere que a solidão está por detrás de uma série de problemas – ansiedade, violência, trauma, crime, suicídio, depressão, apatia política e até mesmo polarização política.

Pertencer é sentir-se em casa. “Estar em casa é ser conhecido”, escreve ele.

O lar pode ser em qualquer lugar. As sociedades humanas são tão intrincadas que as pessoas têm laços significativos e íntimos de todos os tipos, com toda a espécie de grupos de pessoas, mesmo à distância.

Você pode sentir-se em casa com amigos, no trabalho, num refeitório universitário, na igreja, num estádio, ou no café do seu bairro.

A solidão é a sensação de que nenhum lugar é “casa”.

“Em várias comunidades”, escreve Murthy, “conheci pessoas solitárias que se sentiam sem-abrigo, apesar de terem um tecto sobre as suas cabeças”.

Talvez aquilo que as pessoas que experimentam a solidão e as que são sem-abrigo precisem seja casas com outros seres humanos que as amem e precisem delas, e de saber que são necessárias na sociedade. Isto não é uma agenda política. Isto é uma acusação à vida moderna.

Em “A Biography of Loneliness: The History of an Emotion” (Oxford), a historiadora britânica Fay Bound Alberti define a solidão como:

“Um sentimento cognitivo consciente de afastamento ou separação social dos outros significativos”.

 

Algumas pessoas referem que o sucesso das redes sociais é produto de uma epidemia de solidão

 

Alberti opõe-se à ideia de que a solidão é universal, trans-histórica, e a fonte de tudo o que nos aflige.

Ela argumenta que a condição verdadeiramente não existia antes do século XIX, pelo menos de forma crónica.

Não é que as pessoas – viúvas e viúvos, os muito pobres, os doentes e os marginalizados – não se sintam sós, mas como não era possível sobreviver sozinho, e sem ligações a outras pessoas por laços de afecto, lealdade e dever, a solidão era uma experiência passageira.

Os monarcas eram, provavelmente, solitários crónicos. Mas, para a maioria das pessoas comuns, a vida diária envolvia teias muito intrincadas de dependência, troca e abrigo partilhado, que ser cronicamente ou desesperadamente solitário era sinónimo de estar a morrer.

A palavra “solidão” raramente aparece em inglês antes de cerca de 1800.

Robinson Crusoe estava sozinho, mas nunca solitário.

Uma excepção é “Hamlet”: Ophelia sofre de “solidão” e acaba por suicidar-se por afogamento.

A solidão moderna, na opinião de Alberti, é filha do capitalismo e do secularismo.

“Muitas das divisões e hierarquias que se desenvolveram desde o século XVIII – entre Eu e o mundo, individual e colectivo, público e privado – foram naturalizadas através da política e da filosofia do individualismo”, refere Alberti.

“Será coincidência que o idioma da solidão tenha surgido ao mesmo tempo?” Não é uma coincidência.

O aumento da privacidade, ela própria um produto da economia de mercado – a privacidade é algo que se compra – é um factor de solidão.

Tal como o individualismo, pelo qual também se tem de pagar.

O livro de Alberti mostra que independentemente do ângulo que se olha para a epidemia de solidão ela está intimamente associada a viver-se sozinho.

 

Pela primeira vez na história da humanidade, um grande número de pessoas optam por permanecer solteiras.

 

Se viver sozinho torna as pessoas solitárias ou se as pessoas vivem sozinhas porque estão sós pode ser mais difícil de dizer, mas a preponderância das provas apoia a primeira: é a força da história, e não o exercício da escolha, que leva as pessoas a viver sozinhas.

Este é um problema para as pessoas que tentam combater uma epidemia de solidão, porque a força da história é implacável.

Antes do século XX, de acordo com os melhores estudos demográficos longitudinais, cerca de cinco por cento de todos os agregados familiares (ou cerca de um por cento da população mundial) eram constituídos por apenas uma pessoa.

Este número começou a aumentar por volta de 1910, impulsionado pela urbanização, pelo declínio dos trabalhadores por conta de outrem, pela diminuição da taxa de natalidade e pela substituição da família tradicional, multigeracional, pela família nuclear.

Quando David Riesman publicou “The Lonely Crowd”, em 1950, nove por cento de todas as famílias eram constituídas por uma única pessoa.

