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A esperança

Para muitos de nós a esperança teve um custo muito elevado para voltarmos a apostar nela.

É possível que tenhamos sido expostos a grandes decepções quando éramos mais jovens ou num momento em que estávamos muito frágeis para lidar com elas.

Talvez esperássemos que os nossos pais ficassem juntos mas separaram-se. Ou esperávamos que algo que desejávamos muito acontecesse, mas não aconteceu. Talvez após nos atrevermos a amar alguém e, depois de algumas semanas de felicidade, tudo tenha terminado.

Isso acabou por criar em nós uma profunda associação entre esperança e risco. Daí que possamos viver de forma mais tranquila a decepção, e com receio a esperança.

A solução é lembrarmo-nos que podemos, apesar dos nossos medos, sobreviver à perda da esperança.

Já não somos aqueles que sofreram as decepções que nos levaram a sermos estas pessoas tímidas. As condições que forjaram os nossos receios já não correspondem à nossa vida actual.

O inconsciente pode, como é seu costume, estar a ler o presente através das lentes usadas no passado, mas o que tememos que possa acontecer – na verdade – já aconteceu.

Estamos a projectar no futuro uma catástrofe que pertence a um passado onde nos vimos impossibilitados de responder adequadamente.

Para além disso, o que fundamentalmente distingue a idade adulta, da infância, é que o adulto tem acesso a mais fontes de esperança do que a criança.

Podemos sobreviver a uma desilusão aqui e ali, porque nós já não vivemos numa pequena província, delimitada pela família, o bairro e a escola.

Nós temos um mundo inteiro onde podemos nutrir-nos de uma variedade de esperanças que, inevitavelmente, alguma pode resultar numa desilusão, mas – e essa é a grande diferença – apenas ocasional.

 

Traduzido e Adaptado por Pedro Martins

a partir de Alain de Botton

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