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Psicoterapia

o perigo das crianças perfeitas

Os perigos das crianças perfeitas

As crianças “perfeitas” fazem os trabalhos de casa a tempo e horas, mantêm o quarto arrumado, são um bocadinho tímidas, estão sempre prontas para ajudar os pais e são muito cautelosas nas suas brincadeiras.

Uma vez que não levantam muitos problemas, tendemos a assumir que está tudo bem com as crianças bem comportadas.

Não são razão para uma preocupação particular. Essa atenção é dirigida às crianças que fazem asneiras.

As pessoas imaginam que as crianças bem comportadas estão bem porque fazem tudo o que se espera delas.

E é precisamente aí que está o problema. As tristezas secretas – e as dificuldades futuras – da menina ou menino bonzinho começam com a excessiva necessidade de satisfizer.

As crianças “perfeitas” não são “perfeitas” por um capricho da natureza, mas porque não têm outra opção.

A sua bondade é uma necessidade ao invés de uma escolha.

Assumimos que está tudo bem com as crianças bem comportadas porque não levantam problemas.

Muitas das crianças “perfeitas” são boas por amor a um pai deprimido que não consegue lidar com mais complicações ou dificuldades.

Ou talvez sejam muito bem comportadas para acalmar um pai violento que se poderia tornar insuportavelmente assustador perante qualquer sinal de conduta menos do que perfeita.

Ou talvez os pais sejam muito ocupados e distraídos e só sendo muito boa criança, poderia esperar conseguir atenção dos pais.

Embora a repressão de emoções produza uma obediência agradável a curto prazo, armazena uma enorme quantidade de dificuldades na vida adulta.

Os educadores e os pais mais experientes devem detectar os sinais de gentileza exagerada – e lidar com eles de acordo com o risco que representam.

As crianças “perfeitas” dizem palavras adoráveis e são especialistas em satisfazer as expectativas dos seus públicos, mas os seus pensamentos e sentimentos reais permanecem soterrados.

Nesse sentido, podem viver numa amargura corrosiva, apresentar sintomas psicossomáticos e surtos repentinos.

Os educadores e os pais mais experientes devem detectar os sinais de gentileza exagerada.

O problema da criança boazinha é que ela não tem a experiência de que as outras pessoas são capazes de tolerar a sua maldade.

Elas perderam um privilégio vital concedido à criança saudável:

– O de ser capaz de mostrar os seus lados invejosos, gananciosos, ego-maníacos e, apesar disso, ser tolerada e amada.

As pessoas do género “irrepreensível”, normalmente, apresentam problemas particulares em torno da sexualidade.

Em criança podem ter sido elogiadas por serem puras e inocentes.

No entanto, quando se tornam adultos, como todos nós, descobrem os arrebatamentos do sexo.

E podem encontrar excitação em situações que aos seus olhos podem ser repugnantes e perversas mas indescritivelmente prazerosas.

Isto pode contrastar radicalmente com a imagem do que eles estão “autorizados” a ser.

Podem, em resposta, negar os seus desejos, ficarem frios e desprendidos dos seus corpos – ou cederem aos seus anseios apenas de uma forma desproporcional, que seja destrutiva para outras partes das suas vidas.

As crianças “perfeitas” são especialistas em satisfazer as expectativas dos outros.

No trabalho, o adulto exemplar também vai ter problemas. Tal como as criança, eles seguem as regras.

Nunca arranjam problemas e tomam muito cuidado para não irritar ninguém.

Mas, como sabemos, quem segue todas as regras não chega muito longe na vida adulta.

Quase tudo o que é interessante, que vale a pena fazer, vai encontrar um certo grau de oposição.

Estar devidamente maduro envolve uma relação franca e sem medo com a própria escuridão, complexidade e ambição.

Envolve aceitar que nem tudo o que nos faz felizes agradará aos outros ou será honrado como particularmente “agradável” pela sociedade -, mas, apesar de tudo, pode ser importante para nos mantermos ligados.

O desejo de ser bom é uma das coisas mais bonitas do mundo, mas para ter uma vida verdadeiramente boa, às vezes precisamos ser (com os padrões da boa criança) frutífera e corajosamente mauzinhos.

Traduzido/Adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton

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