Em 1959, a psiquiatria descobriu a solidão, num subtil ensaio da psicanalista alemã Frieda Fromm-Reichmann.

“A solidão parece ser uma experiência tão dolorosa e assustadora que as pessoas farão praticamente tudo para a evitar”, escreveu ela.

“O desejo de intimidade interpessoal existe em todo o ser humano desde a infância e faz-se presente pela vida fora e não há ser humano que não esteja ameaçado pela sua perda” (Frieda Fromm-Reichmann).

As pessoas que não são solitárias têm tanto medo da solidão que evitam os solitários, com medo de que a condição possa ser contagiosa.

E as pessoas que estão sozinhas ficam tão horrorizadas com o que estão a viver que se fecham e ficam obcecadas consigo próprias.

 

Podemos viver sozinhos sem nos sentirmos sós, e podemos sentir-nos sós sem vivermos sozinhos, mas as duas coisas estão intimamente ligadas.

 

“Isso produz a triste convicção de que ninguém mais experienciou ou alguma vez sentirá o que está a experienciar ou experienciou”, escreveu Fromm-Reichmann.

A tragédia da solidão é que as pessoas solitárias não conseguem ver que muitas pessoas se sentem da mesma forma.

“Durante o último meio século, a nossa espécie embarcou numa notável experiência social”, escreveu o sociólogo Eric Klinenberg em “Going Solo: The Extraordinary Rise and Surprising Appeal of Living Alone“, de 2012.

“Pela primeira vez na história da humanidade, um grande número de pessoas – de todas as idades, em todos os lugares, de todas as convicções políticas – optam por permanecer solteiras.

A partir dos anos sessenta, a percentagem de famílias unitárias cresceu a um ritmo muito mais acentuado.

Foi impulsionada por uma elevada taxa de divórcios, uma taxa de natalidade ainda em queda e uma maior longevidade em geral. (Após a ascensão da família nuclear, os idosos começaram a residir sozinhos, com as mulheres a viverem normalmente mais tempo do que os seus maridos).

Cacioppo iniciou a sua investigação nos anos noventa, altura em que os seres humanos estavam a construir uma rede de computadores, para nos ligar a todos.

Empenhado na compressão do que leva as pessoas a optar por viverem sozinhas, Klinenberg, a partir da sua própria história, refere:

“Suponho que eu era um deles. Tentei viver sozinho quando tinha vinte e cinco anos, porque me parecia importante.

Possuir um móvel que não encontrara na rua pareceu-me significativo, um sinal de que tinha atingido a maioridade e podia pagar a renda.

Podia dar-me ao luxo de comprar privacidade, posso dizer agora, mas naquela altura teria dito que me tinha tornado “a minha própria pessoa”.

 

A solidão, escusado dizê-lo, é terrível para a saúde.

 

Durou apenas dois meses. Não gostava de ver televisão sozinho, e também não tinha televisão, e esta, se não era a idade de ouro da televisão, era a idade de ouro dos “The Simpsons”, por isso comecei a ver televisão com a pessoa que vivia no apartamento ao lado. Fui morar com ele, e depois casámos.”

Esta experiência pode não se enquadrar tão bem na história que Klinenberg conta; ele argumenta que as tecnologias de comunicação em rede, a começar pela adopção generalizada do telefone, nos anos cinquenta, ajudaram a tornar possível viver sozinho.

Rádio, televisão, internet, redes sociais: podemos sentir-nos em casa online. Ou não.

O influente livro de Robert Putnam sobre o declínio dos laços comunitários americanos, “Bowling Alone“, foi publicado em 2000, quatro anos antes do lançamento do Facebook, que monetizou a solidão.

Algumas pessoas dizem que o sucesso das redes sociais foi produto de uma epidemia de solidão; outras pessoas referem que contribuiu para isso; e há quem refira que é o único remédio para a solidão.

Ligue-se! Desligue-se! The Economist declarou que a solidão é “a lepra do século XXI”. A epidemia continua a crescer.

 

A tragédia da solidão é que as pessoas solitárias não conseguem ver que muitas pessoas se sentem da mesma forma.

 

Não se trata de um fenómeno particularmente americano. Sendo comum viver sozinho nos Estados Unidos, é ainda mais comum em muitas outras partes do mundo.

Entre elas, a Escandinávia, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Austrália e Canadá, e está em ascensão na China, Índia e Brasil.

Viver sozinho funciona melhor em nações com fortes apoios sociais.

Funciona pior em lugares como os Estados Unidos. É melhor ter, não só Internet, mas também uma rede de segurança social.

Depois começou o grande confinamento global: isolamento forçado, distanciamento social, encerramentos e restrições.

O Zoom é melhor do que nada. Mas por quanto tempo?

A pandemia é uma experiência terrível, assustadora, um teste à capacidade humana de suportar a solidão.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

A partir de “The History of Loneliness” – Jill Lepore

 

 

 

 

Elaboração Psíquica - Afecto, Emoção e Sentimento Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Elaboração Psíquica- Afecto, Emoção e Sentimento

Antes de vermos o que é a elaboração psíquica da emoção, é importante rever os termos afecto, emoção e sentimento.

Em 1917, Sigmund Freud, com a sua habitual antevidência, descreveu os afectos como experiências compostas que incluem “determinadas inervações ou descargas motoras” e “certos sentimentos”.

Desde então, os psicólogos têm definido:

Emoção como a componente neurofisiológica/expressão motora do afecto (ou seja, o que acontece no corpo);

Sentimentos como a componente subjectiva, cognitivo-experiencial (ou seja, “o que é ter essa emoção”; “o que nos faz sentir essa emoção”).

Segundo António Damásio, a emoção é um conjunto de reacções corporais, automáticas e inconscientes, face a determinados estímulos provenientes do meio onde estamos inseridos.

O sentimento surge quando tomamos consciência das nossas emoções, isto é, o sentimento dá-se quando as nossas emoções são transferidas para determinadas zonas do nosso cérebro, onde são codificadas sob a forma de actividade neuronal.

O termo “afecto” abrange tanto a componente emocional como a componente sentimental. Os afetos exprimem-se através de emoções e em sentimentos.

Para os nossos fins – elaboração psíquica da emoção -, pensemos no afecto como sendo expresso em quatro “registos” diferentes: somático, motor, fantasmático e verbal (seguindo o modelo proposto pela primeira vez pelos psicanalistas franco-canadianos Serge Lecours e Marc-André Bouchard nos anos 90).

No registo somático, o afecto é expresso através de sensações fisiológicas internas.

O afecto é experimentado pela primeira vez na infância – nos órgãos internos, cabeça, musculatura e pele – através de sensações de dor, tensão, calor ou náusea.

Ao longo da vida, o corpo continua a ser o nosso derradeiro cenário emocional, o lugar onde qualquer experiência que não possamos experienciar e elaborar mentalmente continua a deixar a sua marca.

 

O psicoterapeuta ajuda o paciente a colocar em palavras os afectos que permaneceram não reconhecidos, ou seja, a promover a elaboração psíquica

 

O nível seguinte em termos de complexidade, também experienciado pelas crianças, é o registo motor. Este envolve o comportamento e a acção do corpo/sistema muscular.

Os bebés contorcem-se, agitam-se, choram e sorriem – tudo isto são manifestações reflexivas de sensações afectivas corporais.

No entanto, os adultos também usam a actividade corporal como meio de expressão dos afectos: lutas no pátio da escola, bater as portas e abraços calorosos são, em parte, expressões deste registo.

O próximo nível na cadeia que liga corpo e mente é o fantasmático. Este envolve a utilização de imagens mentais e cenas para representar estados corporais elementares.

O seu conteúdo pode tomar a forma de imagens expressas em sonhos e fantasias.

É um passo fundamental, pois é o primeiro a utilizar símbolos para representar o afecto.

Estes, em particular, podem ser combinados para permitir a criação de estruturas de significado mais complexas.

Note-se que nem todas as expressões fantasmáticas do afecto têm esta qualidade representativa: considere as alucinações persecutórias, que muitas vezes são vividas como “coisas em si mesmas” sem qualidades simbólicas.

Por último, temos o registo verbal que implica a manifestação do afecto através linguagem (“pôr em palavras”).

Considerado o topo da nossa estrutura emocional, permite-nos ligar o passado ao presente, suster uma experiência e examiná-la de diferentes ângulos, colocar as nossas emoções “em pausa” e actuar sobre elas.

 

O afecto pode ser expresso em quatro “registos” diferentes: somático, motor, fantasmático e verbal

 

Como argumentou o psicanalista britânico Donald Winnicott no século passado, o afecto é, antes de mais, uma experiência corporal para as crianças.

E é somente num ambiente intersubjectivo “suficientemente bom” – a relação entre mãe e filho – que o “psico-soma” começa a desdobrar-se através da elaboração psíquica do afecto como experiência corporal.

A psicoterapia é, de certa forma, semelhante. A relação entre terapeuta e paciente cria um novo espaço intersubjectivo destinado a promover a elaboração psíquica da emoção.

Ou seja, a elaboração do afecto em imagens e palavras, e a crescente complexificação e sofisticação entre as imagens e as palavras.

O psicoterapeuta, tal como a mãe “suficientemente boa”, ajuda o paciente a colocar em palavras os afectos que permanecem não reconhecidos, a fim de serem psiquicamente elaborados.

Realismo Romântico - Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

“Realismo Romântico”

“Realismo romântico” – Sete regras para evitar uma separação

 

Esperamos que o amor seja a fonte das nossas maiores alegrias. Mas, na prática, é um dos caminhos mais directos ​​para o tormento.

Poucas formas de sofrimento são tão intensas quanto as que experimentamos nos relacionamentos.

30% das pessoas que estão juntas descrevem-se como “activamente infelizes, mas incapazes de sair da relação”.

Os problemas começam porque, apesar de todas as estatísticas, somos optimistas crónicos sobre como o amor deve ser.

A gigantesca quantidade de informação não parece capaz de abalar a nossa fé no amor.

Milhares de divórcios passam à nossa frente mas parecem-nos todos irrelevantes.

Continuamos a não olhar para o amor como uma competência que pode ser aprendida.

Um dos nossos maiores erros em torno dos relacionamentos é imaginar que eles não são coisas sobre as quais podemos aprender e melhorar.

Na verdade podemos desenvolver uma competência emocional a que poderíamos chamar de “realismo romântico”.

De facto, como em todas as áreas, podemos melhorar a forma de amar outra pessoa.

 

Estamos prontos para um relacionamento quando:

1 – Aceitamos que a ideia de perfeição é irrealista

Devemos aceitar desde o início que qualquer pessoa com quem nos iremos relacionar estará muito longe da perfeição.

Somos seres imperfeitos. Quem quer que se junte a nós será imperfeito numa série de aspectos.

Devemos eliminar de forma definitiva a ideia de que as coisas seriam perfeitas com qualquer outra criatura desta galáxia.

Só pode haver um tipo de relacionamento e esse será “o suficientemente bom”.

Para que essa percepção se encaixe, é útil ter tido vários relacionamentos.

Não no sentido de encontrar “a pessoa certa”, mas para que se possa ter a oportunidade de descobrir em primeira mão e em vários contextos, a incontornável verdade: vistos de perto, todos temos muitas imperfeições.

 

Continuamos a não olhar para o amor como uma competência que pode ser aprendida

 

2 – Aprendermos a culpar o amor, não o nosso parceiro

Quando as dificuldades surgem nos relacionamentos, muitas vezes somos vítimas da ideia de que andamos a sair com uma pessoa um tanto ou quanto limitada.

A nossa tristeza deve ser culpa de alguém: e, naturalmente, concluímos que o culpado é o nosso parceiro.

Evitamos a conclusão mais verdadeira, mais sombria e mais simpática:

– Estamos a tentar fazer algo muito difícil, a qual quase ninguém consegue por completo.

No extremo, saímos do relacionamento cedo demais.

Em vez de ajustarmos as nossas ideias sobre o que são os relacionamentos em geral, mudamos as esperanças para novas pessoas que – confiamos ardentemente – não sofreram de nenhum dos problemas que experimentamos com o último parceiro.

Culpamos o nosso parceiro para não culpar o amor.

 

3 – Percebemos que o amor faz exigências irracionais aos nossos parceiros

O ideal romântico afirma que seremos mais agradáveis ​​para nosso parceiro do que para qualquer outra pessoa no mundo.

Eles foram escolhidos porque gostamos muito deles e, portanto, trazemos as nossas melhores partes para o relacionamento

Seremos muito melhores com eles do que, por exemplo, com qualquer um dos nossos amigos.

Mas a realidade é intrigante e decepcionantemente diferente.

Nós tendemos a nos tornar, se as coisas forem como planeámos, algo parecido com monstros no amor.

Provavelmente, seremos significativamente menos gentis com nosso parceiro do que com quase qualquer outro ser humano no planeta.

O que explica isso? Em primeiro lugar, há muito em jogo. Toda a nossa vida está em jogo.

 

Só pode haver um tipo de relacionamento e esse será “o suficientemente bom”

 

Amigos saem connosco à noite; os nossos desafios mútuos podem não ir além da necessidade de encontrar um bom restaurante.

Mas a pessoa que amamos torna-se, se as coisas vão bem, parte de alguns dos assuntos mais complexos e grandiosos que já empreendemos:

Pedimos que eles sejam os nossos amantes, os nossos melhores amigos, os nossos confidentes, enfermeiros, consultores financeiros, motoristas, nosso parceiro social e sexual.

Juntamente com eles, podemos criar um lar, gerar um filho, administrar as finanças da família, cuidar de pais idosos, gerir as nossas carreiras, sair de férias e explorar a nossa sexualidade.

A descrição do “trabalho” é tão longa e tão exigente que ninguém no mercado de trabalho poderia responder a uma pequena parte do exigido.

Pedir a alguém para estar connosco acaba por ser uma coisa incrivelmente exigente e, portanto, muito “mazinha” para propor a alguém a quem realmente desejamos o melhor.

O amor também nos dá a segurança de mostrar a um parceiro quem realmente somos – um privilégio que, na verdade, seríamos mais sábios e amáveis, se não compartilhássemos completamente com ninguém.

É – naturalmente – muito difícil viver connosco; mas ninguém se importou o suficiente para nos dizer.

 

4 – Estamos prontos para amar em vez de ser amados

Nós começamos por saber apenas o que é ser amado.

Para a criança, parece que mãe/pai está espontaneamente à mão para confortar, guiar, entreter, alimentar e cuidar, ao mesmo tempo que permanece quase sempre caloroso e alegre.

Muitos pais não revelam a frequência com que morderam a língua, lutaram contra as lágrimas e ficaram demasiado cansados ​​para se despirem depois de um dia a cuidar do filho.

Devemos renunciar um pouco ao desejo de ser amado e, em vez disso, esforçar-nos para amar.

 

É a capacidade de tolerar a diferença que é o verdadeiro indicador da pessoa certa

 

5 – Aceitamos que os relacionamentos exigem gestão

A pessoa romântica instintivamente vê os relacionamentos em termos de emoções.

Mas o que um casal consegue fazer ao longo da vida tem muito mais em comum com o funcionamento de uma pequena empresa.

Passa por elaborar listas de tarefas, limpar, cozinhar, reparar, arrumar, contratar, despedir, orçamentar, etc.

Nenhuma destas actividades tem qualquer tipo glamour.

Aqueles que são obrigados a fazê-las são, portanto, altamente propensos a ressentirem-se delas e sentir que algo deu errado nas suas vidas por terem que se envolver tão intimamente nelas.

E, no entanto, essas tarefas são o que é verdadeiramente “romântico” no sentido de “promover e sustentar o amor” e devem ser interpretadas como o alicerce de um relacionamento bem-sucedido.

 

6 – Entendemos que o sexo e o amor nem sempre estão em sintonia

A expectativa geral é que o amor e o sexo estejam em sintonia.

Mas, na verdade, eles não permanecem assim mais do que alguns meses ou, no máximo, um ou dois anos.

Isso não é culpa de ninguém.

Como nos relacionamentos a longo prazo existem outras preocupações importantes (companheirismo, gestão do lar, filhos), o sexo, provavelmente, será afectado.

Estamos prontos para entrar num relacionamento a longo prazo quando aceitamos um grande grau de resignação sexual e desenvolvemos a capacidade de sublimar.

 

7 – Percebemos que não somos assim tão compatíveis

Espera-se que a pessoa certa seja alguém que compartilhe os nossos gostos, interesses e atitudes gerais com a vida.

Isso pode ser verdade a curto prazo. Mas, ao longo do tempo, a relevância disso diminui drasticamente; as diferenças inevitavelmente emergem.

A pessoa que é verdadeiramente mais adequada para nós não é a pessoa que compartilha os nossos gostos, mas a pessoa que pode gerir as diferenças de maneira inteligente.

 

Devemos renunciar um pouco ao desejo de ser amado e, em vez disso, esforçar-nos para amar

 

É a capacidade de tolerar a diferença que é o verdadeiro indicador da pessoa certa.

A compatibilidade é uma conquista do amor; não deveria ser a sua pré-condição.

Muitas vezes queixamo-nos, em aspectos complicados dos nossos relacionamentos, de que o amor se tornou muito difícil.

Talvez estejamos a discutir constantemente sobre pormenores domésticos, talvez já tenha passado muito tempo desde que verdadeiramente nos divertimos.

As dificuldades não apenas nos angustiam em si mesmas, elas também nos podem parecer ilegítimas, contrárias às regras do amor – e um sinal de que o próprio relacionamento é um erro.

 

Este é um legado do Romantismo, uma ideologia que nos leva à crença inútil de que o amor não é algo para ser trabalhado, porque é um sentimento e não uma competência.

Precisamos apenas de nos render às nossas emoções e os nossos relacionamentos irão prosperar.

De facto, é exactamente o contrário.

Devemos estudar o amor da maneira como estudamos qualquer outro assunto importante.

Devemos aceitar com modéstia a necessidade de nos inscrevermos na escola do amor.

 

O curso do amor – Alain de Botton

Porque as pessoas são más. Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Por que é que as pessoas são más?

Por que é que as pessoas são más? Maldade – origem e reprodução

Algumas crianças não são muito simpáticas para os seus irmãos e irmãs, nem para os seus colegas de turma na escola.

Chamam-lhes nomes, implicam com eles ou tentam estragar-lhes o recreio.

Podem fingir ser suas amigas e depois dizer coisas muito pouco simpáticas nas suas costas.

Parece que tudo o que querem é que as outras pessoas se sintam pequenas e estúpidas.

Pode ser realmente perturbador e assustador estar do lado de quem recebe este tipo de intimidação.

Mas porque é que as pessoas são más?

Porque é que uma pessoa quer fazer outra pessoa sentir-se miserável?

A resposta é muito surpreendente: é porque elas se sentem pequenas e miseráveis dentro de si mesmas.

Não se sabe ao olhar para elas — elas podem parecer fortes e confiantes e muito satisfeitas consigo próprias. Podem parecer rir-se muito — talvez rirem-se de nós.

Mas se pensarmos nisso, ninguém que seja realmente feliz quereria fazer outra pessoa infeliz.

As pessoas que são realmente fortes e confiantes são quase sempre gentis e amáveis para com os outros.

Se alguém é mau e um agressor é porque em casa, ou no passado, alguma coisa ou alguém a assustou.

Provavelmente nunca saberemos os detalhes, mas podemos imaginar.

 

As pessoas são más porque se sentem pequenas e miseráveis dentro de si mesmas.

 

Talvez tenham um irmão mais velho que se mete com elas. Ou a mãe esteja sempre a mandar nelas. Talvez os pais gritem um com o outro.

Dentro das suas cabeças, estas pessoas que parecem tão corajosas e destemidas, na verdade sentem-se tristes e preocupadas.

Estão demasiado assustadas para deixar alguém ver como se sentem realmente fracas, por isso tentam fazer-se sentir melhor, fazendo outra pessoa sofrer.

Aqueles que foram feridos, ferem os outros.

Compreender isto não resolve imediatamente o problema se alguém estiver a ser mau para nós, mas pode ajudar um pouco.

Pode ajudar-nos a lembrar que não merecemos ser mal tratados, que não é algo que tenhamos feito e que não há nada de errado connosco.

A melhor maneira de compreender um intimidador ou uma pessoa má é colocar-mo-nos na sua posição.

Pensemos numa altura em que não tenhamos sido muito simpáticos para alguém.

A maioria das pessoas é um pouco má para alguém em algum momento, ou pode até ter querido ser um bocadinho horrível, mesmo que nada venham a fazer ou a dizer.

Não é mau ou errado, é apenas a vida.

Agora pensemos porque é que fomos maus para essa pessoa — é quase sempre porque algo mais nos estava a incomodar, que não sabíamos como corrigir.

 

Alain de Botton, Big ideas for curious minds

 

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